6 de Dezembro de 1999

Charlie Smith estava dormindo em um sono profundo. Ele usava um pijama simples, composto pela camisa de botões xadrez e pela calça azul-claras.

Estava sereno e tinha uma respiração carregada.

Foi quando o despertador soou e, após alguns minutos, o jovem despertou. Levantando-se da cama, ele se espreguiçou. Eram ainda 6 da manhã.

Charlie parte para a cozinha e, sem cerimônias, pega um pão que estava em uma cesta ao centro da mesa e coloca-o na bancada. Abrindo a geladeira, ele sentiu o vento gelado sair do interior e tocar os seus pés, provocando-o calafrios.

Sem demora, ele pega o pote de margarina e uma maçã, e fecha a porta usando o pé.

Já na bancada, ele pega uma das facas do faqueiro e repete os mesmos movimentos matinais de passar a manteira pela superfície do pão de forma. Charlie coloca a faca próxima a beirada da bancada e quando, pega uma caneta que estava ao lado do objeto, a manga de seu pijama empurra-a.

A faca caiu da bancada e ia para o pé de Charlie, que retirou-o por reflexo.

Ainda assustado, ele pegou o seu pão e se sentou para terminar o café. Ele não podia perder o seu tempo, porque ele tinha planos.

– Nada poderá me estressar essa manhã. – Charlie toma um gole do café e coloca a caneca sobre a mesa, novamente – Hoje o dia vai ser perfeito!

***

Charlie sai do banheiro e retira o celular do bolso, entrando no quarto. Ele disca algum dígitos, enquanto os sussurra. Era o número de Hellen.

Hellen era a namorada de Charlie desde o fim do primário. Ela era proveniente de uma família, enquanto o namorado era de uma família de classe média. Nunca houve oposição dos pais de ambas as partes, porque eles sabiam que era amor verdadeiro. Os pais de Charlie achavam que Hellen era uma garota de classe e poderiam corrigi-lo. Já os pais de Hellen achavam que o rapaz tinha o dom da persuasão e sabia se comunicar bem. Era um forte candidato a sucessor ao cargo chefe da empresa do senhor Hall, que um dia seria herdado pela filha única do casal.

– Alô. – a voz da jovem estava distorcida no aparelho celular, mas foi o suficiente para que o coração de Charlie palpitasse.

– Bom dia, meu amor... – diz ele, com um sorriso nervoso.

– Bom dia, melhor coisa que aconteceu na minha vida.

– Está pronta?

– Claro, as minhas malas já estão no carro. – responde.

– Então nos encontramos lá. I love you!

Me too.

***

Hellen está na sala de embarque, em pé, conferindo seu visto e passaporte. Ela veste roupas quentes e está apoiada com um dos braços sobre a mala. Quando Charlie chega a sala e vê um rosto conhecido, ele grita o seu nome.

– Hellen. – a princípio, ela procura-o com os olhos e eles se estacionam em frente a porta. Charlie abre um sorriso e estende os seus braços esperando um abraço e caminha em direção a jovem.

Juntos, eles se abraçam e quebram o silêncio com um beijo.

– Essa viagem fica ainda melhor com você. – comenta Charlie.

– Se não fosse você eu não viajaria de avião. – diz a jovem, expressando enorme gratidão.

– Por que? Você tem medo?

– Não, mas meu pai não ia me deixar viajar sozinha. Ainda mais, porque só temos dezessete anos.

– Ele é um bobo, idade não define mentalidade.

– É verdade. Ele fica preocupado atoa... – Hellen recosta a cabeça contra o peito do rapaz, que a abraça.

Charlie e Hellen ficaram frente a uma das enormes paredes de vidro, admirando os aviões estacionados. Hora ou outra, aparecia um avião por entre o céu nublado e taxiava a pista, parando a fileira frente aonde estavam os jovens.

Após uma voz comunicar a chegada do avião 402, Charlie e Hellen pegam suas bagagens e vão para a fila. Charlie tira do seu bolso duas passagens e entrega uma a Hellen.

Ela sorri, um pouco desconcertada.

