Haru voltava para casa. O pôr-do-sol já dava suas caras quando terminou a corrida. Seus músculos eram visíveis pela blusa suada. Ofegava de leve quando viu o menino no parque colorido da praça, emburrado no seu isolamento. A perna pequena balançava com raiva para fora do balanço.

Haru analisou a cena por mais algum tempo. Será que ele havia descoberto que fora enganado? Podia jurar que tinha vestígios de choro na face juvenil. Normalmente não teria se aproximado, mas algo naquela criança o intrigava.

Rin o notou no meio do caminho, erguendo o olhar surpreso. Um sorriso cruzou seu rosto.

— Moço!

— Aconteceu alguma coisa?

— Ah – Rin chutou uma pequena pedra ao alcance de seu pé. – Aqueles idiotas ficaram com raiva porque eu consegui um doce. Imbecis.

— Hm.

— Eu ainda tô aqui porque minha mãe só vem me buscar de noite. Era pra eu esperar na escola, mas lá é chato de ficar. – E então uma ideia repentina surgiu na mente do garoto. Ele ergueu o rosto sorridente para o mais velho. – Nee, nee! Eu posso ir na sua casa?

Haru foi pego mais uma vez de surpresa pelo jovem.

— Você não deve dizer isso pra estranhos tão fácil.

Rin arregalou os olhos com um grande inspirar, abraçando-se.

— Você está pensando perversões!

— Não! – Haru recuou, vendo se tinha alguém ao redor interpretando erroneamente aquilo. Grunhiu – É óbvio que não.

Rin se ergueu do balanço, voltando ao sorriso amistoso.

— Então vamos.

— Garoto, eu não vou te levar pra minh... – Rin segurou sua mão.

— Eu vou gritar.

Haru uniu as sobrancelhas com a ameaça adorável daquele sorriso corado. Uma veia saltou de sua testa. Por um instante desejou mesmo ser um sequestrador pedófilo.

Num universo paralelo,

a mesma situação,

respostas diferentes.

Ao voltar para casa, Rin notou o jovem menino sozinho no balanço. Pressionou os olhos, apoiando os punhos no quadril.

A inexpressividade do garoto era uma incógnita para o adolescente de cabelos vinho, mas alguma coisa deixava aquela cena um tanto melancólica. Rin se deixou levar pelo impulso ao se aproximar.

— Ô garoto, você ainda tá na rua sozinho?

Haru ergueu o olhar do chão, mas nada proferiu além da surpresa por ver pela segunda vez o rapaz naquele dia. Rin limpou a garganta no meio do caminho, só agora lhe ocorrendo que talvez tivesse ofendido o menor ao explicar de forma tão grossa o significado do sinal. Crianças daquela idade se ofendiam fácil, remoíam e demoravam dias pra esquecer a ferida.

— O que houve? – perguntou, apesar de achar ter certeza que a culpa fora sua.

Haru voltou a fitar o chão.

— Obrigado.

Rin franziu o cenho, cruzando os braços. Agora a culpa o acertara como uma flecha no coração. Mudou o peso para a outra perna, meio sem jeito.

— Pelo que exatamente?

— Eles estavam me enganando. E você me disse. Obrigado.

As palavras de certa forma eram um alívio, mas Rin ainda se arrependia de ter sido tão grosso mais cedo.

— São uns babacões. Esquece esse povo, você vai fazer amigos melhores.

Haru não confirmou e nem negou. O silêncio daquele garoto incomodava Rin. O que? O moleque não tinha confiança o suficiente pra achar que podia fazer amigos novos? Estava tão triste que não queria mais tentar?

— Nee... Posso ir pra sua casa? – perguntou Haru de súbito. Rin arregalou os olhos, encarando rapidamente o arredor para se certificar de que ninguém entenderia a situação de forma equivocada. Mas eles estavam sozinhos no parque.

— Tá doido, moleque? – depositou em sua cabeça um pedala Robinho. – E se eu fosse um estuprador? E se eu fosse te sequestrar? Tá ficando maluco?

Haru demorou um pouco até erguer a cabeça de volta, mas ela ainda estava cabisbaixa. Ele não respondeu e aquilo atingiu o mais velho com outra facada de culpa. Passou a mão pelo rosto, suspirando pesado.

— Pra que quer ir na minha casa?

Esperou a resposta. Dessa vez mais paciente por estar começando a se acostumar com o silêncio do outro.

— Você disse que eu vou fazer amigos melhores – respondeu em um fio de voz.

Rin molhou os lábios, sem saber exatamente como reagir àquilo. Ele não queria dizer para o moreno que, ao se referir a “amigos melhores”, ele com toda certeza não era o mais indicado. Hesitou, passando mais uma olhada pelo parque.