Paulina e Carlos Daniel - Perdoa-me

De volta a Mansão Bracho. De volta a casa, de volta as Lembranças...


Um mês depois...

–Vamos Paulinha! Vamos perder o voo!

–Estou indo mãezinha! –Responde a menina a mãe.

–Gabriel! Rápido!

As crianças saem correndo do quarto com um lindo sorriso no rosto. Aquele seria o grande dia, eles iriam finalmente reencontrar o pai.

Depois da visita inesperada de Carlos Daniel, Lizete conseguiu convencer a mãe de levar Paulinha e Gabriel novamente ao México. Paulina continuava a sair com Juan, e por, digamos, um acaso, eles estavam cada vez mais íntimos. Enquanto Paulina e as crianças deslocavam-se para o aeroporto, Lizete e Carlos Daniel conversavam na sala da mansão Bracho.

–Papai, é o seguinte: lá pelas 15:00hrs a mamãe esta chegando. Eu estou me sentindo péssima em mentir para ela, mas não vejo outra saída de vocês conversarem. Disse a ela que você iria a uma reunião de negócios com o Tio Rodrigo e que dormiria fora da cidade. Você não pode aparecer aqui antes do anoitecer de maneira alguma. Tudo Bem? Eu disse a ela que você chegaria apenas amanhã após o almoço para ficar com Paulinha e Gabriel.

Carlos Daniel põe em seus lábios um sorriso gigantesco.

–Perfeito! E ah, não sinta-se mal em mentir para sua mãe, tudo vai ser por um bom motivo.

–Pai, eu e Carlinhos estamos confiando no Senhor. Por Deus, não estrague tudo outra vez.

Carlos Daniel pega as mãos da garota. –O que mais quero e ter sua mãe novamente. Sua mãe e a nossa família.

Lizete abraça o Pai. Eles permanecem um tempo abraçados até que vovó Piedade começa a gritar no quarto, chamando Lizete.

–O que eu faço pai? Não quero ter de dar álcool novamente a ela. –Os olhos da garota ficam marejados.

–Deixe, eu vou ir lá falar com ela.

Carlos Daniel solta a menina de seus braços e a beija na testa. Vovó Piedade continuava a beber. Atualmente, um pouco menos do que quando as ruinas na família se fundiram, mas ainda bebia. Ele sai da sala e sobe as escadas. Bruscamente ele entra no quarto de Vovó Piedade.

–Vovó, precisamos conversar!

–Não quero conversar! Quero meu conhaque! Onde está meu conhaque?! –Ela grita. –Lizete!

–A Paulina vai chegar dentro de algumas horas. –Ele diz calmamente.

–Não minta, traga logo meu conhaque!

–Não acreditas em mim? Pergunte a qualquer um. Pode chama-los.

Um pequeno sorriso brota no rosto cansado e abatido de Dona Piedade.

–Verdade meu neto?

–Sim Vovó, é verdade. Ela vem Trazer Paulinha e Gabriel para verem você e passarem um tempo comigo. –Ele sorri. –É a minha grande chance de reconquistá-la.

–E como você conseguiu isso meu neto? –Ela sorri.

–Bom, eu tive em Miami. Eu e Paulina conversamos, mas ela ainda está muito ferida. –ele baixa a cabeça. –E não era para menos. Mas quem conseguiu trazê-la foi Lizete.

Carlos Daniel sorri para a velinha que após esboçar um enorme sorriso, baixou o olhar, mandando aquele riso para alguma escuridão.

–Ela sabe? –Perguntou vovó olhando para Carlos Daniel, tentando esconder dele os olhos marejados.

Carlos Daniel sentiu um enorme aperto no peito.

–Sobre o que? –Ele senta ao lado dela na cama.

–Sobre... –Ela retira o olhar do dele. –Álcool.

Carlos Daniel respirou profundamente e logo depois abraçou a velinha.

–Sabe. Ela sabe de tudo. Lizete e Carlinhos contaram a ela. –Sua voz foi lenta.

–Que vergonha.

Aquela Piedade Bracho, a “Viúva de Bracho,” há dois anos estava completamente as escuras. Ali, restavam apenas a Piedade vulnerável, que para ela mesma, não tinha capacidade de nada.

Carlos Daniel e Vovó Piedade conversaram por mais algum tempo, logo, decidiu que deveria sair da mansão o mais breve possível. Ainda era cedo, mas nada poderia dar errado. Ele tinha planos para seu amor com Paulina.

