Sparrow fitou os guardas com aparente interesse e, por seu estado, parecia estar mesmo atrás de rum.
—Levante suas mãos- ordenou um dos marinheiros.
—Se eu fizer, os senhores me retribuirão com uma garrafa de rum?- os guardas fizeram menção de sim, então Jack levantou os braços e começou a ser revistado. O guarda que o revistava parou e tirou moedas, espigas de milho e outros alimentos, então encarou Sparrow com frieza.
—Parece que encontramos o ladrão, não é mesmo pirata?- indagou o homem rindo.
—Como o senhor acabou de dizer, parece, mas não sou ladrão. E essas moedas são minhas- se defendeu Jack.
—Sei, então por que está usando essas roupas esfarrapadas?- retorquiu o marinheiro ajeitando o chapéu.
—Acreditaria se eu dissesse que fui roubado?-indagou Sparrow, ingênuo.
—Não- respondeu o marinheiro com seriedade.
—Nisso concordamos, marinheiro- de repente, Jack sorriu, deu uma rasteira no marinheiro que o segurava e derrubou outro à sua frente.
—Peguem ele- gritou o marinheiro que comandava o grupo. Sparrow correu entre a multidão, furtando alguém de vez em quando. Ao avistar uma torre de madeira, o pirata seguiu em sua direção e subiu as escadas, se escondendo atrás de uma caixa enorme. Alguns marinheiros passaram sem vê-lo, então o pirata desceu a torre por uma corda e correu rumo ao litoral. Lá, ele vestiu algumas roupas de pescador por cima das vestes, percorreu os arredores à procura de bebida, mas acabou sendo avistado por outro grupo de marinheiros. Correndo ao máximo, o capitão pirata subiu em um teto de barraco, cujo alicerce se resumia a velhas tábuas. Ele esperou algum tempo, então desceu e avistou um homem guardando garrafas num barco. Jack se aproximou da montanha de garrafas, pegou uma na frente do dono e saiu andando, abriu a garrafa com os dentes e tomou três bons goles antes de se sentar numa cadeira dentro de um barraco vazio. Uma mulher de vestes vermelhas, cabelos levemente cacheados e escuros, decote escandaloso e revólver na mão se aproximou do pirata e mirou a arma no invasor.
—Quem é você? Por que está na minha casa? De quem roubou esse rum?
—Como sabe que eu roubei?- perguntou Sparrow curioso.
—Tem porte de um mendigo e esse rum veio da França, nem um bêbado lhe daria tal maravilha.
—Estou vendo que preciso comprar roupas novas, já que todo mundo diz que pareço um mendigo- concluiu Jack tomando outro gole de seu rum.
—Você é um pirata, só pode ser, mas é muito jovem, mais do que a maioria- observou a mulher.
—Não se preocupe, abaixe sua arma e esqueça que isso aconteceu. Eu volto em alguns anos e vai poder achar que sou pirata- os dois riram, a mulher abaixou a arma e Sparrow se aproximou da janela, mas, de repente a mulher parou de rir e apontou a arma novamente.
—Diga quem é ou ponho meu serviço de castração em prática- ameaçou a mulher, apontando seu revólver para a calça do pirata.
—Roubar meu tesouro mais precioso é pecado. Certo, você venceu, sou o capitão Jack Sparrow- a mulher olhou Jack de baixo para cima, parou, abaixou a arma e caiu na gargalhada. Depois de alguns segundos, Sparrow começou a se irritar com a risada- pare de rir, sim?- pediu Jack, mas a mulher continuou e com mais entusiasmo- pode pelo menos dizer por que está rindo?- a mulher parou de rir, começou a fitá-lo e sorriu maliciosamente.
—Você é o mesmo Jack Sparrow que foi vítima de um motim por ser bondoso demais?- Jack se desesperou, a mulher sabia acerca do ocorrido.
—Sou eu mesmo- a mulher riu mais um pouco, no entanto parou ao notar que Sparrow apontava seu revólver para ela.
—Saia da frente, eu tenho que fugir desse inferno- mandou Jack com uma expressão séria e pouco convincente.
