Pretty

Arrebentando os freios.


Corri de um lado para o outro no quarto em minha busca pelo bloqueador solar que, muito convenientemente, havia decidido desaparecer. Adam e Teri estariam ali logo. Então fucei na parte de cima do closet, onde algumas caixas repousavam esquecidas e “Finalmente achei!”. Passei de maneira dispersa pela pele exposta e me olhei no espelho. A roupa estava boa, acho, não que eu tivesse muita experiência com esse tipo de encontros sociais, principalmente debaixo de sol. O pior de tudo era que, depois da conversa para lá de esquisita entre mim e Ryan no dia anterior, a única coisa na qual eu conseguia pensar era em Dave. Sim. De verdade. As conotações fatalistas de Ryan encheram meus pensamentos a noite toda e, apesar da minha reação passivo-agressiva na hora dos fatos, eu cheguei a conclusão que ele só fora proteger o amigo de infância, como ele mesmo disse. Mas o que realmente me preocupou, foi constatar minhas suspeitas sobre Dave alimentar sentimentos por mim, além dos que eu gostaria. Ryan dissera: “Ele está apaixonado!” e “Ele já sofreu muito por Adam e Janice!”. Eu definitivamente não queria ser a próxima a quebrar o seu coração.

Sacudi a cabeça para me livrar dos incômodos pensamentos e ouvi uma buzina. Olhei pela janela aberta do quarto e vi Teri no carro cinza-escuro com o irmão, agitando os braços e dependurada para fora. Adam tentava puxá-la para dentro, olhando fixamente para a porta. Imaginei que ele estivesse cogitando a possibilidade de Michael sair por aquela porta. Fiz um sinal com a mão, para avisar que já estava descendo. Peguei a bolsa e saí colocando o bloqueador solar nela, junto com uma toalha para forrar o chão, já que na água eu não poderia entrar, o celular, uma câmera fotográfica e um livro de bolso, só para o caso de ficar entediada. Ainda passei pela cozinha e apanhei uma garrafa gelada de água mineral e três muffins de baunilha e morangos que Nancy havia comprado para tomarmos café. Embora estes não tivessem o mesmo sabor de seus muffins caseiros, cobriam a necessidade. Nancy folgava um final de semana inteiro a cada duas semanas e neste ela resolveu ir matar a saudade de seus parentes em Seattle, então eu só podia sentir a falta de seu sorriso matinal sempre bem humorado.

— Bom dia! – Falei, entrando no carro de Adam. Os irmãos sorriram e me cumprimentaram em uníssono. – Querem um? – Ofereci, passando-lhes os bolinhos.

— Ah, obrigada. – Teri disse. Dando uma farta mordida na parte de cima do muffin fofo.

Sorri e Adam mordeu o seu, demostrando que tinha gostado.

Teri estava particularmente bonita naquele começo de tarde. Tinha prendido os cabelos em um rabo de cavalo alto, e usava uma regata azul que realçava ainda mais seus impressionantes olhos. Evitei olhar muito para Adam, porque ele também estava de regata, e vocês sabem o que acontecia comigo.

— Você vai adorar o lago. – Teri começou alheia. – É o lugar mais bonito daqui.

Enquanto ela falava, mirei o espelho retrovisor. Adam olhava através dele para mim, com um meio sorriso significativo. Sorri da mesma forma. Não sei porquê fizemos segredo sobre nossa ida ao lago, mas gostei daquela aura de cumplicidade entre ele e eu. Senti como se tivéssemos uma ligação particular.

Sob a luz do dia, o lugar parecia ainda maior. As árvores carregadas de folhas verdes enchiam a atmosfera com ar puro. A grama igualmente verde pinicava um pouco, mas nada tão incomodo. E o lago em si, tinha a superfície clara e brilhante. Como podia existir uma natureza tão conservada em plena cidade grande? Ainda mais com tantos adolescentes bebendo e se divertindo ali.

Adam se separou de nós para cumprimentar Kyle e Hanna, abraçados sobre uma toalha estendida no chão. Outra vez vi brotar a sombra de frustração nos olhos de Teri. Como era triste que ela tivesse que conviver com aquilo. Ela realmente estava muito apaixonada por aquele garoto. E ele era tão cego.

