Outra vez atrás de uma grade, Jack se pôs a devaneiar num canto, isolado do resto da tripulação, que provavelmente o mataria se estivessem na mesma cela. Ao invés disso, estavam em celas uma ao lado da outra, e Jack do outro lado de sua cela, onde ninguém conseguiria alcançá-lo para estrangulá-lo. Para seu azar, o prenderam com Carter Beckett, assistente oficial da Marinha Mercante. A noite caíra há um bom tempo, mas Jack continuava pensando devido o barulho incessante daquele convés. Beckett tagarelava maldições e lamentações, sem contar que reclamava mais do que respirava. Os piratas encarcerados gritavam e ameaçavam Sparrow de todas as formas possíveis e erguiam seus braços através das grades na tentativa de apanhar Beckett ou algo pontudo no chão. A tripulação do Traição Imperial organizava a bagunça como podia, fazendo muito barulho e entoando canções.
Nossa morte é certa,
não há como negar.
Mas seremos ladrões
até nos esbaldar.

Quer um aviso?
Mantenha distância,
se vir uma bandeira
e uma caveira com lança.

Nossa fúria arrepia
até as criaturas ardis,
nossas armas devastam
cada ilha mais vil.

Nosso sangue é francês,
não iremos negar,
pra que fazer isso,
se a Marinha não vai...
nos apanhar.

—Eu não suporto mais isso, esses piratas amaldiçoados, essa corja que você chama de tripulação, seus planos ridículos que só pioraram a situação e essa maldita cantoria desses franceses miseráveis- apesar dos protestos de Beckett terem se prolongado, Jack manteve-se em silêncio, apenas pensando e olhando para a palha no chão- Pelo está me ouvindo, ou será que o rum entupiu suas orelhas?- esbravejou o jovem a poucos centímetros do capitão, fitando-o com raiva e desprezo.
—Estou com fome- comentou Jack se levantando e observando o horizonte por um minúsculo buraco na parede.
—Ah, que maravilha. Você é o único que está a um dia sem comer ou beber algo graças ás suas ideias geniais- relembrou o jovem ficando ainda mias irritado.
—Poderia comer até palha- disse Jack se sentando no chão, sem dar oubidos ao que o jovem dizia.
—Faz bem, se eu fosse você tentaria, combina com sua aparência de jegue.
—Estou a quatro noites sem comer nada- falou Sparrow num aparente diálogo consigo mesmo. O pirata se arrastou pelo chão e apanhou a palha, olhando para a mesma com certo entusiasmo.
—Você não vai fazer isso de fato, vai?- questionou Carter com certo nojo.
—Você não faria?- retrucou Jack sorrindo maliciosamente- se estivesse a tanto tempo sem comer, sem beber, seria uma ótima saída para o ronco do estômago. Quando se é pirata, você se acostuma com esse tipo de coisa, mas vocês da Marinha Mercante...vocês não aguentariam uma noite sem comer- Beckett estava claramente incomodado com a declaração, muito embora fosse verdade- uma noite sem comer para alguém que serve a coroa seria como quatro noites sem colocar nada na boca, uma verdadeira tortura para o paladar- Beckett começou a olhar para o chão com certa vontade- mas, pense comigo, um pirata costuma consumir três barris a mais de bebida do que qualquer outra pessoa, despejamos praticamente uma cachoeira de rum. Posso dizer com grande satisfação que piratas bebem mais do que comem- A essa altura, Beckett já estava se arrastando pelo chão juntando palha com Sparrow, e a tripulação encarcerada estava observando a cena bizarra- a consequência dessa distorção da ordem natural é que piratas aguentam ficar muito mais tempo sem comer do que sem colocar uma gota de rum na boca, por que, se isso acontecer, a insanidade será descomunal- Jack apanhou a palha das mãos de Carter e começou a jogá-la na água atráves dos pequenos buracos na parede.
—O que está fazendo?- perguntou Beckett espantado- ficou maluco de vez?
