Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. (Êxodo 21:24)

Aprendi que na vida, ou se caminha em direção a um objetivo sem temer nada ou corre o risco de ser atropelado por aqueles que acham que você se interpôs no seu caminho.

Onde eu aprendi isso?

Com a minha própria vida.

Eu me chamo Emily, tenho 26 anos e estava noiva do homem mais lindo do mundo. Era com Steven que iria construir a minha família. A família que sempre sonhei. Aquela que geraria três lindas crianças e que alternaria os fins de semana, entre praia e acampamentos na floresta. Nunca sentirei por alguém o que sentia por Steven. Ele era terno, justo, amoroso, sexy e muito atraente. Embora suas qualidades emocionais se sobressaíssem quanto à física, eu não tinha do que reclamar. Aquele corpo grande, altamente definido, aqueles olhos verdes me fitavam com desejo muitas das vezes em que conseguíamos ficar longe de tudo e todos.

Steven comandava a empresa que sua família carregou anos a fio pela tradicional repasse de gerações, o pai de Steven morreu num acidente aéreo junto com a sua mãe. Steven era muito pequeno, mas aos 18 começou uma empreendedora carreira e avanço tecnológico na empresa que crescia os lucros instantaneamente. Por ser uma empresa relacionada ao ramo cosmético, eu adorava todos os lançamentos que Steven me trazia frequentemente. Eram batons, esmaltes, ou seja, um paraíso para qualquer mulher.

Meu noivo foi vitima de uma injustiça, causada por um homem poderoso e vil. Por sorte, ou não eu estava viajando a trabalho quando tudo aconteceu. Escapei até agora, porque ele não me conhece. Se tivesse conhecimento sobre mim já teria vindo me matar também. O maldito assassino se apoderou de tudo que era do Steven. Sua fortuna, suas ideias, sua fama.

Meu papel nessa história? Descobrir tudo o que aconteceu. Se Steven morreu como todos afirmam, apesar de nunca terem encontrado seu cadáver, devo encontrar e dar-lhe um enterro digno e lugar de descanso apropriado. Se ainda estiver vivo, o que é remotamente impossível... Preciso encontrá-lo ainda mais.

Não serei hipócrita, com o tempo que passei estudando Aiden e seus métodos criminosos, já percebi que ninguém que cruza seu caminho sai ileso. Não alimento falsas esperanças quanto a isso. Foquei minhas forças e inteligência em descobrir o que de fato aconteceu e me vingar daquele que me tirou tudo.

***

Nova York, 08 de Julho de 2011.

Meu estômago se apertou com força quando cruzei o hall do edifício sede da empresa de Aiden Stone. Um pomposo prédio de mais de vinte andares, onde estavam os seus maiores segredos naturalmente. Meu salto saiu deslizando até que eu me equilibrasse naquele chão e pudesse ser anunciada na primeira recepção.

Senti meu coração acelerar ainda mais, deixando minha boca seca e minha garganta deixou de emitir sons eloquentes quando a recepcionista franzina me autorizou passar pelo elevador. Eu agora estava destinada ao andar presidencial.

A ida ao elevador que tinha vista panorâmica, ou seja, transparente foi um pouco assustadora e as pessoas podiam me ver lá de baixo e eu as via tão pequeninas, quase formiguinhas. Aquilo quase que me impulsionava a realizar o objetivo para o qual me desloquei até aqui.

Após quase oito meses de tudo o que aconteceu, através de pesquisa e vários recortes de jornais descobri que o mesmo estava noivo e se casaria em breve. Consegui forjar documentos e enganar sua tola noiva, Meg a me contratar como a organizadora oficial do grande evento.

Enganá-la não foi difícil.

Ele sim seria a grande pedra no meu caminho.

O andar presidencial não parecia em nada com a modernidade dos primeiros andares. Tinha um ar imperial, pude jurar estar no palácio de Buckingham. Sendo Aiden Stone um britânico, há correlação direta com a decoração elegante e soberana. Mal notei seus aspectos físicos quando finalmente a porta da sala da presidência se abriu. De lá saiu uma secretária ruiva, cabelo Chanel e roupas justas, porém sérias. Seu nome era Sabrina e ela me abordou prontamente, como se tivesse previsto cada um dos meus movimentos. Antes de anunciar a minha entrada ela me deu uma boa olhada investigativa, dos pés a cabeça. Se ela fosse um homem, diria que fosse uma espécie de ciclope com visão de raios-X. Quando ela finalmente anunciou a minha entrada para Aiden que assinava alguns papeis e permaneceu de cabeça baixa, acenando com a mão para que eu saísse.