O dia passou tranquilo. Carlos Daniel foi para a fábrica. Era sábado, mas ele tinha que encontrar algo para se distrair até o anoitecer. Almoçou em um restaurante próximo a fábrica, e logo, pediu uma dose de whisky. Assim que o Garçom largou o copo na mesa de Carlos Daniel, ele levou a mão na bebida e a levou até a boca. Quando o liquido tocou seus lábios, memórias invadiram a mente de Carlos Daniel, fazendo-o relembrar que por culpa dessas bebidas, ele perdeu o amor da sua vida. Imediatamente, o copo tocou novamente a mesa. Carlos Daniel levantou, pagou a conta, e saiu sem rumo pela cidade, definitivamente, matando tempo.

Enquanto isso, Paulina e as crianças aproximavam-se do México. Lizete e Carlinhos arrumavam uma linda mesa de café da tarde no jardim para a espera da mãe. Vovó Piedade, que nesses últimos tempos mal saia de seu quarto, foi para a cozinha ajudar Cassilda a fazer foleados e doces.

Eram exatas 14:43hrs, Lizete e Carlinhos embarcaram no carro da família com Pedro, ansiosos por ver logo a mãe e trazê-la novamente para a casa. A Garota usava um vestido rosa claro, e uma sapatilha de um tom um pouco mais clarinho, cheia de pequenos brilhos. Carlinhos estava cada vez mais o molde do Pai, até mesmo para se vestir: Camisa branca e calça social.

Lizete não aguentava a ansiedade de ver logo a mãe. Sabia que aquele final de semana poderia ser definitivamente o melhor de suas vidas, ou talvez... não.

Carlinhos estava apreensivo. Sentou-se em uma das cadeiras do saguão do Aeroporto, e a cada minuto olhava para o relógio.

Paulinha e Gabriel estavam com as baterias carregadas ao máximo. Nem mesmo a longa viagem foi capaz de deixa-los cansados. Já Paulina estava aflita. Sabia as coisas que poderiam acontecer nesse fim de semana. Medos. Lembranças. Saudade.

Lizete esperava a mãe ansiosa, sem tirar nem um segundo o olhar da porta. O Som de conversas aleatórias invadiam o enorme local, mas a garota escutava apenas a batida de seu coração, buscando entre dezenas de faces, o rosto da amada mãe. Imediatamente, as recordações da primeira vez em que viu Paulina, vieram em sua mente, e seus olhos não puderam deixar de ficar marejados.

Paulina saiu pela porta de mãos dadas com as Crianças. No momento em que avistaram a irmã, Paulinha e Gabriel correram para encontra-la. Lizete abraçou os irmãos com força, mostrando tamanha a saudade. Carlinhos aproximou-se de Lizete, e foi recompensado com um gigantesco abraço dos irmãos. O Olhar de Paulina e Lizete encontraram-se, e aquelas lágrimas que marejavam o olhar de ambas, rolaram. A garota correu até os braços da mãe, a abraçou com todas as suas forças, mergulhando o rosto entre os cabelos de Paulina.

–Oi mãe. –Murmurou a garota entre lágrimas.

–Oi minha princesinha. –Paulina engoliu o choro, mas algumas lágrimas insistentes continuaram a escorrer pela sua face.

–Te amo mãezinha. –Lizete sussurrou no ouvido da mãe sem soltar-se de seus braços.

–Oh filha, eu também te amo meu amor. Muito, muito. –Paulina beija a cabeça da menina. –Como você cresceu! –Disse olhando-a.

–Ah mãe, não cresci nada... –a menina enxuga o rosto e sorri.

–Cresceu sim, e muito! –Paulina a abraça novamente dando um beijo estralado na bochecha da garota.

Carlinhos Aproxima-se da mãe, segurando Paulinha e Gabriel de mãos dadas.

–Oi mãezinha. –Ele solta as crianças e vai em direção aos braços da mãe.

–Oi meu amorzinho. –Ela acaricia o rosto dele. –Como você esta grande. Que saudade. –Ela o abraça.

–Também estava com saudade mãe. Sinto muito sua falta. –Ele busca o olhar da mãe.

–Bom, -Ela segura as lágrimas, passando a mão pelos cabelos, prendendo-os por trás da orelha. –Vamos?

–Vamos! –Disse Carlinhos pegando a bolsa da mãe.