Notei, pela visão periférica, Crystal, Lynn e Jason se aproximando. Sorrimos e nos cumprimentamos. Jason evolvia Lynn como se ela pertencesse a ele. E Crystal mantinha uma expressão séria e indecifrável.

— Vocês demoraram. – A loira disse, inquieta. – Não aguentava mais ficar segurando vela para o Romeu e a Julieta aqui.

— Julieta é uma vadia suicida. Não somos iguais! – Lynn disse.

— Tem razão. Você não é suicida! – Ela falou zombeteira, e até Lynn riu. – Tem mais gente aqui do que o de costume. Vocês não acham?

— É feriado, esqueceu? Esse é o um dos poucos lugares “abertos” na cidade. Tem gente que eu nem conheço aqui! – Teri resmungou apática.

Estendemos as toalhas no chão e nos sentamos todos em um canto próximo a água. Jason e Lynn ficaram muito pouco tempo sentados. A ruiva logo puxou o garoto pela camiseta, chamando-o para a água, e já saiu correndo para mergulhar de cabeça. Jason apenas sorriu, dando de ombros para nós, tirando a blusa e correndo para o mesmo ponto do qual a garota saltara, mas seu pulo não foi nem de longe, tão gracioso. Teri, Crystal e eu só assistimos a cena, divertidas.

— Oi, Amanda? – Falou alguém a nossa frente, no instante em que Jason e Lynn imergiam da água trocando um beijo para lá de desenvolto. Voltei-me para a voz, encarando o garoto pálido, de cabelos negros e olhos verdes como folhas de hortelã. Ele vestia uma camisa branca e estava vermelho, provavelmente pelo sol forte demais para alguém sem bloqueador. Fiquei tentada em lhe oferecer um pouco do meu.

Crystal e Teri olhavam-no com expectativa. O que pareceu deixá-lo nervoso.

— Matt, não é? – Perguntei com um sorriso amarelo.

Ele demonstrou surpresa ao me ouvir dizer seu nome e riu encabulado.

— É. – Ele me olhava fixamente, como se estivesse em transe ou hipnotizado. – Eu... Vim... Eu vim pedir... – Acho que ele estava hiper ventilando.

— Ele quer um fio do seu cabelo! – Crystal falou, estressada com a demora do garoto em falar.

Nenhum sol seria capaz de deixá-lo mais vermelho do que ele estava agora, de vergonha. Olhei para ele com os olhos um pouco mais abertos que o normal. E ele sorriu, constrangido. Confirmando a afirmação de Crystal. Minha expressão devia estar oscilando entre o divertimento e o desconforto.

— Bem... – “Que situação!” – Eu não sei…

— Por favor. Você é a única que falta. – Ele pediu. Como se a vida dele dependesse disso.

Eu sei que não era difícil, era só um fio de cabelo. Mas eu não sabia o que diabos ele ia fazer com aquilo. Magia negra? Uma peruca?

— Matt. Para com essa doideira cara. É sério. Acho bom eu não ficar careca porque você está fazendo bruxaria com o cabelo que pegou do meu casaco. – Crystal falou, colocando os óculos escuros.

Teri só olhava para ele, compadecida.

— Amanda? – Ele insistiu.

Fiquei abrindo e fechando a boca, sem saber o que dizer.

Como um gongo milagroso, Adam apareceu atrás do garoto, apoiando uma mão em seu ombro. Não tinha qualquer coisa ameaçadora em seu gesto, mas o outro se encolheu. Talvez ele não gostasse muito de contato físico.

— Qual é, Matt? Dá um tempo dessa coisa de coleção. – Adam disse. Mais como um conselho.

Matt cerrou os punhos e pareceu frustrado.

— Você não entende nada! – Ele disse, com um tom ríspido. Depois saiu andando com a cabeça baixa.

Senti-me muito mal. Mesmo. Ele pareceu tão magoado. Adam deu de ombros com uma expressão facial pesarosa. E só desviou os olhos de mim, quando ouvimos as melodicas notas musicais de um violão. Olhei na mesma direção, buscando a origem do som, e vi um rapaz moreno, sem camisa e com óculos escuros cheios de estilo. Ele tocava uma melodia sensual e vibrante, com um “quê” latino, e quando começou a cantar, muitos se juntaram em volta para assistir. As pessoas na água se agitaram, acompanhando o pequeno show e até Crystal e Teri se levantaram e andaram abraçadas para o circulo de gente. Levantei também, mas Adam segurou minha mão antes que eu pudesse ir ao encontro delas. Virei-me com expectativa, mas ele não me disse nada. Só me puxou devagar pela mão. Meus primeiros passos para segui-lo foram no susto, mas depois acabei indo com ele, completamente ciente de que estávamos fazendo de novo. Sumindo em segredo.

