— Quem é esse cara? Mais uma conquista sua? - falou sem pensar e ela sentiu seu coração quebrar mais uma vez com o que ele pensava dela e engolindo o choro ela disse para confrontá-lo.

— É sim e é por ele que eu quero o divorcio!!! - e ele paralisou tremendo seu corpo todo.

Não podia ser verdade o que ela estava dizendo, não podia estar ouvindo semelhante barbaridade dos lábios dela depois de dois dias fora de casa. Ela tinha chegado com um homem e pior tinha colocado a filha no meio deles dois, por sua mente se passou tanta coisa naqueles segundos em que digeria aquela informação que não soube nem como se portar.

Diante do silêncio dele, ela pegou a filha e entrou em casa e subiu direto para o quarto de sua pequena e começou a tirar a roupinha dela assim que a colocou sobre a cama e ela começou a pular somente de calcinha e Inês por fim deixou uma lágrima escapar de seus olhos. Victoriano sempre a veria com maus olhos e ela não queria mais isso pra si, Vick veio a ela de imediato e tocou seu rosto toda carinhosa e ao mesmo tempo assustada por vê-la chorar.

— Eu não pulo mais mamãe. - falou inocente.

Inês olhou para cima e respirou fundo para não chorar, a filha não tinha o porquê de vê-la daquele modo. Voltou seus olhos a ela e deu um meio sorriso abraçando seu corpinho e ela se agarrou a mãe com o coraçãozinho acelerado.

— Você é a coisa mais importante da minha vida, não se esqueça nunca disso ta bom? - falou olhando nos olhinhos dela.

— Ta bom!! - sorriu e beijou a mãe.

Inês deu um meio sorriso novamente e quando ia para o banheiro Victoriano entrou no quarto como um foguete e as duas olharam para ele que estava vermelho.

— Você não pode simplesmente me dizer uma coisa dessas e sair andando!!! - rosnou as palavras.

— Eu não vou discutir nada na frente da minha filha!!! - retrucou.

— Nossa filha!! - disse sério.

Ela deu de ombros e entrou no banheiro com a filha o deixando sem resposta e ele bufou sentando na cama para esperar por ela, não iria sair dali sem ter um conversa definitiva com Inês. Olhou para os lados e aquele quarto era perfeito decorado nos mínimos detalhes por ela quando descobriu que seria uma menina, olhou o criado mudo e dali pegou a foto onde tinha os três e um sorriso que não cabia em seus rostos.

Era o segundo aniversário de Vick e ela deu um sorriso tão perfeito que contagiou os dois e a foto tinha saído tão perfeita que eles até pareciam mesmo uma família completa e feliz. Victoriano não podia imaginar sua vida sem sua menina e... E sem Inês também mesmo que seu ego não quisesse admitir.

Por mais que ele não visse o que estava fazendo com Inês e com aquele amor que eles tinham entre eles e não admitiam. Ele e somente ele estava acabando com todas as possibilidades de ambos se acertarem, ele a distanciada, ele estava amargo enquanto ela tentava contornar a situação por ser grata a tudo que ele tinha feito por ela até entender que o amor que já existia por ele não precisava ser humilhado ou deixado de lado como estava sendo aqueles anos todos com a renúncia dele até em conversar e superar o passado.

Foram minutos ali imerso naquelas lembranças e pensamentos até que Inês saiu do banheiro cantarolando com a filha e sorrindo, mas ao vê-lo ali ainda fechou a cara e foi para o outro lado da cama para arrumar a filha. Vick sorriu e peladinha foi agarrar o pai e o fez de cavalo.

— Papai, vamos passear de cavalinho hoje? - o olhou "trepada" em suas costas.

Ele sorriu e a olhou beijando a ponta de seu nariz.

— Vamos sim minha amazona!! - viu os olhos de ela brilhar. - Agora vá se trocar.

Ela assentiu e voltou a Inês que começou a vesti-la e ele ficou de pé colocando o quadro no lugar e depois de olhar as duas saiu do quarto, desceu e foi a cozinha pedindo a empregada que fizesse a mamadeira da filha e depois subisse pra ficar com ela. Ele pediu também que avisasse a Inês que a esperava no quarto e se retirou depois de agradecer.