Juntos, eles seguem para a casa Bracho. O sol começava a sumir por entre as nuvens, pelo jeito uma pequena chuva aproximava-se. Carlinhos sentou-se a frente com Pedro, e Paulina, Lizete e as Crianças no Banco de trás.

Assim que chegaram ao seu destino, Paulina teve que conter um choro. Quando o carro adentrou o portão da mansão, milhares de imagens invadiram a mente de Paulina. A Volta da Lua de Mel, a noite de amor no jardim, o banho de chuva no meio da noite... inúmeras lembranças tomaram conta dela.

–Tudo bem mãe? –Perguntou Lizete observando o semblante da mãe.

Paulina soltou a respiração quando o carro parou em frente as escadarias. –Sim. –A pequena palavra saiu entrecortada.

Paulinha e Gabriel, assim que o carro parou, desceram dele desenfreadamente, subindo as escadas para o interior da casa.

–Não corram! –gritou Paulina.

Vovó Piedade saiu da cozinha e encontrou-se com as crianças que a abraçaram com muita força.

–Bisvovó! –gritaram ao vê-la.

–Oi amorzinhos! Que saudade. –Ela retribuiu o abraço. –Deixe-me ver vocês, -ela pegou na mão deles e os afastou para observa-los. –Vocês estão enormes!

–Bisvovó, tem bolo? –Perguntou Gabriel.

Vovó piedade sorriu.

–Pare de ser Guloso Mano! –Disse Paulinha repreendendo-o.

–Tem sim meu bisnetinho, logo-logo.

–Oba!

–Seu Guloso. –Disse Paulinha cruzando os braços.

–Onde esta a mãe de vocês? –Perguntou vovó.

–Com a Mana e o Mano lá na frente. –as crianças avistaram Cassilda. –Cassilda! –Gritaram e correram para abraça-la.

Vovó Piedade dirigiu-se para a sala e seus olhos encontraram Paulina. Uma Paulina muito diferente de suas lembranças. Uma Paulina de cabelos longos, muito mais magra, com um olhar um pouco triste.

–Filha! –Disse caminhando em direção a ela.

–Vovó! –Paulina caminhou até os braços dela também.

–Oh minha filha, que saudades. Como você esta? –Disse pegando as mãos de Paulina.

–Bem vovó, e a senhora?

–Hum, bem. Como você esta mudada. Vem cá dar um abraço nessa velha. –Vovó puxou Paulina para um abraço carregado de saudade.

–Oh vovó. Que saudade da senhora, da Cassilda, da Lalinha, de... –Paulina ficou muda por alguns segundos, e logo tentou desviar o assunto. –E Lalinha, onde está?

–Lalinha está de Licença, sua gravidez está um pouco complicada. E filha... –Vovó puxa a mão de Paulina e cochicha em seu ouvido. –Eu sei de tudo que você sente falta. De mim você não precisa esconder.

–Ai vovó, a senhora sabe que não nunca consegui esconder nada de você. Mas... –Ela respira fundo, tentando esconder a tristeza em sua voz. –Está tudo bem por aqui?

–Depois de uma viagem repentina de Carlos Daniel, ele voltou muito mudado, está tudo tentando votar ao normal.

Paulina engoliu em seco, sabia exatamente que viagem foi essa, e por um milésimo de segundo, o beijo que eles trocaram na sala de sua casa ecoou na mente dela.

–Está tudo bem, filha? –Perguntou vovó sabendo a resposta. –Tem algo que queira me dizer?

–Está tudo bem sim vovó, e.. hum, tem sim, mas tem que ser mais tarde.

Vovó sorriu vendo o rosto de Paulina ruborizar. –Tudo Bem filha. Ah, Vamos tomar café? Cassilda, Eu e as Crianças arrumamos a mesa do Jardim. –Vovó Sorriu contente.

–Nossa! Hum, vamos sim.

Elas foram para o Jardim. As Crianças já estavam sentadas na mesa. Paulina deu um abraço em Cassilda e nos demais empregados. E logo, o café seguiu em uma repleta harmonia.

–Vai contar para a vovó, mãe? –Perguntou Gabriel fazendo uma careta e logo ficando sério.

–Contar o que meu filho? –Ela levou o copo de suco até a boca.

–Sobre o Juan. –Disse rapidamente o garoto.

Paulina imediatamente se engasgou e começou a tossir. Vovó sentiu no mesmo instante que algo estava errado..

