O mar agitado piora com os ventos fortes, as ondas se erguem e encharcam um grupo de piratas, que tentam a todo custo encontrar seu tesouro. A chuva atrapalha a vista e os trovões, a audição, mas Jack continua obstinado e permanece em pé, observando o horizonte sombrio.
—Senhor Nero- gritou Sparrow.
—Estou aqui, capitão.
—Cuide do navio, vou entrar para estudar esse mapa- no interior do navio, Jack comeu algumas maçãs enquanto procurava pistas no misterioso mapa. Por mais que procurasse, não havia pistas, só havia falsas localizações e direções trocadas, a verdade é que Sparrow enrolava sua tripulação há dias. Durante o sono, o pirata não conseguia tirar a dama que conhecera de sua cabeça. Ao amanhecer, Jack já se encontrava no lado exterior, ainda observando o mapa. Nero subiu no deque e, fitando seu novo capitão, pôs-se a falar:
—Capitão.
—Sim, senhor Nero.
—Estamos no mar há três dias, nem sinal de ilhas e o senhor ainda não nos informou a distância até a ilha onde se encontra o tesouro.
—Cartografia nunca foi o meu forte- respondeu Jack desviando o olhar.
—O senhor sabe do que estou falando. Sou velho porém não sou tolo, esse mapa não é seu, assim como o tesouro.
—Vejo que teve muito tempo para pensar nisso- elogiou Jack sorrindo.
—Por que não avisou a tripulação?- indagou Nero com desconfiança.
—Não confia em mim?- perguntou Sparrow.
—Não o conheço, capitão. Como poderia?- retrucou o homem de meia idade.
—Não acredito que não confie. Lhes entreguei este belo navio da Companhia das Índias Orientais e estou levando-os a um magnífico tesouro.
—Jack, sabe o que faz de nós piratas? Esperteza. Somos espertos com todos para termos vantagens em tudo, é nosso ponto forte- o marujo parou para permitir que Jack compreendesse o que ele estava dizendo, mas o jovem não tirava o olhar e a atenção do mapa, então decidiu prosseguir- mas também é nosso ponto fraco. Afinal de contas, em quem confiaremos? Quem não irá atrás de nós, irritado com nossa esperteza?- Os marujos se levantaram e se dirigiram ao convés, se esticando e parando em frente ao capitão.
—Bom dia senhores. Estive conversando e ouvindo os conselhos de nosso amigo, o senhor Nero. Ele está certo. Não lhes contei tudo o que deveriam saber- Nero sorriu alegre, finalmente Sparrow havia tomado jeito- na verdade, quando desenhei o mapa estava embriagado e imundo, isso foi antes de me prenderem no navio de LeFeau. Aquela mulher que foi presa comigo mexeu no mapa e como eu não o decorei, teremos de buscar uma outra forma de encontrar o tesouro. Prometo que, no máximo...em dez dias, estarão cheios de ouro e prata para gastar com meretrizes e damas da noite.
—Mas não é a mesma coisa?- perguntou um marujo loiro de olhos verdes.
—Você entendeu garoto. Agora vamos.
—Temos um novo curso?
—Temos. Deem meia volta, então sigam em frente- Nero suspira desapontado.
Em outro lado do mar, um navio enorme, cheio de criaturas peludas, com vestes de piratas e cabeças de touro, há também um homem com olhar frio e roupas verdes, além de cabelos longos, jogados sobre sua face e um chapéu com pena cinza. Ele está sentado na escada de acesso para o timão, concentrado nos própios pensamentos, quando um dos monstros se aproxima:
—Capitão, tudo bem? Não sai daí há dias.
—Sairei somente quando encontrarem o meu mapa-esclareceu o pirata com veemência.
—Eu sinto muito capitão, não há sinal ou rumor sobre o mapa em lugar algum.
—Então por que preciso mantê-lo nesse navio?
—Por que Jack Sparrow fugiu de uma prisão da marinha mercante, roubou um navio da Companhia das Índias Orientais e partiu para leste com parte da tripulação amotinada do capitão Le Feau- contou a fera sorrindo, seus olhos cintilavam, aguardando um sorriso de seu capitão, mas este não veio.
—Quem é Jack Sparrow?- perguntou o capitão com indiferença.
—O pirata que nos roubou a Safira de Perséfone. Ele estava preso com Hellen Fince.
—Hmm- o capitão se levantou, pegou sua pistola e matou um pássaro que havia pousado no mastro.
—Senhor Ring, trace uma rota para o oeste- o pirata tomou fôlego e berrou- procurem um navio da Companhia das Índias Orientais seus bodes sarnentos, estaríamos ricos se não fosse aquela criança, agora ele está em um desses navios e o mataremos e afundaremos seu navio e qualquer um que estiver com ele- todos os minotauros riram e se moveram o mais rápido possível para preparar o navio, o novo objetivo os motivava mais do que qualquer outro.