Adam me levou por entre as árvores, até outro espaço gramado e isolado. Sozinhos, ele soltou a minha mão, caminhou para um pouco mais a diante, e ficou de costas para mim. Minhas pernas começaram a tremular de repente, e quando ele finalmente se virou para mim, parecia empenhado.

— Eu tive que esperar um tempão, até ter um minuto sozinho com você de novo. – Ele disse, sorrindo nervosamente. Não parecia que estava raciocinando muito bem.

Olhei-o atenta.

Ele se aproximou lentamente. Muito cuidadoso em cada movimento.

— E para que? – Perguntei. Minha voz saindo um pouco mais falhada do que eu queria.

Adam, que tinha o peito subindo e descendo desordenadamente, respirou pesado mais uma vez.

— Pra isso! – Ele disse e então andou depressa até mim, segurando firme as laterais de meus braços.

— Ouch! – Urrei imediatamente, dando dois passos para trás e tropeçando em seguida em meus próprios pés, assim que ele bateu com a cabeça na minha.

Em um milésimo de segundo eu já estava no chão, deitada, e vendo todas as 50 estrelas da bandeira americana. Então ele se ajoelhou agitado e perguntou repetidamente se eu estava bem.

Em um surto, sem precedentes, comecei a rir como louca. Como realmente nunca ri antes. Meus olhos estavam fechados, por isso não pude ver a expressão de Adam, mas quando voltei a abrir os olhos, ele parecia um bichinho assustado, com uma mão na própria testa. O que me fez rir com ainda mais vontade.

— Meu Deus. Acho que eu danifiquei o seu cérebro. – Ele disse apreensivo.

Com muito esforço parei de rir e franzi o cenho, ainda sorrindo.

— Mas o que diabos foi isso? – Perguntei, prendendo a enorme vontade de gargalhar de novo.

Ele tremia.

— Me desculpe. – Pediu. – Não era para acontecer isso. – Adam baixou e sacudiu negativamente a cabeça, cabisbaixo.

— Não era? – Perguntei, acariciando minha testa que latejava.

— Na minha cabeça dava certo. – Ele riu, frustrado. – Eu te machuquei? – Perguntou, e se aproximou para analisar de perto minha cabeça.

Olhei fixamente sua expressão preocupada, e ri mentalmente da ironia.

— Não. Eu já estou até me acostumando com essas suas entradas um pouco… bruscas. – Sorri. – Eu já te conheci assim, lembra?

Adam sorriu encabulado. Tão lindo que, mais que a topada ridícula, me doeu na alma que ele não tivesse feito o que tentou desastrosamente fazer. Tinha que ser uma conspiração universal.

— Caramba. Isso foi mesmo péssimo. – Ele riu. Ainda bastante sem graça.

— Foi sim. – Concordei divertida, sentindo minha respiração oscilar. – O que você acha de tentar de novo? – Sugeri, desta vez séria.

Ele me encarou como se não soubesse se tinha ouvido direito.

— Eu posso te causar um traumatismo desta vez. – Advertiu. Mas seus lábios entreabertos eram como um convite irrecusável.

— Eu não me importo. – Falei completamente decidida.

Antes que algo mais pudesse interferir, Adam me segurou pela nuca e me ergueu, colando seus lábios nos meus. Nos beijamos, como se o mundo em volta tivesse simplesmente desaparecido. Primeiro forte e ansioso, enquanto ele me envolvia pela cintura com o outro braço, e o sentia me erguer um pouco mais acima do solo, depois, mais suave e tranquilo, cheio de ternura e cuidado. Passei um braço por debaixo do dele, pousando minha mão esquerda em suas costas, e a direita levei para a parte de trás de sua cabeça, afundando meus dedos em seus macios fios de cabelo e trazendo-o para mais perto. Era como se eu quisesse colar nossos corpos, até que o ar sequer passasse entre eles.

Acorda, Amanda! O que você está fazendo? Desgruda!

