Sei o que vi ontem e não era um sonho

Tiago chegou ao ponto de ônibus e embarcou na linha 6418-10, que para a alguns quarteirões da escola. Chegou à escola às 07h11min. Entrou na sua sala, 8A, e se assentou numa das fileiras da frente. "Aqui posso me concentrar nas aulas de forma mais fácil". Olhou para seus colegas de classe e pensou: "Vou me enturmar hoje. Farei companhia para meus colegas durante o recreio". Sempre que o sinal tocava, todos os seus colegas saíam de sala e se dirigiam ao pátio. Tiago trazia de casa seu próprio lanche e ficava em sala, sozinho, pensando. Desenhava, escrevia histórias, cantava baixinho e fazia outras coisas em sala.

Ficava imaginando seus colegas jogando futebol nas quadras do pátio. Ele já pedira várias vezes para jogar, mas nunca lhe davam uma oportunidade. Depois de várias tentativas, ele decidiu andar e conversar com as meninas, mas elas o achavam intrometido e não queriam que ele ouvisse suas conversas e fofocas. Ele, então, foi para o claustro de sua sala e lá ficou, desde então. Naquele dia, 1 de Outubro, ele decidiu que tentaria se enturmar novamente.

A primeira aula foi dada pelo professor Rafael, de Matemática. À época, a turma estava na terceira etapa do oitavo ano, e os professores davam aula num ritmo mais intenso. Rafael começou a expor o conteúdo de funções do 1º e 2º graus. No segundo horário, também de Matemática, o professor deu algumas questões sobre o conteúdo da aula anterior. No final da aula, Tiago falou com Rafael:

– Professor, queria que o senhor me perdoasse pelas vezes que não prestei atenção, conversei e atrapalhei suas aulas.

– Tudo bem, está perdoado. – sorriu e atrapalhou os cabelos do menino – Mas o que te fez refletir e se arrepender?

– Ah, eu só pensei que poderia ter me comportado melhor, sido um melhor aluno. – entregou um bombom de chocolate ao professor – Tome, é um presente.

– De quantos pontos você precisa, hein, Tiago? – brincou Rafael – Só estou brincando. Muito obrigado. – o professor abraçou Tiago – Tchau!

– Tchau!

Rafael cumprimentou Tiago e saiu de sala. O próximo horário era de História, com a professora Cláudia. Tiago também pediu perdão a ela, a elogiou e a entregou um bombom. Ela agradeceu e o abraçou. Depois, chegou o recreio. Tiago ainda estava observando seu caderno de anotações e revisando a matéria de História, sobre a 1ª e 2ª guerras mundiais. Bruno, um dos colegas de Tiago, lhe chamou, dizendo:

– Ei, Tiago. Qual é? Vai ficar sozinho o recreio inteiro? Venha e jogue no meu time.

– Você está falando sério? Os outros não vão deixar.

– Se não deixarem você, eu também não jogarei.

Tiago sabia que Bruno era um dos melhores, se não o melhor jogador de futebol da turma. Era quase impossível que ele não jogasse futebol no recreio. Os dois foram juntos à quadra de futebol, no pátio. Bruno disse a seus colegas:

– Hoje o Tiago vai fazer parte de nosso time. Se alguém zoar dele, vai se ver comigo. Estão ouvindo?

A maioria acenou que sim. Tiago entrou no time como goleiro. Apesar de não praticar futebol fora da escola, ele frequentava uma academia e praticava Jiu Jitsu, um estilo de luta estrangeiro. Ele jogou muito bem, defendeu o time em todos os lances decisivos e não deixou que a bola entrasse no gol uma vez sequer. Passou a fazer parte do time, desde então. Combinou de passear com seus colegas naquele dia, às 20h00min no shopping Ibirapuera, perto de sua casa.

Depois do recreio, ainda restavam dois horários para o fim das aulas. As aulas foram de Geografia e logo depois, de Sociologia. Tiago pediu perdão a todos os professores e mudou seu comportamento. Ficou mais concentrado na aula, mais calado e mais quieto que antes. As aulas terminaram às 11h50min. Tiago embarcou no ônibus 6418-10 e chegou em casa às 12h40min. Foi almoçar, pois estava faminto e ligou o computador. Inseriu o disco do jogo. Esperava que algo acontecesse agora, mas nada aconteceu. Abriu o emulador, abriu o jogo Gates To Infinity. O menu e as opções de jogo ainda eram as mesmas.

– Não, eu ainda acredito. Sei o que vi ontem e não era um sonho. E isto não será mais só um jogo!

Abriu uma nova conta no jogo com o nome de Tiago. Após responder a uma série de perguntas longas sobre sua personalidade, recebeu a resposta: “Parece que você é um.... Pichu. Boa sorte na sua aventura!”

A tela se apagou. A janela e a cortina de seu quarto estavam fechadas e a única luz do ambiente, que era a da tela do computador se apagou, deixando o ambiente numa escuridão total. Tiago tentou ligar a tela do computador novamente, mas ao esticar seu braço atravessou o espaço que a tela ocupava. Tentou apalpar o seu quarto, mas não havia paredes, não havia chão e não havia computador mais. Tiago disse:

– Deu certo. Eu não acredito que deu certo. Que alegria.

Abriu os olhos e viu que estava deitado na grama. Olhou para si mesmo. Sua pele agora era ligeiramente amarela. Seus dedos, mãos e pés eram menores do que antes. Ele ainda enxergava todas as cores. Seu tamanho também diminuiu drasticamente, mas em compensação, agora ele possuía poderes elétricos. Levantou-se e começou a explorar a região.

No tempo de agora.... O resto da carta diz:

“Depois de um tempo treinando, cheguei à vila de Lawncliff, quando Shaymin ainda não morava lá. Se a propósito, vocês a virem, mandem para ela um abraço. Eu e ela somos grandes amigos. Lutamos lado a lado numa guerra. Depois que fiquei forte, e, seguindo informações de anônimos, cheguei à cidade de Greenvalley e formei uma equipe de resgate com Snivy, Tepig, Oshawott e Axew. Nós participamos de uma guerra. Darkrai, Giratina, Zekrom e Mewtwo tentaram tomar o poder de Arceus e dominar Aryion. Todos foram derrotados, mas Mewtwo fugiu. Suspeito que ele tente algo ruim muito em breve.

De qualquer maneira, fiquei muito feliz com o jogo, ao ver meu desejo se tornar realidade e ver amigos virtuais ganharem vida e personalidade, o que foi uma experiência única. Eu praticamente “zerei” o jogo. O motivo de eu ter dado o jogo a você, Bruno, foi que você foi um grande amigo para mim e queria muito chamar você para jogar comigo. Queria recompensá-lo por sua amizade, ainda mais por que, considerando a data em que você lerá isso, amanhã é seu aniversário. Este é seu presente. Não vou proibir você de trazer pessoas estranhas para o jogo, só quero que você aja com sabedoria e com cautela, para que sua família não descubra o jogo. O jogo é seu agora. Sinta-se livre para fazer o que quiser. Se quiser jogar comigo, antes que eu me mude para Belo Horizonte, podemos jogar ainda. Antes de tudo, lembre-se que sou seu amigo e não vou te esquecer.

Um abraço de seu querido amigo,

Tiago Moreira”