–Quem é esse Juan minha filha? –Perguntou vovó.

–É um cara lá que quer namorar com a mamãe. –Disse Paulinha rapidamente, mostrando um olhar triste.

–Paulinha! –Exclamou Paulina. Os empregados imediatamente trocaram um olhar, perguntando-se “como?” –Ele é apenas um amigo. –Disse Paulina corando.

Depois desse momento um tanto constrangedor, o café seguiu normalmente. Vovó e Paulina subiram para o quarto da vovó para conversarem, e Lizete e Carlinhos levaram Paulinha e Gabriel para o quarto dos brinquedos.

–Pirralhos, eu e Carlinhos temos que falar com vocês. –Disse Lizete puxando-os para um sofá.

Carlinhos continuou: -É o seguinte: assim como eu e Lizete sentimos falta da mamãe, sabemos que vocês sentem falta do papai. Por isso, vamos tentar nesse final de semana juntar os dois novamente.

Paulinha e Gabriel abriram um enorme sorriso.

–Mas... Ela não pode nem desconfiar de nada. Por isso, precisamos da ajuda de vocês para manterem segredo e também para nos ajudarem a montar tudo. Combinado? –Concluiu Carlinhos.

–Combinado! –Disse Gabriel –E o que eu e Paulinha temos que fazer?

–Bom, -Disse Lizete. –Vocês vão até o quarto que era do Papai e da mamãe e peguem cobertores e travesseiros. Aqueles dentro do baú, os vermelhos.

–Tudo bem.

–Ah, ela não pode ver vocês.

–Ok, e para onde devemos levar? –Pergunta Paulinha.

–Levem para.. hum... A biblioteca. –Disse Lizete.

–Bem Pensado Lizete! –Sorriu Carlinhos.

Paulinha e Gabriel seguiram para o quarto antigo dos pais e pegaram o que os irmãos mais velhos pediram. Enquanto isso, Lizete e Carlinhos procuravam a caixa de fotos.

Enquanto as Crianças preparavam tudo para o anoitecer, vovó e Paulina conversavam.

–Então minha filha quem é esse “Dom Juan”? –Vovó disse sorrindo.

Paulina não pode evitar de sorrir e logo depois seu semblante mudou completamente.

–Bom, ele... ele...

–É seu namorado? –Perguntou vovó calmamente.

–Não! –Disse Ela rapidamente. –Bem, ainda não. –Ela baixa a cabeça.

–Hum, e você... –Vovó faz uma pausa e espera que Paulina olhe para ela.

–Eu? –Diz Paulina olhando nos olhos da vovó.

–Você gosta dele?

–Vovó, na verdade eu gosto sim.

–Mesmo?

–Sim, eu o adoro. Ele é divertido e quando em várias situações necessitei, ele esteve ao meu lado.

–Filha, não foi isso que eu perguntei. –Vovó abraça Paulina. –Quero saber se você gosta dele como homem e mulher.

–Eu... eu... –Ela baixa a cabeça novamente.

–Já imaginava.

–Tenho que lhe contar uma coisa vovó.

–Então, conte-me.

–Bem, o Juan, me levou para jantar a algum tempo atrás. Antes de Carlos Daniel ir a Miami, e...

–Só um minutinho, filha. Carlos Daniel foi te ver?

–Hum, digamos que sim. –Ela ruboriza.

–E como foi?

–Nós discutimos.

–Só isso? –pergunta desconfiada.

–E ele me beijou. –Disse baixando o olhar.

–BEIJOU?! –Diz a velhinha contente.

–Sim –Paulina fica um tomate.

–E depois? –Pergunta vovó sorrindo.

–Bem, ele... foi embora.

–Ok, entendo. Mas você não concluiu... você e Juan jantaram e?

–Ele me convidou para ir para a casa dele. –Paulina diz com a voz grossa e baixa, talvez recuada.

–E?

–E acabamos... ai Meu Deus... –Ela põe a mão nos olhos.

–Vocês acabaram na cama? –Pergunta vovó com um pouco de dor na voz.

–Tecnicamente sim, mas ao mesmo tempo não.

–Como? –vovó não entendeu nadinha de nada.

–Bem, nos fomos para a cama, e... e... entre algumas carícias, -Ela fica mais vermelha que a colcha da cama. – eu acabei nua nos braços dele. Mas ai, ai vovó...

–Você não tem que ter vergonha de mim filha, continue.