***

Charlie e Hellen caminhavam por entre rostos desconhecidos. Eles se mexiam e andavam desorganizados, empurrando uns aos outros. Não tinha mais volta, estariam em poucos segundos dentro do avião.

Todas aquelas pessoas estavam na ponte, que faziam conexão com o avião.

Hellen caminhava atrás de Charlie desde um momento atrás em que um homem de idade parou em sua frente e outra pessoa a empurrou para trás do namorado, quando tentou voltar para o seu lugar, já estava ocupado por dois rapazes um pouco mais velhos que conversavam alto e se estapeavam, como dois adolescentes.

Hellen observa o seu redor para tentar se esquecer do que aconteceu. Foi quando, ela avistou uma moça que ela pensou conhecer. Ela a fitou até que, por fim, a moça virou o seu rosto para trás para conversar com dois garotos. Era ela.

– Não são o pessoal sobrevivente do vôo 180?

Charlie olha para Hellen e tenta acompanhar a visão. Então, ele vê os três jovens mais a frente, em uma conversa acalorada.

– São sim. Eu os reconheço. – Charlie fica hipnotizado com Clear – Eu acompanhei a história pela televisão. O garoto loiro foi o que previu a explosão do avião. Ele deve ser um bruxo, ou membro de alguma ceita. Vamos evitá-lo.

***

Se havia se passado as 10 horas e meia de viagem e Charlie e Hellen se encontravam em Paris. Por coincidência do destino, eles se hospedam no mesmo hotel em que estão os sobreviventes do Voo 180. Charlie havia os visto dentro do elevador quando estavam indo para o seu quarto, no sexto andar, a sexta porta a direita: quarto 612.

Tanto Charlie quanto Hellen estavam trajando roupas de frio mais finas, quando se aproximaram da frente do balcão. Charlie olha para os lados a procura da recepcionista e, na mesma hora, ela se levanta de debaixo da bancada.

– Em que posso ajudar?

– Você conhece algum teatro ou cinema aqui perto? Eu e minha namorada queríamos assistir uma atração francesa juntos.

– Claro! – responde ela – Há um teatro aqui perto. Ele fica na rua ao lado. Soube que é a decima terceira apresentação do grupo teatral.

Charlie tem um pressentimento ruim. Ele sentiu uma mão em cima de seu ombro e quando tenta tocá-la, ele vê que não a nada. Ele se vira para trás e não vê ninguém, apenas umas cortinas balançando com o vento.

– Eu estou com um péssimo pressentimento. – deu uma pausa, colocando a mão no ombro. Estava gelado. – Não acho que devíamos ir para o teatro.

– Que nada! Isso é coisa da sua cabeça. – Hellen esboçou um sorriso – Nós vamos ao teatro! Nós vamos no divertir! Tudo ficará bem!

– Tomara!

***

Charlie e Hellen estão sentados próximos a frente do palco. Eles conversavam sobre como a viagem estava incrível, quando um homem de skoming aparece de trás da cortina e se aproximou do microfone estrategicamente posicionado no meio do palco. Ele coça a garganta, colocando a mão sobre a frente, em respeito aos demais. Então, pronuncia:

– A apresentação irá começar em instantes. – a sua voz era de interlocutor – Por favor, desliguem seus aparelhos celulares e evitem conversas paralelas durante a peça. Não é permitido fumar dentro do edifício, nem portar qualquer tipo de alimento. Espero que todos cumpram as regras e assistam ao show. Obrigado!

Todos se entreolharam e o homem saiu do palco.

É quando os atores entraram em cena. Um estava fantasiado de fantasma, outro de bruxo e, outro, de vampiro. As pessoas batem palmas, mas permanecem mudas. Todos assistiam, enquanto Charlie observava a edificação.

Uma das pilastras próximas tinha uma pequena rachadura.

Charlie cutuca Hellen, mas ela o ignora. Ela estava mais preocupada em assistir a peça, com isso, Charlie aproxima do ouvido dela e diz:

– Não estou gostando nada disso, vamos embora! – ela não o olha – Não pagamos nada mesmo. Que tal irmos para aquele restaurante que você queria?

– Não! Não, não! Viemos até aqui agora. A gente só sai quando a apresentação acabar. – sussurra a garota.

Charlie continua sentado e decide tirar a ideia da cabeça.