—Um pirata que não consegue saquear fazendo vítimas no processo não é capaz de machucar uma garota- refletiu a mulher determinada.
—Eu machuco, acredite- revelou Sparrow com malícia- agora me deixe ir, não tenho tempo para isso.
—Certo, pode passar capitão Sparrow- permitiu a mulher teatralmente. O capitão passou, abriu a porta, fechou-a e andou, mas, quando virou uma esquina, dez rifles miravam seu corpo, segurados por soldados da marinha.
—Maldição- proclamou Sparrow, bebendo outro gole de rum.

Depois de acorrentado, o pirata foi colocado dentro de uma carroça, sua espada, arma e demais pertences foram confiscados enquanto o pirata reclamava aos berros:
—Não façam isso, tirem tudo que eu tenho, menos o rum, o rum não. Nnãããoooo- depois de preso, Sparrow ficou em silêncio, observando a carroça e procurando formas de escapar. Não tinha jeito, a porta abria somente por fora, o cubículo era lacrado, sem um buraco sequer e as correntes pareciam para crianças, pois apertavam os pulsos de Jack sem clemência. Após cerca de uma hora, a carroça chegou na entrada da prisão, Jack foi levado para uma cela e se surpreendeu ao perceber que a mulher que conhecera estava sentada em sua cela.
—Deve haver algum engano seu guarda, ela é uma pescadora, filha de pescador, no máximo uma meretriz- retorquiu Sparrow confuso.
—Não há nenhum engano. Amanhã serão enforcados por crimes contra a coroa e por pirataria- avisou o marinheiro jogando Jack dentro da cela.
—Eu não sou pirata, sou um mendigo, sabe. Foi tudo um grande engano.
—Sei- falou o guarda que prendera Jack anteriormente, se aproximando da cela- você pode até ser um mendigo...
—Obrigado- agradeceu Sparrow, interrompendo o marinheiro.
—Mas também é um pirata- concluiu o homem satisfeito.
—Pelo menos podem devolver minha garrafa de rum?- indagou Jack com esperança.
—É claro. Será anotado como seu último desejo- declarou um escrivão vestido formalmente com peruca branca.
—Ei, ei, espera. Esse é meu penúltimo desejo, sabe?- corrigiu Sparrow.
—Certo. Qual é seu último desejo- questionou o escrivão com curiosidade.
—Não ser executado- respondeu Jack com sinceridade. Os soldados se retiraram junto ao escrivão, enquanto Sparrow caminhava de um lado para o outro.
—O que faz aqui, donzela?- perguntou Jack sem ânimo.
—Foi como eles disseram, sou uma pirata- revelou a mulher com arrogância.
—Nãoo, você não é pirata. Não tem como, parece uma pescadora, aldeã, meretriz. Qualquer coisa menos pirata- refletiu Sparrow fitando a moça.
—Ah Jack, é que eu me disfarço melhor do que você. Ao contrário do que fez hoje, andando como um mendigo, eu me visto com diferentes trajes, assim estou sempre diferente.
—Se é tão esperta, como descobriram que é uma pirata, mestre de araque?- zombou Sparrow.
—Alguns deles me conhecem de saques, fugas e de festas em Tortuga.
—Pretendo voltar lá assim que conseguir um barco, em breve, creio.
—Em breve como? Não tem como escaparmos, o local está sendo vigiado constantemente e seremos enforcados amanhã, logo após o julgamento.
—É por isso que pretendo fugir hoje.
—Como posso ajudar?
—Hmm, não pode. Apontou uma arma pro único tesouro que consumi na vida.
—Se me deixar ajudá-lo, terá dois tesouros- barganhou a mulher.
—Hmmm, não quero um tesouro igual ao meu.
—Eu sei. O que ofereço são meus dois tesouros. Um deles teremos de compartilhar- Sparrow olhou para a mulher, confuso e pensativo.
—Agora me confundi, afinal, de qual tesouro está falando?
—Um é meu, o outro eu tenho o que leva a ele.
—Entendi. Pode me ajudar- decidiu Jack.
—Ótimo, o que eu faço?
—Qual é o teu nome, donzela?- indagou Sparrow se aproximando.
—Sou Hellen Fince, navegadora do navio Tridente do cabo.
