A melodia lenta e calma era escutada desde a porta de entrada do apartamento. Remus não precisava ver para saber de quem se tratava.

A garota de cabelos roxos (um dia, ele ainda descobriria qual era a verdadeira cor de cabelo dela) passava a palheta pelas cordas do violão, concentrada em sua tarefa. Um caderno pautado estava aberto e jogado a um lado, na página errada, por causa do vento vindo do ventilador.

— Você precisa parar de pensar e começar a agir — disse Tonks, ainda tocando.

Ele riu, abaixando a cabeça.

— E você precisa começar a cantar — ele aproximou-se — Não ficar só no instrumental.

— Não consigo — ela parou de tocar — Eu acabo me deixando levar pelo ritmo, e me perco na letra.

— Fecha os olhos — Remus pediu.

— O quê? — ela riu.

— Fecha os olhos — ele repetiu.

— Não vai adiantar! — ela disse, fechando os olhos.

Remus sorriu maliciosamente, sentando-se ao lado dela.

— Toca — ele pediu.

De cenho franzido, Tonks recomeçou a tocar, tentando orientar-se pelo tato, enquanto que ele começou a brincar com o cabelo dela.

— O seu plano é me distrair? — ela perguntou, sem abrir os olhos.

— Exatamente — ele respondeu.

Ela riu, mudando o acorde.

— Acho que vou gostar desse método — ela disse.

— Pensei que as aulas tivessem acabado — Sirius entrou na sala, de braços cruzados.

— Está ouvindo algo? — perguntou Tonks, tocando com mais força.

— Vai quebrar a corda — retrucou Sirius.

Ela suspirou, abrindo os olhos, e parando de tocar.

— Ele ficou pior desde a prisão — Remus murmurou, quando ele foi para a cozinha.

— Ele vai ter que nos aturar — ela deu de ombros, encostando-se no sofá — Estou quase considerando a ideia de entrar em um curso qualquer da faculdade, depois que passar no supletivo.

— Eu estudo de manhã, você nem sofre tanto — ele revirou os olhos, risonho.

— Remus, hoje tem grupo de estudos, não é? — Sirius entrou na sala novamente, interrompendo o momento deles.

— Se livra desse mala, por favor! — disse Tonks, voltando a passar a palheta pelas cordas, fracamente.

— Sim, Sirius. Tem grupo de estudos — ele respondeu, irritado.

— Vou lá com o James... — o moreno decidiu, caminhando pela sala.

— Você não saiu da faculdade? — Tonks perguntou, sem parar de tocar.

— Fazer uma visita — ele deu de ombros — Vou deixa-los em paz, casalzinho.

— Finalmente! — a arroxeada disse.

A porta batendo foi a resposta que ela recebeu.

— Espera! Ele vai de farda? — foi o que Tonks perguntou.

***

— Você me chamou para ficar de vela? Sério mesmo? — James reclamava, de braços cruzados.

— Hagrid, meu caro! — Sirius sorriu, encostando na grade do instituto — Nós precisamos resolver uns lances...

— Não me arrumem problemas! — disse Hagrid, abrindo o portão.

— Obrigado — disse Sirius, disparando para dentro do local.

— Seu cachorro, me espere! — reclamou James, indo atrás dele.

Depois de alguns corredores, ele perdeu o amigo de vista. Bateu a mão na parede, estressado. Virando-se, ele viu um borrão ruivo passando pelo corredor.

— Eu estou enlouquecendo... — ele murmurou, olhando ao redor, antes de seguir o corredor por onde viu o borrão.

Por mais difícil que fosse de acreditar, era Lily Evans. Ele assobiou, tentando chamar a sua atenção, e ela olhou para trás. O fato de ter ficado parada facilitou para que ele a alcançasse.

— James — Lily sussurrou, olhando-o de cima a baixo.

— Oi — ele disse, colocando as mãos no bolso da calça.

— Eu sinto muito — ela pareceu ter percebido que era real — De verdade. Eu fui uma idiota, você estava certo. Eu deixei que o orgulho me ganhasse, mas eu não queria beijar Amos, ele me beijou! O lance que tivemos há algum tempo já tinha acabado.

— Eu fiquei magoado — disse James, um pouco tonto pela velocidade.

— Eu sei, e eu não te culpo. Eu devia ter acabado com isso... É só que eu continuo não acreditando... Quero dizer, eu continuo acreditando — ela atrapalhou-se.

— Como que essa aposta começou? — ele perguntou.

— Estávamos conversando... Eu não me lembro como a gente entrou nesse assunto, mas começamos a discutir se existia amizade entre homem e mulher — ela revirou os olhos.

