Pretty

Passeio no parque.


No decorrer da semana tratei de cumprir minha promessa. Nas refeições, se meu pai se dirigia a mim de qualquer maneira minimamente desagradável, recebia como resposta o silêncio. O que tornou meus dias consideravelmente mais leves. Comecei a considerar que, talvez, o fato de eu responder às suas provocações, fosse um grande catalizador para as nossas infinitas discussões.

Durante as tardes, falava quase sempre com Lucy, ou saia com Teri, com ou sem a companhia das outras. O fato é que, embora eu realmente tenha me afeiçoado e me dado bem com todas as três, fora com Teri que eu consegui ter uma maior afinidade, então era com ela que acabava passando mais tempo. Além disso, andar por onde eu queria, sem tantas limitações, era uma das melhores sensações que eu já havia tido. Não conseguia sequer expressar como estava feliz por desfrutar daqueles momentos, que sempre pareciam passar rápido demais. Adam e eu também estávamos passando um tempo considerável juntos, uma vez que, apesar do que podia parecer, Teri e ele eram realmente muito próximos. E eu, embora não soubesse o que exatamente estava acontecendo entre nós, sabia que gostava da companhia dele e de seu esforço para me fazer sentir confortável.

Na quinta-feira, os irmãos me convidaram para ir jantar em sua casa. A mãe deles era uma mulher muito simples e educada, com cachos cheios e louros e olhos verdes cristalinos. Seu rosto, bonito, demostrava o cansaço de cuidar da casa, dos filhos e de várias outras pessoas na clínica onde trabalhava. Um típico rosto materno, bem diferente do perfeito e sem marcas de tempo da mulher que me dera a vida. Também conheci o famoso Ches, um gatinho gorducho, de olhos verdes meio saltados e pelo médio e acinzentado, que parecia-se mesmo com o louco gato de Alice.

* * *

Já na sexta, na escola, Adam me perguntou incessantemente se iríamos mesmo sair e cansei de responder que sim. Ele concordara com a ideia de irmos ao parque, o qual eu ansiava conhecer, afinal todos falavam muito bem do lugar.

Depois das aulas, passei o dia todo um pouco ansiosa, até que, no inicio da noite, Teri me ligou, animada. Eu sabia bem o motivo daquela animação toda, pois Adam me contara que Kyle aceitou o convite, apesar de ficar um pouco receoso quanto a não levar Hanna. Combinamos o horário e que Adam e Teri passariam para me pegar, com Lynn e Jason, já que ambos moravam próximo a eles. Kyle e Crystal nos encontrariam lá. Eu estava bastante ansiosa, admito. Minha única amiga de verdade na vida era Lucy, e um ou dois outros alunos do colégio interno com quem eu tinha um pouco mais de intimidade, mas os outros sempre foram apenas colegas, com os quais não me sentia tão a vontade. Como era possível que eu me identificasse tanto com esses estranhos em tão pouco tempo? Sinceramente, eu mesma estranhava minha atitude receptiva quanto a todos eles.

Comecei a me aprontar cedo, cantarolando uma canção no ritmo do som ligado. O espelho de corpo todo no canto do closet me dava uma imagem perfeita de minha figura, e sorri para ele, como uma criança que ganha um pônei de aniversário. No horário combinado, depois de me vestir e arrumar, desci as escadas, pulando os degraus de dois em dois, mas me refreei na sala onde meus pais me olharam interrogativos.

— Aonde você pensa que vai? – Meu pai perguntou, com um tom nada amigável.

Estanquei imediatamente.

— A um parque de diversões. – Informei.

— E com quem?

— Meus amigos da escola. – Respondi, me esforçando para passar confiança.

Não queria que parecesse que eu o estava desafiando de novo, ou acabaria voltando direto para o quarto. Ele pareceu pensar por um instante e achei que ele realmente não me deixaria ir.