—Tridente do cabo...- repetiu Jack fixando o olhar na grade de sua cela, quando finalmente se deu conta- Tridente do cabo? Eu...você...
—Sim Jack, você e sua tripulação atacaram e roubaram meu navio, mas não se preocupe, a vingança é um prato que se come frio.
—Ainda bem- concluiu Sparrow com receio- Chegaram finalmente. Por que a demora?
—Com todo o respeito, viemos apenas por que nos ofereceu um tesouro de valor, mas dizem que o senhor não tem navio- explicou um pirata de dentes prateados com expressão amalucada.
—Essa última parte é verdade, mas a parte interessante é que tomaremos um navio amanhã.
—E a marinha?- indagou um velho de barba longa e arma nas costas.
—Não se preocupem com a marinha, eu garanto que ela não entrará em nosso caminho.
—E o tesouro?- questionou um jovem negro corpulento.
—Ele nã- Jack tapou a boca de Hellen antes que terminasse de falar, então respondeu:
—O tesouro está escondido, por isso precisaremos de um navio. Agora abram essa cela- um pirata com toca azul e faixa vermelha se aproximou e abriu a cela com uma chave da marinha.
—Vamos capitão- pediu um marujo pálido e magro.
—Vamos- concordou Sparrow saindo da cela e fechando-a em seguida.
—Vai deixá-la, senhor?- indagou o marujo pálido.
—Vou- respondeu Jack sem remorso- se ela vier, terão um motivo a mais para nos seguirem. No entanto, se a deixarmos, irão interrogá-la a meu respeito acreditando ser minha cúmplice, depois a enforcarão.
—Ora seu- gritou Hellen- mas e o acordo? Não tem o mapa se lembra?- Nesse instante, Jack riu e mostrou o mapa.
—Não devia ter me contado sobre o mapa, já que contou, não tive escolha. A culpa é de vossa senhoria.
—Seu...seu...
—Pirata. Apesar de me insultarem e difamarem meu nome, insinuando que não sou um pirata, o destino sempre me entrega momentos para que eu prove o contrário, savy?- Jack andou normalmente com seus marujos adentrando nas sombras, enquanto Hellen gritava na esperança de escutarem-na- Não grite amor, ninguém vai te ouvir aqui embaixo.
Depois de saírem da prisão, os piratas caminharam furtivamente pela colina até chegarem num lugar alto, onde se abaixaram e observaram o horizonte, copiando seu jovem capitão.
—Amanhã teremos um navio para nossa expedição, marujos- decretou Jack sorridente.
—Por que não tomamos o navio de Le Feau, capitão?- perguntou o marujo negro e musculoso.
—Simples marujo, estamos em notória desvantagem. Além disso, o Traição Imperial não é tão rápido, nem possui tanta pólvora. O navio que tenho em mente está relativamente melhor para nossa jornada.
—E qual seria?- indagou o marujo barbudo.
—Alguém teria uma luneta?- um jovem entregou uma luneta á Sparrow, que esticou-a e mirou para o horizonte.
—Ele está perto- avisou Jack. Um marujo gorducho tomou a luneta e observou o horizonte.
—Tem dois navios da Companhia das Índias Orientais se aproximando, vamos tomar um deles?
—Sim- declarou Sparrow- mas para tal façanha, precisaremos de roupas novas.
—Há uma tecelaria lá embaixo- avisou o mais jovem.
—Não, meu caro. O tipo de vestimenta que tenho em mente é um pouco mais...oficial- revelou o capitão cheio de animação.
—Vamos roubar os uniformes da marinha mercante, senhor?- chutou o pirata gorducho.
—Exatamente. Nos parecemos muito com piratas, saberão que tomamos o navio. Agora, se estivermos semelhantes a bons e honestos marinheiros, tomaremos o navio sem chamar a atenção. A senhorita Fince irá dizer que tomamos o Traição Imperial, então irão atrás do navio errado. Não iriam atrás de um navio controlado por seus próprios homens.
—Quando roubaremos as roupas, capitão?- perguntou o barbudo entusiasmado.
—Amanhã, ao nascer do sol, quando levarem a moça ao julgamento.