Parecia que os membros do laboratório haviam sido reunidos ali intencionalmente para presenciar aquele momento histórico, mas era apenas mais uma vez obra de um acaso que não tinha nada de vago. Mayuri, que já era uma estilista formada, colocara uma das bananas do cacho que trouxera para o café da tarde no antigo e reinventado telefone-micro-ondas, e Daru, que estava ali em seu raro tempo vago do doutorado, programava minuciosamente o experimento que visava testar suas novas modificações no sistema e aparelho, enquanto Feyris e Ruka distraíam a atenção de Okabe com suas insistências, e Yuki Amane, mulher de Daru, cuidava da filha pequena dos dois, que corria por entre as mesas e objetos perigosos.

— Suzuha! Não mexa nisso! – censurou-a a senhora Amane.

— Mas, mamãe… – reclamou a garotinha, que continuava bisbilhotar uma caixa que continha os velhos aparatos do futuro, criados por Okabe e Daru.

— Deixe ela se divertir – interveio Mayuri bondosamente – Essas coisas não costumavam ser mais do que brinquedos.

— Só tire a máquina de fumaça daí, Mayuri! Estou terminando aqui e já vou cuidar da Suzuha – avisou Daru, do computador, e ela concordou com um aceno.

— Estou te dando uma chance rara de uma revanche sobre a jogadora mais importante de todo o Japão! Você não pode recusar, nyan! – insistiu a moça de cabelos cor-de-rosa, que continuava a imitar uma gata, mesmo que não estivesse usando suas orelhas, e sim um traje responsável de executiva, que fazia jus à sua posição de uma das maiores empresárias do país.

— Eu já perdi uma vez, e não evoluí nada nesses quase dez anos – rebateu Okabe descrente.

— Deveria tentar! – endossou Ruka, com seu jeito tímido, que não havia se alterado mesmo que tivesse se transformado em uma idol conhecida e modelo das coleções de Mayuri naqueles anos passados – Mesmo que perca, pode valer a pena! Você nunca sai daqui, isso é muito solitário – argumentou preocupada.

— Eu só estou ocupado – justificou-se ele – Quando eu finalmente terminar o que estou fazendo…

A frase foi interrompida pelo estrondo que a máquina ainda causava, mesmo com todas as melhorias. Era automático que todos os olhos se voltassem à fruteira sobre a mesa, e, como se para surpreender a todos, a imagem chegou às retinas naquele dia diferia do tom habitual de verde, era um amarelo perfeito, exatamente igual à das outras frutas no cacho.

Okabe tinha ficado paralisado por um longo momento, em que os olhos se enchiam de lágrimas, a única expressão de felicidade que seria capaz naquele momento histórico, depois de tantos anos de planos fracassados.

— Funcionou? – perguntou Mayuri ingenuamente, pois não era uma cientista, e precisava de uma confirmação dos outros para que se permitisse acreditar.

— Eu acho que sim – confirmou Daru, que se encontrava igualmente atarantado.

— Tem certeza? – inqueriu Feyris perplexa.

— Certeza, não – contrapôs receoso – Ao menos ainda parece uma banana.

Quando Okabe finalmente recuperou os sentidos, anestesiados de felicidade, literalmente correu até o local onde a fruta estava, surpreendendo a todos. Tocou-a de leve, e quando esta não se dissolveu imediatamente, direcionou-se tempestivamente à sua então funcional máquina do tempo.

— Não aprendeu nada nesses últimos anos? – cobrou Daru, segurando-o pelo braço, prevendo seus planos impensados – Não pode agir por impulso dessa maneira, Okarin!

— Mas, se funciona… – tentou argumentar.

— Por hora, vamos comemorar – sugeriu – Comemorar o nosso avanço! Mais tarde eu te ajudarei a fazer outros testes para garantir que esteja perfeito.

Okabe estava ansioso demais para concordar voluntariamente, mas todos os olhos que o perscrutavam por uma resposta que não fosse a negativa que lhe perpassava, e ele acabou cedendo, afinal, para quem já havia esperado quase dez anos, algumas horas não fariam diferença.

— Está bem – concordou, mesmo contra sua vontade.