— Ok. Tudo bem. Vá. Mas, lembre-se, meia noite e nem um minuto a mais! - Ele disse, por fim.

Assenti e virei-me, sem respondê-lo. Tinha que sair logo dali, pelo amor de deus.

— Divirta-se, querida. – Minha mãe falou para mim e depois sussurrou algo para meu pai que não pude ouvir.

Adam e Teri chegaram pontualmente, às 20:30. Sentei-me atrás com Lynn e Jason, que eram inteiros sorrisos e tão bonitinhos. Seguimos para o parque e no caminho Teri ligou para Crystal.

— Como vamos ver? Não me diga que é o seu primo de segundo grau com síndrome do pânico de novo? – Prestei atenção quando ela falou com um tom mais alto ao telefone.

Ela esperou um instante enquanto Crystal replicava.

— Certo. Não quer falar, não fale! O importante é que encontrou alguém. – Vi quando ela voltou os olhos para cima e suspirou um “finalmente” sem deixar que o som da voz saísse.

O parque ficava há uns três quilômetros do colégio e tinha um grande fluxo de pessoas andando para lá e para cá. Luzes de todas as cores piscavam e brilhavam no alto e nos brinquedos, dos quais, mais radicais, podíamos ouvir gritos histéricos de garotas e garotos. Pelo que pude ver, Lynn era uma amante de adrenalina e logo nos chamou para a montanha russa que, a propósito, tinha o sutil nome de "Death's Race". Adam deve ter notado minha expressão de total apavoro.

— Vão vocês. Vamos esperar os outros. – Ele disse.

Lynn deu de ombros e saiu puxando Jason até a fila de ingressos.

A todo instante Teri ficava encarando Adam como se ele fosse suspeito de algum crime.

— Irmãzinha, por que não vai pegar uns refrigerantes? – Ele pediu, enfim.

— Por que não vai você? – Ela retrucou.

— Porque estou pedindo um favor.

— Não banque o esperto comigo, irmãozinho. – Ela disse, ríspida.

Vi se formar uma nuvem negra em cima de suas cabeças. Irmãos se provocam, mas aquilo não pareceu muito normal. Parecia que ela o estava vigiando.

— Teri. – Ele murmurrou, parecendo um pouco nervoso.

— Não, Adam! – Ela controlou o tom de voz, mas, ainda assim, o elevou.

Fiquei completamente alheia sobre o que estava acontecendo, mas, em todo caso, devia ser pessoal, então apenas olhei para os lados como se não tivesse escutando nada.

— Vamos, Amanda. Vamos comprar refrigerante. Adam está com muita sede. Fique esperando pelos outros. – Ela verbalizou, áspera.

Como sempre fazia, ela pegou minha mão e saiu me arrastando para sei lá onde, até pararmos em uma barraca para comprar refrigerantes. Pedi um suco de morango e logo não aguentei de curiosidade.

— Por que falou daquele jeito com o seu irmão? Tem algum problema? – Questionei-a.

Ela suspirou, como se já soubesse que eu perguntaria, mas esperasse que não.

— É uma longa história. Não quero ter que te contar e fazer meu irmão parecer uma coisa que não é. Sabe? É complicado. – Ela reclamou.

— Eu entendo. Tudo bem. É só curiosidade minha. – Dei de ombros. – Vamos voltar? Os outros já devem ter chegado.

Pagamos pelo suco e refrigerantes e voltamos até onde havíamos deixado Adam, e Kyle estava com ele. A mudança na postura de Teri foi tão imediata e evidente que tive que tapar a boca para esconder o riso. Era como se há um segundo ela fosse a "senhorita limão azedo" e, de repente, tivesse se transformado em uma finalista do Miss Universo.

— Ei. – Kyle nos cumprimentou. – Ainda bem que vocês voltaram. Pensei que ia ter que ficar encarando seu irmão mal humorado a noite toda.

