Hellen se levanta após outra noite inesquecível com Sparrow, veste suas roupas e deixa o pirata dormindo em paz, embora essa paz não fosse durar. Depois de dois dias navegando sem chegarem a lugar algum, Carca Noren tinha sua paciência esgotada, e sua tripulação compartilhava desse sentimento em sua fadiga. Assim que entra na sala de Noren, Hellen é encarada com uma expressão de esgotamento.
- O que houve, capitão?
- Eu posso ver no rosto dos meus homens. Estão cansados dessa viagem incessante, e também estão ansiosos para tocar o tesouro. Em breve não serei mais capaz de impedir a maldição - Declara frustrado.
- Precisamos tomar uma atitude então, capitão - Sugere Fince preocupada.
- Concordo. Chegou a hora de sairmos do lugar.
- Senhor?
- Temos pessoas demais a bordo, não concorda?
- Concordo.
- Hora de uma execução - Em sua cela, Beckett morde um pouco de palha enquanto sua barriga ronca, lembrando-lhe a todo momento que não comia há dias. Em sua cela, Sparrow também estava com fome, embora fosse devido à gula e não à fome. Dois piratas descem e passam por Sparrow sorridentes.
- Se vieram debochar de mim podem dar meia volta, seus bodes sarnentos.
- Trazemos boas notícias, Sparrow. O capitão decidiu que vai executar seu odioso assistente da Companhia das Índias Orientais, o senhor Beckett.
- Não me digam. Quando ele tomou essa decisão?
- Isso lá é da sua conta, escória?
- Tecnicamente somos iguais, então todos somos escória.
- Gostaria de ver a execução?
- Nunca apreciei assistir uma execução pública - Confessa Sparrow com nojo.
- Não mesmo?
- Mas essa eu faço questão de comparecer - Declara Jack cheio de empolgação.
- Pode ver - Um minotauro encara o outro - Os restos do corpo que pegarmos assim que os tubarões fizerem a festa - Os dois piratas saem dando gargalhadas enquanto Jack continuava em sua cela observando eles levarem Beckett em meio a protestos, pensando que estava a salvo e que Hellen Fince tinha conseguido tomar o poder, mas ele estava tão enganado quanto Sparrow. Ao ser colocado perante a tripulação e de frente ao capitão Carca Noren e sua aliada, Carter sorri deleve antes de levar um soco e ser jogado no chão em meio aos aplausos e gritos dos minotauros, contentes em ver alguma violência depois de tanto tempo.
- Todos nós estamos cansados de guardar peso morto em nosso navio - Grita Carca brandindo sua espada com voracidade - Creio que todos vocês aqui almejam tirar um pouco do sangue desse fedelho da Companhia das Índias Orientais, mas penso comigo que ele seja deveras magro e não daria para dividir entre todos nós, afinal de contas somos uma das maiores tripulações que navega pelos sete mares. Pensando na nossa ânsia em acabar com ele da maneira apropriada, que tal a maneira mais clássica criada por um pirata? - Os piratas aprovam a ideia - A maneira criada pelo próprio Arauto de Netuno? - Mais aprovações ainda - Pendurem a prancha - Todos se animam e uma canção se inicia enquanto a prancha era estendida sobre o chão do navio.


Todos sabem como é história,
A maior e melhor forma criada,
Todos sabem quem ordenou Andar na prancha quem o desertou.


O maior dos capitães que cruzou
águas desconhecidas e ainda cantou
Que todos podem um dia domar
O reino que nosso mentor governa.


