TRANCOSO - INTERIOR DO MÉXICO - ANTES

Era por volta das duas da tarde quando o chão levantava poeira com dois cavalos que apostavam corrida, um único prêmio e uma vontade imensa de deixar o oponente no chão. Os dois estavam concentrados na linha de chegada e quanto mais se aproximava mais o sorriso crescia em seus rostos, mas só poderia haver um ganhador e eles estavam juntos quase que com seus cavalos colados quando chegaram a linha de chegada e ainda avançaram um pouco mais para não cair tamanha a velocidade de seus cavalos.

Ele berrou de cima de seu cavalo como se fosse o vitorioso e ela se manteve quieta apenas acalmando seu coração, sabia de quem era a vitória e não era dele. Voltou com seu cavalo para a linha de chegada e desceu do mesmo esperando que viessem dar o seu prêmio e mais que merecido já que ele era um egocêntrico e nunca aceitaria perder para uma mulher, ou melhor, seu pai não aceitaria que ele perdesse para uma mulher.

Inês era uma jovem linda e cheia de vida, um sorriso de dar inveja a qualquer mulher que cruzasse seu caminho, tinha uma cascata negra na cabeça com cheiro de flores, ela amava seus cabelos e amava mais ainda quando a mãe os penteava dando a ela todo o amor do mundo. Ela era a única mulher a receber mais prêmios por subir em um cavalo, uma legítima amazona e o orgulho de seu pai que gritava aos quatro ventos o quanto ela era perfeita.

Ela era tão boa quanto Victoriano e por isso estavam ali naquela corrida e mesmo sabendo que haveria brigas tiveram que aceitar e ali estavam os dois como inimigos que eram em busca de um prêmio que era mais de seus pais que deles mesmo que não gostassem daquela exibição toda e aquela guerra que estava em volta dos Santos Huerta. Eles estavam ali atendendo o mandato dos pais.

— Parabéns minha amazona!!!! - Amaro falou todo empolgado. - Você sempre me da orgulho!!!

Inês o abraçou sorrindo e o beijou muito.

— O senhor viu aquela curva como foi perigosa? - falou o soltando. - Achei que Luna não iria conseguir! - passou a mão em sua égua.

— Ela é espetacular minha filha! - falou também acariciando a crina dela que relinchou.

Inês olhou de "rabo de olho" para Victoriano que também recebia os parabéns do pai como se fosse o vitorioso, mas ele já tinha percebido que não era assim mais abraçava o pai afetuoso e ambos foram chamados para que recebessem o premio. Inês e Victoriano se olharam com um riso no rosto enquanto os pais se encaravam com ódio como sempre era de costume.

— Que corrida em!!! - Nogueira falou emocionado.

— De logo o premio a meu filho e vamos acabar logo com isso!!!! - Afonso falou sem paciência alguma.

Amaro soltou uma gargalhada pesada e o encarou.

— Além de burro é cego porque foi a minha amazona quem ganhou esse premio e não esse moleque!!! - estava armada a discussão entre eles.

Inês os olhou e sabia que não parariam e nem deixariam que Nogueira dissesse algo enquanto não sacassem suas armas e mais uma vez quase se matassem por não saberem ouvir e ela berrou.

— Calem a boca ou ele não vai conseguir dizer quem ganhou e se for para sacar a arma que seja depois que ele der o resultado!!!! - falou sem paciência alguma e Victoriano quis rir, mas sabia que o pai arrancaria seu couro.

Os dois se olharam bufando e ela voltou a olhar para Nogueira que sabia que a guerra estaria armada assim que ele abrisse sua boca, mas não podia mais prolongar aquele momento e disse:

— Foi por pouco que não empataram, mas a medalha junto ao troféu hoje é de Inês junto as 300 cabeças de gado da fazenda Santos!!!!

Amaro gargalhou ainda mais e foi a filha que o agarrou sabendo que para o pai aquilo era tudo, era o mais sagrado ganhar dos Santos depois de sua família. Ela ria sem parar com o orgulho do pai porque era aquilo que importava para ela o orgulho que dava a ele e ele a soltou beijando sua testa e depois olhou para Afonso que estava vermelho de ódio e ele esperou que a arma fosse tirada de sua cintura e se preparou. Mais de duas décadas que as famílias viviam assim em pé de guerra passando de geração em geração e eles nunca conseguiram contornar mesmo que muitos dos membros anteriores tentassem ali estavam sempre em guerra.

