— Ele disse que se eu contasse do bebê me colocaria em um hospício... - falou com pavor. - Por favor, vamos embora. - o agarrou em um abraço e Victoriano a amparou.

— Você está falando do seu pai? - questionou sem entender toda aquela história direito, cada hora vinha uma informação nova e ela dizia apenas pedaços sem contar a história inteira.

— Sim... - o olhou nos olhos. - Junto com doutor Loreto...

Victoriano se afastou dela e a olhou nos olhos, que maldita história era aquela? Se questionou até que ponto o pai dela tinha chegado pra afastá-lo e isso o enchia ainda mais de ódio, iria buscar aquela verdade e acabaria com aquele maldito. Inês o olhou nos olhos e sofreu, tanta coisa a dizer, tanta coisa a sentir e ela simplesmente não podia, não podia com ele.

— Me conte toda essa história direito. - ele pediu querendo entender.

— Vamos embora daqui. - pediu com medo.

— Nós vamos, mas primeiro me conte. - ele pediu aflito.

Inês segurou a mão dele e apertou estava mesmo com medo e ele percebeu o quanto ela estava gelada e se preocupou, não queria que ela tivesse uma outra recaída e pensou por um momento que era melhor deixar aquela história de lado, pelo menos até que ela ficasse firme em seus sentimentos. Ela abriu a boca para começar a falar, mas Cassandra e Alejandro entraram junto no quarto e ela sentiu o corpo todo tremer.

Inês se via nos dois, um amor condenado a não dar certo, famílias em guerra, mas a esperança de que o amor sim poderia vencer. Cassandra e Alejandro tinham certeza de que o amor iria triunfar, diferente dos dois que quando jovens não conseguiram lutar contra aquela guerra ridícula os dois estavam ali mostrando que iriam lutar contra tudo e contra todos para viver aquele amor e que a briga entre as famílias não tocaria em seu relacionamento.

— Oi mamãe. - Cassandra foi direto a ela e a beijou nos cabelos. - Como está? - falou toda amorosa.

Victoriano ficou de pé e Alejandro se aproximou entregando o café para ele, a conversa ficaria mais uma vez pra depois e isso o estava tirando do sério. Inês olhou a filha e depois olhou os dois voltando seu olhos para Cassandra.

— Eu quero ir embora daqui. - falou seria. - Me tira daqui.

— Fique calma que o médico já vira te revisar e poderemos ir pra casa.

Inês negou com a cabeça e tirou o lençol que a cobria e ficou de pé, sentiu uma tontura e Victoriano a segurou de imediato com ela abraçando seu pescoço. Nesse segundo de preocupação e euforia a porta foi empurrada e o médico entrou os observando.

— O que está acontecendo aqui? - a voz soou e Inês se estremeceu todinha agarrando mais Victoriano.

— Me tira daqui. - falou baixinho no ouvido dele em completo desespero.

Victoriano olhou para Loreto e sentiu vontade de socar a cara dele, ela estava com tanto medo que se podia sentir as batidas de seu coração e o corpo tremer. Tinha muito que descobrir daquela história e se descobrisse que o que se passava em sua cabeça era verdade acabaria com ele e com Amaro.

— Preciso que de alta a minha mulher. - era a primeira vez que se referia a ela daquele modo, mas queria ver a reação dele.

Loreto no mesmo momento fechou a cara, tinha começado seu plantão naquele instante mesmo e ao saber que ela estava ali veio de imediato ao quarto, mas aquela informação era nova e não deixaria passar batido.

— Ela só sairá depois que eu revisá-la. - foi rude. - A deite na cama e saiam todos.

Victoriano sentiu algo tão ruim nas palavras dele que não pensou duas vezes em pegar Inês nos braços e caminhar para a porta deixando a todos de boca aberta.

— Assine a alta dela e de a meu filho, ou melhor, não assine nada porque eu já estou me responsabilizando por Inês e ela não ficará mais nenhum segundo nesse hospital e muito menos a seus cuidados. - foi firme com Inês agarrada em seu pescoço e de olhos fechados.

— Você não pode tirar uma paciente assim do hospital. - Loreto falou com raiva. - Eu vou chamar a segurança.

— Pode chamar o papa, mas aqui com você, ela não fica. - virou as costas e saiu do quarto com ela.

Cassandra saiu juntando as poucas coisas deles que estavam por ali e esperou por seu amor que olhou para Loreto.

— Vai me dar a alta ou não? - falou um tanto rude.

