A preparação para a suposta batalha estava a todo fervor, alguns homens perguntavam uns aos outros por que estavam se preparando para lutar, sendo que poderiam fugir, enquanto outros estavam eufóricos com o mais novo comando. Brodbeck desceu até o convés a procura de Jack, já que ainda não compreendia a atitude do mais velho. Ela então notou o capitão atento debaixo da escada para o leme.

— Jack, o que está havendo? Sabe quem são?

— Piratas — Respondeu em rampante.

— Sim, isso eu sei. Me refiro ao nome do navio e por quem é capitaneando.

— Por que eu deveria saber? Não foi a mim que vieram alertar — O pirata disse em desdém. A jovem arregalou os olhos, incrédula. Sparrow então saiu detrás da escada, ficando lado a lado com ela. — Você não faz ideia do real motivo que levou Rackham a vender este navio a você.

Moira virou-se de frente para o capitão afim de retrucar.

— Piratas...

— Ah, não torne isso mais entediante do que essa jornada

— Não Jack, piratas! — A bela exclamou mostrando ao capitão que vários piratas subiam ao convés pela lateral do navio.

Sem outra opção a tripulação do Úrsula empunharam suas armas e partiram para o combate.

— Malditos cães do inferno, fizeram uma emboscada! — Gritou um dos marujos.

Grandes homens, fortes e destemidos lutavam com toda suas forças contra a tripulação, que ficava páreo a eles nas habilidades. Todos eles tinham uma grande cicatriz do lado esquerdo do pescoço, como se houvessem sido queimados e na melhor das hipóteses, marcados. Moira girava suas espadas no ar, cortando tudo e todos em seu caminho, enquanto Jack usava de suas artimanhas para evitar golpes. Toda a nau estava tomada por inimigos, dispostos a matar sem misericórdia.

O som de tiros de pistola se entrelaçava ao tilintar das lâminas, junto a gritos de ódio e de dor, transformando aquele momento em uma orquestra mortal. Corpos caíam sobre a madeira, enquanto outros piratas ainda com vida, eram jogados para fora da embarcação. Era impossível saber quem estava em vantagens perante ao combate.

— Isso sim é uma festa! — Exclamou um dos inimigos, lambendo os dedos cheios de sangue após tirar a vida do outro.

O sorriso em seus rostos eram doentios, algo que assustava a qualquer um perante a batalha.

Enquanto mantinham-se ocupados com a peleja, o navio inimigo se aproximou a uma distância propícia para o ataque com canhões. O navio tinha todo o casco e mastros em madeira pintada de preto, três mastros, velas marrom e a frente da proa a escultura de uma mulher com o corpo todo em escamas, um olhar cruel, e em seu pescoço um colar, muito parecido com o coração de Nirina.

— Conheço esse navio… — Sussurrou Jack — Virar a bombordo. Para os canhões, agora! — Ordenou quando notou que seriam atacados.

Os tiros de canhões atingiam o Úrsula, feroz como tinha que ser, destruindo a nau, assim como levando a vida de vários marujos, inimigos e aliados. Logo o navio foi contra atacado. Em meio ao pandemônio Moira notou a ausência de Jack, e isso a fez reviver em memória, a batalha contra os próprios tripulantes do Pérola Negra, onde somente ela e Gibbs tinham consciência de seus atos. Enquanto o capitão covardemente fugira da batalha.

No instante em que se distraiu foi atingida por alguma coisa em sua cabeça, e perdeu a consciência.

Gibbs se encontrava em apuros pois tinha que permanecer no manejo do leme, e ainda lidar com os piratas que tentavam matá-lo. Graham olhou para o lado e viu mais piratas saltado de um navio a outro, pendurados em cordas. A tripulação inimiga era infinitamente maior que a do Úrsula. Os destroços das embarcações flutuavam nas águas que eram tingidas pelo sangue dos mortos e feridos.

Moira acordou atordoada e com parte do rosto manchado de sangue por conta da pancada na cabeça. Aquilo doía, mas não era o suficiente para se dar por vencida, ela pegou suas espadas e novamente entrou na luta. Subiu a proa com dificuldades, até que conseguiu pegar uma corda para saltar para o outro navio. Estava disposta a matar o desgraçado que havia causado todo aquele caos.