—Não exatamente- se defendeu Sparrow- estou vendo que a fome o consumiu, mas não a mim. Sou um pirata, aguento ficar quanto tempo for sem comer, mas sem beber- fez uma pausa para mostrar uma expressão de pura loucura- você entendeu. Agora, vou jogar toda essa palha fora.
—Não vai não- Carter pulou em cima de Jack e começou a socá-lo sem clemência, enquanto o pirata tentava se livrar do adversário em vão. Foi quando ele pensou um pouco, olhou para a palha e a pôs na frente de Beckett, que a pegou e saiu de cima do jovem. Para o seu azar, Jack se jogou em cima do assistente da Marinha e tomou pela segunda vez a palha de suas mãos, derrubou o jovem e o chutou algumas vezes.
—Isso aqui não é para nós, meu caro. Você mesmo disse- argumentou Jack voltando a jogar a palha fora- Tem muita comida nesse navio, lá em cima nos aposentos do capitão Le Feau. Vamos sair daqui e terá toda a comida da melhor qualidade, e eu terei o rum do pior tipo- No instante que Sparrow se concentrou apenas em jogar a palha fora, Beckett se jogou outra vez nele e bateu a cabeça do pirata no chão com toda a força possível, fazendo um tremendo barulho.
—Peraí- gritou Jack cuspindo sangue- eu tenho poucos dentes na boca, savy? E a maioria nem é meu- Carter pôs Jack em pé e meteu-lhe uma rasteira, tomando a palha restante antes disso.
—Espera um pouco- disse Jack se levantando e vendo Carter colocando a palha na boca- estamos mesmo brigando por causa de palha?
—Percebeu isso agora?- indagou Finn da outra cela, observando tudo com os demais piratas.
—Tudo bem. Pode ficar com esse resto, afinal já tenho o que queria.
—E o que você queria- perguntou Carter incrédulo engolindo palha.
—Queria o chão limpo- quando o jovem pirata disse isso, Beckett se levantou e viu o chão surpreso. Estava completamente limpo, com apenas alguns fiapos de palha em alguns cantos e o sangue de Jack espalhado- Agora, basta procurar um prego solto- o pirata se deitou no chão e futucou cada prego do chão com seus dedos imundos, enquanto Beckett fazia o ajudava procurando onde o capitão não havia olhado.
— Achei- disse Beckett sem emoção- de que serve um prego solto, não dá para atacar nem uma mosca com isso, sem contar que levaria uma eternidade para abrir essa fechadura com um prego.
—Eu sei- admitiu Jack sem se abalar- mas não é atacar que eu quero, senhor Beckett. Agora saia da frente- Carter se afastou enquanto Jack retirava com grande esforço um prego próximo ao buraco que estava o retirado por Beckett, e após arrancá-lo puxou a tábua que havia soltado, que infelizmente ainda estava presa por mais quatro pregos.
—Não vai conseguir nunca, Sparrow. Precisa de ajuda- comentou Carter com a mão no queixo.
—Jura? Que tal parar com suas inúmeras ocupações e me ajudar um pouco?- o assistente se ajoelhou no chão e ajudou Jack a puxar a tábua, que se partiu ao meio e voou na grade de onde os piratas encarcerados observavam tudo o que acontecia.
—Ainda não entendi o que está querendo fazer- admitiu Carter observando Jack puxar outro prego, mas desta vez da tábua ao lado.
—Esse mavio é bem maior do que o normal, tem uns três deques. Estamos no segundo, ou seja, podemos escapar por baixo- no imediato instante o assistente entendeu o plano do pirata, mas via ali uma chance imbecil.
—E como pretende lidar com aquela tripulação lá fora sozinho e desarmado?
—Lidar não é lutar, amigo- lembrou o capitão ao assistente- Se afaste um pouco, também preciso arrancar um prego onde está pisando- o jovem marinheiro deu alguns passos para trás e observou Jack com mais esforço ainda arrancar outro prego- ahh, arranquei um pedaço da pele. Ótimo, agora é só puxar e- Sparrow percebeu que o assistente não tinha tomado atitude alguma- vou ter de pedir ajuda de novo, marinheiro?- silêncio de Beckett- Marinheiro, estou falando com você- sem resposta outra vez- Marinheiro!- gritou Jack se virando para onde se encontrava Beckett, agora segurado por várias mãos dos piratas na outra cela, um deles segurando o prego com a ponta encostada no pescoço do jovem.
