Assim que terminam os preparativos para a partida, Nero e os demais piratas se reúnem no convés e aplaudem Jack sorridentes, que fica imóvel perante a situação.
-Alguém tinha dúvidas quando a seguir Jack? Por que eu acho que essas dúvidas foram sanadas - Esbravejou Nero contente - Quais as ordens, capitão? - Sparrow engoliu em seco e olhou para seu mapa.
-Para o leste seus cães sarnentos - A tripulação começou a se mexer e logo o navio estava partindo. Beckett observou o deque movimentado enquanto limpava o convés, e hora ou outra desviava suas atenções para o capitão do navio, que subitamente se calara e agora estava em seu canto admirando o horizonte. Quando termina de esfregar o chão, Carter chama um marujo de csnto e certifica-se de que ninguém está vendo.
-Por acaso você sabe o que aconteceu com Jack? - O marujo balançou a cabeça negativamente.
-Do que está falando, senhor Beckett?
-Não acha estranho o comportamento dele ter mudado tão repentinamente?
-Acho que devia voltar ao trabalho, falta limpar os andares inferiores - Ignorando o tom rude do pirata, que não era novidade, Beckett se dirigiu aos andares inferiores e ajudou outros marujos a esfregar o convés, que estava sujo demais para um navio tão nobre. Quando anoitece e os piratas terminam de se recolher, Carter sobe no deque e observa um silencioso Jack que nada fazia exceto beber rum sentado em sua cadeira numa postura pensativa. Se aproximando aos poucos, Beckett se põe ao lado do capitão pirata, copiando seu gesto ao olhar pro horizonte.
-Está servido, Beckett? - Pergunta Sparrow erguendo a garrafa de rum para o jovem.
-Você? Oferecendo? Ainda mais a mim?
-Pegue antes que eu mude de ideia - Beckett apanha a garrafa e toma dois goles, entregando a garrafa de volta a Sparrow, que já estava bebericando outra.
-De onde tirou isso? - Questiona Carter confuso.
-Eu já estava com outra embaixo da cadeira - Responde sem rodeios tomando goles cada vez mais longos de rum.
-Quem diria que chegaríamos ao nosso destino, não? - Sparrow ri com diversão e encara Beckett com decepção - O que foi?
-Ainda não chegamos ou chegamos?
-Não, por que?
-Aprenda Beckett, enquanto estiver no mar tudo pode acontecer. Tudo poderá vir e impedir que chegue ao próximo porto com vida.
-Tenho a impressão que está preocupado, mesmo sabendo que mal escapamos das garras daquele pirata doentio e daquelas criaturas selvagens.
-Sua observação é perspicaz, meu jovem. Vai ajudá-lo muito daqui pra frente. Dê uma olhada nesse mapa - Jack entrega seu mapa a Carter, que o olha de cima a baixo sem entender a finalidade de sua atitude - Terminou?
-Terminei.
-Ótimo. Reparou alguma coisa?.
-Existem muitos lugares nesse mapa que desconheço, o que me leva a crer que devo estudar mais sobre cartografia.
-Está certo, mas também se engana meu caro. Está vendo essa ilha com ponta próxima a essa grande área de marés altas? - Beckett observa com atenção, mas continua com a mesma expressão - Essa ilha não existe.
-Como assim?
-Foi inserida no mapa para enganar qualquer um que fosse lê-lo se não o criador do próprio mapa - Jack devora mais ainda o rum, então prossegue - E essa ilha não é a única. Uma porção de coordenadas foram trocadas de lugar, direção, altura ou inseridas no mapa. Muitos dos lugares aí sequer existem. Por exemplo, já passamos por duas dessas ilhas e não vimos nenhuma, esquisito não?
-Quer dizer que o mapa foi adulterado? - Deduziu Carter.
-Finalmente esperto. Adulteraram o mapa para que ninguém onseguisse encontrar o tesouro caso o mapa fosse roubado. Sendo assim, seria preciso alguém que conhecesse o mapa intimamente para saber onde cada uma das localizações de fato se encontra e quais delas não existem.
-E você sabe - Afirmou Beckett, estupefato com a genialidade de Sparrow.