Uma parte mais racional da minha mente me aconselhava. Mas não tive a mínima vontade de obedecê-la. E aquilo continuou por vários minutos. Até que falei em meio ao beijo.

— Seus braços. Não então... doendo? – Perguntei.

— Tudo bem. Não estou mais... sentindo eles. – Adam disse, com os olhos ainda fechados.

Comecei a rir e tirei meus lábios dos seus.

— Temos que voltar! – Falei. Odiando a mim mesma por isso. – Alguém pode ter sido atacado por um tubarão.

— Não tem tubarões em lagos. – Ele disse e voltou a me beijar.

Separei-me dele novamente.

— Com a nossa sorte, esse pode ser o primeiro incidente.

Rindo, ele assentiu e me beijou uma última vez.

— Vamos. – Ele levantou, me içando junto com ele. Ficamos de frente um para o outro, sorrindo como panacas. Aquele constrangimento depois de beijar um amigo.

Prendemo-nos em uma situação bem estranha por um momento. Ele balançava sutilmente o braço na minha direção, olhando para a minha mão, como se quisesse segurá-la. Mas é claro que não podíamos voltar para as pessoas de mãos dadas e caminhando em nuvens.

Tomei a iniciativa, andando na frente, e Adam veio bem atrás de mim. Antes que atravessássemos o trecho com árvores, ele ainda roubou um beijo ou dois. Mas depois delas, nos afastamos, a fim de não delatar nenhuma intimidade entre nós, além da de simples amigos. O garoto moreno, à propósito um ótimo músico, ainda tocava o violão. E ninguém parecia ter percebido nossa ausência. Exceto por Teri e Crystal, claro.

— Onde vocês foram? – Teri perguntou, fuzilando o irmão com os olhos.

— Fui mostrar a clareira pra Amanda. Ela ainda não tinha visto.

Crystal virou-se de costas, parecendo não querer se pronunciar sobre, já Teri negou com a cabeça, cerrando os olhos para Adam, que sorria inocentemente. Não me atrevi a sorrir, porque isso nos entregaria, mas por dentro borboletas lutavam kung fu no meu estômago.

* * *

No fim da tarde, o sol já tinha perdido todo o calor, e agora uma brisa fria soprava no lugar. Adam e eu estávamos tendo sucesso em esconder o que aconteceu entre nós. Tirando uns sorrisinhos, relevantes apenas para nós, o flagrei olhando-me intensamente algumas vezes. Mas não acho que aquilo fosse suficiente para alguém desconfiar. Quanto a isso acho que poderia ficar tranquila.

Embora meu estado eufórico de espírito, o dia não seguiu também só flores e corações. Senti meu humor declinar severamente, quando pus meus olhos em Ryan. E, não melhor que a minha, sua expressão ao olhar para mim era de puro descontentamento. Me dava nos nervos. E Dave? Continuava com o olhar de sempre. Como se medisse minhas ações e me repreendesse por estar com aquelas pessoas. Mais precisamente, com Adam. Mas sabem quem eu não vi? Janice! E isso era, com certeza, um alivio. Imagina se ela descobrisse que eu havia beijado o namorado platônico dela.

Lynn, com os cabelos molhados depois de horas na água, vestia a blusa por cima do biquíni roxo que estava usando, e brincava com Jason. Eles eram um casal, definitivamente. Jason deu um beijo na ruiva e correu até um grupo de garotos. E logo que ele saiu, ela se virou acusativa para as amigas.

— Por que estão com essas caras? – Ela perguntou, a Teri e Crystal. Que pareciam estar presenciando um velório.

Eu compreendia que Teri estivesse deprimida. Afinal, Kyle passou a tarde toda agarrado a Hanna e não demostrou muita consideração conosco. Pela conversa do outro dia, eu podia entender, e não estava chateada com isso. Mas ela devia estar, e muito. Já Crystal, eu supus que estivesse apenas absorvendo a aura da outra e com ela alimentando a própria e habitual melancolia.

— Você é uma hipócrita. – Disse Crystal. – Nos convenceu de que viríamos nos divertir juntas. Mas só sabe ficar com o seu namoradinho.

Lynn rolou os olhos. E sorriu com sarcasmo.