— Mal humorado? Não sei porquê. – Ela disse, irônica.

— Então só falta a Crystal. – Observei.

— Vou ligar para ela. – Teri avisou, pegando o celular.

— Não precisa. – Kyle falou. – Olha ela aí. Com o... Dave? – Ele completou, intrigado.

Adam e a irmã ficaram tão chocados quanto Kyle, a diferença é que Adam tinha algo mais na expressão, irritação talvez. Quando os dois ficaram frente á frente conosco, Crystal sorriu e foi para mais junto de nós, enquanto Dave apenas ficou parado, fitando-nos. Ele parecia meio nervoso, ou constrangido.

— Dave. – Kyle foi o primeiro a se recuperar do choque e abrir a boca. – Não sabia que você vinha.

— Crystal me convidou. – Ele sorriu de lado. – Disse que vocês viriam, então resolvi vir e me divertir um pouco com meus velhos amigos. – Afirmou.

— Crystal. Por que não disse que ia chamar o Dave para vir com você? – Teri murmurou baixo, ainda estarrecida.

— Você disse qualquer um! – Ela rebateu, vindo para mais perto para que só nós pudéssemos ouvir. – Qual é? Ele era um de nós até o ano passado. – Ela sussurrou.

Teri pareceu vencida e só rolou os olhos, voltando-se para os garotos.

— Está certo. Vamos nos divertir! – Ela concluiu, um pouco contrariada.

O único que pareceu não aprovar ainda a idéia foi Adam, que preferiu ficar um pouco mais afastado do grupo.

— Onde está Lynn? – Crystal perguntou, confusa.

— Por aí, com o Jason. – Teri respondeu, indiferente.

Crystal sorriu.

— Olha. Não fique brava porque eu chamei o Dave para vir. – Crystal se manifestou, enquanto Kyle e Dave estavam conversando mais a frente, e Adam sozinho atrás de nós. – Eu não tenho muita intimidade com ninguém da escola, além de vocês. Mas o Dave era nosso amigo. Lembra?

— Eu lembro. Me lembro de tudo, Crystal! – Teri retrucou, significativa.

Comecei a achar que estava sobrando naquela conversa, então desacelerei o passo e me juntei a Adam.

— Te expulsaram? – Ele sorriu.

— Foi uma saída estratégica, na verdade. – Contei.

— Que bom. Estava me sentindo meio sozinho aqui.

— Coitado. – Brinquei.

Ele sorriu mais abertamente.

— O que há de tão errado com Dave? – Comecei. – Ele não parece ser ruim a ponto de o desprezarem tanto.

— Nós não o desprezamos. Ele só está muito diferente do que costumava ser.

— Por isso se afastaram?

— Sim e não. Acho que, em parte, é culpa minha ele ser assim agora.

Quis perguntar o motivo por trás de sua suposta culpa, mas não podia pressioná-lo a contar coisas que visivelmente o chateavam.

— Bom, ele está aqui agora. E não parece querer brigar ou algo do tipo. – Coloquei. – Talvez queira apenas uma trégua.

Ele suspirou.

— Talvez você esteja certa. Ainda assim.

— É difícil fingir que nada aconteceu. – Completei, pensativa.

Imaginei que fosse difícil para ele perdoar um amigo. Eu não conseguia perdoar meus próprios pais, e eram os meus pais. Seria hipócrita da minha parte tentar aconselha-lo nisso.

— Ei. Quer dar uma volta? – Adam perguntou.

— Já não estamos fazendo isso? – Eu disse. Mesmo tendo entendido o que ele queria dizer.

Acabei assentindo e saímos de perto do grupo, sem que eles percebessem. Fomos para o outro lado do parque, enquanto ele me mostrava as coisas que parecia conhecer tão bem quanto a palma da mão.

— De novo bancando meu guia particular? Devia cobrar por isso.

Ele riu.

— Eu nunca cobraria. Não de você!

