Durante a madrugada, os piratas beberam num bar, fedendo a rum, rindo, brigando, contando aventuras e cantando sobre as antigas histórias piratas.

Num canto qualquer encontrei
uma moça bonita para beber,
meu barco lhe mostrei
e meu coração entreguei.

Uma noite passou
e meu sono chegou,
quando enfim acordei
meu amor havia partido
e meu barco havia sumido.

Ela levou meu barco,
me enganou como uma sereia,
espero em seu marco
para agarrar a tal baleia.

Jack ouvia as canções em silêncio, bebendo e pensando na mulher que tentara matá-lo, Hellen Fince. Uma pirata experiente, navegadora, sem seu mapa e sem chance de barganha. Por mais cruel que um pirata fosse, não era da natureza de Jack Sparrow pensar em donzelas, principalmente se fosse uma pirata, mulheres a bordo traziam azar. A noite passou, os homens dormiram sobre as mesas, enquanto os donos do local fechavam tudo. As moscas sobrevoavam alguns cantos, enquanto baratas se apoderavam de restos de bebida e comida e os marujos soltavam imensos roncos de suas gargantas cansadas.
A tripulação acordou cedo e começou a se preparar para o plano de Sparrow, um plano ousado, que exigia uma parcela de experiência e loucura. Os piratas saíram do bar, entraram furtivamente no forte da marinha, escalando paredes pelos espaçamentos, correndo pelo terraço, atravessando salões e quartos procurando pelos trajes dos mesmos.
—Não está aqui- sussurrou um pirata gorducho com tapa-olho.
—Continue procurando, vamos olhar ali em cima, onde dormem os marinheiros- ordenou Sparrow em voz baixa. O gordo acompanhou Jack, subiram um lance de escadas e pararam numa sala onde jaziam os marinheiros adormecidos. O capitão procurou algum canto com outras passagens, mas encontrou um guarda-roupa, abriu, retirou alguns dos uniformes e desceu rapidamente para fora do forte.
—Vamos, o capitão encontrou- avisou o gorducho indo de pirata em pirata. O grupo desceu escadas, fechou portas e escalou o muro para fora do forte. Em seguida se reuniram com Sparrow num barraco e alguns minutos depois saíram como verdadeiros marinheiros.
—Bom dia- desejou um morador que passava.
—Bom dia- retrucou Sparrow com educação, fitando o morador e em seguida olhou para suas vestes e se gabou- basta se vestir como um marinheiro que te respeitam, acho que vou usar esse uniforme pra sempre- os marujos concordaram com acenos de cabeça. Tudo ocorria conforme o planejado, os piratas disfarçados entraram num navio mercante sem nenhuma complicação. Jack subiu no deque e berrou- Ergam o mastro, icem as velas. Vamos ao encontro daquele tesouro- os marujos obedeceram e em pouco tempo estavam prontos para partir.
—Pra onde capitão?- esbravejou um jovem louro.
—Vamos para o n...nor...leste. Isso- declarou Jack ao olhar o mapa- Que estranho. Nunca vi um mapa assim- o mapa tinha direções trocadas, ilhas em pontos errados, até ilhas que não existiam. Poucos minutos após embarcarem, quando Jack já se sentia em casa outra vez, dois homens subiram com um jovem relativamente magro, pálido, com um olhar ingênuo.
—Encontramos este bastardo escondido na proa- proferiu o gordo.
—Quem encontrou ele?- indagou o capitão sem preocupação alguma.
—Foi o Nero aqui- o gordo apontou pro velho barbudo que ajudava a segurar o jovem.
—Hmm...senhor Nero, como...- começou Sparrow, mas acabou interrompido pelo jovem.
—Eu não estava escondido. Adormeci ontem enquanto voltávamos para cá. Meus colegas não per- mas Sparrow o atrapalhou.
—Silêncio. Você fala quando o capitão permitir e eu sou o capitão e não permiti. Prossiga senhor Nero.
—Certo. Estava limpando o navio quando encontrei o bastardo dormindo na proa. Então o acordei e ele tentou me atacar. Por isso pedi ajuda pro Marty.
—Entendi. Senhor bastardo, por que atacou o meu amigo, o senhor Nero?- perguntou Jack com veemência.
—Não sou bastardo.Sou o tenente Carter Beckett a serviço da Companhia das Índias Orientais- declarou o jovem.
—Então me diga, Carter Beckett, por que atacou o senhor Nero?
—Tenente. Tenente Carter Beckett.
—Certo, certo, já entendi. Por que atacou o senhor Nero?
—Me assustei ao ver um desconhecido a bordo. Aliás, nunca vi nenhum de vocês nesse navio, e você é muito jovem pra ser capitão.
—Cansei de todos dizendo que não posso ser capitão. Que seu destino seja decidido pelo mar.
—Para prancha?- questionou Nero.
—Exato. Para a prancha.
—Não tem como senhor, não estamos num navio pirata, lembra-se?
—É mesmo, tinha me esquecido. Nesse caso, improvisem uma prancha.
Alguns piratas cortaram uma parte do navio, pregaram uma tábua e colocaram Beckett no início.
—Andando- ordenou Sparrow.
—Eu sabia. Nunca tinha visto vocês na Companhia, são piratas. Esperem a Companhia descobrir que piratas tomaram nosso navio. Vocês estão mortos. Seus imundos, pestilentos e beba- Jack pisou na prancha com força para balançá-la e fazer Carter cair. Os piratas deram gargalhadas prolongadas, mas ao notarem Jack com tom de desaprovação, voltaram ao trabalho. O capitão se lembrou de um detalhe e pôs a cabeça para fora do navio.
—Beckett, caso chegue vivo na praia, mande abraços meus para seus colegas.
—Capitão- chamou Nero- podemos tirar essa tralha?
—Podem marujo. Faço questão de ser o primeiro a tirar- sem cerimônias, Sparrow tirou a roupa de marinheiro e jogou-a no chão, ficando apenas com sua camisa branca, calça e lenço vermelho. Logo, os demais piratas imitaram seu capitão, tirando as vestes e jogando-as no chão.
—O que faremos com elas?- indagou Nero colhendo os uniformes.
—Coloquem lá dentro. Se jogarmos no mar, estaremos dando uma pista para nos encontrarem, e não falo apenas da Companhia- o marujo entrou no interior do navio e guardou os uniformes enquanto os demais arrumavam o restante do navio e procuravam armas para o que quer que viesse em seu encalço. Enquanto o navio rumava para leste a todo vapor, Carter Beckett tentava nadar de volta à praia, sem muitas chances de sobreviver.