Foram mais alguns minutos de agonia até que ela entrou no quarto e bateu a porta para chamar a atenção dele que olhava pela janela os trabalhadores espalhados por toda aquela fazenda. Ele se virou e a encarou sem conseguir esperar muito para dizer.

— Quem é aquele cara? - a voz era forte.

— Eu já te disse!!! - manteve a postura. - E também você já tirou suas próprias conclusões sobre o que viu. - não queria brigar apenas iria arrumar suas coisas e ir embora.

— Você acha que eu sou trouxa? Que sou seu capacho? - falou perdendo o controle e ela o encarou.

— Trouxa sou eu em pensar que esse casamento algum dia vai sair do papel e ser vivido de verdade. Trouxa sou eu por esperar tanto de você e somente receber migalhas de qualquer sentimento que possa existir em você!!! - a voz era intensa. - Sou tão trouxa que depois de cinco anos eu pensei que poderíamos ter um jantar tranquilo no nosso aniversário de casamento, mas o que eu ganhei foi mais uma vez a solidão de um casamento vazio que não tem futuro pelo modo como você me vê.

Ele se aproximou de imediato dela e a segurou pelos braços a fazendo sentir a pressão. Era a hora da verdade e do xeque mate.

— Eu fiz tudo por você esses anos todos!! - a voz saiu trêmula.

— E fez somente com o intuito de me jogar na cara como tem feito todos esses anos!! - se soltou dele indo para o outro lado do quarto. - Você casou comigo pra me salvar da vergonha, mas também pra jogar diariamente na minha cara o erro que eu cometi. - o olhava com intensidade. - Eu era uma menina cheia de vida que queria aproveitar tudo e queria sim ficar com o garoto mais popular da escola como todas as outras garotas, mas eu não sabia que sairia mal dessa história e com uma gravidez não desejada.

Era a verdade e ele sentia seu coração bater em descompasso por ter que reviver aquele passado nas palavras dela.

— Mas eu não te forcei a me assumir, Victoriano, eu não te pedi nada e isso não é ser mal agradecida pelo que fez por mim, mas sim estou te mostrando que foi você quem quis ficar ao meu lado e assumir a minha filha e de verdade eu começo a questionar se foi por amor ou apenas para me punir pelo que tinha feito mesmo depois de você ter me alertado que ele não prestava.

— Eu fiz o que fiz por amor sim, Inês, eu fiz por mim e fiz por você também!!! - a encarava.

— E pra que? Nós somos infelizes a maior parte do tempo, Victoriano. - falou com tristeza. - Dissimulamos um amor frente às pessoas, mostramos que somos uma família perfeita, mas quando estamos aqui nessas quatro paredes somos dois estranhos dividindo um teto e uma cama fria. - passou as mãos no cabelo.

— Há quanto tempo está com esse homem? - deixou que o ciúme o cegasse.

Ela sentiu o rosto queimar com aquelas palavras.

— Estava vendo só? Está vendo porque nós dois não vamos pra frente? - gritou com ele perdendo o autocontrole que tinha até aquele momento. - Eu não sou uma vagabunda, eu não sou!!! - os olhos ficaram em fogo. - Você fala como se fosse um santo e nunca tivesse feito nada nessa vida que o condenasse, eu não sei de tudo da sua vida e me pergunto quantas você comeu por aí é largou naqueles dias que você estava todo revoltadinho comigo e ficava com uma garota por dia. - cuspiu as palavras.

— Eu nunca fiquei com mulher nenhuma... - confessou e ela riu.

— Não minta pra mim, Victoriano, eu não sou idiota pra cair no seu papinho. As mulheres só faltam deitar no seu colo e você sorri, eu não duvido que nesses cinco anos você não tenha me traído com alguma dessas mulherzinhas que se esfregam em você e você deixa!!

— Eu não sou esse tipo de homem!! - foi firme.

— E eu não sou esse tipo de mulher!!! - gritou. - Como pode querer manter um casamento comigo se você não confia em mim e me acha uma vagabunda? Como? - os olhos se encheram de lágrimas.

Victoriano respirou fundo e passou as mãos no rosto.

— O que você quer de mim, Inês? - falou tentando se controlar naquele momento por perceber que ela estava quase chorando.

— Eu só queria que você me amasse como eu te amo!!! - gritou o que estava engasgado em sua garganta a muito tempo. - Eu só queria o seu amor...