Pretty

Mistérios do coração.


Desde o episódio de mais cedo, Adam não me dirigiu uma única palavra o dia todo e, ainda posteriormente ao fato, Teri, para lá de desconfiada, questionou-me durante vários minutos sobre o verdadeiro motivo para o acesso de fúria de Janice. Eu, por minha vez, tentei da melhor maneira possível convencê-la de que não sabia de nada. Mas não sei se realmente consegui.

Agora, em meu quarto, sentada de frente para o espelho da penteadeira e passando pela milésima vez a escova sobre os cabelos, voltava àquela manhã, para o meu ato de não denunciar o ataque gratuito de Janice a mim, e a verdade é que, inconscientemente, acho eu tentei fazer com que ela se sentisse um pouco melhor. Vê-la chorar bem do meu lado me mostrou que ela realmente tinha sentimentos por Adam e acabei me sentindo como se estivesse roubando suas ilusões, ainda que fossem ilusões perdidas.

A lua lá fora estava quase totalmente encoberta por uma densa névoa, e o céu cinza não parecia de todo convidativa. Era uma noite de ventos tranquilos, porém gelados. De repente o toque curto e estridente do celular pediu minha atenção, e eu me estiquei o máximo que pude para alcançá-lo na cama. Me estiquei tanto que perdi o equilíbrio e cai de joelhos, xingando em todas as línguas que eu sabia. Finalmente cheguei até o bendito aparelho e abri a mensagem que acabara de chegar.

“Oi.”— O remetente indicado pelo celular dizia: Adam.

Respirei fundo, sentindo meu coração bater mais forte.

“Oi.”— Respondi simples. Mas meu morder de lábios deixava bem evidente o nervosismo.

Com apenas alguns instantes, outra mensagem chegou.

“Me desculpe.”— Li, em voz alta, e esbocei um meio sorriso.

“Desculpas pelo telefone? Você não está se está se ajudando.”— Esperei.

Sua resposta incluiu alguns risos e carinhas de expressões variadas. Mas o que me sobressaltou foi a última frase.

“Olhe pela janela.”

Franzi o cenho e andei depressa até a janela da frente, afastando as cortinas cor-de-creme para ver uma figura encapuzada na frente do portão, iluminada apenas pela luz do eletroeletrônico nas mãos.

Meu celular apitou de novo, logo depois que ele digitou algo.

“Oi.”— Sorri e ele voltou a digitar. – “Pode descer?”

Assenti e saí correndo pela casa, até a porta da frente. Dei uma olhada na calça comprida de moletom lilás e na blusa branca de mangas também compridas que eu usava e ajeitei o tênis que calçara de qualquer jeito. Então abri a porta e saí, aparentemente tranquila, cruzando o jardim da frente, até o enorme portão.

— Pensei que não viria. – Adam disse, tirando o capuz do moletom azul, revelando o rosto sereno.

— E porquê não? – Perguntei, parando junto às grades do portão.

— Por causa dos seus pais.

— Eles não estão. Foram jantar fora. – Contei casual.

— Ah. – Ele suspirou, parecendo aliviado. – Eu... Quer dizer. Você quer dar uma volta? Comigo?

Sorri amarelo e assenti, abrindo o portão eletrônico. Por quase uma quadra andamos em silêncio, mas logo Adam pareceu ansioso em falar.

— Você não deve ter entendido nada. – Ele falou, mais consigo mesmo do que para mim, e fez uma cara de suplício. – Eu sou um idiota. Me desculpe, mesmo.

Dei de ombros, olhando para o chão e de volta para ele.

— Realmente. Eu não entendi nada! Mas tenho algumas suposições.

— Mesmo?

— É. E, olha, está tudo bem. Se você estiver achando esta situação incômoda. O beijo e tudo mais. Se quiser podemos apenas esquecer.

Ele parou bruscamente e me encarou de maneira confusa.

— Do que você está falando? É isso o que você quer? Esquecer? – Ele perguntou afoito.

— Não! – Falei, voltando alguns passos até onde ele parou. – Mas pensei que fosse o que você queria.

Ele franziu o cenho e deu alguns passos a frente, ficando a centímetros de mim.

— Não é mais uma questão de querer, Amanda. Eu simplesmente não consigo mais ficar longe de você! – Disse Adam, chegando ainda mais perto.