O fantasma estava andando pelo palco, quando o bruxo e o vampiro aparecem frente a ele. O bruxo aponta sua varinha mágica para a assombração, enquanto o vampiro mostra as suas presas.

– O que vocês querem? – diz o fantasma com uma voz grossa.

– Queremos fazer um desafio. – diz o vampiro.

– Que tipo de desafio?

Um enorme estrondo ecoa dentro do teatro.

Alguns curiosos começam a procurar a causa, olhando atônitos para todos os lados do teatro. Tudo parecia está no seu devido lugar. Charlie olha para cima e consegue vê em um vitral com cores quentes.

O elenco se entreolha e o fantasma afasta o microfone de perto da sua boca, para os demais não os ouça.

– O que foi isso? Não estava no roteiro.

– Eles devem ter colocado um caco. Improvisa!

– Eu odeio isso!

Outra vez um estrondo ecoa no interior do teatro, mas ele se fez maior. Ele era oco, como o de uma bomba e fez até o chão tremer.

Os burburinhos do público começou e a pilastra, antes vista por Charlie, começa a rachar-se mais para ambas as direções na vertical. As rachaduras terminam apenas quando se aproximam do palco e um enorme naco de argamassa e tijolos se solta e caiu contra o elenco, esmagando-os.

Na mesma hora, todos se levantam e correm apressadamente para a saída.

Dois policiais estavam a porta monitorando a peça, quando tudo aconteceu, logo, ele foram até as saídas e abriram as portas para que todos pudessem salvar suas vidas. Entretanto, as portas se fecham bruscamente, como um ferrolho sendo encaixado.

Um dos policiais tenta golpeá-la diversas vezes com o ombro, mas ela permanecia imóvel. Não iria mais abrir.

Estava a chover tijolos e os desavisá-los eram golpeados na cabeça.

Entre a multidão havia um lutador e uma bailarina. O lutador tentou correr para o palco para tentar sair pela porta dos fundos e puxou a jovem para si. Ambos correram e passaram esbarrando em Charlie e Hellen.

Hellen cai no chão e Charlie se vira para tentar ajudá-la. Ele olha para o homem caminhando sobre o palco indo para trás das cortinas, quando um holofote cai em cima da sua cabeça.

Fora tão rápido que, ele não pode reagir.

Apenas caiu inerte no chão, puxando a bailarina para si. Ela cai junto a ele e tentou se soltar, assustada. Ela grita em êxtase.

Por fim, ele cedeu e ela sai.

Ainda assustada, ela correu para fora do palco, mas tropeçou caindo de uma altura de dois metros. Ela cai com a cabeça voltada para baixo e fratura o pescoço. Caída no chão, seu rosto mantinha uma expressão seria, a medida em que seu corpo pequeno e frágil era soterrado. Uma poça de sangue tomava o formato do seu corpo sob ele, mas agora, era quase imperceptível.

Os policiais não veem outra alternativa a não ser escalar as pilastras por uma das faixas que se estendia próxima ao chão. Eles tentariam sair por um dos vitrais e buscar por reforços.

Porém, os planos dos homens foram por água abaixo quando os vitrais estouraram com uma terceira explosão. Cacos de diversos tamanhos caiam do céu e brilhavam com o fogo do lugar. O teatro estava em chamas.

Um a um, os cacos entraram facilmente pela carne macia do corpo dos dois homens. O primeiro foi atingido por um pedaço grande que o atingiu na cabeça e o partiu ao meio pela vertical. Já o segundo, caído no chão, se encontrava inteiro, com cacos profundos na região da caixa e tórax.

Os dois haviam morrido ao mesmo tempo.

Hellen se levanta e corre na frente de Charlie. Ele tenta acompanhá-la, porém o caminho estava sendo ocupado por espectadores. Então, ele apenas vê quando a jovem entra em uma fileira de cadeiras e passa por entre elas, apertada.

De repente, a cadeira cede e vai para frente, esmagando-a a partir dos joelhos. Charlie ficou atordoado, ela iria morrer se não saísse dali, o fogo estava a alcançá-la. Charlie se aproximou da jovem.

