— Vamos, diga o que sabe - Repete o capitão Noren impaciente.
— Posso até falar o que sei, mas quero sua garantia de que não se livrará de mim assim que souber o que deseja - Pediu Beckett assumindo uma postura imperativa.
— Tem minha palavra. Se eu quisesse, você e seu amigo já estariam mortos, agora quero saber a verdade.
— A bússola não aponta para o norte, como devem ter reparado - O capitão confere a bússola, e de fato ela não apontava para o norte, mas sua expressão se torna confusa.
— Uma bússola quebrada - Consta o capitão cutucando sua bainha bufando seu bafo horrendo no rosto de Beckett, que tenta suportar a situação à medida que planejava o que iria dizer a seguir.
— Não uma bússola quebrada - Corrige Carter abrindo um sorriso leve - Uma bússola diferente - Fince o encara com a espada erguida, a expressão de dúvida estampada na face.
— Diferente em qual sentido? - Questiona Carca impaciente.
— A bússola não aponta para o norte, capitão Noren - Ele pausa e tira o tampo da bússola - aponta para o que você mais quer - Assim que pega a bússola, para sua surpresa, a bússola não muda de direção.
— Quer mesmo me enganar com essa conversa? - Pergunta o capitão Noren revoltado - Coloquem esse bastardo nas celas até que recobre o juízo.
— Espere - Pede Carter erguendo a bússola - O que você mais quer está a leste. Se seguir para lá terá o que você mais anseia.
— Pode me dar sua palavra?
— Se eu estiver mentindo você pode me dar de comida aos tubarões.
— Se estiver mentindo, senhor Beckett, a senhorita Fince irá cuidar pessoalmente de acabar com o senhor da maneira mais dolorosa possível. Estamos entendidos?
— Sim capitão.
— Excelente. Agora, levem nosso colaborador de volta à cela. Mas desta vez o coloquem bem longe de Sparrow. Não quero que os dois mantenham contato - Dois minotauros carregam Beckett de volta à cela, prendendo o jovem o mais longe possível de Jack, que continuava com os braços e pernas acorrentados, embora não pensasse em fugir, pelo menos não nesse momento.
— Capitão, precisamos tomar uma atitude imediata - Observou Hellen demonstrando preocupação.
— Eu sei, mas tem algo estranho nessa história. Algumas pontas não se encaixam.
— Fala de Sparrow? - Questiona Fince mexendo em sua adaga.
— O próprio. Ele sabe muito mais do que demonstra, o que significa que ele deve ser um colaborador mais eficiente aos nossos propósitos do que o assistente da Companhia das Índias Orientais.
— Ele não falou da bússola - Lembrou Hellen desconfiada.
— O que não torna a declaração verdadeira - Eles se entreolham - Precisamos da ajuda de Sparrow, por mais que não queiramos admitir e preciso me certificar de que a declaração é verdadeira.
— O que quer dizer com isso? - Pergunta Hellen confusa.
— Vou ordenar aos marujos que direcionem o navio a leste.
— Por que?
— Para ter certeza do que o jovem nos contou.
— E quanto ao nosso trato?
— Conquistamos o tesouro graças à minha tripulação, você não tinha nada além de um mapa decorado que ainda por cima estava errado. Acalme-se e logo mais teremos o que nós dois queremos - Em sua cela, Jack olhava para o teto do convés, revesando os olhares com suas algemas e correntes entrelaçadas. De repente, quando menos esperava, Hellen Fince surge em frente a sua cela e o observa com raiva e pena ao mesmo tempo.
— É nisso que dá agir imprudentemente, Sparrow - Declara Fince se aproximando.
— Eu sempre fui desse jeito amor, e sempre deu certo pra mim - Confessou Sparrow com orgulho - Pelo menos até o momento.
— Poderíamos ter encontrado o tesouro juntos, mas preferiu fazer isso sozinho, seu tolo ganancioso.
— Me desculpe madame, mas acho que você estava tentando acabar com a minha vida - Lembra Jack com rispidez - Mas devo confessar que teria sido uma alternativa interessante.
— Por que o tesouro não fez efeito em você? - Pergunta Hellen agora grudada na grade.
— Como eu poderia dizer, minha cara, eu disse que o tesouro possuía um segredo, e eu o descobri e isso nos trouxe aqui.