Pensei que fosse cair sobre minhas pernas fracas quando ele colou seu tórax junto ao meu. Seus músculos subindo e descendo pela respiração desregulada me desestabilizavam completamente. Eu queria tocá-lo e consegui rápido o que almejava, agarrando-lhe os braços quando suas mãos foram para minha cintura e deslizaram lentamente para a parte de trás do meu corpo me envolvendo e segurando com firmeza. Não me importei nem um pouco que estivéssemos a poucos metros da minha casa, ou parados no meio da rua, e deixei que ele me beijasse com toda a intensidade que pedia. Forte e avassalador como da primeira vez, mas com muito mais paixão que antes.

Deus!

Será que eu estava apaixonada por Adam? Apaixonada de verdade? Quando encerramos o beijo por falta de fôlego, Adam continuou com o rosto próximo ao meu, o que me dificultava o pensar. Ele era tão bonito, que faria inveja ao próprio Narciso. Todo meu ar se esvaia com um único sorriso seu e eu só respirava a sua essência.

O que eu estou pensando? Não posso estar apaixonada! Não tão rápido. O que está acontecendo comigo?”

— Quer ser minha namorada? – Ele disse sorrindo com empolgação.

— O que? – Repliquei, rindo nervosamente.

— Foi mal. Estou agindo como um doido. – Ele riu. – Mas que se dane. Eu nunca senti o que estou sentindo agora. Com você! E não vou jogar isso pela janela pra não parecer apressado. – Ele balançava a cabeça freneticamente de um lado para o outro. – Você gostaria de ser minha namorada?

Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!

Fiquei completamente parada e calada, fitando-o.

— Fala alguma coisa, pelo amor de deus. – Ele pediu, apreensivo. – Antes que eu tenha um mal súbito ou saia correndo. Sei lá.

Fala idiota! Ele vai acabar indo embora.” – Pensei.

Ele me olhava intrigado e ultra-nervoso.

— Droga. Você não quer, não é? Eu sou tão estúpido e apressado. Que ridículo.

— Sim. – Falei em alto e bom som. – Eu quero ser sua namorada, Adam.

Ele me olhou incrédulo e sorriu como um ganhador de loteria.

— Você está mesmo aceitando? Porque você pode pensar direito. Talvez...

— Será que dá... – Cortei-o. – pra você ficar quieto e usar essa sua boca linda para beijar a sua namorada? Você agora tem deveres.

Ele então me encarou, abrasador. Tão logo, firme e impaciente, ele me puxou novamente pela nuca para outro beijo, ainda melhor do que o último. Aliás, cada novo beijo nosso parecia melhor que os anteriores, ficava sempre melhor. Mas aquele beijo em particular quase fez-me consumir em fogo. Eu nunca havia desejado tanto dar tudo de mim em um gesto, e fazer aquilo, com ele, era viciante.

Eu estou mesmo louca! Estou namorando! Lucy vai me matar! E Teri...”

— Adam? – Pedi quando terminamos nosso maravilhoso beijo.

— Sim? – Ele disse, abraçando-me e apoiando seu queixo no alto da minha cabeça.

— Agora que somos namorados. – A palavra ainda soava estranha para mim. – Quer me contar porque agiu daquela forma comigo mais cedo? Por que ficou tão chateado? Teve a ver comigo? Ou com Janice?

"Namorando há dois minutos e já banca a ciumenta? É Isso aí, Amanda!"

Adam não se afastou, mas senti-o cerrar a mandíbula.

— Adam? – Pedi inquieta.

— Não quero falar de ninguém além de nós dois agora. E estragar isso. – Ele pediu resignado. – Será que pode esperar um pouco?

Afastei-me o bastante apenas para olhá-lo nos olhos.

— Sabe que uma hora ou outra você terá que se abrir comigo, não é? – Tirei minha mão direita de seu peito e lhe toquei gentilmente a face. – Só não minta para mim. Por favor.

Adam, com a expressão mais seria que já o vira fazer, encontrou meus olhos com tamanha profundidade que senti como se ele visse minha alma.

— Eu não vou! – Prometeu, segurando com as mãos os dois lados do meu rosto. E encostou seus lábios nos meus.

Eu confio em você, Adam! Não me desaponte.