—Solte a gente, Sparrow, ou seu amigo terá uma morte dolorosa- Jack riu brevemente, olhou para o buraco que abrira e piscou para Beckett.
—Podem matá-lo, vão continuar presos aí de qualquer forma, nada muda.
—Mas ele é seu amigo, estamos falando sério- gritou um pirata do fundo.
—E eu também vou falar sério nesse momento, ele não é meu amigo- Depois dessas palavras, Jack pegou um punhado de palha que sobrou, puxou a tábua vom mais ímpeto, se espremeu na passagem e colocou a palha por cima do buraco.
—Pirata- esbravejou o velho Nero.
Jack se arrastou pela passagem entre o chão e o teto do andar abaixo até encontrar uma fresta, onde avistou dezenas de barris com pólvora e rum, se pôs de lado, ajeitou o cotovelo e bateu com toda a força na tábua abaixo. Nada. Segunda tentativa, nada outra vez. Terceira, quarta, quinta. A madeira era sem dúvidas mais resistente, pensou Jack, fazia jus à fama de navio não naufragável. Depois de mais algumas cotoveladas, a tábua finalmente quebrou, e outra vez Sparrow se espremeu, porém para sair daquele confinamento entre tábuas. O pirata caiu de cara no chão, mas logo se levantou, limpou a roupa com as mãos e escondeu a tábua quebrada. Em seguida se aproximou de um barril, arrancou sua tampa e tomou alguns goles de rum.
—Finalmente- disse o jovem capitão satisfeito, então subiu no andar de cima, conferiu se todos os piratas dormiam e tratou de subir nos aposentos do capitão. Ao abrir delicadamente a porta, Sparrow se deparou com uma luxúxia de dar inveja, um quarto cheio de frescuras como lustres, prataria nobre e uma galeria de espadas reluzentes penduradas na parede. A única coisa que agradou o jovem pirata foi a mesa de jantar, que apesar dos tevidos refinados da toalha e da quantidade absurda de talheres, havia uma bagunça de pratos sujos, um frango estraçalhado e frutas espalhadas como trigo no campo. Jack pegou uma bandeja e tratou de colher frutas, carne e taças de rum para seu jantar particular. Após se estufar de tanto comer e obviamente, beber, Jack tirou uma espada com todo cuidado da parede onde estava exposta e caminhou até a porta do cômodo seguinte, uma espécie de sala misturada com quarto onde o capitão assitia jovens e belas donzelas que Sparrow poderia jurar serem sereias se não tivessem pernas. Quando Le Feau se virou de costas para a porta, o jovem pirata tratou de rapida e silenciosamente entrar no quarto, pegar as armas do capitão e escondê-las atrás de um armário, antes de ficar em pé e apontar a espada para o capitão do Traição Imperial.
—Meninas, saiam agora. Eu e o seu capitão temos assuntos para resolver- as jovens se retiraram do quarto enquanto Le Feau tomava outro gole de rum, ele estava claramente mais embebedado do que Sparrow.
—Le Feau, estamos nos encontrando com muita frequência, não?
—Sparrow, que eu bem me lembre te trancafeei nas minha celas lá embaixo após tomar o navio da Marinha Mercante- relembrou o sujeito se sentando numa cadeira próximo à cama.
—Arrumei um jeito de escapar, se há uma forma, eu a encontrarei.
—Como um legítimo e imundo rato- comparou o capitão com desprezo aos risos- você vagueia pelo mundo procurando seu lugar, mas não importa onde vá não te querem por perto, até os seus iguais não o querem por perto. Você de certa forma é pior que um rato.
—Para de falar em ratos, são sujos, barulhentos e estragam o rum, vamos falar em acordos.