-Não - Respondeu Jack perturbado - Muitas das viagens que fiz por essas águas estava embriagado como nesse momento, não teria ideia de onde estamos se fosse seguir esse mapa.
-Então por que roubou o mapa? - Perguntou Carter sem compreender.
-Por que eu precisava de algo para convencer aqueles bastardos a me seguir mar adentro. Afinal, um pirata não pode guiar um navio desses sozinho.
-Então não vamos encontrar o tesouro - Afirmou Beckett revoltado tomando um gole de seu rum.
-Errado. Nós vamos encontrar o tesouro.
-Como?
-Com isso - Sparrow tirou sua bússola do bolso e a colocou nas mãos de Carter.
-Sua bússola? - Carter abre a bússola, em seguida olha para Jack com desconfiança.
-Essa bússola está quebrada, não está apontando para o norte - Afirmou com indignação devolvendo-a a Sparrow.
-É óbvio que não está apontada para o norte - Afirma Jack como se fosse sua maior alegria.
-Você é realmente maluco, Sparrow. Quando os piratas souberem que você os enganou vão te fazer em mil pedaços.
-Não vão.
-E se contar a eles?
-Você não vai fazer isso. Primeiro por que não entende o que essa bússola é, segundo por que se o fizer estaremos perdidos, tanto você quanto eu.
-Então por que me contou isso?
-Por que a bússola não aponta pra onde quero - Explicou Jack indignado - Quer dizer, apontar aponta. Só não aponta pro que eles querem, e se eu entregar a bússola a eles, ela vai se confundir e vai fazer com que nos percamos de vez nessas águas.
-Não estou entendendo.
-É bem prático. Segure a bússola e pense no que você mais quer.
-Voltar à Companhia das Índias Orientais - Revelou Beckett achando a situação estranha.
-Mas - Começou Jack virando sua garrafa - Para conseguir isso, precisará do tesouro. Precisa que os piratas e eu encontremos o tesouro para então voltarmos onde deseja.
-Então o que eu quero é...
-Encontrar o tesouro o mais depressa possível para poder voltar para sua preciosa organização e poder comandá-los da forma que achar melhor - Beckett pensa um pouco. Subitamente a agulha da bússola muda de direção, então Jack a pega de volta e guarda em seu bolso.
-Já disse que você é desprezível, Sparrow?
-Não seria o primeiro - Admitiu Jack tirando a garrafa do colega de viagem.
-Mesmo assim - Continuou Carter se contendo - Você é menos desprezível do que parece.
-Por que não vai dormir, Beckett? -Sugeriu Jack sem modos - Já está tarde.
-Não consigo dormir.
-Vai dormir assim que tomar mais alguns goles de rum, só assim pra suportar o fedor lá embaixo.
-Quem dera fosse só o fedor - Confessou Beckett tomando a garrafa de volta e bebendo alguns goles.
-Já ouviu falar nas antigas histórias? Receio que não. Existe uma em particular que me agrada e fala a respeito dos lendários lordes piratas - Começou Sparrow com um sorriso estampado.
-Nunca ouvi. Não sei se sabe, mas não conheço nada de piratas - Ambos riem, então tomam o que restou da garrafa antes de Jack contar a história.
-Acredita em deuses?
-Deuses pagãos, você diz - Corrigiu Carter.
-Não, não acredita. Mas acho que isso se deve ao fato de não ter visto metade do que eu já vi.
-E o que já viu, Sparrow?
-Sombras vagando pelo luar, almas perdidas implorando para o fim do sufoco, maldições proferidas que condenaram homens e mulheres, além dos próprios mistérios escondidos nas profundezas dos sete mares.
-Fala do Kraken? -Sugeriu Beckett sentando-se no chão.
-Também.
-Um monstro tão grande assim....deve controlar os mares.
-De fato. Por isso ele pertence a alguém, e esse alguém controla os mares.
-Um pirata, suponho.
-Depois da era dos deuses pagãos, sim, um pirata. Um pirata amaldiçoado. Que controlava toda a frota de navios pertencentes so próprio Netuno.
-O deus dos mares tinha uma frota?