Loreto bufou, mas assinou a alta, ou melhor fingiu que assinou porque a alta dela já estava assinada para as oito e meia da manhã, deu o papel a ele que se retirou junto a Cassandra. Loreto sentiu que podia explodir de raiva e pegou o celular discando imediatamente para Amaro.

— O que aconteceu com nosso trato? - falou assim que ouviu um "alô".

— Segue de pé. - respondeu de imediato.

— E por que Victoriano a chama de mulher então? - rosnou. - Inês estava aqui no hospital e ele a levou.

— Minha filha no hospital? - se preocupou. - Depois nos falamos. - desligou de imediato e nem pensou, apenas saiu de casa.

Loreto olhou o telefone e depois olhou para o quarto respirando fundo, ali tinha o cheiro dela.

— Vai ser minha, Inês, vai ser!!! - falou com os olhos brilhando de maldade e logo se foi.

(...)

Victoriano deixou os filhos em casa e a pedido de Inês eles foram direto para a casinha deles, ele a ajudou a entrar e a sentou no pequeno sofá que ali tinha, foi a geladeira e pegou um pouco de água e voltou sentando a seu lado. Inês o olhou e segurou o copo com força entre os dedos e respirou fundo abaixando o olhar criando coragem pra contar o que tinha acontecido e ele segurou a mão dela passando confiança.

— Sei que não sou da sua confiança, mas precisa me contar o que aconteceu pra que eu entenda e possa te ajudar de alguma forma. - falou com a voz suplicante e ela o olhou.

Era a hora da verdade ou pelo menos parte dela, sabia que ele tinha direito de saber porque ela não permitia que ele fosse o pai de Emiliano e talvez depois do que revelasse ele poderia perder a cabeça e ir atrás de seu pai. Não era isso que ela queria, mas era a hora de explicar.

— Naquele mesmo dia em que fizemos amor, meu marido morreu... - suspirou começando pela tragédia. - Eu fiquei sem chão, porque estávamos aqui se entregando um ao outro e o momento foi destruído por aquela notícia. - tomou um pouco da água.

— Eu me lembro bem, nunca esqueci!!! - falou com calma a olhando nos olhos.

— Passado uns dias, eu comecei a passar mal, enjoar e quase desmaiei... Fui direto para o hospital, mas eu já sabia o que era e precisava apenas de uma confirmação. - olhou para o copo. - Foi Loreto quem me atendeu, no começo foi tranquilo e ele foi muito educado, mas assim que recebi o resultado e fui pra casa com a certeza de que era uma nova chance... uma chance de ser feliz com você. - o olhou. - Meu pai, me encontrou no meio da estrada e disse que precisava de mim e que minha mãe tinha preparado a minha mala pra viajar com ele. - encheu os olhos de lágrimas. - Eu acreditei, era meu pai ali me pedindo ajuda e eu fui...

Victoriano sentiu o rosto queimar e ficou de pé passando as mãos no cabelo só de imaginar o que poderia vir dali já estava em choque.

— O que ele fez? - virou para ela a fitando.

— Me levou a uma clínica e me disse que ali eu entenderia que nunca em minha vida eu voltaria para você. - deixou as lágrimas rolarem. - Eu me apavorei e sai do carro no mesmo momento em que dois homens me seguraram e eu gritei por socorro, mas ele alegou que eu estava sofrendo dos nervos e eles me arrastaram para dentro e ali Loreto me esperava pronto para fazer qualquer coisa que meu pai mandasse. - chorou.

— Maldito!!! - socou a mesa a fazendo se assustar. - Por que nunca me contou?

— Porque essa foi a condição para que eu saísse de lá. - respirou fundo. - Meu pai me deixou no meio daqueles loucos e me disse que arrancaria meu filho de dentro de mim se eu ousasse contar a você da minha gravidez. Eu não sei como ele descobriu que era seu ou só deduziu já que meu marido estava morto, mas foi a pior semana da minha vida e eu não podia colocar em risco você ou o meu filho.

Victoriano naquele momento entendeu todo o medo dela e recordou como ela o olhava durante toda a gravidez e sempre que ele a questionava ela se apavorava e negava com tal certeza que ele chegou a duvidar, mas quando o filho nasceu e a mancha na perna apareceu ele teve certeza que era seu mesmo que ela negasse sempre. Ele foi a ela e segurou suas mãos.

— Você deveria ter me contado. - sentia o nó na garganta. - O que mais aconteceu a você nessa clínica? Esse maldito te tocou?

Inês o olhou e chorou mais ainda o deixando desesperado.

— Esse maldito ousou por a mão em você, Inês? - quase berrou aquela pergunta que para ele seria um tiro se fosse confirmado por ela que somente sabia chorar naquele momento...