Dois marujos são chamados e logo acorrentam Jack e Beckett, que são levados às celas do navio comandado por minotauros. À frente dos marujos monstruosos, fedidos e suados estava Hellen Fince, com a mesma aparência e o dobro do ódio por Jack. Os dois são deixados dentro de celas uma ao lado da outra, que são fechadas sem demora enquanto Hellen esbanja seu prêmio, o mapa roubado.
— Obrigada por ter encontrado o tesouro por nós, Sparrow - Agradece Hellen encarando o jovem pirata com diversão.
— Por nada. Já que está tão agradecida, poderia conceder a gentileza de me soltar?
— Você é desprezível.
— De você soou pior ainda - Confessou Jack avaliando a situação - Por que meus homens não se voltaram contra você e seus - Ele contém a palavra e completa - Homens?
— Primeiro, não sou a capitã da Asa Celestial, segundo que suponho não conhecer a história daquele tesouro e simplesmente roubou meu mapa achando que o encontraria sem haver consequências.
— Pode-se dizer que está parcialmente correta. Seu pai enterrou aquele tesouro? - Questiona Jack repleto de curiosidade.
— Meu avô - Responde Hellen sacando uma adaga - Ele possuía conhecimentos místicos milenares que provém de antigos e tribais povos vindos de terras distantes. Com seus conhecimentos, meu avô conduziu uma das tripulações mais ferozes e destemidas a navegar pelos sete mares, até que decidiu enterrar um tesouro que serviria de herança para seus descendentes.
— Ele devia ter reconsiderado - Comenta Sparrow revelando seus dentes surrados.
— Talvez. Meu avô pôs uma maldição no tesouro. Qualquer um que passasse a desejar o tesouro seria levado a fazer o que fosse necessário para possui-lo. Como viu em seu navio, os homens quase se mataram e iriam matar você também se o capitão não tivesse decidido interferir.
— Mande meus agradecimentos ao seu capitão - Hellen ignora o comentário e prossegue:
— Os homens tentam matar uns aos outros para possuírem o tesouro, e assim se tornam cegos e alheios ao resto, sujeitos a seguir essa vontade continuamente até que suas almas perversas deixem esse mundo.
— E ele deixou um mapa todo errado para que ninguém o encontrasse, grande homem seu avô - Observou Jack com ironia.
— Não foi meu avô, foi meu pai. Ele nunca teve interesse no tesouro, preferindo realizar saques pelas fronteiras e portos pequenos no norte. Minha mãe pelo contrário, sempre desejou o tesouro, tinha isso como uma vontade doentia que a consumiu até que em algumas noites ela desaparecia tentando zarpar em busca do tesouro. Meu pai vivia tentando impedi-la e decidiu modificar o mapa de maneira que somente ele saberia como chegar à ilha, mas isso não fez minha mãe melhorar. Mesmo sem nunca ter visto o tesouro, o simples fato de o desejar já a fez ser atingida pela maldição, que em uma determinada noite tirou a vida de meu pai dominada pelo ódio de não conseguir entender o mapa. Assim que se preencheu com o sangue dele ela despertou da maldição e, ao ver o que tinha feito, deu cabo da própria vida. Essa é a história do tesouro.
— Meu pai teria contado melhor - Confessa Sparrow sorrindo com alegria - Sinto muito por seus pais.
— Pelo menos ele fez algo útil antes de morrer - Declara Hellen com frieza.
— Te ensinou a ler o mapa - Deduziu Jack sem deixar de prestar atenção em nenhum detalhe da história.
— Isso - Ela ergue a adaga na direção de Jack, mas se contém quando a lâmina abre um corte fino no pescoço do capitão - No entanto, você encontrou o tesouro.
— Encontrei, mas se me permite, gostaria de entender como existem essas - Ele olha para os minotauros e imita os chofres deles.
— Acredita nos deuses pagãos, Sparrow? - Jack pensa um pouco.
— Vi algumas coisas que me fizeram suspeitar, por que pergunta?