-Sim. Eram o tesouro mais valioso do deus antigo, que vagavam pelas águas mais tempestuosas e sombrias guiadas por capitães bravos e temerosos que vinham de outros reinos. Os reinos dos mortos.
-Piratas fantasmas que controlavam a frota de Netuno?
-Pelo menos era assim que meu pai me contava - Admitiu Sparrow tendo um lapso - Dizia-se que os navios eram impossíveis de naufragar devido seu pacto com a natureza. A única coisa que poderia levá-los à profundeza é o filho tenebroso de Netuno, o Kraken. Sendo assim, quem tivesse um desses navios teria vantagem sobre qualquer outro, assim como sobre a própria natureza - Carter pensa um instante no que Sparrow dizia e ficava admirado com a beleza da história - O mais precioso e rápido de todos os navios era uma lenda, o navio que controlava a frota de Netuno, nomeado de Pérola Negra. Construído com os restos de centenas de barcos que afundaram nos domínios do deus do mar e retirado do próprio mundo além deste, o Pérola Negra era o maior prêmio que poderia ser cobiçado por um pirata, embora soubessem que era algo inalcansável. Exceto que - Ele pausou, olhou para o céu e lhe bateu um sensação nostaugica - Um jovem pirata encarou frente a frente um pirata amaldiçoado que roubou um poderoso segredo dos oceanos, que lhe daria controle a tudo. Recuoerando esse tesouro, mas perecendo na batalha, o jovem pirata se vê frente a frente ao pirata que detinha o controle de sua vida, e este capitão pirata pretendia torná-lo parte de sua tripulação, mas não contava com a astúcia do morto, que havia escondido o segredo de tudo e todos, de maneira que o capitão se viu obrigado a barganhar com o jovem, devolvendo-lhe ao mar com a maior joia dos deuses pagãos e, em troca, recebeu a localização do segredo, escondido dentro do baú misterioso do mesmo. Assim, o jovem pirata foi deixado neste mundo para comandar o imponente navio de Netuno durante dez anos, então teria de se tornar parte da tripulação do pirata que enganou.
-E se ele não fizer isso?
-Ele será levado pela fera junto ao seu navio.
-Que fera?
-A que eu mencionei anteriormente.
-O kraken? - pergunta Beckett estupefato.
-O kraken - Confirma Sparrow sorrindo com satisfação.
-Tenho que admitir - Confessou Carter dando uma risada de leve - Você é muito bom com histórias, Sparrow.
-Não são histórias, meu amigo, são lendas - Corrigiu Jack também se sentando no chão - E como toda lenda, sempre tem um resquício de verdade - Concluiu virando a garrafa e tomando as últimas gotas de rum que nela havia.
-Então - Pensou Beckett com curiosidade - quem seria esse jovem pirata que engana a todos?

-Quem você pensa que ele seria? - Retrucou Jack sorrindo maliciosamente.
-Ele parece alguém esperto. Um sujeito escorregadio que não tem medo de nada, ou talvez seja tolo e covarde o bastante para mentir tanto.
-Uma boa via - Admitiu Sparrow pensando no assunto.
-Um via que eu conheço muito bem - Completou Carter virando o olhar para Jack, que nesse momento olhava para as tranças com uma admiração nada comum -Talvez não seja coragem ou covardia, talvez seja um sujeito que simplesmente esteja disposto a passar a perna em quem for preciso, por mais perigoso que possa ser se envolver em tantos perigos. Alguém louco o bastante para fazê-lo.
-Outra rota interessante - Confessa Jack com entusiasmo.
-O que me leva a - Beckett para de falar e junta os pontos. Finalmente ele pensa no óbvio - Sparrow, por acaso essa história não fala de você, ou fala?
-Nem tudo foi meu pai que disse, garoto.
-Mentiroso. Acha mesmo que vou acreditar que você conseguiu o melhor navio de todos? Que morreu e enganou um pirata que trabalhava para um deus pagão? Tudo bem que estou embriagado, mas nem por isso vou engolir esses contos infantis.
-Foi como eu disse - Grita Jack enquanto Beckett dá meia volta para ir dormir - São lendas, e lendas sempre tem uma pitada de verdade, savy?