— Você acredita? — ele perguntou.

— Acredito! Eu e Remus somos amigos — Lily disse, segura de si.

— Mas nós não.

Ela recuou um passo, automaticamente, e piscou os olhos com força.

— É... — ela disse, abaixando o olhar — Eu entendo...

— Eu jamais poderia ser o seu amigo — James disse, sorrindo levemente.

— Tudo bem! Eu entendo que esteja magoado, mas não precisa me... — ela levantou o olhar, ofendida.

Ele cortou a sua fala, puxando o seu rosto para perto do dele, e colando os seus lábios. Lily não permitiu que o beijo se prolongasse, afastando-se.

— Espere! — ela disse, confusa.

— Por que você veio aqui? — ele parecia divertido, ao perguntar.

— Minha transferência para Ilvermorny deu problema... — ela desviou o olhar.

— É, eu sei.

A ruiva olhou incrédula para o seu sorriso malicioso.

— Você atrapalhou a minha transferência? — ela perguntou, indecisa.

— Na verdade, eu convenci a minha madrinha — ele afastou um fio da testa dela — para que a antiga amiga dela atrasasse a sua situação.

— Isso quer dizer que... — Lily insistiu, sem entender.

— A transferência foi bem... Ela só te enrolou para você vir até aqui — ele fez um olhar inocente — Eu só queria falar contigo mais uma vez.

— A professora Sprout disse que deu um problema na minha transferência — disse a ruiva.

— Desculpe, eu só... — James tentou afastar-se, mas ela segurou o seu braço.

— Acho que vou ter que me contentar em ficar por aqui! — a garota deu de ombros, fazendo uma expressão falsamente decepcionada.

— Isso quer dizer que... — ele disse, sem entender.

— Você é muito lerdo! — ela disse, aproximando-se.

— Olhe só quem fala! — ele retrucou.

Antes que Lily pudesse dizer algo mais, o moreno prensou o lábio inferior dela com os seus.

— O que acha de... — ela tomou um ar — Jantar na minha casa...

— Claro — ele não parecia estar prestando atenção.

— Ótimo! — ela concordou com a cabeça.

— A gente vê isso depois.

— Ótima ideia!

***

— O que você ainda precisa estudar em psicologia? — a voz de Marlene chamou a atenção de Sirius, que já estava quase desistindo de procurá-la.

— Eu nem sei se quero concluir o curso... — Alice respondeu, parecendo indecisa.

— O quê? — Marlene perguntou, incrédula — Como assim? Olhe, eu sei que você é super indecisa, que você estava em dúvida entre cursar letras e psicologia, mas, cara... Desistir agora?

Elas tomaram o mesmo corredor que ele estava, mas caminhando na direção contrária, ao lado dos armários.

— Paradas! — Sirius disse, em voz séria.

Marlene encostou-se em um dos armários, virando, incrédula. Quando o viu, arregalou os olhos. Alice parou ao seu lado, tentando encobrir os risos com um dos seus livros.

— Senhorita McKinnon, terá de me acompanhar! — ele mostrou o distintivo, tentando aparentar seriedade.

— O que eu fiz, senhor? — ela perguntou, não conseguindo ficar séria.

— Nada, eu só queria mostrar o distintivo mesmo — ele deu de ombros, quando não encontrou argumentos — Será que a gente pode conversar?

— Boa sorte aí, amiga! — disse Alice, saindo de fininho.

— Não sei se vou conseguir conversar enquanto você estiver com essa farda — respondeu Marlene.

— Você estava certa, eu sei que você ama escutar isso — ele disse, sorrindo de lado — Mas você também não me deixou falar!

— Sou toda ouvidos — ela cruzou os braços.

— A situação toda me tomou de surpresa, mas... Eu realmente gosto de você, já te provei isso milhares de vezes — ele disse.

— E a sua prova de que mudou é...? — ela apontou para o seu uniforme.

— O curso estava de pé, Frank quis fazer, eu e James fomos juntos... — ele deu de ombros.

— Ah! Claro! — disse Marlene, rindo — Os três mosqueteiros infelizes com o curso de Hogwarts.

— Eu nunca pensaria que o Frank desistiria de engenharia — disse Sirius, franzindo o cenho — Eles sempre gostou desses lances...

— Nem o mais bravo dos homens suporta a matemática — a castanha brincou.

— Você me perdoa? — ele perguntou.

Mais uma vez, ela sorriu maliciosamente para ele, afastando-se.

— Me convença, senhor policial.