—Acordos? Quer fazer um acordo comigo?- indagou o capitão rindo com mais vontade do que antes.
—É mais ou menos isso. Vamos lá.
—Você não tem nada que valha a pena.
—Apesar de ter me sentido extremamente ofendido, acho que devo abrir nossa negociação.
—Não seja por isso. Que tal voltar para a cela e esperar o dia amanhecer, quando terá sua chance de rezar para algum deus te salvar da prancha?- Jack sorriu, deu uma olhada nos quadros e mapas de Le Feau e disse:
—Você tem um navio bem grande, uma tripulação leal e riquezas aos montes. Agora, veja eu, minha tripulação é rebelde e independente, minhas riquezas são esses dentes de ouro no fundo da minha boca e nem navio eu tenho. Estamos em níveis bem diferentes, por isso eu gostaria de sugerir que por pena, me dê aquele navio da Marinha e nos deixe partir para que eu possa pelo menos tentar ser um pirata.
—Sparrow, um pirata de verdade não governaria um navio da Marinha.
—Eu vou usar aquele projeto de navio para tomar um navio pirata de verdade.
—O meu?
—Caso você não consiga escapar a tempo, sim o seu. Se escapar irei atrás de outros, afinal o mundo está cheio de homens como nós.
—Suponho que possua moeda de troca, e que seja no nível de uma oferta como um navio.
—Na verdade tenho, deixe aquele navio comigo e eu o pouparei e à sua tripulação de uma morte terrível- Dessa vez Le Feau riu com tanta veemência que chegou a cair da cadeira- Estou falando sério, Le Feau. Quanto mais conversamos, mais perto estão da morte- o capitão continuou rindo e tomando rum, engasgando com a risada vivaz- estou avisando capitão, depois não diga que não avisei.
—Ah, senhor Sparrow, não consigo entender o motivo para falarem tanto de você, mas acabei de achar um motivo que deveria contar, você é um ótimo contador de piadas- debochou o capitão aos berros.
—Certo, eu avisei. Eu disse que sofreria com uma morte horrenda e assim será. Uma maldição dos sete mares cairá sobre você e sua tripulação- afirmou Jack com uma expressão macabra.
—Jura?- debochou o capitão se deitando no sofá.
—Sim. Essa noite ainda, a maldição que joguei sobre vocês virá com toda a força por que zombastes de mim, senhor Le Feau. Sugiro que me dê logo o navio antes que ela venha, assim terá uma ínfima chance de sobreviver à carnificina que está por vir- ameaçou Sparrow com mais drama do que o normal, mas Le Feau não se intimidou nem um pouco. Se levantou do sofá, encarou Jack com a espada apontada para seu peito e desafiou:
—Onde está sua maldição? Já esperei por ela tempo demais.
—Está bem debaixo de mim- e, dando um passo para o lado, finos tentáculos prateados saíram do chão e atacaram Le Feau com voracidade. Quanto a Sparrow, restou pegar as chaves do capitão e se retirar rumo às masmorras do navio. Enquanto descia os lances de escada, Jack via a população do enorme navio ser atacada por criaturas horrendas de cabeça pequena e muitos tentáculos com garras. A bizarrice era tamanha que o capitão acabou vomitando num canto qualquer, ou talvez fosse o rum mesmo. Ao chegar nas masmorras, Jack olhou para os piratas acorrentados e sorriu mostrando seus dentes amarelados.
—Como estão mes ami?- passaram bem durante esse tempo sem Jack?
—Não tão bem quanto gostaríamos- respondeu Beckett saindo detrás de uma mesa.
—Beckett, está vivo, bom saber. Agora, vamos sair desse navio antes de estarmos todos mortos.
—Ouvimos esse alvoroço Sparrow. O que você fez?- perguntou Nero desconfiado.