— Então sabia que acabaria acorrentado sem conseguir se mexer nem para coçar o nariz?
— Eu não senti coçeira o dia inteiro - Esclareceu Jack, mas para seu azar seu nariz começa a coçar assim que para de falar - Maldição.
— O que foi?
— Meu nariz está coçando.
— Isso veio bem a calhar.
— Coça aqui por favor, está começando a incomodar - Pede Jack educadamente.
— Vamos fazer um trato Sparrow, você me diz o que sabe sobre o tesouro e em troca eu tornarei sua estadia nesta prisão menos sofrida.
— Não tenho por que contar o que sei se vou continuar preso aqui, é melhor guardar e usar como moeda de troca - Explicou Jack com orgulho.
— Confie em mim, Sparrow, vai se arrepender dessas palavras quando o capitão terminar com a sua vida miserável.
— Você não faz ideia do que eu descobri.
— Vamos lá Jack - Chamou Hellen impaciente - Nós dois sabemos que você não sabe de nada, pelo menos nada que faça diferença para mim, o que significa que você não têm nada.
— Você confia naquele miserável que trabalha pra Companhia das Índias Orientais?
— O que? Se eu acredito que você possui uma bússola mágica? - Ele afirma com um meneio - Não, não acredito. No entanto, você encontrou o tesouro de alguma maneira, nisso eu acredito. Da mesma forma acredito que possa encontrar algo para mim.
— Algo?
— Uma coisa que é do meu interesse.
— Achei que seu interesse fosse o tesouro - Afirma Jack deprimido.
— Também, mas possuo interesses mais, e se estiver interessado, estarei pronta para negociar sua liberdade com o capitão Noren.
— E o que você quer?
— Uma coisa que o senhor também quer senhor Sparrow, mas não faz ideia de como conseguir, por isso vaga pelos confins dos sete mares.
— Na verdade eu navego por ser apaixonado pelo mar - Corrige Jack começando a se interessar pela proposta.
— Mas para isso terá de contar tudo o que sabe - Esclareceu Hellen erguendo a chave da cela.
— Informações não são gratuitas - Lembra Sparrow virando a cabeça de lado.
— Eu sei - Ela suspira e abre a cela, se aproximando um pouco de Sparrow e destrancando as correntes e algemas - E estou disposta a pagar o preço - Ela solta um laço de seu vestido. Em seguida solta os demais um por um enquanto soltava as algemas restantes - Qual preço está disposto a pagar pelo que quer? - Jack se recorda de quando olhou para a bússola e ela indicava a direção oposta a que ele seguia. Ele sabia exatamente o que queria, e não precisava da bússola para direciona-lo. Hellen tira seu manto e em seguida tira o vestido, deixando que caísse no chão frio e cheio de palha da cela.
— Caiu - Declara fingindo ingenuidade enquanto colocava suas mãos sobre os ombros de Jack e se aproximava dele, até que enfim se beijam e Jack a segura com ímpeto, deitando com ela no chão frio sobre as roupas de ambos e durante o resto da noite o casco do convés passa a rangir, sem que muitos dos piratas conseguissem dormir. Muito antes do sol nascer, Hellen se levanta e encara Sparrow com um ar de desejo pairando no ar.
— O que você sabe Jack Sparrow? - Sussurra terminando de colocar o vestido e se retirando da cela, deixando Jack dormir sem as correntes e as algemas. Assim que Carca Noren e Fince se reúnem, o capitão parecia mais apreensivo ainda.
— Os homens estão agindo estranho. Estou mantendo o tesouro escondido, mas se a vontade de possuir o bendito aparecer, então receio que terei de tomar medidas sérias. Espero que a situação não saia do controle.
— Não sairá capitão - Garante Hellen sorrindo satisfeita.
— Aconteceu alguma coisa, senhorita Fince?
— Tomei a liberdade de tirar as correntes de Sparrow.
— Você fez o que? - Esbraveja Carca levantando da cadeira.
— Foi necessário capitão. Precisamos da confiança de Sparrow, se ele não puder confiar em nós jamais contará o que sabe. Se pretende conseguir chegar em nosso destino, sugiro que me deixe cuidar de tudo.
— Deixarei, mas se a coisa fugir do controle você será a primeira a andar na prancha, estou sendo claro o suficiente?