— O deus dos mares Netuno deu livre acesso aos mares quando os minotauros foram exilados da terra, sendo os primeiros desbravadores das águas, muito antes dos homem criar o primeiro barco. Quando os homens passaram a navegar, os demais deuses que não gostavam dos minotauros resolveram dar a capacidade do homem de dominar o mar e de expurgar as criaturas, sendo que restou um único capitão e um único navio que não haviam vítimas do plano divino. Com o advento dos piratas, Netuno decidiu que o mar jamais seria dominado por ninguém, e desde então as regras são as mesmas para todos. Aqueles que velejarem sobre o território de Netuno estarão sujeitos às artimanhas e infortúnios que as longas e tenebrosas águas aguardam.
— E desde então esse pirata minotauro veleja?
— Capitão Carca Noren.
— Ele por acaso é imortal?
— Foi um atributo que Netuno havia proporcionado à espécie desejando que cuidassem de seu domínio por toda a eternidade, mas não contava com a trama dos outros deuses.
— Então eles vivem para sempre - Afirmou Jack sorrindo estupefato.
— Chega de papo, Sparrow. Ainda tenho uma dúvida em aberto que precisa ser sanada o quanto antes.
— Pois pergunte minha cara.
— Como conseguiu chegar ao tesouro?
— Como? Com meus conhecimentos dos mares. Nenhum mapa pode ser tão alterado a ponto de eu não reconhece-lo como ele realmente é - Hellen sorri e retira a adaga do pescoço de Sparrow, de onde escorre uma gota de sangue antes de ela se virar para os homens de Jack e do capitão Carca Noren.
— Avisem ao capitão que podemos seguir em frente e que vou precisar da prancha - Jack engole em seco - Senhor Nero, você e seus homens podem carregar os canhões e destroçar o navio de Sparrow - Jack encara a pirata enraivecido.
— Sim senhora - Jack fica pasmo, sem saber como reagir.
— Seus traidores miseráveis. Me enganaram desde o começo.
— Eles não podem te ouvir Sparrow - Esclarece a senhorita Fince com um sorriso debochado - Desde que roubou meu mapa e contou a eles sobre o tesouro, tudo o que fizeram foi com um desejo inabalável de encontrá-lo, o que significa que foram pegos pela maldição. Como eu sou a herdeira do tesouro isso faz deles meus servos involuntários.
— E por que estou preso aqui então? - Pergunta Carter indignado.
— Além de ser aliado desse pirata condenado, vocês dois não foram atingidos pela maldição, o que significa que é algo a descobrir - Assim que todos saem dali, Jack se contém ao ouvir os canhões explodirem sedentos, destruindo cada parte do navio que tinha conquistado.
— Capitão Noren - Chama Hellen com dois marujos que carregavam o tesouro consigo - Temos de levar esse navio o mais longe possível dessas águas, ainda estamos sob perseguição.
— Sei disso Fince, mas talvez haja uma vantagem em nossas mãos - Exclama o capitão controlando o timão enquanto observava o horizonte e sentia a brisa balançar a faixa que cobria sua cabeça por cima de uma badana verde - Duas vantagens e for o caso.
— Desculpe minha ignorância, mas o que tem em mente?
— Não viu aquele jovem vestido como gente decente? Vai me dizer que nunca viu ninguém vestido daquele jeito?
— Companhia das Índias Orientais - Declara Fince entendendo de imediato o plano - Mas ele não parece ser alguém importante. Talvez seja um simples assistente.
— Você já foi uma simples assistente.
— O que faremos no caso dele?
— Vamos ver como as coisas se desenrolam, então decidiremos nosso rumo a partir de nossas descobertas futuras.
— Quer mesmo descobrir alguma coisa, capitão?
— Jack Sparrow é muito conhecido de onde vim, quero saber se o homem supera a lenda. Ele não é um completo tolo como se denuncia, é muito esperto por sinal, então devemos ficar de olho nele.
— Pode deixar, ao menor sinal de enganação eu mesma irei terminar com a vida dele, como deveria ter acontecido em nosso primeiro encontro.
— Excelente. Pode seguir com seu plano.
Na cela, Beckett encarava Sparrow indignado.
— Por que fui escutar um pirata bebâdo que sempre nos coloca em encrenca de uma forma ou de outra?
— Por que não ajuda um pouco mais Beckett e permanece em silêncio? - Retruca Jack impaciente - Isso não passou de um contratempo. Não foi proposital, eu sequer sabia que haviam minotauros velejando nos mares, quanto mais que ficavam nessas águas.