– Hellen, aguente firme. Eu vou tirá-la, daí!

Charlie foi para trás, tentando puxar a poltrona, porém ela estava imóvel. Ela não sairia do lugar.

Foi quando ele ouviu um pequeno estouro seguido pelo barulho de uma mangueira com pressão.

– Cuidado! – disse.

Charlie abaixou, mas Hellen não. Ela não poderia dobrar as pequenas quebradas nem se quisesse. Ela apenas vira o rosto para a direção em que vem o barulho e vê um extintor de incêndio voando como louco.

Ele a atinge na cabeça com uma força o suficiente para quebrar o seu pescoço. Dentes se soltam de sua boca, ao passo que outros aterram cravando na carne das suas gengivas. Seu pescoço é o que mais recebe dano. Tudo que ela sente naquela hora é dor e uma sonolência. O sono da morte.

Então, ela se deita na poltrona e fecha os olhos com a voz de Charlie ecoando em seus ouvidos. O doce som da voz de Charlie.

Um tijolo cai e força a maçaneta da porta que solta.

A porta se abre.

Uma multidão furiosa sai as pressas do teatro. Alguns estavam feridos com algumas partes do corpo lesionadas, com sérios riscos, enquanto outros pareciam está ilesos. Ainda assim, era uma multidão pequena, se comparada ao que encontrou dentro daquele edifício e só sairia dentro de uma caixa de madeira.

Charlie sai acompanhando os passos apressados da multidão.

Ele corre para a rua, mas é surpreendido por uma moto que estava a mais de 100 km/h. Foi o fim. Ele foi arremessado para o outro lado da pista e parou apenas quando atingiu com força no meio-fio. Já o motoqueiro foi arremessado para a frente, mas saiu ileso.

Charlie estava morto, entre a sua cabeça e o meio-fio tinha uma barra de ferro forçada de um mata-burro que estava inclinada. Ela entrou com força, fraturou o crânio e atingiu o cérebro, apagando-o de vez.

Pela primeira vez, o garoto não sentiu nada.

Era a sua hora e ele queria ir. Ele, então, fechou os olhos e sentiu-se flutuando. Estava leve. Livre de qualquer culpa.

***

Charlie e Hellen estão sentados nas poltronas esperando a peça começar, quando um homem de skoming aparece de trás da cortina e se aproximou do microfone estrategicamente posicionado no meio do palco. Ele coça a garganta, colocando a mão sobre a frente, em respeito aos demais. Então, pronuncia:

– A apresentação irá começar em instantes. – a sua voz era de interlocutor – Por favor, desliguem seus aparelhos celulares e evitem conversas paralelas durante a peça. Não é permitido fumar dentro do edifício, nem portar qualquer tipo de alimento. Espero que todos cumpram as regras e assistam ao show. Obrigado!

Todos se entreolharam e o homem saiu do palco.

É quando os atores entraram em cena. Um estava fantasiado de fantasma, outro de bruxo e, outro, de vampiro.

Charlie ficou atônito.

As coisas ocorrem como em seu sonho, contudo, ele iria fazer diferente. Ele levantou da poltrona e Hellen olha para ele, curiosa. Charlie olha para a pilastra. Ela estava com uma rachadura. Ele olha para o vitral. Ele tinha o desenho de uma espada em volta de pedaços de vidros com cores tropicais.

Então, ele coloca a mão na cabeça e começa a falar consigo.

– Não, não, não... Não pode ser! – ele olha para frente e vê o fantasma andando de um lado para o outro do palco, aterrorizando a plateia. – Esse teatro vai explodir. – grita.

Todos param. Todos começam a olhar para o garoto, inclusive as pessoas que estavam no palco atuando.

– Vai explodir! Eu vi no meu pensamento... Tudo irá desabar!

Algumas pessoas se levantam e ficam observando o garoto. Foi quando o homem de smoking aparece novamente e toma o microfone do palco. Ele olha para todos e estende as mãos para os dois lados opostos.

– Calma, pessoal! É só uma brincadeira de muito mal gosto. – ele olha para Charlie – Está maluco garoto? Pare de tentar causar um tumulto.