Fiquei parada um tempo próximo à porta e senti uma espécie de ardor tomar o meu estomago, por mim eu teria voado nele e arrancado seus olhos com as unhas. Devaneei sobre as atrocidades que faria com ele, como o torturaria ou lhe mataria.

— Bom dia, senhorita...?

— Parker. Emily Parker.

— Senhorita Parker, minha noiva já deve estar chegando. Ela se atrasou um pouco. Você entende mulheres não? Por favor, sente-se.

Aiden apontou para um sofá vermelho do lado de sua mesa, próximo a uma vasta estante de livros e próximo a janela que tinha uma vista maravilhosa da cidade.

— Claro. As noivas precisam de ainda mais tempo para ficarem bonitas. — me acomodei no sofá, cruzando as pernas a lá Sharon Stone.

Limitei-me a ser cortês, pois ainda era muito para aquele maldito.

— Eu a imaginei de forma diferente. — ele começou a me fitar de maneira estranha, pude notar que ele tentava flertar comigo. Não era novidade para mim a sua fama de garanhão e era exatamente dela que gostaria de me aproveitar.

— Perdão senhor Stone, não consegui compreendê-lo.

— Quando minha noiva falou que contrataria uma organizadora de casamentos, imaginei uma senhora de meia idade e solteira. Aliás, é solteira senhorita Parker?

— Pode me chamar de Emily...

— Então me chame de Aiden. Stone é muito formal. — me interrompeu artisticamente.

— Aiden. Sim. Sou solteira.

— Não sonha em se casar?

— Tenho outras aspirações no momento.

— Admiro muito as mulheres que são donas de si, antes de ter um marido para cuidar.

— E o senhor... Digo você está animado para o casamento?

— Para ser sincero não. — arrodeou a mesa, vindo sentar-se ao meu lado. — Não gosto da ideia de ser dominado por ninguém, muito menos por pessoas que não tenham cacife para isso.

— Porque vai se casar então?

— Poder.

— Poder? — me fiz de sonsa para sondar de melhor forma seus planos.

— O pai da minha noiva é dono de uma grande corporação, a qual eu quero incluir nos meus negócios futuros e aumentar o meu império significativamente.

— Interesse. Não amor.

— Infelizmente, não se pode ter tudo. — o cretino passou aquela mão suja nos meus cabelos. Eu precisei puxar a cabeça e me levantei do sofá.

— O senhor tem muitos livros. Já tem uma enorme riqueza de conhecimento.

— Gosta de ler?

— Muito.

— Assuntos preferidos... Casamentos? — ele riu irônico.

— Maquiavel, Voltaire... — dei um sorriso irônico.

— Ora, ora. É culta então.

— Bastante senhor Stone, digo Aiden. Não é porque tenho um emprego de organizadora de casamentos que eu não deva ter uma bagagem cultural ou um vocabulário pobre. Eu tenho o renome da empresa a zelar. E o senhor acha que sua noiva irá se atrasar muito? Eu tenho outros clientes a visitar.

— Que horas agendou com ela?

— Ás nove horas. — a mentira mais deslavada das muitas que eu ainda contaria, pois ela tinha me confirmado às onze horas e eu fiz de propósito. Se havia uma coisa pela qual os britânicos presavam era a pontualidade, certamente isso o deixaria incomodado e causaria uma pequena discórdia entre os dois.

— Eu pedirei que a secretária ligue para ela, são vinte minutos de intolerável atraso. — ele voltou-se à sua mesa, ligando para a secretária. — Sabrina, por favor, ligue para Meg e peça que venha imediatamente para cá, pois a organizadora já está aqui e é inadmissível que ela agende compromissos e se atrase. — falou irritado e o primeiro passo do meu plano eu já tinha cumprido.

Quando ele desligou o telefone voltou a me olhar curioso.

— Eu tenho a impressão que a conheço.

— Eu acredito que não.

— Talvez eu tenha visto você em algum casamento para o qual eu fui.

— Talvez.

Para minha sorte em encurtar esse questionamento, o telefone tocou e era Sabrina avisando que Meg já estava a caminho um pouco confusa porque não se lembrava de ter agendado comigo nesse horário.

— Meg já está a caminho. Ela informou que agendou as onze horas com você.

— Acho que ela se confundiu. Está aqui na agenda, veja! — mostrei a agenda com a marcação para as nove horas. O imbecil acreditou veemente.

— Devem ser as tarefas e tensão do casamento.

— Eu entendo perfeitamente.

— Que falta de modos a minha, nem pedi a Sabrina que trouxesse nada.

— Eu estou bem, obrigada. Não desejo nada.

— Tem certeza, oferecemos o melhor café de Nova York.

— Sim.