Após uma pequena jornada, Sparrow desembarcou numa ilha com seis marujos, e navegaram por um rio estreito com um pequeno barco, passando por plantas e árvores anormais, estátuas pagãs e cipós estendidos até um grande barraco.
—Esperem aqui. Ela não gosta muito de visitantes- explicou Jack saindo do barco. Quando terminou de subir uma escada até o barraco, Sparrow entrou sem ser convidado e pôs-se a observar o local, cheio de jarros de vidro com répteis, cordas amarradas e uma mesa com pedras aparentemente comuns, além de uma estante com pedras bem incomuns. O jovem capitão reconheceu de imediato uma pequena esmeralda, reluzente e sensual. Sem poder resistir, Jack olhou de um lado para outro e, ao constatar que não havia ninguém por perto, pegou a joia e guardou-a no bolso. De súbito, uma mulher negra, com vestes marrons, cabelos escuros e olhos sádicos entrou na sala e fitou Jack com um sorriso envolvente e sedutor.
—Jack Sparrow...há quanto tempo não o vejo?- indagou a mulher misteriosa.
—Tempo demais tia Dalma. Me perdoe por ter roubado aquelas pedras no passado.
—Tudo bem, não estou furiosa, mas quero-as de volta- exigiu Dalma.
—Sim, aqui estão- e, retirando algumas pedras de um saco em seu bolso, entregou-as a mulher, que sorriu carinhosa e agradecida.
—Achou que eu não perceberia?- questionou a mulher com raiva.
—Quer a verdade ou uma resposta que não a deixe enfurecida?- indagou Sparrow se distanciando, mas a mulher já havia voltado ao normal.
—Receio que não veio atrás de mim com desejos carnais.
—Isso é verdade- a mulher revirou os olhos com decepção.
—Estou com um mapa- Dalma voltou a sorrir.
—É a única coisa que você gosta mais do que um bom e velho rabo de saia, não é meu doce Jack? Adora navegar atrás de tesouros. No entanto, sempre que tem um em suas mãos, vai atrás de outro e o deixa escapar.
—Infelizmente tenho uma complicação, quem fez esse mapa o alterou de tal modo que somente ele saberia o que alterou e seguiria o caminho correto.
—Entendo. Mas como posso ajudar?- perguntou a mulher com curiosidade.
—Preciso de algo que possa me levar à localização do tesouro- Dalma riu cheia de convicção.
—Tenho exatamente o que procura. Na verdade, tenho algo melhor ainda, mas não posso dá-lo sem algo em troca- Sparrow coçou a cabeça.
—Que tal uma parte do tesouro? Eu uso esse meio para achá-lo e divido entre meus tripulantes e deixo uma parte bem gorda para você, o que me diz?
—Uma parte de um tesouro não é o suficiente para pagar o que ela vale- esclareceu a mulher, guardando suas pedras recém-devolvidas num saco.
—Então me diga o que quer- pediu Jack.sem outra opção.
—Sangue de minotauro.
—Sangue de minotauro?
—Sangue de minotauro. Você perguntou o que eu quero e o que eu quero é sangue de minotauro.
—Pra que sangue de minotauro?
—É muito útil em poções, sangue mestiço- respondeu Dalma.
—Como eu vou arrumar sangue de minotauro?- perguntou o pirata sem saber o que fazer.
—Não sei, eu não sou você e você atrai tempestades, não eu. Por isso, saberá como encontrar. Acho que sua loucura vai ajudá-lo desta vez.
—Certo. Trarei o tal sangue.
—E uma parte do tesouro- completou Dalma.
—Como é?
—Eu disse que vale muito. Traga-me o sangue e parte do tesouro e eu deixarei com você.
—Feito- concordou Jack de má vontade.
—Só mais um detalhe, se concluir sua jornada sem cumprir nosso acordo, você Jack Sparrow...morrerá- a mera menção de tal palavra arrepiou Sparrow até a espinha e seus olhos se esbugalharam.
—É uma ameaça? Me amaldiçoou, foi isso?
—Não. Eu vi seu futuro, e se não cumprir com sua palavra, será seu fim.
—Aumentou minha motivação. Agora, pode me dizer o que é tão valioso que me levará ao tesouro?- Dalma se levantou, foi até um grande baú e voltou com um pequeno objeto em suas mãos.
—Não apenas ao tesouro, mas ao que mais desejar. Algo que poderá usar sempre que quiser muito alguma coisa.
—E o que seria?- perguntou Jack sorrindo, seu coração batendo rapidamente e todos os seus desejos clamando seu nome.
—Uma bússola.