–Eu estava disposta a dormir com ele. Precisava esquecer meu passado, esquecer Carlos Daniel. Mas ai, chegou na hora e comecei a lembrar dele, e a cada toque do Juan parecia que meu corpo desejava mais o do Carlos Daniel. –Ela começa a chorar. –Eu quero tanto esquecer de tudo, esquecer desse erro que foi nosso casamento, -Vovó escutava tudo atentamente. –esquecer de todas as dores, mágoas. Esquecê-lo. Mas eu não consegui. Não consegui dormir com Juan. Não sei se sinto-me mais culpada por ter tentado ou por não ter conseguido. –Ela soluça entre o choro.

–Calma filha, deu, acabou.

–Eu não sei mais o que fazer vovó. –Ela abraça a avó e deixa toda sua angustia ser transmitida em lágrimas.

–Primeiramente, seu casamento nunca foi um erro. Você AMA Carlos Daniel, tem que aceitar isso, e ele te ama exatamente da mesma maneira. E olhe, vocês tiveram quatro filhos lindos.

–Meus filhos são minha vida, mas se nosso casamento tivesse sido um acerto, ainda estaríamos juntos. –Ela tenta engolir o choro.

–Filha, aquele homem jogou com vocês. Foi tudo uma armação, o problema é que tanto você quanto Carlos Daniel, caíram nesse jogo sujo. Pense, filha.

–Bem, é verdade. –Ela enxuga as lágrimas. –obrigado por tudo vovó. –Ela abraça a velinha.

–Sempre estarei aqui filha.

Enquanto vovó e Paulina conversavam, Carlos Daniel permanecia no centro da cidade. Depois de andar algumas voltas com seu amado conversível, que mesmo após esses anos todos ele não abriu mão, resolveu estacioná-lo e andar um pouco pelas ruas. Após algumas quadras, ele avistou uma floricultura, e imagens da lua de mel com a amada ressoaram em seus pensamentos. Lembrou-se das flores que comprou para ela, do urso de pelúcia e das trufas de licor. Um sorriso bobo pairou em seus lábios, e assim ele entrou lá, em busca das rosas perfeitas. Assim que saiu de lá, foi em busca do restante: O urso de pelúcia e os chocolates.

Já, na casa Bracho, Lizete e Carlinhos preparavam tudo para o anoitecer: colocaram o cobertor e os travesseiros dentro de um baú na biblioteca, parecido com o que há no quarto onde Paulina e Carlos Daniel tantas vezes se amaram. Junto, duas taças e uma garrafa de licor de menta. Paulinha e Gabriel tentavam distrair a mãe, e mantê-la longe da biblioteca. Nada poderia dar errado, e aquela noite tinha que ser inesquecível.

A noite aproximava-se, o sol começava a desaparecer. O Celular de Carlos Daniel tocou no interior do paletó.

–Pai?

–Oi filha, como está as coisas ai?

–Tudo bem, e o plano está correndo bem. Tudo perfeito.

–Que hora tenho que chegar?

–Pai é o seguinte: nós arrumamos a biblioteca, esperamos que você e a mamãe passem a noite lá. Tem cobertores e travesseiros no baú ao lado da luminária. Vou convencer a mamãe de olhar os álbuns de fotografias comigo. Logo depois, vou leva-la para o meu quarto, vou achar uma maneira de ela subir comigo para você poder entrar na casa. E claro, acharei um motivo para ela descer. Já conversei com Carlinhos, e assim que a mamãe subir comigo, ele irá ligar para o senhor, ok?

–Nossa, vocês se empenharam hein? –Ele sorri orgulhoso.

–Um Pouco. E Pai, não esqueça que eu e Carlinhos confiamos no Senhor.

–Fique tranquila filha, depois de tudo o que houve, não tenho nem como agradecer a vocês por tudo que estão fazendo.

–Que fique bem claro pai, que estamos fazendo isso por que sabemos que a mamãe ainda ama o senhor, apenas por isso. Temos que ser sinceros.

–Eu sei filha, e novamente, muito obrigado. Amo vocês.

–Pai, tenho que desligar, a mamãe esta subindo. Tchau!

Paulina parou ao lado de Lizete e a abraçou.

–Sabe com quem eu estava falando mãe?

–Nem faço ideia! –Disse Paulina inocente. –Quem?

–Com o Papai!

Paulina ruborizou. –Hum, e... está tudo bem?