— E eu sou especial? Por quê? – Questionei.

Adam voltou a sorrir, olhando para o lado.

— Vem! – Ele falou e me pegou pela mão, guiando-me até a roda gigante, que era mesmo gigante.

Eu nunca havia subido em uma daquelas depois de crescida e não sabia se ficaria com medo da altura. Adam novamente pareceu perceber meu medo.

— Não se preocupe. É seguro. – Ele garantiu.

— Ótimo! Porque se não for, te jogo lá de cima. – Ameacei.

Agora ele gargalhou.

Subimos no brinquedo. Eu com medo, claro, mas Adam completamente relaxado, e me acalmei um pouco espelhando sua postura segura.

— Então, Nova Yorkina. Já começou a se acostumar com a nossa cidadezinha?

— Não é uma cidadezinha. É uma cidade de tamanho considerável, aliás.

— Comparada a "Grande Maçã" é uma caixinha de fósforos.

Ri e então suspirei, levantando os ombros.

— Bem, como eu já disse antes, eu passei muito tempo no internato, então muitas coisas são novas pra mim. Meus pais escolheram essa cidade, pois queriam sair do alvoroço de Manhattan e Baton parecia corresponder a essa expectativa de mudança. Agora, falando por mim, embora eu não tenha escolhido este lugar, sinto lá no fundo que não poderia ter feito uma escolha melhor. Acho que pela primeira vez sinto que pertenço a algum lugar.

— Hum. – Ele franziu o cenho. – Teri me falou sobre o jantar na sua casa. E, pensando bem, você usa mesmo um tom um pouco estranho para falar dos seus pais.

Fiquei com vergonha por ele ter percebido. Afinal, sempre tinha feito tanta questão de esconder que sentia qualquer coisa quando me referia a eles. E ele percebeu tão facilmente.

— Eu não falo muito sobre isso. – Confessei.

— Seu pai sempre faz esse tipo de coisas?

— Sempre que tem chance.

— E você já tentou conversar com ele pra tentar entender?

— Não me atreveria a tentar. Seria em vão de qualquer forma. Nós só acabaríamos brigando de novo.

— Talvez ele esteja esperando que você de o primeiro passo.

A roda de repente parou, inesperadamente, nos deixando bem no topo da roda. Franzi o cenho, abaixando os olhos. Ele não conhecia o meu pai e fiquei irritada por ter de tocar neste assunto, então decidi mudar o foco da conversa antes que fosse rude com ele sem querer.

— Caramba. Aqui é tão alto. – Ofeguei, amedrontada, olhando para baixo. Deu-me um pouco de vertigem, confesso.

— Tudo bem. Isso é normal. Eles já vão religar. Tem medo de altura? – Ele perguntou com um olhar preocupado.

— Não. É só que... A vista daqui não é nada boa.

Adam sorriu como se eu tivesse falado algo engraçado.

— Depende do ângulo em que se olha. – Ele disse, levando os dedos para o meu queixo e levantando meu rosto um pouco para a esquerda.

A visão que tive em seguida foi de tirar o fôlego. A cidade toda banhada por pontos luz e, bem no centro, uma enorme torre iluminada por milhares de luzes brancas que a cobriam por completo de incandescência. O céu tinha a mais incrível lua cheia do mês e estava tão forrado de estrelas que era como ver um quadro impressionista. Eu nunca havia visto tantas estrelas antes, principalmente com aqueles prédios altíssimos de Nova York. Aquele foi o segundo cenário mais bonito que eu já havia visto pessoalmente, perdendo apenas para o lago. E ambos, Adam era quem me havia mostrado.

— É... – Comecei.

— Linda. – Ele sussurrou, perto.

