A manhã cai e depois de uma refeição simples com pães e queijos, os piratas se reúnem no deque e aguardam instruções do capitão, que apreciava em meio a devaneios uma garrafa de rum. Beckett se aproxima dele e o cutuca impaciente.
- Precisamos ir em frente, depressa. Quanto mais rápido chegarmos ao tesouro mais rápido volto à Companhia - Jack o empurra indignado.
- Não me venha com essa conversa mole - Reclamou Sparrow indignado - Não se interrompe um homem à beira da embriaguez - Carter se afasta revoltado enquanto Nero se senta ao lado do capitão.
- Precisamos de um curso imediatamente capitão, os homens estão ficando impacientes.
- Odeio piratas. Quando a ganância fala mais alto resolvem apelar de todas as maneiras possíveis para conseguir o que querem - Jack termina de beber o rum e grita para todos - Querem o tesouro? - Silêncio no navio - Eu vou repetir para que os senhores incompetentes escutem, querem o tesouro? - Grita Sparrow mais alto ainda e, para sua alegria, todos gritam em resposta:
- Sim senhor.
- Então ao convés seu bando de bartas adestradas. Quero a âncora recolhida, içem a bandeira, erguam o mastro, a todo o pano.
- Para onde, senhor? - Questiona Nero incomodado.
- Estibordo e leste, meu caro - Seguindo o mais depressa que o navio conseguia, o navio se direciona por águas mais escuras, até que finalmente avistam uma ilha no horizonte.
- É ali nosso destino, capitão? - Pergunta Beckett intrigado.
- Ali é o nosso destino, senhor Beckett - Depois de chegarem mais perto da praia, alguns marujos escutam as ordens de Sparrow e correm para soltar a âncora e se preparar para descer do navio. Quando todos se reúnem no deque, Jack se aproxima deles - Por precaução vou pedir que alguns de vocês permaneçam no barco, se acontecer qualquer eventualidade pelo menos um de nós vai fugir e avisar a vocês - Pede o capitão chamando alguns dos homens para segui-lo. Nero o acompanha, mas Jack o contém - Quero Peter e Warren, você pode ficar Nero, quero alguém competente no comando se acontecer alguma coisa. Se quiser vir, senhor Beckett, não irei impedi-lo - Beckett sai do navio sem que o pirata precise dizer duas vezes, e logo os seis (incluindo mais dois piratas que também tinham saído com eles) estavam caminhando pela floresta da ilha até chegarem a uma trilha quase invisível, coberta por folhas e ramos.
- Acha que quem enterrou esse tesouro passou por essa trilha? - Indaga Carter com uma ansiedade fora do normal.
- Acredito que sim - Respondeu Jack prestando atenção no caminho.
- Será que a trilha continua completa, capitão? - Pergunta Warren limpando o nariz com a camisa.
- Não toda, mas consigo encontrar o caminho tanto para ir quanto para voltar, só preciso dar uma olhada na minha bússola - Carter o olha de canto - Senhor Beckett, vamos ver se aprende algo sobre navegação - Os dois se afastam um pouco dos demais piratas, então Sparrow ergue sua bússola.
- Por quanto tempo acha que vai conseguir enganar os piratas? - Questiona Beckett preocupado.
- Pega essa bússola e pensa no tesouro - Ordenou Jack colocando a bússola na mão do marinheiro.
- Sparrow, eu não vou fazer parte disso - Jack ergue sua pistola, então Beckett abre a bússola e a agulha aponta além da trilha. Assim que os dois voltam onde os demais esperavam, Jack sorri alegremente.
- Senhores, venham comigo - Sparrow conduz os homens até passarem da trilha, passando por terrenos rochosos onde haviam muitas pedras lisas. Além dessas terras eles oassam por um riacho, onde aproveitam e tomam um pouco de água antes de prosseguirem viagem. Depois de passarem por árvores altas, finalmente o sexteto para em frente a uma caverna, onde havia um "X" marcado acima da caverna, bem no teto.
- O tesouro está lá dentro - Comenta Peter com alegria, então os piratas comemoram antes de correrem para dentro da caverna, seguidos por Jack e Carter, que não tinham tanta pressa. Assim que chegaram no fundo da caverna onde Warren segurava uma tocha enquanto os demais cavavam o chão, Sparrow se põe a observar o trabalho árduo dos piratas ao passo que Beckett se tornava mais tenso a cada momento que passava. Depois de cavarem fundo em diversos pontos, os piratas param para descansar e viram os olhares para o capitão, que fingia não notar a constante observação.