Quando chegou na misteriosa nau foi recebida por um patife com correntes em mãos. Ele sorria mostrando todos seus dentes apodrecidos. Logo começou a atacar a garota, que esquivava-se das investidas com dificuldades. Em determinado momento, baixou a guarda e ele a acertou na costela e de imediato ela perdeu o equilíbrio.

— O que foi boneca? Cansou de brincar? — provocou às gargalhadas.

Os olhos de Brodbeck dilataram mostrando sua ira, ela partiu para cima do seu adversário com tanta força que ele não poderia evitar o golpe fatal. Mas no mesmo instante outro pirata surgiu tão rápido e a chutou para longe.

— Aaaaah! — Gritou nervosa. Brodbeck se levantou rápido para atacá-lo, entretanto, recuou a investida quando reconheceu aquele rosto cínico e debochado. Ele também abaixou sua espada. Era o único que não tinha a tal cicatriz.

— Senhorita Brodbeck, ou deveria dizer, senhorita Jones? Melhor ainda, Nirina — O homem alto, loiro, sorriu.

Onde ele está? — Moira ignorou a indaga do pirata. Seu coração batia a velocidade do vento ao início daquele novo dia. Jamais esperou encontrar aquele homem novamente.

De repente o grito de vitória foi ouvido por eles, a garota fitou o Úrsula e viu a tripulação ser rendida. O pirata olhou para ela com um largo sorriso, e assim foi surpreendida por outros dois piratas que amarraram seus pulsos para trás. Ela ainda o fitava com ódio.

— Tragam todos para cá! — Ordenou.

O pirata puxou Moira pelos cabelos próximo a nuca, e a levou até o convés, onde a fez ficar de joelho junto a outros marujos.

— Imediato! Achamos esse aqui tentando invadir a cabine do capitão pela área externa do navio — Disse um dos homens, que estava com Sparrow sob seu domínio.

— Smee?... — Jack sussurrou surpreso.

O pirata o empurrou e o fez ficar de joelhos junto a sua tripulação, mas um tanto distante de Moira. Ambos se olharam, Sparrow confuso e a garota surpresa.

— O que faremos Brook? — Questionou um homem velho.

— Hm… deixem a mulher viva e se livrem do resto. — O primeiro imediato respondeu indiferente.

— Parola! — Jack exclamou — Eu invoco o direito de Parola. A menos que o seu capitão seja um patife que não honra o código — sorriu amarelo.

A porta da cabine do capitão se abriu em um estrondo, chamando a atenção de todos.

— Eu não tenho qualquer interesse em seguir códigos. Não é o nosso jeito de lidar com a vida no mar. Quanta bagunça… eu não esperaria menos vindo de você Jack. — A voz do capitão envolvida a seus passos se aproximava em meio aos marujos que abriam espaço para que ele pudesse passar.

O homem de cabelos castanhos, lisos e abaixo da orelha, barba por fazer, trajava calças e camisa largas na cor preta, botas até o joelhos, um sobretudo negro com alguns detalhes cobre e um chapéu que cobria parte do seu rosto. Mas não o suficiente para que seus antigos amigos não o reconhecesse.

— Garoto?! — pronunciou Gibbs boquiaberto.

Sparrow não pode conter sua expressão confusa e decepcionada ao ver o homem responsável pela captura de sua tripulação.

— Você é o capitão? Agora dão o posto a qualquer um? — Expôs.

Um dos piratas bateu em Jack por conta de seu desrespeito ao seu capitão.

— Qualquer um… não Jack. Eu sou tudo, tudo o que você tem agora. Portanto é melhor começar a implorar pela sua vida miserável, embora eu não acredite em sua salvação — O capitão falava abaixado bem próximo ao outro. Mantendo seu braço esquerdo para trás. — Não devia ter dado sua pistola a Moira, eu disse que não era ela que iria precisar...

