Junea estava atenta aos monitores a sua frente, dos quais recebia imagens dos sonares espaciais espalhados pela galáxia. Ela e mais duas centenas de moças e rapazes estudavam atentamente cada ponto do universo tentando descobrir algo anormal que pudesse explicar o que aconteceu a Ravask. De repente uma estranha imagem chama atenção de Junea.

— O que será isso? – Se perguntou ao mesmo tempo em que jogava a imagem para seu painel principal. À medida que as imagens iam se aperfeiçoando e ampliando e os olhos de Junea se arregalaram diante do que se formou à sua frente. Ela nunca imaginara se deparar com o que viu.

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Mariko desligou o telefone e deu um gritinho de felicidade que chamou a atenção de sua assistente.

— Parece que essa ligação era a que você estava aguardando. – disse sua assistente.

— Você nem pode imaginar. Hoje vou ao teatro e depois jantar com um homem maravilhoso. – disse ela saltitando pela sala.

— E eu conheço esse felizardo.

— Sim... o nome dele é Joe Kaisaca. – disse toda feliz.

— Joe Kaisaca... – repetiu surpresa a amiga. – o piloto do Pirata do Espaço?

— Ele mesmo.

— Meus parabéns. Nossa, ele é um gato. O sonho de qualquer garota. É verdade que ele teve um caso com aquela gailariana.

— Você tinha que estragar. – disse com cara de brava, mas suavizou assim que a amiga olhou espantada para ela. – Não, acho que não. Eu sempre soube que eles se amavam, mas acredito que ela foi embora sem se declarar.

— É mesmo? – Disse a amiga surpresa. – Dizem que ela era muito bonita. É verdade?

— Sim. É verdade e tenho certeza que Joe ainda não a esqueceu. Mas vou fazer de tudo para tirá-la da cabeça dele. – Disse confiante. - Afinal eu estou aqui e ela a milhares de anos de luz.

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Rita e Dimitri andavam pelas ruas amplas da Cidade Central, tinham acabado de sair do Conselho de Gailar. Rita passou todas as informações sobre o ataque que sofreu e o vídeo da nave que ela encontrou no espaço.

— O que você acha que está acontecendo, Rita? – perguntou Dimitri

— Difícil dizer. Mas pode ter certeza que aquela nave que encontrei não era amiga.

Dimitri a olhou preocupado. Não era à toa que o conselho tinha sido convocado.

— Rita, você gostaria de sair comigo hoje à noite.

— Eu... – Gaguejou. Eles sempre saiam juntos com os amigos, nunca pensou em sair sozinha com ele.

— Nós podemos ir aonde você quiser. – Falou ele inseguro

— Bem... eu não tenho costume de sair à noite...

— Talvez esteja na hora de mudar isso... podemos jantar e depois ir ao Solaris. – Insistiu ele.

Após uma breve pausa, Rita pensou que precisava se distrair um pouco – É... Eu acho que estou precisando mesmo de um agito.

— Como? “Agito” – Dimitri estranhou a expressão.

— Quero dizer, me divertir um pouco.

Dimitri sorriu de felicidade. Por um momento pensou que ela se recusaria.

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Um toque do interfone avisou que Joe havia chegado. Mariko aguardava ansiosa, havia se arrumado com todo cuidado, escolheu um vestido tubinho preto de alças que marcava seu belo corpo, quis se vestir um pouco como Rita. Olhou no espelho e se comparou a ela, o que a fez ficar com raiva da gailariana “Por que tinha que ser tão bonita?”. Avaliou sua figura refletida, não tinha a mesma altura e nem um corpo tão curvilíneo, mas sabia que os homens a admiravam. Última olhada no espelho antes de apagar as luzes.