—Joguei uma maldição sobre esses franceses miseráveis que não desgrudam de mim- respondeu Sparrow abrindo a cela- recomendo que saiam pelas laterais, caso não queiram ser atingidos pela maldição- sugeriu Jack sarcasticamente- quando os piratas subiram os primeiros lances de escada entenderam a razão do barulho, então seguiram as orientações de Jack e andaram pelos cantos, enquanto mais criaturas estranhas surgiam quebrando o casco do navio e atacando os piratas com fúria extrema.
Após roubarem algumas armas e espadas, além de barris de rum, a tripulação de Jack correu para o deque e observou o horizonte com apreensão.
—Essas criaturas...sujaram meu chapéu até não terem mais baba, que nojo- comentou Sparrow na tentativa de limpar o chapéu, mas parou ao perceber que os piratas estavam mirando suas armas nele.
—Vamos acabar com você, Sparrow. Veja o tanto de confusão que nos arrumou em apenas cinco dias- observou um purata de meia idade com bolinhas nas bochechas, dentes tão estragados quanto os de Jack, e dono de um bafo que causava inveja num porco.
—Quatro- corrigiu o jovem pirata- quatro dias. E o acordo foram dez dias. Estamos no caminho errado, é verdade. Só que a maré foi alterada com a mudança da lua, então temos o mar e os ventos se movendo na direção que precisamos. Com um barco bem leve chegaremos no tesouro na metade do tempo, só preciso de homens dispostos e corajosos, por que o mar ainda reserva muitos segredos para aqueles que pensam que o conhecem- os piratas se entreolharam por alguns instantes, trocaram algumas palavras e Nero falou por todos:
—O Traição Imperial já era. Como vamos arrumar um navio em pleno mar aberto?
—Simples. Olhem para lá- Jack apontou para algumas rochas distantes, que quase não via, mas dava para ver perfeitamente o que estava preso ali- senhores, peguem os botes, vamos retornar ao navio da Marinha Mercante.
Depois de soltarem as cordas que prendiam os botes, os piratas desceram do e partiram para seu navio roubado. Jack sentou-se de frente para o navio de Le Feau e observou-o com tristeza.
—Era para aquele navio ser meu. Grande, lindo, potente, não era perfeito, mas ajudaria muito nesses tempos.
—Não se preocupe, em breve encontrará um navio melhor, tenho certeza- declarou Carter dando uma olhada num mapa de Le Feau.
—Olá Beckett. Espera um pouco, Beckett- Sparrow puxou sua espada e apontou-a para o pescoço do jovem, que manteve-se parado fitando o capitão- como foi que escapou?
—Passei pelo buraco que abrimos esperto. Eles pensaram que tivesse abandonado-os. Eu também pensei, por isso me largaram e me mandaram procurar as chaves de Le Feau. Mas quando cheguei nos aposentos dele e vi que não estavam lá, cheguei a uma conclusão.
—Que o capitão Sparrow pegou.
—Exato. Provou que estávamos errados, capitão. Agora prove que está certo.
—Como assim?- questionou Jack coçando a cabeça- o que quer dizer com isso?
—Prove que merece ser chamado de capitão. Cumpra sua palavra levando essa tripulação até o tesouro.
—Vou cumprir. Por que acha que os libertei? Não tem como velejar naquela coisa sem uma tripulação. Aliás, por quê não me matou? Teve a chance de me matar quando cheguei às masmorras e não me matou. Por quê?
—Temos um acordo, Jack. Se eu chegar vivo em Londres serei nomeado Comandante. Como ajudei a abrir aquele buraco,diria que parte do acordo foi cumprida, falta livrá-los da forca.
—E um chapéu novo- completou Jack passando a mão no chapéu com nojo.
—Como aquelas criaturas foram parar no navio?- indagou Nero cheio de curiosidade, e pelo visto e resto da tripulação também estava, já que fitavam Sparrow de seus botes.
