Começou as aulas de ballet com sete anos, graças a um projeto social no lugar onde morava — um subúrbio urbano, esquecido pelas autoridades e abraçado por uma ONG.

Apaixonou-se desde a primeira nota, que saía de um rádio velho, e não demorou a fazer dela o seu motivo de vida. À medida que envelhecia, entretanto, era deixada de lado, seus passos pareciam desajeitados.

Uma vez, após uma apresentação, ouviu um crítico especializadíssimo falar com acentuado sotaque europeu:

“Dança bem, mas falta-lhe donaire.”

Torceu o nariz, jamais tinha estudado, desconhecia aquele vocábulo. Das letras sabia apenas como rabiscar o próprio nome. Não era difícil, três letras para escrever Ana e mais cinco para identificar um Silva.

Foi a caminho do trabalho que o farol veio em sua direção. O freio, o para-choque, os flashes, a ambulância. Acordou uma semana depois, com o que julgaria ser a pior notícia de sua vida: estava paraplégica.

Mas não desistiu de seu sonho. Persistiu.

Aprendeu a ler e a escrever. Hoje ainda tem esperanças de recuperar o movimento das pernas, porém dança sobre as rodas de uma cadeira.

Exibe elegância com braços e sorrisos.

Uma esperança que dispensa palavras. Sublime, garbosa, plena.

Exemplo de superação.