— Sim senhor.
— Ótimo. Pode voltar aos seus afazeres, que eu cuidarei dos meus - Horas depois, assim que dispensou os piratas que limpavam as celas do hangar, Hellen Fince desce às celas e para em frente à cela de Sparrow, que estava em pé observando a parede.
— O que está fazendo? - Pergunta Fince achando a situação peculiar.
— Estou observando a parede.
— Por que?
— Por que estive pensando, quanto tempo me manterá nessas condições enqusnto eu não disser o que quer saber?
— O suficiente, mas não espere que vá viver sempre desse jeito. Eu tenho a confiança do capitão e poderia mata-lo a qualquer instante.
— E por que não o faz?
— Por que você é um tolo que acha que conseguirá uma barganha com meu capitão, mas aquele homem é indomável, assim como eu. Por isso sou a oficial comandante do navio.
— Pois eu acredito que seja por outras razões que me mantém vivo.
— Mais cedo ou mais tarde você dirá a verdade. Vim trazer sua refeição antes de voltar ao deque - Ela larga a comida de Jack no chão e segue seu caminho, até que Carter a chama aos sussurros. Curiosa e ao mesmo tempo desconfiada, Hellen caminha até a cela e tira sua espada da bainha, apontando a mesma para o pescoço do jovem.
— O que você quer?
— Eu vim oferecer uma troca.
— Troca? - Questiona Hellen num tom de diversão - O que você teria para trocar comigo que fosse do meu interesse?
— Informação.
— Informação - Repete Fince como se fosse uma palavra vaga e sem sentido.
— Sparrow vai tentar tomar o navio, você sabe tão bem quanto eu.
— Ele não têm nada, como poderia tomar o navio?
— Ele pode muito bem dissuadir o capitão minotauro gigante até conseguir virar a situação a favor dele e por fim vai libertar os homens dele da maldição - Explica Beckett rezando para que a mulher acreditasse, afinal, se Jack conseguisse o que queria, Carter jamais sairia vivo daquele barco.
— O capitão não pode ser dissuadido e, além do mais, não acredito que a maldição possa ser rompida, os homens de Jack trabalham para mim.
— Então não me escute e continue seu plano sozinha - Pede Beckett impaciente.
— Plano? Sozinha?
— Eu sei qual é o seu plano. Não sei o que quer, mas sei que planeja tomar o navio de Carca Noren com a ajuda dos piratas enfeitiçados, assim como planeja usar a bússola de Sparrow, que embora diga não acreditar, você acredita e vai usa-la em seus propósitos - Fince sorri admirando a esperteza de Carter.
— Esperto garoto, como deduziu tanto?
— Passei muito com um pirata esperto. Aprendi a lidar com pessoas, principalmente pessoas como ele.
— Você não é confiável - Afirma Hellen aproximando a espada.
— De que adianta eu não ser confiável se a Companhia das Índias está a milhas e milhas de distância daqui? Tudo o que eu quero é poder pisar no continente outra vez - Hellen pensa por alguns instantes, então sorri aliviada.
— Sua hora vai chegar, senhor Beckett. Aguarde - Assim, Fince retorna ao deque e grita ordens para os piratas de Jack, que ajudavam os minotauros sem discordâncias ou reclamações. Muito depois do anoitecer, Carca Noren observa seu mapa contente enquanto avalia algumas posições estratégicas, até ser interrompido por um toque na porta de seus aposentos.
— Entre Fince - Ordena Noren impaciente - O que me diz de fazermos um contorno pelas águas altas?
— Bem, sem querer decepciona-lo capitão Noren, mas eu não sou Hellen Fince - Declara Jack se aproximando com as mãos elevadas enquanto Noren sacava a espada e empurrava a mesa para um canto para ter amplo espaço e manter vantagens sobre o oponente.
— Como fugiu da cela?
— Isso não vem ao caso, capitão. Mas possuo moeda de troca, de barganha entende o que digo? Algo de seu interesse que podemos discutir tentando acabar com a vida um do outro ou tentar conversar como homens civilizados que provavelmente enão somos - Carca Noren abaixa a espada por um momento e pensa antes de guardar a espada na bainha e oferecer um assento a Jack.
— Então senhor Sparrow, o que tem para me falar e o que o senhor deseja em troca?