Voltei-me para ele, percebendo que ele não se referia de maneira alguma a paisagem, e ficamos nos encarando por longos segundos. Adam olhava fixa e profundamente dentro dos meus olhos e parecia querer contar cada linha em minhas íris. Seu rosto ficou tão próximo do meu que podia sentir sua respiração quente tocando a minha pele, e automaticamente aproximei-me mais dele. A distância entre nós de repente parecia irritante. Seus lábios ficaram a um centímetro dos meus e já podia sentir a energia estática que vinha deles. Fechei os olhos, esperando, mas o beijo que eu nervosamente ansiava, apenas não veio. O brinquedo começou a se mover e acabou me assustando. Um som assustado saiu da minha garganta e Adam voltou para o seu lugar rapidamente. Depois de alguns segundos nos olhamos e não contivemos o riso, ficamos rindo como crianças até a roda parar. Pegamos morangos com chocolate para comer e resolvemos voltar para perto dos outros, que já deveriam ter dado por nossa falta e poderiam estar pensando qualquer besteira. Fomos andando pelo parque conversando e brincando.

— Certo. Foi algo parecido com um grito. Mas nem foi tão alto assim. – Retruquei quando ele disse que eu havia gritado de medo quando a roda voltou a girar.

No caminho percebemos que haviam pessoas correndo na mesma direção que nós e parecia haver um tipo de comoção acontecendo. Paramos ao ver uma aglomeração de pessoas logo a nossa frente e franzi o cenho quando vi nossos amigos em volta de uma roda formada. Crystal chorava em um canto com as mãos no rosto e Lynn parecia desesperada, andando de um lado para o outro. Jason falava ao telefone, agitado, e Kyle estava no chão ao lado de...

— Teri! – Adam gritou e correu para o meio das pessoas quando vimos Teri caída e inconsciente no chão.

Corri logo atrás.

— O que aconteceu? – Perguntei, exasperada.

Adam se abaixou perto da irmã, já com lágrimas nos olhos.

— Onde diabos vocês estavam? – Crystal vociferou. – Por que sumiram? Tem que ser um parente para acompanha-la na ambulância!

— Mas o que houve? O quê? – Pedi de novo, engasgando com o choro.

Abaixei perto de uma Teri imóvel. Havia um corte na têmpora, com profundidade média, e havia sangue na lateral do rosto. Desesperei-me.

— Será que dá para alguém me contar o que houve? Por favor. – Sussurrei as últimas palavras. Lynn veio em minha direção e me guiou até um canto.

— Lynn? – Implorei chorosa.

— Foi muito rápido. Estávamos andando e conversando e, de repente, ela bateu a cabeça. Um dos brinquedos bateu na cabeça dela.

Levei as mãos a boca, chocada.

— Meu deus! Ela... Ela precisa ir para o hospital. Tem que ir agora! – Quase gritei.

— A ambulância já está a caminho. Onde vocês foram? Disseram que vocês desapareceram do nada.

— Fomos até a roda gigante. Desculpe, eu não sabia que isso ia acontecer. Desculpe. – Chorei desesperadamente.

— Tudo bem. – Ela chorou, me abraçando. – Tudo bem. Não foi sua culpa. Nem de ninguém. Precisamos ajudar o Adam, está bem?

Voltamos para onde eles estavam com Teri, ainda desacordada. Adam segurava a pequena mão dela, com uma torrente de lágrimas escorrendo pelas bochechas, mas parecia um pouco mais calmo. Sentamos com ele e não consegui parar de olhar para o rosto dela, esperando que ela abrisse os olhos, mesmo com o corte feio. Crystal e Dave também estavam ali, parecendo apavorados.

— O que foi? – Lynn perguntou assim que sentamos, notando que todos pareciam um pouco menos exasperados.

Em meio ao alvoroço mal percebi que havia um homem falando no telefone próximo a nós desde que chegamos. Ele parecia calmo, mas sério.

