Fuga

Ele andou rápido, sem rumo, e sem querer entrou no parque central da cidade. "Por que diabos tive a maldita idéia de sair de casa? Interagir com humanos ... Sério? Eles nunca me aceitarão como um deles. Eu nunca poderia ..." Então, como por magia, alguém o segurou pelo braço. Dean. Esse cara parecia estar em todos os lugares, subitamente.

— Deixe-me em paz! — Sam falou exasperado.

— Não! Você tem que parar de fugir das pessoas e deixar os outros se aproximarem.

— Sai de perto de mim! Vai embora! Sai! Eu não quero falar com você! — Sam gritou. Sentia que estava se descontrolando, mas era algo que não conseguia evitar. Aquele homem tinha esse poder sobre ele: deixa-lo meio louco.

— Isso! Extravasa! Tem raiva de mim? Quer se vingar pelo que lhe fiz passar? Então me acerte no queixo. Vamos! Nem vou me defender. Vamos, me acerte um soco. Vamos ver se é forte o suficiente.

Vendo que essa seria a única maneira de se livrar desse humano insistente, Sam o esmurrou no rosto, mas de leve, porque não queria machucá-lo.

— Chama isso de soco? Crianças batem mais forte que isso. O que foi? Tem mão de moça? Nunca lhe ensinaram a brigar como homem? — Dean riu fazendo pilhéria.

Isso teve o efeito desejado, pois Sam apenas queria fazê-lo calar-se, e por isso o acertou com dois socos diretos no queixo. Infelizmente Dean parecia esperar por isso, e apesar dos socos, ele facilmente deu um contragolpe que levou Sam ao chão. O grandalhão, derrubado e montado, estava completamente indefeso sob o loiro, apesar do tamanho. Dean riu da situação e por ter ganhado a briga.

Sam estava mortificado e atordoado. Seu corpo zunia com adrenalina, e ele sentia o calor do corpo e o suor. Ele sabia que isso iria piorar sua psoríase, mas quer saber? Dane-se! Fazia anos que ele não se sentia tão vivo, que até retribuiu o sorriso de Dean

— Deveria sorrir mais vezes. Fica bem em você, Sammy.

Dean levantou-se e estendeu a mão para um desajeitado e afogueado Sam se levantar. Dean fez uma nota mental de levar aquele rapaz para acampar com seus amigos. Bem se via que estava fora de forma.

— Venha, eu lhe pago um refri, afinal você abandonou seu capuccino por minha causa.

— Não precisa se incomodar.

— Claro que preciso. Não me custa nada. E eu também deixei meu café pra trás quando resolvi te alcançar. Você corre muito pra um sedentário.

— Deu pra perceber?

— É. Nada comparado a sua capacidade de captar detalhes olhando apenas uma vez pra pessoa.

— Tenho memória fotográfica.

— Ok, bom saber disso. — Dean sorriu. — Sua roupa ficou suja de barro. Seria melhor tira-la.

— Não!

— Tudo bem! — Dean levantou ambas as mãos em sinal de rendição. Entendeu que as defesas do outro ainda estavam ativadas. — Que tal, então, eu te levar para casa para que possa se trocar? Afinal eu te derrubei.

Dean comprou refrigerantes e ficou jogando conversa fora até leva-lo para casa de carona no impala.

Sam fcou calado a maior parte do tempo. Dean era esfuziante. Uma figura. Aparentemente gostava de rock dos anos 80 e andava com antigas fitas cassetes no porta-luvas. Sam não sabia como aquele aparelho toca-fitas ainda funcionava. Combinava com o carro vintage, tinha que admitir. É, Dean tinha estilo. E era mais interessante do que supunha. Será que seu deslumbramento estava dando na vista? Tinha que se lembrar de parar de sorrir e não ficar babando, mas era difícil. Enfim chegaram em casa e Sam imaginou que Dean fosse manobrar o carro para ir embora. Ficou aturdido quando o outro saiu e trancou a porta do carro. Ele apontou na direção do hall do prédio e fez um sinal para seguirem adiante. Sam engoliu em seco. Ter estranhos em casa era enervante, mesmo sendo um deus grego como Dean Winchester.

Ao entrarem no apartamento, Sam retirou o casaco e o levou para a área de serviço. Seus jeans também estavam imundos, mas só iria troca-los depois. Ficou inquieto por ter um estranho em seu apartamento. Sem saber bem o que fazer, ofereceu café.

— Tudo bem, aceito, afinal perdi meu expresso, e você seu capuccino. — Dean falou gaiato.

Sam preparou a cafeteira e tirou xícaras do armário. Sentiu vergonha por não ter louças bonitas e combinando, mas ele morava sozinho, pelamordedeus, não precisava de um jogo de porcelana. Serviu o café cabisbaixo.

— Obrigado! Nada como um fresco café granulado.

Ambos riram da ironia. Dean mais uma vez admirou o sorriso do outro. Tinha certeza que sua turma iria adora-lo. Sam Mills parecia um animalzinho perdido e envergonhado. Apesar do tamanho. Na verdade estava mais para um alce.

— Qual o seu apelido?

— O que?

— Ah, você é bem alto e chama a atenção, deve ter ganhado muitos apelidos na infância.

— Só Sam. Que vem de Samuel.

— Oh! Meus amigos me chamam de Dino, ou esquilo, por causa da minha cara de assustado.

— Mesmo?

— Não agora. Na verdade nunca. Só fizeram isso de troça. Se te conhecesse na infância eu o chamaria de alce. Ou sasquate. O que o deixasse mais irritado.

Sam o olhou incrédulo e fascinado. Dean nunca lhe parecera o tipo que faz bullying, mas talvez não fosse maldade, mas somente a forma como tratava os amigos. Será que ... Será que ele estava considerando a hipótese de ser seu amigo?

— O que foi? O que vai nessa sua cabeça gigante?

— Estava pensando que você gosta de provocar os amigos.

Dean o olhou pensativo e Sam ficou sem graça.

— Desculpa, eu ... eu não quis dizer isso. Eu nem o conheço direito ... ou seus amigos. Falei sem pensar. — Sam baixou os olhos envergonhado.

Dean riu, aproximou-se e deu um soquinho no braço de Sam.

— Está aprendendo a me conhecer, Sammy! — Dean riu no que foi acompanhado por Sam. — Você tem celular? Mostra aí.

Sam ficou meio apalermado com o pedido, mas resolveu entregar o celular para um cada vez mais confiante Dean, que mexeu no aparelho alheio como se fosse a coisa mais natural do mundo. Por fim devolveu o celular pro dono.

— Pronto, anotei meu número no seu aparelho. Quando quiser companhia pra andar por aí, acampar, ou trocar uns sopapos no parque, é só me ligar. Eu já vou indo. Tchau, alienboy82!

Dean saiu calmamente e ainda acenou da porta, antes de fecha-la.