Petrion, o Dovahkin

Capítulo 12 - Um amigo na Floresta Alva


Levantamos acampamento de manhã cedo e continuamos a viagem após um café da manhã composto de esquilos levemente queimados. Eles não só tinham o tamanho de porcos, tinham o mesmo gosto também, fiquei satisfeito. He he. Enfim, nosso grupo acabou por se separar em dois subgrupos: em um estavam Thalor, Pladius, Ulgrand e eu. Izidor e Styra eram o outro. Shara e Fomer alternavam entre os dois grupos, mas ainda assim, nenhuma palavra foi dita por Fomer enquanto ele estava por perto. Andamos a uma boa velocidade e chegamos à floresta ao meio dia. As árvores eram totalmente brancas, imaculadas, como sombras feitas de luz. A pura branquidão brilhava sobre a terra negra. Era realmente uma incrível paisagem.

–Muito bem pessoal, escutem aqui, eu não sei como esse lugar é no seu mundo, mas daqui pra frente vamos reduzir o passo e aumentar a atenção. A floresta é perigosa e não só por causa dos animais. Pelo menos as Sombras não entram aqui, já que nem nossas sombras existem. As sombras de Luz Negra são pretas e se fundem com o solo e essa floresta emite Luz Branca, criando sombras brancas nas quais as Sombras, as criaturas, não conseguem surgir delas ou mesmo atravessa-las. Mas isso não vai deixar a travessia mais fácil. Styra vai fazer uma pequena lista do que podemos enfrentar.

–Ok. Olhem, essas árvores estão literalmente emitindo luz, mas para fazer isso elas precisam de energia, a qual elas drenam dos seres vivos ao redor, incluindo nós. Vamos nos cansar mais rápido, ferimentos vão sarar mais lentamente, mesmo com magia, então devemos viajar devagar e evitar combates, quaisquer que sejam. A ausência das Sombras não nos deixa mais seguros, os animais daqui são muito mais perigosos. São mais fáceis de matar por terem corpos definidos, mas são mais inteligentes, e muitos deles são mais fortes que aqueles monstros. Fiquem atentos a qualquer coisa que não seja branca e se mova e não hesitem em avisar a mim ou Thalor se virem algo. – Apesar do tom sério, ela parecia estar se divertindo com tudo aquilo, e lançava um olhar desdenhoso para Pladius, que ele pareceu não notar.

Seguimos lentamente por entre os troncos, atentos a qualquer coisa anormal. Bom, MAIS anormal que o normal. As poucas linhas retas e o chão negro nos davam a noção necessária para não tropeçar em um arbusto, ou numa raiz, nem dar de cara com uma árvore. Depois de mais ou menos meia hora Pladius falou:

–Ei, ouvi alguma coisa. – E se pôs a andar silenciosamente em direção a um arbusto, enquanto olhávamos suas costas e Styra mirava sua besta. Quando ele afastou o arbusto, revelou um pequeno e estranho animal. Tinha um bico verde, curto e serrilhado que se estendia por sua larga cabeça, grande demais para o corpo. Seu “tronco” tinha marcas que exibiam suas costelas comprimidas contra a pele cinzenta e lisa. Não tinha nenhuma pata, só umas pequenas extensões com curtas garras retorcidas, que pareciam lhe dar firmeza no chão, já que ele mesmo não parecia muito firme.

–Ah, é só um Torneto. – Disse Thalor. – Esses aí são capazes de torcer seus corpos sem restrições, para checar os arredores e facilitar fugas. Eles também ficam girando e torcendo freneticamente quando estão contentes. São amigáveis e inofensivos.

–Entendi. É bonitnho. Eu acho. Eles crescem mais do que isso? – O Torneto não devia ter mais de um palmo e meio de altura, mesmo se esticando ao máximo.

–Não, mas aqui os pequenos animais são os mais perigosos, esse carinha é uma exceção. Quanto menor, mais perigosos são.

–Vou lembrar disso. Vamos andando.

O monstrinho nos seguiu e sua presença começou a nos animar. Nós o chamamos de Cabeçudo. Beça, pra ficar mais curto. Tornetos são bem inteligentes, e Beça parecia saber como se aproximar de cada um de nós. Ele me trazia pedras e gravetos pra que eu os jogasse e ele fosse buscar. Eu sempre quis um cachorro. Ele trazia alguns animais mortos, cada vez maiores (um deles era ainda maior que o próprio monstrinho), e dava de presente para Izzy. E Trouxe flores para Shara, que teve seu coração derretido, apesar de as flores estarem secas, murchas e horrorosas. O que vale é a intenção, não é? Ele também brincava com Pladius. Um jogo que se baseava nele tentar tirar um pequeno osso da mão do ladino, no qual ele se provou um oponente a altura para Pladius. O pequenino simplesmente nos adotou. Thalor e Styra riam de vez em quando, achando graça na nossa diversão. Ulrand não mostrava mais do que um leve sorriso arrogante e Fomer continuava fechado em seu semblante sério como pedra bruta. Quando a noite caiu e o negro ficou mais negro, montamos acampamento e fomos dormir, com um pequeno companheiro dormindo no meu escudo, que jazia no chão.