— E qual é o seu plano brilhante para conseguir nossa libertação? Seus marujos parecem estar te traindo desde o início e estamos no meio do mar cercados por minotauros.
— Você não ouviu o que ela disse? Estão enfeitiçados pela maldição daquele tesouro. É impossível usar aquele ouro devido a maldição, ninguém exceto ela pode usa-lo. Isso nunca teria dado certo.
— Você ainda têm uma promessa comigo, Jack, não se esqueça - Hellen começa a descer os degraus do convés enquanto os dois discutem.
— Senhor Beckett, não acredito que em algum momento chegou a acreditar em nosso acordo - Sparrow cai na risada enquanto alguns de seus marujos encantados tiravam ele e Beckett das celas.
— Jack, você não pode estar falando sério - Desafia Beckett pasmo.
— Estou meu caro. Achei que tivesse aprendido alguma coisa sobre a minha pessoa.
— Também achei, mas percebi que terminei aprendendo quando menos esperava.
— Agora?
— Agora.
— E o que aprendeu? - Questiona Jack com curiosidade.
— Pirata - Os dois são carregados deque acima, até que Sparrow é arrastado para a prancha do enorme navio, sendo forçado a andar um passo na fina tábua de madeira.
— Muito bem - Fince ergue sua adaga e a coloca apontada para o pescoço de Beckett - Apenas vocês dois não foram pegos pela maldição, por que?
— Acho que essa é uma resposta deveras óbvia - Esclarece Jack com sarcasmo - Eu sei o segredo do seu tesouro.
— Blasfêmia. O tesouro não tem segredos - Afirma Hellen com certa insegurança.
— Todos os tesouros tem segredos - Ele se vira e, sorridente, caminha de volta ao deque - E eu sei qual é o segredo do tesouro de seu avô.
— Dei ordem para que saísse da prancha? - Pergunta Hellen irritada - Senhor Nero, coloque o senhor Sparrow em seu devido lugar - Nero toma a frente dos piratas e aponta a pistola para Jack, que imediatamente retorna à prancha.
— Pense um pouco, Fince. Não seria bom que essa maldição a impedisse de gastar seu tesouro.
— E não seria bom que outras pessoas soubessem que meu tesouro possui falhas - Ela aponta a espada para Jack - Se é que ele possui.
— Só descobrirá se me mantiver vivo.
— Estou tentada a não aceitar essa proposta - Ela encara Beckett e o coloca de frente para Sparrow, com a adaga ainda em seu pescoço - Se algum dos dois ainda deseja permanecer vivo, sugiro que digam como foi que encontraram o tesouro.
— Não faz diferença - Argumentou Jack impaciente - O tesouro já foi encontrado e agora está em suas mãos e nada podemos fazer para tirá-lo de você, nos tem em suas mãos para servir o Asa Celestial.
— Mentira - Interpõe Beckett entrando na conversa - Sparrow pode conhecer bem os mares, mas não foi seu conhecimento sobre eles que nos levou ao tesouro - Jack suplica com os olhos, mas Carter o ignora - A bússola que ele carrega é o segredo - Os minotauros se entreolham sem compreender, então Carca Noren se aproxima e fica frente a frente com Beckett.
— Solte-o Fince - A mulher o larga, fazendo um sinal aos piratas para que abaixassem suas pistolas, permitindo que Jack retornasse ao deque.
— Que maravilha. Me libertaram graças a um mentiroso que trabalha para a Companhia das Índias Orientais. O maior inimigo dos piratas.
— Por hora, você é nosso maior inimigo - Esclareceu Noren olhando para Hellen - Já sabe o que fazer.
— Levem Sparrow de volta à cela - Três piratas seguram Jack pelas correntes em seus braços e pernas e o arrastam sem piedade de volta ao convés em meio a reclamações e injúrias.
— Não, seu idiota convencido. Vai matar nós dois. Não faça isso - Grita Sparrow, embora Beckett não tivesse mais a intenção de escuta-lo.
— Agora, senhor Beckett - Começou Carca Noren tomando para si a bússola de Jack que estava com Hellen - Me diga como funciona essa bússola.