—Eu já passei por esses mares uma vez. Havia palha para partagem transportada pela tripulação de um navio mercador e eles preferiram jogá-la fora por que ocupava espaço demais e ninguém iria pagá-los para transportar aquilo. Cem quilos de palha jogados no mar. O mar estava bem calmo naquela noite e eu estava acorrentado nos fundos do navio, me pegaram enganando alguns mercadores. De repente, surgiram tentáculos de todos os lados do navio. Primeiro pensaram que fosse algo bem maior, mas descobriram que apesar de serem bem menores, eram muito mais caóticos. Destruíram o navio por completo, sobrevivi apenas por que um deles arrancou uma parte do casco por onde estava preso, então consegui me soltar e fugir no único bote intacto.
—Que história, chefe- afirmou Finn aterrorizado.
—É uma das piores, já tive melhores, sabe. O problema é que quando me afastei do navio, um segundo navio surgiu de uma neblina distante- Nero observou o horizonte um pouco distraído e notou que uma neblina se formava no horizonte.
—Mercante- perguntou Beckett com ingenuidade.
—Antes fosse- disse Jack com certa perturbação- eu senti que tudo ficava mais quente, a água parecia borbulhar, ficava cada vez mais difícil de respirar, e o silêncio era a única coisa fria naquele momento. Quando olhei para cima que pude ver, um navio maior do que qualquer outro, feito de um tipo de madeira que nunca vi antes, cujo o som era sem dúvidas inconfundível, ensurdecedor, chegava a cortar o ar e arrebentava o navio como se fosse papel- subitamente, ouviu-se um barulho alto, tão alto que os ouvidos dos piratas se incomodaram, então ouviram o ar se cortar e o barulho de muita madeira se quebrando- o que é isso? Eu não pedi acompanhamento sonoro.
—Não estamos fazendo isso, capitão- afirmou Nero olhando para o navio de Le Feau.
—E esse calor infernal?- indagou Jack se sentindo incomodado.
—Sparrow- chamou Beckett- olhe para trás- no momento que Jack se virou, ele viu que não eram coincidências, o navio que ele descrevera estava bem ali destruindo o Traição Imperial.
—O que faremos, Jack?
—O que eu fiz- o jovem capitão encarou a tripulação com receio e gritou- Abandonem os botes. Todos obedeceram ás pressas, alguns chegaram a tropeçar antes de cair na água- Nadem até o nosso navio, rápido- vociferou Jack tomando a frente da tripulação, embora alguns pensassem que fosse por medo.
—Por quê a água está tão quente, Sparrow?- perguntou Carter nadando quase alinhado com o capitão- isso não é normal.
—Acha que estou interessado em saber, senhor Beckett? Tudo o que quero é distância de qualquer coisa que não seja normal, agora nadem- gritou Jack com mais ímpeto ainda. Ao chegarem no navio, os piratas subiram nas pedras para facilitar o acesso ao navio, em seguida subiram com toda a pressa pelas cordas que prendiam o navio às pedras e quando o último pirata embarcou, Jack cortou as cordas, tirou o chapéu, jogou qualquer material inútil fora e berrou da proa- preparem-se baratas miúdas, vamos sair dessas águas turbulentas rumo ao nosso destino, aquele lindo tesouro que nos aguarda para gastarmos com tudo o que quisermos, ou seja, rum e mulheres.
—É só isso que sabe fazer com dinheiro, capitão?- Gritou Beckett descrente.
—É só o que preciso- respondeu Jack sorrindo e cortando as cordas envoltas no timão e nos lemes- À todo o pano, marujos- a tripulação obedeceu, Jack tomou o timão e tirou a embarcação das pedras enormes, colocando o navio na direção do vento. Todos os piratas gritaram de alegria por escaparem do estranho navio que atacara-os, mas Carter continuava apreensivo.
—Senhor Sparrow, será que pode explicar o que diabos acabou de acontecer?
—Se eu soubesse, eu diria- respondeu Jack sem dar muita atenção- aliás, eu sei, acabamos de escapar de um navio sinistro e do maior capitão pirata francês desde Larrieu De la Bonne.
—Eu deveria saber o que isso significa?
—Na verdade não, mas vou explicar para um leigo como você- Sparrow fitou a tripulação sorridente e confiante, que o encarava com aprovação- acabamos de virar uma lenda.