— O médico disse que ela ficará bem se for para o hospital logo. Ele está insistindo para apressarem o socorro. – Crystal murmurou roboticamente. A loira abraçava seus joelhos deixando dezenas de lagrimas escorrerem por seu rosto congelado na mesma expressão de horror. Quis abraçá-la, mas achei que definitivamente não era um bom momento.

O socorro chegou com rapidez. Fiquei abraçada com Lynn, e Crystal, agora mais calma, se juntou a nós, buscando consolo quando a ambulância chegou. Enquanto os paramédicos colocavam Teri no carro de emergência, Adam nos deu as chaves de seu carro e falou para o encontrarmos no hospital. Quando ele entrou junto com ela, fomos para o carro e Jason dirigiu. Lynn e eu estávamos muito nervosas para guiar um carro e poderíamos, certamente, causar outro acidente.

Chegamos agitadas ao hospital e nem mesmo fechamos as portas do carro quando saímos. Jason teve de fazer isso por nós. Kyle, Crystal e Dave chegaram logo em seguida. Encontramos Adam afoito, andando de um lado para o outro, na recepção.

— Adam. O que disseram? – Crystal logo perguntou.

— Nada. Não disseram porcaria nenhuma. Só levaram ela lá para dentro e não pude ir junto. – Ele chorou, furioso e desesperado.

A loira o abraçou chorando com ele e senti uma enorme vontade de envolvê-los com meus braços. Eu só conhecia Teri a pouco mais de uma semana, mas todos ali a conheceram a vida toda, não podia querer sentir o mesmo que eles. Lynn perguntou a Adam se ele telefonara para a mãe e ele respondeu que fez isso da ambulância, então ela logo chegaria. Ele também pareceu assustado ao dizer isso.

Sentamos todos, em bancos espalhados pelo lugar, e a angustia ali ficou quase palpável no ar. Meredith, a mãe de Adam e Teri, chegou pouco depois, e seu estado era como era esperado que fosse. Ela vestia uma calça de pijamas azul e um casaco de frio, apenas. Calçava chinelos de dedo e os olhos estavam num profundo aterrador. Com certeza havia chorado o caminho inteiro. Os cabelos pareciam nem terem sido penteados, ou foram extremamente bagunçados pelo vento. Ela foi direto ao encontro de Adam e o abraçou fortemente.

— O que houve? O que aconteceu com a sua irmã? – Ela desabou.

— Desculpa mãe. Me desculpa. – Adam chorava de maneira sufocante.

Minha nossa. Aquela fora a cena mais dolorosa eu já havia presenciado. As discussões com a minha família, ou o tapa que meu pai me dera, nem mesmo o dia em que meus pais me trancaram naquele colégio se comparava àquilo. E eu fiquei ali, em silencio, o tempo todo.

Após uma hora, ainda sem notícias. Lynn estava deitada no meu ombro, quase pegando no sono, e eu só voltei a me movimentar direito quando meu celular tocou. Vendo que era a minha mãe, olhei no relógio e constatei que já passava da meia noite.

— Alô. – Atendi.

— Amanda. Onde você está? Já passa da meia noite! – Ela disse, brava.

— É, eu sei. Mas eu estou no hospital.

— O quê? Que hospital? O que aconteceu? Você está bem? Responda, Amanda! – Ela pedia, nervosa.

— Não sou eu quem está machucada. Teri sofreu um acidente. – Esclareci, chorosa. – Estamos aqui, esperando noticias.

— Teri? Sua amiga da escola?

— Sim. – O médico de repente saiu pela porta que dava para a ala de emergência e nos olhou com uma cara que não dizia absolutamente nada. – Mãe, é o médico. Eu vou desligar.

Levantei-me, como todos os outros, esperando atentamente as palavras do médico.

— Doutor. Como ela está? – A mãe de Adam inquiriu, impaciente.

O doutor encarou-nos novamente, observando-nos, um a um. Naquele instante eu apenas rezava para que ele nos desse uma boa notícia, ou, honestamente, não sei como eu lidaria com aquilo.