Sorrisos Roubados

Ouço risadas marotas vindo de algum lugar próximo de mim. Caminho em direção das risadas, procurando alguém.

—Alguém?- Pergunto passando a mão em uma árvore ao meu lado.

—Não encoste nisso menina...- A voz é calma, mal soa como um aviso.

—Por que?- Afasto-me da árvore, procurando quem falou.

—Por que ela irá roubar todas as suas felicidades, você terá apenas mágoas e chorará para sempre. Nunca irá parar...

Olho para cima e vejo um gato sorridente deitado no galho da árvore na qual eu encostei.

—Mas oras! Por que está ai então? Sua felicidade será roubada pela árvore!- Falo confusa.

—Ah menina! Não tenho felicidade nesta minha vida... Ninguém tem quando a De Copas está no comando de tudo...- Diz ele com uma intensidade que me arrepia.

—Ah! Desculpe minha marotagem!- Falo sorrindo.- Sou Alice, e você?

—A-Alice?- Pergunta ele com um belo sorriso.- Sou o Cheshire.

Sorrio o olhando.

—Eu vim aqui para devolver a coroa para a Marfim! A De Copas não reinará mais! Porém... Não sei onde encontrar a Marfim, quero falar com ela...

—Oh! Conheço alguém que pode a levar até a doce e querida Marfim. Mas antes, faça-me um pequenino favor Alice!

—Pode falar! Irei esforçar-me para realizar este favor.- Falo sorridente.

—Tire este sorrisinho falso da cara, ninguém aqui sorri além da turma do Chá. Nem se quer as flores sorriem.

Meu sorriso some por conta própria. Como um gato tão fofo pode ser tão mal e sarcástico?

—Tudo bem então gatinho! Está satisfeito? Me fez ficar triste!

—Não... Eu apenas cumpri meu trabalho! Eu roubo sorrisos para poder alimentar os meus...- Diz ele completamente sorridente.

—Oh!- Falo brava e esqueço seu aviso da árvore.- Gatinho mal!

Apoio-me na árvore e espero ele me guiar até a tal pessoa que pode me levar até a Marfim.

Em questão de 10 segundos, meu corpo estremesse e eu fico tremula. Lembro de tudo de triste e horrível que já aconteceu. Mas as que mais estão afetando minha mente é a morte do papai e a minha briga com Mike.

Começo a chorar alto, com vontade de nunca mais parar. A cabeça do gato flutua até mim rindo.

—Não pequena Alice! Não chore! Se ficar ai chorando nunca mais irá voltar para casa. Pense nisso...- Diz ele tentando me acalmar.

Em segundos ele encosta em minha mente, minhas memórias boas retornam.

—Pera! Não foram as árvores que me fizeram chorar! Foi você!- Volto a chorar. Minhas lágrimas são grandes em relação as normais.

Elas começam a encher a floresta, assim fazendo um mar. Eu alaguei a floresta com minhas lágrimas.

Mar De Lágrimas

Começo a nadar pelo meu mar de lágrimas, ao finalmente chegar a superfície, vejo o Gato Risonho flutuando e rindo de mim.

—Oh deus... Não devia ter chorado tanto!- Falo frustada e começo a nadar para a terra.

—Eu avisei!- Diz ele. O olho brava e continuo a nadar.

Chego na terra e começo a torcer meu vestido encharcado de lágrimas.

—Bem gatinho, pode me levar para a tal pessoa que me levará até a Marfim?- Pergunto sorrindo e o olhando.

—Como ainda pode sorrir?

—Felicidades levam a sorrisos ora!- Falo ainda torcendo meu vestido.- Agora pode me levar até a pessoa?

—Posso sim! Mas não quero...- Diz ele me provocando.

—AN?- Pergunto brava.

"Oh... Foi um truque para eu parar de sorrir... Gatinho Mal!"— Penso e encaro o Gato.

—Não quer?- Completo.- Tudo bem! Se eu não falar com a Marfim, não irei derrotar a De Copas. Você será infeliz para sempre, e seu egoísmo afetará todo País Das Maravilhas!- Falo brava e séria.

—Me perdoe Alice!- Sorrio o olhando.- Agora, siga-me!

Sigo sua cabeça flutuante até uma Lagarta Azul que está fumando seu narguile.

—Olá sábia Largarta!- Fala o Gato rindo.

—Não seria "Lagarta"?- Sussurro para ele.

—Sim sua tola!- Diz a Lagarta Azul para mim.- Ele está tentando me irritar!

—Oh... Não me chamo "tola"! Sou Alice!- Falo mantendo firmeza em minha voz.

—Desculpe, eu me enganei! Tola e fraca.- O Gato ri e some, deixando apenas seu sorriso, que some também.

—Eu não sou fraca! Eu mal conseguia andar a algumas horas, mas eu acabei de cair de uma toca super funda, nadei em minhas lágrimas e agora estou aqui!

Falando, percebo que minhas marcas sumiram.

—Me enganei novamente! Tola, fraca e mala!- Ele fuma seu narguile.- O que quer aqui?

—Me leve até a Marfim!- Falo cruzando os braços.

—Não poderei! Mas siga reto e encontrará alguém tolo o bastante para seguir as ordens de uma tola!

Sem dizer nada, sigo reto, procurando a tal pessoa que me levará até a Marfim.

Continua...