Afonso nem pestanejou e pegou sua arma apontando para Amaro que se colou na frente de sua menina e também pegou sua arma apontando para ele. Inês cansada daquele circo apenas pegou sua medalha e seu troféu e foi para seu cavalo e montou sumindo dali iria avisar sua mãe que o pai estava novamente na mira da arma de Afonso e eles que se resolvessem, Victoriano fez o mesmo e que dessa vez eles atirassem ou acabassem com aquela merda toda de uma vez só.

— Continua não sabendo perder!!! - sorriu afrontoso.

— Eu quero revanche! - não o tirou da mira de sua arma.

— Fazemos e podemos colocar 600 cabeças de gado pra você perder 900 dessa vez!!! - gargalhou da cara vermelha dele. - Pode ser daqui a três dias? - abaixou a arma.

— É você quem vai perder, Amaro!!! - e sem mais saiu dali soltando fogo pelas orelhas e Amaro só fez rir olhando para Nogueira que estava a posto para intervir entre eles.

— Vamos preparar a festa porque minha amazona não perde pra bostinha!!! - falou com o peito estufado e buscou por Inês que nem ali estava mais. - Garota abusada!!! - foi para seu cavalo e sumiu dali.

(...)

MAIS TARDE...

Inês adentrou a casinha e deu um berro sendo agarrada por trás e ele riu do desespero dela e a soltou para que visse que era ele e não um "assassino".

— Idiota!!! - bateu no braço dele. - Quase me matou de susto, Victoriano!!! - passou as mãos no cabelo vendo que a caixa que estava em sua mão caída ao chão.

Ele gargalhou e a puxou para ele beijando em sua boca com loucura a tirando do chão e ela o retribuiu com loucura também aquele amor que era somente dos dois e de mais ninguém. Victoriano a encostou na parede a sorveu ainda mais de seus lábios e ela arfou sentindo que poderiam passar dos limites que tinham estabelecido para aquela relação.

— Victoriano... - ela o afastou e ele a soltou.

— Eu sou louco por você! - acariciou seu rosto com amor.

— Eu também, meu amor, mas temos regras!!! - saiu dos braços dele e foi até a caixinha e a pegou. - Vamos deitar ali!!! - o puxou para a cama e eles deitaram um ao lado do outro. - Esse é pra você!!! - entregou a ele que sorriu.

Victoriano abriu e sorriu com os olhos brilhando ali estava a metade de sua medalha que tinha ganhado mais cedo e ele a olhou apaixonado e avançou em seus lábios a beijando com todo seu amor e ela sorriu o agarrando mais e mais.

— Eu te amo e quero que guarde para sempre!!!! - sorriu o iluminando, era uma promessa para a vida toda...

(...)

24 ANOS DEPOIS...

Victoriano estava sentado na venda e bebia com a maldita medalha na mão, tantos anos e sempre naquela mesma data ele se lembrava dela e "entornava o caldo". Era uma maldição ter que se lembrar, mas ele não mandava em seus sentimentos e muito menos em suas lembranças.

— Maldita!!! - esbravejou e ficou de pé tomando uma decisão.

Deixou o dinheiro sobre o balcão e saiu dali indo direto para seu carro, não estava em seu juízo perfeito, mas não permitiria que ninguém dirigisse seu carro e se foi dali cantando pneu pelas estradas, cantava uma moda sofrida que vinha do som de seu carro e "dançava" na pista com o carro querendo esquecer aquela maldita lembrança.

Dirigia rápido, mas a reconheceu ao longe correndo na pista com seu inseparável fone de ouvido e ele acelerou mais. Quando chegou próximo a ela deu um "cavalinho de pau" levantando poeira e a assustando fazendo com que Inês se jogasse no mato arrancando os fones no mesmo momento e ao tempo de ouvir a gargalhada dele a fazendo berrar...

— Victoriano, seu maldito!!!!!