- Capitão - Chamou um pirata mais velho com bandana verde na cabeça e dentes prateados - Não estamos encontrando o tesouro.
- Acho que não procuraram direito, meus amigos, continuem procurando e tenho certeza que encontraremos o tesouro - Beckett empurra Jack e, indignado, grita para todos:
- Sparrow está mentindo.
- Como assim?
- O mapa que ele têm foi alterado para que somente seu criador o entendesse. A bússola que Jack carrega não funciona, está quebrada. E a única coisa que ele parece ter feito certo não passou de um acaso do destino.
- Então o tesouro não está aqui? - Pergunta o pirata com revolta sacando sua espada.
- Não, não está. Agora vamos embora - Os piratas sacam suas espadas e pistolas.
- Vocês não irão a lugar nenhum.
- Que história é essa? Eu acabei de contar a verdade a vocês - Lembrou Carter indignado.
- Mas colaborou para mantê-la até agora - Ao perceber o erro que tinha cometido, Beckett se põe a correr, mas é detido por Jack, que levanta as mãos para o alto em sinal de rendição.
- Pensem bem antes de tomar essa decisão meus caros. Esse jovem está agindo por impulsos egoístas, querendo o tesouro para si próprio.
- Por que motivo eu gostaria de por minhas mãos num tesouro pagão? - Reclama Carter revoltado.
- Se deixarem de me seguir não vão encontrar o caminho de volta para Tortuga. E mesmo que encontrem não terão ouro para gastar.
- Mas teremos uma promessa a pagar. A promessa de livrar o mundo de um pirata desprezível igual a você e um marinheiro tão sujo quanto.
- Se me deixarem falar um pouco, posso provar que não estava mentindo - Os piratas se entreolham sem dizer nada, mas era óbvio o que estavam pensando, deviam manter a confiança em Sparrow depois de tais revelações? Deviam dar ouvidos a um jovem que trabalhava para a Companhia das Índias Orientais? Por fim, o pirata com bandana decidiu pelos demais.
- Não seria produtivo para ninguém chegarmos em Tortuga de mãos abanando. Fora que, mesmo com um navio desses, sem uma tripulação numerosa e um capitão de renome jamais conseguiríamos recuperar o tesouro perdido por meio de saques. Precisamos dar um voto de confiança.
- Agradeço por pensar dessa forma, agora venham comigo - Mantendo as pistolas apontadas para Jack, os piratas o seguem até a saída da caverna.
- E agora Sparrow, o que vai ser? Não está pensando em fugir, está?
- Eu? Que ideia tola. De que adiantaria fugir com quatro revólveres apontados para minha pessoa?
- Prossiga.
- Não é preciso.
- O que está tramando, Sparrow?
- Nada. Está vendo o "X" acima de nós?
- Estou, não sou cego, por que?
- O "X" marca o lugar. Não está na caverna, está aqui fora, na entrada dela - Os piratas se entreolham surpresos e começam a cavar exatamente embaixo do "X" desenhado no teto, e assim cavam até a pá bater em alguma coisa. Eles tiram o baú enorme de dentro do buraco e o abrem com uma chave que estava embaixo do baú. Quando abrem o baú, os piratas o encaram com profunda admiração e em seguida encaram Jack sorridentes - Eu disse que estava dizendo a verdade. Agora peguem o baú e o levem ao navio. E quanto ao senhor, Carter Beckett, será levado ao deque acorrentado enquanto direcionamos o navio rumo a Tortuga.
- Está zombando de mim, Sparrow? - Quando chegam no navio, Peter e Warren levam um Carter acorrentado deque a dentro, seguidos pelo jovem capitão e por Nero, que observava a situação sem compreender.
- Capitão, o senhor Beckett não tinha deixado de ser nosso prisioneiro?
- Tinha senhor Nero, até o momento em que esse miserável decidiu que iria atuar contra mim.
- O que ele fez?
- Disse que o mapa do capitão estava alterado - Respondeu Warren carregando Beckett pelos pés.