Entretanto, Charlie fica em protesto em prado. Ele vai de um lado ao outro tentando erguer as pessoas de suas cadeiras, mas era um ato em vão. Poucos entendiam o seu idioma, e os poucos que sabiam o que ele dizia, ficavam perplexos. Não queria acompanhá-lo. Seria ilógico.

– Temo pedir isso, mas acho melhor você se retirar junto com a sua acompanhante. – ele faz alguns sinais com as mãos para os dois homens que estavam guardando as portas. – Segurança! Mostre-o a saída, por gentileza.

Então, os dois policiais saem de trás das portas e vão até Charlie. Após uma conversa acalorada com os policias, por fim, ele cede. Hellen fica o tempo todo calada observando. Sentia-se envergonhada e não sabia de que forma olharia o namorado a partir daquele momento. Ele estava louco.

O lutador que está sentado próximo ao garoto, vê a cena e resolve sai. Não queria perder nem mais um momento naquele lugar. Estava a fim de vê uma confusão se instaurar.

Hellen espera alguns instantes no seu lugar, mas sai também, acompanhada de uma moça. Ela olha para Hellen, mas não diz nada. O que havia acontecido, de certa forma, não era de sua conta.

– Mais alguém deseja se retirar?

O teatro se afundou em um profundo silêncio. Então, o homem de smoking abaixou as mãos e foi para atrás das cortinas novamente.

Nesse momento acontece o primeiro barulho.

Algumas pessoas ficam com medo e um burburinho se instaura no lugar. Todos se entreolham falando sobre o garoto e comentando sobre ele poder está certo, mas tomam o benefício da dúvida e permanecem nos lugares.

Um dos protagonistas se olham para os demais e sussurra, tampando o microfone com as mãos:

– Aquele cara pode está certo! Eu vou é embora daqui!

– Não! Fica calmo, eles devem ter colocado um caco no roteiro. Então... Improvisem!

Enquanto conversavam, a pilastra continuou a se rachar para os dois lados na vertical. A rachadura já estava próxima ao palco, quando um naco de argamassa se soltou e esmagou todos os atores.

O homem de smoking que está atrás da cortina, também, morreu. Ele tinha sido empalado por uma das alavancas que puxavam os sacos de areia que segurava o cenário. Ele tinha uma expressão amarga e sangue escorria da sua boca. Ele já não se debatia mais, porque não tinha forças para lutar. Então, abraçou o seu destino e cedeu.

***

Todos estavam do lado de fora, agora, mais calmos. Charlie está abatido. Não conseguiu salvar todas as vítimas.

Ele apenas esperou a explosão acontecer e o teto começar a entrar dentro da edificação, como um formigueiro recebendo água. Todos olham aflitos para o acidente, e depois, para Charlie.

A premonição havia concluído.

– Como você sabia disso? – pergunta o policial.

– Vocês não vão querer saber...

Charlie aperta a mão de Hellen, que maneia a cabeça, e ele também. Eles estavam se comunicando apenas com a cabeça e todos os sobreviventes os olhou ainda atordoados pelo ocorrido. Por fim, ele concluiu:

– Vocês já ouviram falar do voo 180?

Todos se entreolharam e, apenas o lutador confirmou com o aceno.

– Bem... Eu devo ter ouvido alguém falando sobre isso no clube em que treino. Diariamente entra homens naquele lugar, dos quais você lamberia o pé para que eles te levassem para as lutas profissionais, mas... O que isso tem a vê?

– Você ouviu a história toda. Conte-os! – pediu Charlie.

– Ah, se me lembro bem... Eu ouvi falar de um garoto.

– Alex Browning! – confirmou.

– Sim! Ele alegou ter presenciado o acidente momentos antes de acontecer. Ele descreveu tudo aos policiais, como se o corpo dele ainda tivesse uma parte dentro do avião, que nunca mais iria voltar. Eu vi o noticiário. Sei quando alguém está fingindo, mas ele me pareceu convincente.

– Eu não se vocês vão acreditar... – Charlie olha para o rosto de cada um, eles pareciam está atentos as suas palavras. – Mas eu acho que vi o mesmo que aquele garoto! Não... Talvez não daquela forma, mas eu presenciei os últimos acontecimentos dessa noite! Eu sei o que vi. Vi quando cada um de nós fomos mortos!