— D-Daniel! — Moira chamou a atenção do capitão, que reconheceu a voz imediatamente.

— Moira? — Ele caminhou até ela um tanto surpreso com sua presença. Jamais poderia imaginar que a veria alí, em meio ao seu ataque. — O que… o que faz aqui?

— Não importa, ordene a seus homens que nos libertem agora!

Daniel fitou o pirata de drads e novamente voltou sua atenção a moça. Se perguntava em que circunstâncias ela e o capitão se reencontraram, e por que estavam juntos. Então lembrou-se de que aquele era um de seus motivos.

— Sinto muito my lady, mas prometi a meus homens que teríamos uma festa...— Ele fitou o sangue e os vários corpos ali — Infelizmente não posso, sou um homem de palavra — Daniel sorriu e sua cruel tripulação começou a gargalhar. — Smee, leve Moira, Jack e Gibbs para as celas, mas os prendam separados. Não se pode confiar em piratas — Ordenou, olhando frio para a jovem.

— Senhor, e quanto aos outros sobreviventes? — Disse um dos subordinados de Daniel.

— Que sobreviventes? — Respondeu indiferente.

Sem nenhuma piedade, toda a tripulação do Úrsula foi condenada, com machados, foices e espadas, acertadas em suas cabeças. Os piratas pegaram os três pelos braços, de maneira rude, enquanto Moira chorava e gritava, tentando resistir a prisão.

— Não! Daniel não faça isso! Por que, por que?! — A jovem se debatia desesperada.

Sparrow e Joshamee fitaram um ao outro sérios. Já estiveram tantas vezes próximo a morte ou a presenciando, que ver uma tripulação inteira dizimada não os abalavam mais.

Daniel se aproximou de Moira e ergueu o braço esquerdo. Passando sobre a lateral do rosto dela, um objeto metálico em formato de gancho, que agora ocupava o lugar de sua mão que há dois anos havia sido destruída por ela. O rapaz recolheu algumas lágrimas.

— Por você. Lembre-se disso irmãzinha — Sussurrou e sorriu de maneira sádica, criando distância entre eles. — Aliás, meu nome é James, James Hook. E bem vindos ao Jolly Rogers.

X

Colocados em celas separadas, Jack, Gibbs e Moira, presenciaram um local com pouca luz e mal cheiroso, cheio de correntes e alguns crânios de animais e humanos. Ouviam gemidos de dor e sofrimento, de outros prisioneiros em outras celas, deixando ainda mais evidente que Daniel não era mais o mesmo. Moira se sentou abraçada aos joelhos, em um canto. Notando o ruído de ratos próximo a si, mas nada disso a incomodava, pois a dor que sentia em seu coração era infinitamente maior.

— É tudo culpa minha, a culpa é toda minha… — Sussurrou. Logo caiu em prantos. Desejava morrer, a ter presenciado tamanha crueldade vinda de alguém que outrora tinha planos de paz, que sonhava em criar um novo jeito pirata. Agora tudo parecia perder o sentido e ela estava de mãos atadas perante aquela situação.

— — —

Depois de horas confinados,em outra parte do navio, Jack analisava a porta da cela onde estava.

Sem dobradiças de meia barra. — Expôs, fazendo uma expressão contrariada.

— Jack, o que vamos fazer? O garoto está louco — Gibbs questionou na cela ao lado

— A loucura nada mais é do que o reflexo do que realmente somos mestre Gibbs — Disse Jack. Ele notou que dois homens desceram uma das escadas e seguiram na direção onde haviam levado Moira.

— Não faz sentido capitão, compreendo o desafeto do rapaz com o senhor, mas a garota? Por que ele faria mau a ela?

— Alguma coisa que ainda não sabemos, aconteceu entre ele e a senhorita Jones em Port Royal. Algo que ela insiste em reclamar para si.

— O conheceram antes? Dizem que ele já foi um bom homem... — Um homem de meia idade e sujo comentou. Estava preso na cela junto a Gibbs — Embora eu não acredite em tamanha tolice. Um filho do diabo como ele jamais poderia ser bom. Há alguns dias, sem qualquer explicação, ele passou mal, quase morreu. Achamos que seria o fim, mas então ele voltou, mais cruel do antes.