Diante minha rigidez ele se conteve a continuar seus afazeres. Vez ou outra flagrava seu olhar por cima dos óculos em minha direção. Ele me olhava minuciosamente, como se quisesse descobrir além do que eu mostrava e isso era exatamente o que eu queria e esperava dele.

Depois de uns vinte minutos, mais ou menos, Meg chegou ao prédio. Invadiu a sala e Sabrina veio logo atrás tentando se explicar ao patrão que atônito, olhava zangado para as duas.

— Já disse a você que não entrasse na minha sala assim, sem antes ser anunciada. — foi intemperante e gritou aos quatro cantos da parede.

— Mas, Aiden...

— Senhor, eu tentei... — Sabrina tentou se justificar meio envergonhada e sem graça.

— Sem "mas" Meg e quanto a você Sabrina, não é paga para pensar. Haja com precisão e profissionalismo. Agora saia.

Sabrina saiu da sala meio acuada, certamente em sua cabeça teria dito-lhe diversos impropérios. Até eu, que estava completamente inerte a qualquer sentimento e compaixão naquele covil de víboras e casa do demônio, tinha ficado com certo dó da pobre secretária e da noiva descompensada.

Os grandes e delineados olhos azuis de Meg, antes indignados e assustados voltaram-se furiosos para mim.

— Eu achei que tivéssemos agendado essa reunião para as onze horas.

— Lamento senhorita Pierce, agendamos para as nove horas. Estou inclusive perdendo tempo.

— Mas, eu... Tenho certeza que eram as onze.

— Você está surda Meg? Você agendou para as nove horas. Está relativamente muito atrasada, sabe que odeio perder tempo e fazer os outros perderem tempo. Tempo é dinheiro.

— Lá vem você e essa fixação em dinheiro, dinheiro, dinheiro.

— É isso que move o mundo meu amor. É isso que me move. — piscou em direção de Meg sarcasticamente, deixando claro o tipo de envolvimento que tinham.

— Podemos ir direto a reunião? Como eu disse, estou perdendo tempo... E dinheiro. — ri um pouco sem graça, tentando ser amistosa, mas totalmente irônica.

***

As horas que sucederam foram um natural saco e desperdício de tempo. Enquanto o noivo, aparentemente apaixonado concordava com toda breguice da noiva, esta por sua vez agia com maestria em achar que estava abafando. Só de damas de honra ela queria umas seis ou mais, como não entendo patavinas sobre casamentos, concordei, embora eu considere que seja um exagero. Mas do pouco que entendo sobre vestidos, o dela está além do século quinze ou menos. Anotei tudo, mas a maior parte das coisas que ela falava eu fiquei desenhando estrelas, corações, flechas e A de Aiden com um X em cima, resultando eliminado.

Aiden mal falava, deixou que a noiva relatasse todo seu desejo adolescente. Para mim, realmente parecia um baile debutante. Não era um casamento. Estou só esperando que ela peça mágica, ilusionistas e palhaços. Sério. Não, estou brincando. Eu acho, só acho que ela não faria isso. Será? De qualquer forma, esse casamento fadaria ao divorcio dentro em breve, pois não havia nenhum sinal claro que haveria felicidade entre eles. Eles nem se amavam realmente. Dele era notório. Quanto a ela, eu ainda tinha duvidas, pois ela parecia se preocupar mais com a festa do que com o noivo

Quando finalmente terminamos, ela apenas pediu para experimentar os doces, Buffet e bolo juntamente com a sua mãe que daria os palpites finais em relação ao assunto. Acabamos saindo juntas e ela continuou me inundando de detalhes até a saída do prédio. Mais uma vez senti enjoo no elevador, aquela vista que descia muito rápido era uma grande montanha russa mais evoluída.

— Você mal deu sua opinião Emily.

— É que você sabe bem o que quer Meg, o casamento é e deve ser uma realização de sonhos para a noiva.

— Mas eu não quero fazer papel de boba. — pensei: Então querida, mude tudo.

— Não se pressione tanto Meg.

— Meu maior sonho na verdade é ter um casamento feliz.

Não respondi aquela declaração, pois por mais fria que eu devesse ser e ter que aparentar o máximo possível, não podia imaginar alguém feliz do lado daquele maldito que era o Aiden. Continuei a fita-la com eximia frieza, estava conseguindo o ser com maestria.

Por um minuto, me senti um monstro igual a ele. Eu destruiria os sonhos de uma pobre mulher apaixonada, por meros planos de vingança. Mas como na vida há sempre os efeitos de acaso, ela sentiria o coração partido tal qual eu senti quando seu infeliz noivo, fez do que fez com o Steven. Ele vai me pagar, nem que para isso eu tenha que passar por cima de tudo e todos que se entrepuserem no meu caminho.