— Eu estou me divertindo com quem quer se divertir. – Expressou. – Porque vocês não fazem o menor esforço para isso. Você. – Apontou para Teri. – Só veio aqui para se torturar mais um pouco. E você. – Agora para Crystal. – É pior! Porque se deprime sem motivo nenhum. – Acusou, com um tom duro.

Crystal se encolheu. E Teri e eu olhamos uma para a outra. Acho que ambas concordávamos que ela exagerou um pouco. Crystal assentiu com uma expressão magoada e seus olhos encheram-se de água. A loira se levantou bruscamente e saiu pisando forte. Lynn manteve a expressão até ela sair, mas logo demonstrou arrependimento.

— Eu estou certa. Não estou? – Ela perguntou, olhando fixamente para nós.

— Você sabe como ela é! – Teri disse, séria. – Podia ter pegado um pouco mais leve.

Lynn suspirou e pegou a bolsa.

— Vou me desculpar. – Falou, caminhando na mesma direção em que a loira chorosa desaparecera.

Eu já havia notado a personalidade melancólica de Crystal. Mas ela estava sempre oscilando, por isso era fácil esquecer que ela tinha esses rompantes, ás vezes. Principalmente porque na maior parte do tempo ela era ótima.

Durante o caminho de volta para casa, Teri examinava as expressões do irmão como uma agente treinada do FBI. E, por isso, não percebia os meus olhares. Pensei no que ela faria se percebesse. Já tinha ficado bem claro que ela não apoiava qualquer relação amorosa entre Adam e eu. Aliás, nenhum dos outros parecia ser muito fã da ideia também, e eu não conseguia não me importar com isso. Era verdade que não tive a pretensão de que aquilo acontecesse, mas agora que havia, eu estava simplesmente explodindo em um misto de euforia, confusão e medo. Medo de estar me precipitando, da reação dos outros, e de minhas próprias expectativas.

Mal estacionamos na frente da minha casa e vi minha mãe, irrompendo pela porta da frente com algo nas mãos, correndo até o carro como se fugisse de um incêndio.

— Amanda! – Ela falou exasperada. – Você tem alguma ideia de como tirar vinho de uma blusa dessas? – Ela mostrou a blusa verde musgo, de corte assimétrico e tecido leve que trazia nas mãos. – É a minha Diane Von Furstenberg preferida. – Explicou chateada.

Eu mereço.

O que ela esperava que eu dissesse? “Vamos lá. Vou tirar essa mancha!”?

— Eu sei tirar a mancha. Se quiser. – Teri disse prestativa.

Olhei hesitante para a menina no banco da frente. Adam apenas observava a cena confuso.

— Não precisa... – Comecei.

— Tudo bem, Mandy. É uma Diane Von… não sei o que. – Ela disse, saindo do carro.

— Venha querida. – Minha mãe a chamou inquieta, guiando-a até a porta. – De que você precisa?

— Só de um pouco de vinagre branco. – Teri disse, caminhando com Anne para dentro da casa.

Adam sorriu e abaixou a cabeça. Então se virou para mim e levantou os olhos, fitando fixamente o meu rosto. Estávamos a poucos centímetros um do outro, nos encarando pela fresta entre os bancos.

— Desculpa se eu pareço não saber mais como me comportar perto de você. – Ele falou encabulado. – Acho que nunca soube realmente.

— Até agora, tem se saído bem. – Expus, encorajando-o.

Ele sorriu.

— E se sente bem? Com o que aconteceu. Quero dizer, eu não te deixei desconfortável, deixei?

— Não. Fui eu que dei a brecha. Lembra?

E agora tenho que assumir a responsabilidade!”.

— Mas você podia estar confusa. Depois que eu quase parti o seu crânio em dois.

— Então eu ainda devo estar. – Falei, me aproximando mais dele.

O beijei, suave e lentamente. Querendo exorcizar qualquer fantasma de dúvida na mente e no coração dele. Ele imediatamente retribuiu e, após alguns segundos, o terminou, acariciando carinhosamente minha bochecha com a ponta de seu polegar. Afastamo-nos e sorrimos. Senti-me quente. Acalentada. Não havia nada naquele garoto que me repelisse, pelo contrário, tudo nele me atraia e me fascinava.

Teri saiu pela porta logo em seguida, acenando para minha mãe. Então era hora de apagar a brasa e de fingir que não estava totalmente e desenfreadamente extasiada com, como ela mesma diria, o seu “irmão idiota”.