— Pois deveria, não sei o que houve, mas Daniel já foi um bom rapaz — Gibbs defendeu o pirata.

— Há quanto tempo está aqui? — Jack se aproximou das grades laterais.

— Vamos todos morrer, ninguém sobrevive...

— Você está vivo, não seria um sinal de esperança? — Jack sorriu.

— Creio que não, amigo — O homem veio um pouco mais para a frente, ficando mais perto de uma fresta de luz, revelando um rosto cheio de hematomas, e um olho totalmente inchado — Só estou vivo porque ele quer me matar junto ao meu capitão.

— E quem é o seu capitão? — Gibbs perguntou.

— Jack Rackham — O homem tossiu, derramando um pouco de sangue. Sparrow fez cara de nojo, porém logo se interessou no assunto.

— Então os dois são inimigos…

— Vou contar-lhes como esse mau presságio começou…

Era um dia comum para nós, navegávamos no mares da Espanha, quando alguns marujos avistaram dois homens à deriva. Logo o meu capitão mandou os resgatarem. No convés eles apresentaram-se como Brook Smee e James Brodbeck, disseram que eram pescadores, e que foram atacados por bucaneiros que roubaram tudo que tinham. A primeira imediata ficou desconfiada, mas Rackham os acolheu a sua tripulação. Em alguns meses ele e James se tornaram bem amigos. Então durante uma aventura descobriram a existência de um navio místico chamado Úrsula, ambos ficaram interessados em encontrar a embarcação, mas Hook parecia ainda mais obcecado. Foi então que em uma noite veio o motim arquitetado por ele e Smee. Jack, Anne e eu fomos jogados em alto mar… ainda me lembro da gargalhada infernal do filho da mãe…

Sobrevivemos e com o tempo conseguimos um novo navio e tripulação. O capitão estava disposto a se vingar a qualquer custo, e ele sabia o que James mais almejava. Então quando soubemos que um galeão que seguia para Port Royal tinha o mapa da localização do Úrsula, nós o atacamos. Matamos a todos e deixamos uma marca, a marca que James sempre deixava para trás. A marinha acreditaria que a tripulação do demônio seria responsável pelo roubo do itinerário, já que desde que roubou nosso navio, sua maldade se espalhou pelos mares, portos e cidade. Isso os colocaria atrás de Gancho.

Havia uma marca no navio — Sparrow relembrou o momento onde descobriu que a tripulação do demônio tinha ligação com Rackham e o Úrsula.

— Ah aquilo? Foi apenas alguns homens provocando o capitão — O pirata riu.

Rackham vendeu o Úrsula para nós. Porque se desfazer de um tesouro? Isso não é coisa de pirata — Retrucou Jack.

— Não é você que escolhe o navio, é ele que escolhe você.

Jack ficou pensativo por alguns instantes. Analisava tudo que ouviu, reconhecendo que Daniel havia realmente se transformado em um excelente e sanguíneo pirata. Mas ligando os fatos, chegou a uma nova e sombria conclusão a respeito do rapaz e a semideusa.

— Afinal de contas, o que o Úrsula tem de tão especial? — Disse Gibbs.

— Ei, capitão, Gibbs… — Uma voz sussurrou próximo a porta da cela. Interrompendo o diálogo.

Jack fitou o marujo e sorriu em seguida, indo rumo a entrada da prisão.

— Graham seu malandrinho, sobreviveu!

— Não por muito tempo se não formos depressa. — Ele colocou algo na entrada da chave e começou a movimentar. Deixando Sparrow curioso.

— Não, não, não, não. Liberte Moira primeiro, será mais fácil se ela estiver a frente — sugeriu.

— A Capitã foi levada lá para cima capitão Sparrow — o pirata respondeu.

— Nesse caso não temos tempo a perder, continue.

Jack mal podia acreditar na sorte em ter Graham vivo, os liberando daquela cela imunda. Estava preocupado com Moira, e o que poderia acontecer caso Daniel tenta-se feri-la.