Na frente da porta de sua casa, Rin meteu a mão por dentro do arbusto do jardim, desprendendo a chave de um galho escondido, mas já bem conhecido por ele. Haru escondia o nariz no cachecol e as mãos no bolso do moletom, mas os olhos observavam cada detalhe da entrada desorganizada. Pelo visto o mais velho morava sozinho.

— Por falar nisso, qual o seu nome? – Rin perguntou.

— Haru.

— Hm... Haru-chan. O meu é Rin. – A porta foi aberta e Rin adentrou, esperando o garoto passar para fechá-la novamente.

Haru não andou muito, parando ao lado da porta. Rin prestava atenção em seus movimentos. Se ele não falava muito, então o rapaz só teria uma forma de traduzi-lo. Através de suas ações. Só que Rin não era muito bom com isso. Tentava se esforçar para capturar cada significado dos gestos do moreno.

— Tá com fome? Com sono? Com sede?

Haru negou com a cabeça e Rin esperou por uma resposta mais longa, mas lembrou com quem conversava.

— Certo.

Caminhou até a cozinha. Ele sim estava com sede. A casa não era muito grande, então foi rápido para chegar à geladeira. Todavia, quando viu que o garoto o seguiu, como um filhote segue sua mãe, coçou a nuca. O que estava pensando quando trouxe uma criança pra sua casa? Estava ficando louco? E o que diabos iria fazer com ele ali? Não tinha videogames ou brinquedos ou seja lá o que crianças daquela idade faziam nos dias de hoje.

Depois de beber sua água, Rin subiu as escadas, mas sem deixar de ser seguido.

— Olha, agora eu vou tomar um banho. – Adentrou no seu quarto, sem se preocupar em fechar a porta. – Você pode esperar aqui se quiser.

Mas Haru o acompanhou. Rin esperava que ele ao menos sentasse na cadeira ao lado da cama. Pressionou os olhos, mas deixou pra lá, indo fechar a porta. O quarto era uma suíte pequena. Rin ligou o aquecedor, jogou a chave e seu celular em uma mesinha e se sentou na cama a fim de tirar os sapatos.

— Olha, você pode se sentir mais à vontade. – Gesticulou os braços para o moreno. – Vai, essa casa é sua casa, repita.

Haru, quieto, sentou-se ao lado de Rin, mas não tão à vontade como Rin queria. Nem muito perto. No entanto, levando em consideração que se tratava daquele garoto impenetrável, já era um bom progresso.

— Muito bem. – Rin apoiou o pé no joelho a fim de desamarrar os cadarços. Desfazia o laço quando viu que o mais novo o imitava. Também ia tirar os sapatos? Era uma boa, isso significava que estava mais confortável com o lugar.

Rin, descalço, caminhou até sua toalha estendida na cadeira. Despiu a blusa e a jogou em um canto qualquer do quarto. Haru o observou com a mesma inexpressão costumeira. Rin era forte e realmente parecia um cara legal e maneiro. O cabelo vinho estava bagunçado e Haru ficou curioso com a textura dele. Queria tocar.

Rin pegou a toalha e a apoiou no ombro, logo alcançando o banheiro.

— Volto logo – disse, mas antes de fechar a porta, Haru olhou algo que fizera seus olhos brilharem. Ele tinha uma banheira!

Num universo paralelo,

a mesma situação,

respostas diferentes.

Haru tirou as chaves do bolso e abriu a casa. Deixou a porta aberta para que o menino entrasse primeiro. Rin não se deteve pela educação, estava empolgado para conhecer a casa.

— Qual o seu nome? – Rin perguntou.

Haru não estava muito disposto a conversar. Principalmente com O ameaçador.

— Haru – respondeu sem muito entusiasmo.

— Rin, prazer – era incrível como era amistoso, até parecia realmente um convidado. – Haru, o que você vai fazer agora? Que jogo você costuma jogar no computador? Ou você tem videogame? Eu prefiro os jogos online.

Após beber grandes goles de água na cozinha, Haru caminhou direto para a escada. Não costumava ter visitas e não sabia exatamente como tratá-las. Principalmente aquela criança perigosa.

— Eu vou tomar banho.

— Ah, é verdade. Você tava correndo. – Rin o seguiu.

Ele entrou no quarto primeiro que o mais velho. Haru começava a se incomodar com aquilo.

— Uou, morar sozinho deve ser tão legal! – Rin invadiu o banheiro. O ar deixou sua garganta quando viu o móvel. – Você tem uma banheira!

Haru fechou a porta e ligou o aquecedor de forma mecânica. Apoiou-se na parede para tirar os sapatos. Voltava a se distrair com os pensamentos que naturalmente fluíam em sua mente e por um instante conseguiu ignorar a faladeira do garoto. Tirava a camisa quando o viu jogar o moletom no chão e começar a desabotoar as calças.

Haru arregalou os olhos, mas logo franziu o cenho. Dar um doce pra uma criança desconhecida -> trazê-la para sua casa -> despi-la. Haru congelou com o quão pedófilo sequestrador ele estava se sentindo. Com um grunhido, se aproximou do menino e segurou sua calça antes que ela deslizasse completamente até o chão. Puxou-a de volta pra cima e abotoou-a.

— O que pensa que tá fazendo? – sua voz baixa estava próxima a um rosnado.

— Eu quero tomar banho também!

— Não vai – Haru pegou o moletom do garoto do chão e meteu-o de qualquer jeito lá dentro.

Rin grunhiu de raiva enquanto sua cabeça passava com dificuldade pela gola. Haru não se preocupou em vestir os braços dele pelas mangas. Apenas se ergueu, pegou a toalha estendida na cadeira e adentrou o banheiro.

— Espere aqui.