Os dois policiais se entreolham.

– Meu rapaz, – um dos policiais coloca a mão sobre o ombro de Charlie – Eu acredito em você! Entretanto, se fossem outros policiais, eles poderiam te julgar como álibi do crome. Você me entende?

Ele afirmou positivamente com a cabeça.

– Bem, vocês são daqui de Paris?

– Não, nós viemos dos Estados Unidos! Estamos de férias e queríamos um tempo a sós. Estamos hospedados em um hotel na rua circunvizinha.

– Certo... – diz um dos policiais.

Então, ele se vira para o teatro enquanto coloca a mão sobre a cabeça e começa a coçar o couro cabelo loiro.

– Pelo visto, vamos está bem ocupados nos próximos dias. Estivemos mais próximos da morte dessa vez, não resta dúvidas de que teremos que cuidar desse caso... E você! – apontou para Charlie – Espero que fique por mais algum tempo na cidade. Não duvidamos da sua palavra, mas você até o certo momento é o nosso único suspeito.

– Certo! – gagueja o rapaz.

– Você tem algum número que eu possa entrar em contato?

Charlie tira o celular do bolso e passa a informação para o policial, que a anota em uma pequena caderneta que carregava dentro de um bolso da sua blusa social. Ele a carregava por motivos de profissionais. Estando ou não no serviço, precisava de um tempo para relaxar e rever os seus casos, para o caso de deixar alguma ponta solta. Ele gostava de se manter ocupado.

– Por enquanto é só! – disse.

Todos tem receio de começar uma conversa. Sempre que tentavam abrir a boca para falar algo, eles se lembravam que estava em uma cena de um crime.

Todos esperaram a ambulância e o corpo de bombeiros chegar.

Somente após um exame médico eles resolvem se despedir. A noite já havia acabado para eles. Charlie não sabia como iria dormir aquela noite. Ninguém sabia como era sentir o fardo de se sentir culpado pela morte de 180 pessoas.

***

Chegando ao hotel, Hellen olha para Charlie e o beija na bochecha.

– Charlie, me desculpe por te sido tão egoísta. Você estava tentando nos salvar e, por causa da minha teimosia, quase fomos mortos.

– Não se preocupe. Eu não a culpo. Se fosse você a pessoa que estivesse gritando no teatro algo do tipo, dificilmente, eu acreditaria também. É algo totalmente normal e compreensivo.

– Charlie... – diz ela. Ainda se sentia um pouco culpada. Seu namorado era maravilhoso.

Charlie e Hellen iam dá novamente um segundo beijo em frente a porta do hotel, quando um garoto passou com passos rápidos e empurrou o casal para fora do caminho. Então, uma garota loira apareceu da escuridão da noite e entrou no hotel.

– Alex! Espera!

Ela se aproximou do casal e pediu desculpas.

Quando ela o avistou novamente, ela corre para o elevador, mas as portas da cabine se fecham antes que ela pudesse entrar. Era Clear.

Charlie olha para Hellen e diz:

– O que será que aconteceu?

Hellen olha para a rua novamente como se esperasse alguém e voltou o rosto para Charlie, com uma expressão curiosa.

– Onde está o terceiro garoto? O que estava com eles?

A resposta parecia amarga. Ela veio a mente dos dois como um flash, mas preferiram não acreditar.

Logo, elas foram para as escadas. Queriam chegar no quarto o mais rápido possível. Eles não tinham a paciência de esperar o elevador chegar e, mesmo se o ocorresse, tinham receio de entrar no elevador. Lembrar do teatro, fazia-os pensar que eles poderiam está mortos. E pensar que eles podiam morrer dentro do elevador não parecia ser um pensamento reconfortante.

***

No quarto, Hellen está sobre a cama retirando os brincos para colocá-los na cabeceira, enquanto Charlie se encontra no banheiro escovando os dentes.

Cansada de fica parada, ela liga a televisão quando um rosto conhecido no telejornal. Era Carter, um dos garotos do avião. Hellen chama Charlie e ele larga a escova e vai até Hellen as pressas, quando olha para a TV.

Eles estavam certos. Carter estava morto.