O destino havia zombado de seus esforços da maneira mais cruel possível, colocando-o no papel de assassino daquela que buscara desesperadamente salvar. Ainda era capaz de enxergar o sangue dela em suas mãos e roupas, o cheiro de ferrugem parecia impregnar suas narinas, o acidente se repetia com uma frequência absurda em seus pesadelos, os sussurros dela dizendo que não queria morrer o assombravam durante todo o tempo. Daquela forma, mesmo com os meses passados, em nada a lembrança se atenuara.

Quando finalmente aceitara a realidade, que a tinha perdido para sempre, que assim como Mayuri aquele era futuro inevitável, outra vez aquele destino cruel a colocara em seu caminho, de uma forma distante e inesperada, mas consistente o suficiente para despertar dentro de si o mesmo desejo que o levara a agir naquele fatídico dia. Atrás daquela tela fria havia uma Kurisu inexpressiva e distante, apenas um lapso da garota genial que conhecera nas três semanas mais longas, angustiantes e fantásticas de sua vida, porém semelhante o suficiente para fazer o ar faltar e coração comprimir-se no peito de saudades. Ele sabia melhor do que ninguém que ela continuava viva em algum lugar, num universo paralelo àquele, e aquela imagem tivera sucesso em restaurar em sua alma a chama de esperança que se fora com ela. Transformaria a dor em coragem para lutar.

Aqueles meses haviam sido de longe os mais normais de sua vida. Conhecera pessoas, saíra com colegas da universidade, se envolvera em pesquisas reais, mas ele deixaria todas aquelas conquistas de lado e desempenharia novamente o papel solitário de cientista maluco se pudesse vê-la mais uma vez. Makise Kurisu era alguém de importância ímpar, por quem faria qualquer sacrifício.

— Eu vou te salvar – garantiu com toda a sua determinação para a imagem inexpressiva na tela.

A imagem na televisão nada ouviria, muito menos expressaria uma reação, mas os olhos de Okabe continuavam vidrados na tela. Em todos aqueles meses de distância, tinha a impressão de que tivesse começado a esquecer detalhes do rosto dela, de como os cabelos avermelhados contrastavam com o tom acinzentado dos olhos e emolduravam a pele pálida, além de ter suas lembranças frequentemente corrompidas pelo sangue. Era quase uma necessidade continuar ali, parado, observando aquela imagem fria e distante.

Desde conhecê-la e perdê-la, Okabe considerava o tempo uma grandeza relativa, e aos seus olhos, ao contrário daqueles últimos meses, havia passado rápido demais enquanto continuava ali estático. Os minutos voaram, até que a imagem dela fosse finalmente substituída por outra, para seu desalento. Poderia ter lamentado, reclamado ou amaldiçoado o destino mais uma vez, mas apenas apertou os punhos, deliberando consigo mesmo que algum dia, independente do quanto demorasse, iria encontrá-la novamente.