— Eu estou cheio de trabalho aqui, mas podemos tomar um suco juntos. - era como dar a Inês a desculpa por não ter ido ao almoço.

— Ótimo porque o calor está insuportável. - sorriu linda para seu amigo. - Vamos.

Ele assentiu e voltou para pegar sua camisa e os três voltaram para a casa grande, Inês pediu que fosse servido um lanche para os dois e os deixou ali conversando enquanto saiu para resolver um problema com um dos animais. Os dois conversaram bastante e ele se mostrou sempre bem, muito diferente das outras vezes em que conversaram e ela estranhou.

— Você está saindo com aquela garota? - perguntou sem papas na língua e nem se deu conta que Inês chegava ali e ouvia aquela pergunta.

O corpo de Inês travou sem que ninguém a visse ali os ouvindo, ela sabia que Cristina não tinha meias palavras e se precisasse perguntar ou afirmar qualquer coisa ela o fazia de imediato e se estava perguntando naquele momento era por que desconfiava de algo. Inês pode sentir seu corpo tremer mais uma vez e as mãos se apertaram a frente do corpo ao ver o sorriso que ele deu enquanto olhava para Cristina sem responder e isso a fez sair dali quase que correndo sem ser vista.

— Isso é um sim, Victoriano Santos? - falou brava por imaginar que ele estava mesmo fazendo aquilo com Inês.

— Olha pra mim... - abriu os braços. - Eu sou um homem!!! - foi tudo que respondeu e ficou de pé olhando o horizonte.

Cristina o observou e sentiu até dor em seu estomago com aquela meia resposta, ele era um homem por não trair ou era um homem que tinha desejos? Ela sabia perfeitamente que o casamento deles dois não tinha intimidade e justamente por isso temeu pelos dois, mas se ele de fato estivesse fazendo isso não o perdoaria mesmo que Inês não fosse santa. Não se podiam comparar aquelas duas situações porque Inês tinha errado lá trás e agora era casta aquela relação e ao amor que sentia por Victoriano, mas e ele? Ele era fiel a ela depois de tudo?

Ele entendeu o silencio dela como acusação e virou novamente para sua amiga e a olhou nos olhos, não ia negar e nem confirmar aquela pergunta para ela porque sabia que ela ia direto a Inês e não queria mais "problemas". Mas o que ele não percebia que com aquela meia resposta era exatamente isso que iria acontecer, Inês tinha ouvido a pergunta e mesmo que eles não tivessem a visto ali, ela já tinha mil perguntas e mil respostas em sua cabeça enquanto se desmancha em lágrimas longe dali.

Era um casamento sem duvidas muito complicado, mas Victoriano sabia que era e não precisava ficar respondendo determinadas perguntas que o feriam e que o faria ter que revelar outras coisas mais que não estava pronto naquele momento. Cristina o olhava e se sentia decepcionada, ficou de pé e o encarou dizendo.

— Você é um idiota!!! - e sem mais saiu dali para buscar Inês.

Victoriano a olhou ir e soltou uma gargalhada negando com a cabeça e entrou para dentro de casa, iria tomar um banho e depois ir a cidade para resolver algumas coisa e logo passar por lá bodega de Matias para conversar com ele. Ele entrou direto para o banheiro e ali ficou cerca de vinte minutos e quando saiu deu de cara com Inês sentada na cama, ela o olhou e disse direta.

— Será que pode pelo menos jantar com sua família? Ou pelo menos a que você enche a boca pra dizer que é sua?

Ele caminhou secando seus cabelos e tinha a toalha enrolada em sua cintura, passou por ela em completo silencio e ela sentiu seu rosto ficar vermelho de raiva por ele não respondê-la e ela ficou de pé explodindo.

— Da pra pelo menos me responder? - era um grito e ele a olhou.

— Não grite!!! - foi firme. - Eu estarei aqui para jantar já que não vi minha filha de manhã!!! - pegou a roupa e foi para o banheiro.

Inês passou as mãos no cabelo e com lágrimas nos olhos ela saiu dali e desceu indo novamente para junto de Cristina que estava sentada a esperando.

— Isso é um completo erro!!! - começou a chorar copiosamente. - Ele nunca vai me perdoar, ele me odeia e não consegue admitir!!! - levou as mãos ao rosto tapando e soluçou seu choro com força e Cristina a amparou em seus braços.

— Você precisa ao menos tentar e por que não dizendo a verdade? Por que não contando a ele como se sente de verdade depois desse tempo todo? - a abraçou forte. - Inês, está na hora de tomar a frente e se depois de tentar não der certo, eu serei a primeira a te ajudar com o divorcio porque assim vocês dois não podem mais ficar!!!

Ela nada disse apenas seguiu chorando ali nos braços de sua amiga por mais alguns minutos até que se recordou que ele ainda estava em casa e rapidamente limpou as lágrimas e se colocou de pé.

— Vamos a cidade e logo buscamos Victória na escola. - a voz estava quebrada.

Cristina apenas assentiu não podia forçar tanto ou nada aconteceria, ela precisava entender e começar a cuidar dos dois assim como Victoriano também tinha que abrir a mente e o coração para que ela pudesse por fim cuidar daquele amor que era tão grande, mas as dores que carregavam eram maiores que qualquer coisa naquele momento. As duas se foram e muitos depois Victoriano desceu e também se foi...

(...)

Já passava das onze da noite quando a caminhonete de Victoriano encostou em frente a casa, ele desceu com um pouco de dificuldade já que tinha bebido todas durante a tarde com seus amigos e tinha perdido a hora e o "compromisso" de jantar com sua família. Entrou em casa suspirando e com dificuldade caminhou pela penumbra que ali tinha, mas uma única luz estava acesa e ele seguiu até ela e encontrou a mesa posta e recheada de comida.

Ele sentou e começou a comer como se nada tivesse acontecido e nem se quer lembrava de que dia era aquele e muito menos que tinha afirmado a Inês que estaria para o jantar. Victoriano comeu um pouco de cada coisa que ali tinha e como um estalo se lembrou perfeitamente que dia era aquele e o que tinha prometido a Inês e cheio de remorso ficou de pé e cambaleando conseguiu chegar à escada e subiu direto para o quarto e ao entrar nada encontrou naquele escuro, acendeu a luz e não a viu ali, foi a cama e ali tinha um vestido junto a um bilhete que ele leu com dificuldade...

"Obrigada por estar conosco no dia de hoje..."

Ele se sentiu ainda pior e saiu do quarto e foi ao da filha, mas também estava vazio e ele se desesperou por completo. Ela tinha ido embora? Ela tinha ido embora e levado sua filha junto e sem pensar duas vezes saiu tropeçando em tudo e desceu indo direto para seu carro e dali se foi para buscar sua esposa...