Na hora marcada, Joe estacionou em frente ao prédio onde Mariko morava. Ao vê-la se aproximando, não pôde deixar de admirar a garota que caminhava graciosamente em sua direção, trajando um vestido justo preto. Por um momento viu Rita se aproximar, o que o fez sorrir e seus olhos brilharem. Mas logo que ela se aproximou a visão de Rita se transformou em Mariko. Que até então interpretou o sorriso dele de admiração.

— Boa noite, Joe - O cumprimentou assim que chegou perto dele. Ele a aguardava em pé encostado no carro de forma displicente. Usava calça preta e blazer preto com uma camisa branca por baixo com alguns botões desabotoados. Mariko quase perdeu o fôlego ao vê-lo.

— Boa noite, vamos. - Disse ele abrindo a porta para que ela entrasse.

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Em Gailar quando rapaz estava interessado em uma moça e a convidada para sair tinha que ter aprovação da família e isso era feito através de um presente para os pais, geralmente para mãe da moça, no caso de Rita que sua mãe havia falecido há muitos anos, o presente era dado ao pai.

Na hora marcada, Dimitri chegou a casa de Rita que o aguardava. Ao ser anunciado ela olha mais uma vez no espelho, não se arrumara para um encontro amoroso, mas caprichou no visual, estava usando um vestido azul tomara que caia com um colar dourado e os cabelos levemente presos que descia em ondas emoldurando seu rosto, gostou do resultado.

— Boa noite – disse ela ao descer as escadas.

Dimitri a olhou e quase perdeu o fôlego, ela estava linda. – Boa noite. – Disse sem esconder a admiração. – Você está linda.

— Obrigada – e foi então que percebeu a pequena caixa na mão de seu pai. Ela sabia o que aquilo significava e também quando o presente era aceito era porque o rapaz fora aprovado.

— Fico feliz em saber que vocês irão sair. Rita não tem se divertido muito. – Disse o professor Yan sem esconder o sorriso de felicidade, ele gostou muito do rapaz.

— Não se preocupe, doutor Yan. Farei de tudo para que Rita se divirta essa noite. – disse Dimitri.

Rita ficou calada, não conseguiu dizer nada. Ela não esperava que Dimitri fosse manifestar seu interesse por ela. Não podia dar falsas esperanças a ele.

— Tenho certeza que sim. Se divirtam, por favor.

Dimitri a levou em um restaurante que ficava nas colinas da Cidade da Central. O salão era grande e mesas espalhadas por todo o salão uma música suave era ouvida. Dimitri escolheu uma mesa que tinha ampla visão da Cidade Central que reluzia abaixo deles.

— Você está linda essa noite – Disse ele sem esconder sua admiração.

Eles não se falaram até chegarem ao restaurante. Os transportes eram rápidos, o que fazia qualquer distância ser alcançada em poucos minutos.

Um droide chegou e serviu uma bebida como era costume. O cardápio era digital, era só tocar na mesa e logo o que escolhiam era entregue por droides.

— Dimitri... eu... eu não esperava... – começou ela.

— Sobre o presente para seu pai. Não se preocupe, eu não quero pressioná-la a nada. – Disse ele sincero. – Sei que seu coração pertence a outro. – Havia um certo lamento ao pronunciar essas palavras.

Rita o olhou surpresa. Jamais dissera nada a ninguém além de Amanda sobre seus sentimentos. E sabia que Amanda não diria nada.

— Sei porque você está sempre com seu olhar triste e distante.

Ela abaixou a cabeça, era tão visível assim?

— Mas não viemos aqui para falar sobre isso. Saiba que você tem um amigo que lhe quer muito bem. Então vamos comer uma boa comida e depois vamos à ilha Solaris e dançar um pouco. O que acha?

— Parece ótimo. – Deu-lhe um sorriso meio triste.

A conversa a partir daí fluiu descontraída. Dimitri demonstrou ser uma ótima companhia e também divertido. Terminando de comer foram para uma ilha onde os jovens se divertiam. Eles tinham que pegar o transporte que os levava até o local, um complexo com várias atrações. Escolheram ir para o palco luz onde grupos de músicos se apresentavam e as pessoas interagiam com os músicos.