- Também inventou uma história insinuando que a bússola do capitão está quebrada - Completou Peter empurrando Carter pelas mãos.
- Mas o tesouro está aqui - Comentou Nero meio confuso.
- O que signifixa que esse inseto repussivo estava tentando me maldizer para manipulá-los, uma ideia engenhosa devo admitir, mas com muitos furos e que no fim se mostrou vazia - Analisou Jack limpando seu chapéu - Joguem esse sujeito na cela e o mantenham aí até segunda ordem - Eles o fazem e trancam a cela em seguida - Agora vamos dar uma olhada no tesouro antes que alguém suma com uma parte dele.
- Vai se arrepender do que está fazendo, seu rato. Guarde minhas palavras Sparrow, a balança não irá pender para o lado para sempre - Assim que chegam no convés, os piratas observam o restante da tripulação, que aguardava impaciente a chegada do capitão para abrirem o baú.
- Podemos capitão?
- Podem - Os dois piratas que tinham saído do navio com Jack abrem o baú e revelam seu conteúdo, milhares de moedas de ouro novas e reluzentes, que por alguma razão pareciam cintilar muito mais para os piratas do que para Sparrow, que encarou o tesouro com desdém. Ele tinha conseguido o que prometera, estava livre da cadeia e do capitão Le Feau. Assim que desse um jeito no marinheiro Beckett usaria seu novo navio para conseguir uma tripulação nova e seguir para pilhagens no sul. No entanto, o coração de Jack palpitava todas as vezes que ele pensava na mulher que havia conhecido inicialmente, de quem havia roubado seu mapa que tapeara com tanta facilidade os piratas que sorriam radiantes para o tesouro que Sparrow notou estarem mais vidrados do que o normal.
- Vou separar o tesouro - Decretou o capitão, mas todos os piratas sacaram suas espadas e pistolas mirando para o jovem.
- Nem pense - Ordenou Nero com tom imperativo - Eu irei dividir o tesouro - Disse se aproximando do baú, mas terminou empurrado por outro pirata que dizia o mesmo, então outro o empurrou, e outro, e segundos depois estavam todos numa confusão disputando o tesouro.
- Homens, não precisamos resolver as coisas dessa maneira, tenho certeza de que há uma forma mais civilizada de resolver este conflito - Tentou argumentar Jack, mas ninguém lhe deu ouvidos, até que uma ondulação súbita fez o barco balançar, em seguida um vento impetuoso soprou e um estrondo semelhante a uma rajada foi escutada no horizonte, e ao se virarem os piratas tiveram a pior visão possível à sua frente. Um navio enorme, muito maior do que o que eles navegavam surgiu e cordas foram arremessadas na direção do mastro e do convés, por onde desceram piratas fedidos e robustos, com pelos até o começo do tórax, sem camisas e usando apenas calças folgadas de linho e empunhando espadas de formato irregular. Alguns tinham chifres na cabeça, mas todos tinham uma coisa em comum, a cabeça era de touro ao invés de ser humana. Nero se aproxima bem devagar do capitão enquanto a tripulação era cercada e pergunta:
— Eu estou vendo o que acho que estou vendo ou são homens com cabeça de touros?
— O termo correto seria minotauros. Sim, eles são - Um aparentemente maior que os demais e com um brinco entre as narinas e uma tatuagem no braço semelhante a uma âncora se aproxima de Jack enquanto os piratas restantes são cercados pela tropa minotauro.
— Você é o capitão Jack Sparrow? - Pergunta a criatura com uma voz firme e intimidadora.
— Já viu o capitão Jack Sparrow alguma vez, senhor? - Pergunta Jack se fazendo de inocente.
— Nunca vi.
— Ele está trancado no porão - Dois minotauros descem para o deque enquanto uma mulher sensual de cabelos emaranhados descia por uma prancha até o navio de Sparrow, olhando diretamente para ele.
— Pode chamar seus homens de volta, capitão. Esse que está na sua frente é Jack Sparrow - Ela toma a espada e a pistola de Jack, junto ao mapa e à bussola - Foi ele que roubou esse mapa de mim há muitas luas - Jack engole em seco. Até o momento tudo parecia resolvido, agora tinha um novo problema à sua frente. Um problema que envolvia uma mulher, e quando problemas tem mulheres no meio eles sempre são maiores do que o normal.