- Para a prancha, meu jovem - Ordena Noren em bom som apontando sua espada enquanto suor escorria pelo rosto do jovem, que não estava nem um pouco preparado para morrer.
- Eu posso ao menos pedir uma última refeição?
- Para quê? Para encher mais ainda a barriga dos tubarões?
- Eu estou há dias sem comer.
- Isso é seu problema e dos tubarões - A tripulação ri com diversão, então Noren percebe que seu plano estava funcionando - Agora comece a andar senhor Beckett - Carter suspira e pula na prancha, dando um passo menor do que o outro, então observa as águas profundas e engole em seco - Espere senhor Beckett. Existe uma forma disso acabar diferente. Existe uma chance do senhor se salvar.
- Pode dizer, capitão Noren - Declara o jovem voltando desesperado ao deque do navio - O que o senhor deseja? - A tripulação de enfurece.
- Não se preocupem, meus amigos. Ainda teremos a execução, mas a vítima pode mudar dependendo do jovem Beckett. Agora me diga, planejava algum golpe contra mim?
- Não senhor - Noren derruba Carter no chão e pisa em sua barriga.
- Esqueci de mencionar que cada vez que mentir eu vou pisar em seu corpo. Irei chuta-lo até que vomite a verdade. Estamos claros?
- Sim senhor, capitão.
- Ótimo. Me ajude. Colabore comigo e juro que não irei fazê-lo andar naquela prancha.
- Planejava - Hellen começa a ficar desesperada por dentro, mas mantém-se serena por fora.
- Com a ajuda de quem?
- Alguém da sua tripulação que tem muito poder - Hellen fica mais desesperada ainda.
- E quem seria essa pessoa que eu confiei e me traiu sem um pingo de consideração? - Todos os piratas erguem suas espadas esperando para saber quem era o traidor, inclusive Hellen.
- Hellen Fince - Os minotauros ficam incrédulos e encaram a mulher com as espadas em punho.
- Capitão, eu nunca faria isso. Nossa aliança é superior ao seu posto. Seu posto pertence ao senhor, e ao senhor apenas. Carca Noren é o capitão do Asa Celestial - Grita tentando afirmar sua lealdade, mas Noren se vira para ela e aponta sua pistola decidido.
- Quero que dois de vocês tragam Sparrow aqui - Dois piratas se retiram enquanro Noren encara a traidora - Achei que estivéssemos do mesmo lado, mas você é de fato parte da escória. Já cansei desse tipo de comportamento, vagabunda - Assim que os dois piratas chegam no convés, Sparrow abre um sorriso.
- Já era a hora - Os piratas abrem a cela e arrastam Jack até onde Carca Noren se encontrava, colocando-o de joelhos. Noren sorri e encara Hellen.
- Então você o ama? - Ele mira a pistola na cabeça de Sparrow.
- Não amo - Declara mantendo a calma.
- Não ama?
- Não amo - Confirma a pirata, sentindo seus dedos tremerem e seus batimentos acelerarem.
- Ótimo - Ele atira perto de Jack quando ela grita.
- Pare por favor, não faça isso. Não o machuque Noren.
- Não se preocupe, não sou burro de matar meu braço direito - Declara tirando as algemas de Sparrow, que se levanta e limpa as roupas.
- Braço direito? - Questiona Fince incrédula.
- Braço direito? - Indaga Beckett pasmo.
- Braço direito? - Profere a tripulação em uníssono.
- Parece que temos uma tripulação de papagaios ao invés de uma tripulação de minotauros. Sparrow por sorte e esperteza conseguiu se aproveitar da ingenuidade da senhorita Fince para escapar de sua cela e me informar sobre o que ela planejava junto ao senhor Beckett com antecedência. Assim tive tempo de sobra para me preparar para este momento. O momento que mato a traidora que abriguei e confiei cegamente à minha tripulação. Assim como o prisioneiro que se fez seu aliado.
- Senhores - Chama Jack indignado - Onde estão minhas coisas? - Os piratas pegam os objetos de Sparrow e lhe entregam ainda que contrariados.
- Que história é essa? - Reclama Beckett revoltado - Você disse que se eu ajudasse você, não - Noren aponta sua pistola para Carter e dá uma gargalhada sadia.
- Não iria te mandar outra vez para a prancha e é o que eu vou fazer. Você irá morrer pela minha pistola, mas irá mata-lo não será eu e sim o senhor Sparrow - Carter encara Jack incrédulo enquanto praguejava mil injúrias contra todos. Fince aproveita a oportunidade e assobia para os piratas que formavam a tripulação de Jack, e num instante todos pegaram suas espadas e se puseram à frente dela - O que pensa que está fazendo?
- Estou me protegendo, capitão. Eu não irei morrer hoje, da mesma forma como não serei morta por essa escória chamada Jack Sparrow - Sparrow se ofende e puxa a pistola.
- Eu poderia atirar, mas acho que nosso capitão aqui adoraria fazer isso pessoalmente. Como essa guerra é bem pessoal, eu simplesmente vou me retirar para o convés se não se importam.
- Calminha aí, Sparrow - Dois minotauros impedem que Jack prossiga - Você ainda tem de matar o garoto da Companhia das Índias Orientais.
- Ninguém vai matar Beckett - Esbraveja Hellen puxando sua pistola.
- Vamos fazer o seguinte - Sugere Jack se aproximando do conflito - Por que o senhor não mata Fince primeiro e em seguida eu mato Beckett?
- Por que eu ordenei que matasse agora.
- Eu sei, mas ele é tão inofensivo. Uma ventania o mataria se tivesse a chance. Uma traidora deveria ser morta pelo próprio substituto.
- Não me venha com essa ideia, Sparrow - Noren aponta a pistola para Jack - Você quer ou não quer matar esse garoto?
- Eu não posso capitão. Se eu mata-lo, como iremos negociar com a frota da Companhia das Índias Orientais que se aproxima de nós?
- Como é? - Indaga Noren sem entender.
- Veja no horizonte. Tem dois navios ostentando a bandeira da Companhia e estão se aproximando depressa - Os minotauros observam a aproximação dos navios, então Noren encara a tripulação furioso.
- Escutem bem seus miseráveis, preparem toda nossa pólvora e nossos canhões, vamos por um fim a esses amaldiçoados da Companhia - Ele encara Sparrow - Vamos usar o garoto para ter uma vantagem.
- Eu ainda estou aqui - Avisa Fince se aproximando lentamente.
- Você é uma ameaça significativa - Noren encara a tripulação - Todos que não forem necessários na preparação das armas venham matar Hellen Fince - Os piratas restantes pegam suas armas e pistolas.
- Ataquem - Grita Hellen - Uma violenta batalha se inicia, onde a maipria dos mortos são os piratas da tripulação de Jack, enquanto Hellen foge para a ala dos botes. De repente, sem mais nem menos, o Asa Celestial começa a ser atacado por um turbilhão de canhões. Em seguida, dezenas de piratas se revelam no outro navio e Sparrow entra em desespero.
- Capitão, vamos dar meia volta. Temos dois inimigos agora.
- Quem é esse, Sparrow? - Do outro navio, Noren podia escutar as gargalhadas roucas de um homem orgulhoso.
- O destino é traiçoeiro, não é mesmo, Sparrow? Quando você achou que o capitão Le Feau voltaria para se livrar de seu demônio de uma vez por todas?