Há muito tempo Rita não se divertia tanto, dançou e cantou a noite toda, a interação com os músicos fazia com que o público se tornasse parte do espetáculo, em Gailar, qualquer um poderia tocar, cantar e dançar com os músicos e por um momento Rita esqueceu a Terra e até mesmo Joe parecia ter se ausentado de seus pensamentos.

*****

Joe acordou tarde, o sol entrava pela janela do quarto do hotel. Por um momento tentou lembrar como foi parar ali. Aos poucos seus pensamentos foram ficando em ordem, estava com um pouco de ressaca. Levantou-se e sentiu a cabeça doer. Foi para o banheiro e lavou o rosto para despertar. Havia tempo que não bebia tanto. Na verdade, ele não era de beber. Olhou-se no espelho e estava com a cara amassada.

Voltou para o quarto e jogou-se na cama pensando no que fizera na noite anterior. Eles foram ao teatro ver uma peça que Mariko queria muito e depois de jantar foram para uma casa de show. Como ele não sabia dançar, só ficou curtindo o som e bebendo. Lembrou que Mariko foi muito agradável e divertida e também parecia que tinha exagerado na bebida. Joe não pode deixar de admitir que há muito tempo não se sentia vivo. Ele pegou a foto de Rita que deixara sobre o criado mudo, suspirou e pensou se estava certo trair seus sentimentos e dar uma chance para si mesmo tentar ser feliz.

*****

O sinal do visor do vídeo de Rita tocou. E ao atendê-lo, Junea apareceu na tela com uma expressão séria.

— Oi Junea.

— Rita. Será que você poderia me encontrar com os outros?

— Sim. Claro. Aconteceu alguma coisa? – perguntou ela ao ver a feição preocupada dela.

— Não dá para falar pelo visor. Vou avisar aos outros.

— Está bem. Não precisa avisar ao Dimitri, ele está comigo.

Junea arregalou seus olhos amarelos e um sorriso divertido substituiu seu semblante sério de antes. - Vocês estão juntos? – perguntou divertida.

— Não é que você está pensando. Nós estamos no laboratório de meu pai. Ele nos chamou para fazer parte dos simulados da Megan.

E realmente foi o que aconteceu. O professor Yan havia chamado Dimitri para ser o segundo piloto de teste.

— Sei.. Vocês poderão ir? – Perguntou ansiosa.

— Sim, os testes já acabaram. Estamos indo. – disse desligando o visor vídeo - O que será que aconteceu? – Perguntou ela tentando disfarçar seu constrangimento.

— Talvez seja alguma coisa relacionada a estranha nave que você encontrou.

Os cinco chegaram quase ao mesmo tempo. O semblante de Junea estava tenso. Nem parecia aquela garota meio avoada que achava tudo divertido.

— O que aconteceu? – Rita foi a primeira a falar.

— É o seguinte. Nossos sonares espaciais descobriram uma enorme frota desconhecida.

— O que? – O espanto era visível. Na expressão de Dimitri.

—Você tem certeza?

— Sim. Todos do centro de observação estão muito preocupados.

— Será que é um povo hostil? – Foi a vez de Amanda falar.

— Ninguém sabe nada sobre eles. Haverá uma reunião do Conselho Geral para discutirem o assunto com o Soberano.

— Tem mais alguma coisa que possa nos contar? – Rita estava aflita.

— Infelizmente não. Tudo está sendo mantido sob sigilo. – Respondeu ela.

— Será que estamos em perigo? – Questionou Cory. – E eu que pensei que seria divertido viajar pelo universo. – Lamentou ele.

Os cincos ficaram em silêncio. Nenhum deles havia passado pela tentativa de invasão que Gailar sofreu. Eles estavam vivendo uma era de paz e prosperidade. Será que essa paz iria acabar?