–Sim, ele chegará amanhã.

–Ok. E, hum, vim chamar você para descer, o jantar está pronto. Vamos?

–Vamos!

Paulina e Lizete descem e vão para a Sala de jantar. Tudo corre perfeitamente, em uma repleta harmonia. Conversas foram trocadas, risos e gargalhadas, e sem contar, nos olhares entre Lizete e Carlinhos, preparando tudo.

Assim que o Jantar terminou, Carlinhos convidou Paulinha e Gabriel para irem para a sala dos brinquedos. Vovó deu um beijo em cada um e subiu para seu quarto. Lizete começou a por tudo em prática e achou uma maneira de levar a mãe para a biblioteca.

–Mãe, podemos conversar? –Perguntou sem olhar nos olhos dela.

–Claro filha, o que houve?

–Bem, eu queria conversar com a senhora sobre algumas coisas.

–No Seu quarto filha? –Perguntou passando a mão no cabelo da menina.

–NÃO! –Ela disse rapidamente. –Aquele Garoto enxerido vai aprontar para descobrir. –Falou tentando esconder seu nervosismo. –Pode ser na biblioteca?

–Sem problemas.

Lizete e Paulina vão para a biblioteca. Lá a Garota senta com a mãe no sofá.

–O que você quer falar comigo minha princesinha?

–É que... que.. –pensa Lizete! –Mãe como você soube que estava apaixonada pelo papai? –Perfeito!

–Bem, -Um tremor invade Paulina. –Isso é algo difícil de explicar, filha. –Ela baixa a cabeça.

–Tente, mãe.

–Realmente, acho que me apaixonei pelo seu pai desde a primeira vez que o vi, naquele aeroporto, quando ainda era a Paola.

–E o que você sentiu?

–Por que você quer saber isso, filha? –Paulina a olhou séria.

–Ué mãe, eu estou curiosa.

–Você não mudou nada desde pequena, apenas cresceu! –Ela ri.

–Não enrola mãe... fale, o que você sentiu?

–Filha, quando conheci seu pai, descobri que nunca tinha amado alguém de verdade. Não dessa forma, não com... –Ela ficou quieta.

–Fala mãe, eu já sou bem grandinha! Lembre-se que com a minha idade você já até trabalhava.

–Bem, eu... nunca tinha amado um homem como devia ser, com... com desejo. –Ela ruboriza novamente. –E ai, quando ele me beijou a primeira vez, o primeiro beijo de verdade, já não tinha mais como voltar, e eu já estava apaixonada pelo seu pai.

–E como foi sua primeira vez com o Papai? –A garota perguntou sem dó nem piedade.

Os olhos de Paulina pareciam que iam saltar do rosto. E instantaneamente sua faze corou.

–Bem... eu... por que você quer saber isso?

–Eu... –Lizete baixou o olhar.

–Você? O que você está escondendo, filha? –Paulina ergue o rosto da menina

–Nada mãe, só estou curiosa.

–Bem, eu... vou lhe contar uma coisa. –Ela olhou para a menina, e com toda a sinceridade continuou:

–Eu estava nervosa.

–Muito?

–Um pouco. É que além de ser a minha primeira vez com o seu pai, era a minha primeira vez. –Ela ruboriza.

–Serio mãe? –Lizete não esperava essa resposta.

–Sim.

–Mãe eu já venho. –Ela levanta-se do sofá. –Já volto, me espere aqui.

–Está bem. –Paulina permaneceu sentada.

“-Não devia ter dito isso a ela... Meu Deus...” –Pensou Paulina. “Mas o que será que ela está me perguntando tanto?”

–Mãe, -Entrou Lizete com uma caixa em mãos. –Quero te mostrar umas coisas.

Paulina virou-se para a menina.

–Não filha, isso não. –Ela fez sinal de discórdia com a cabeça.

–For favor mãe. –A Menina sentou-se no tapete cor de vinho, largando a caixa. –Por favor.

Paulina sabia o que tinha naquela caixa, ela que tinha a comprado.

–Lizete eu, -Ela baixou a cabeça. –Eu...

–Mãe, por mim. Por favor.

–Ai, Está bem. -Paulina sentou-se no tapete, em frente a Lizete.

A menina abriu a caixa. Nela estavam os álbuns de fotografia da família. Lizete pegou um deles, sentou ao lado da mãe e o abriu.

Era um álbum bege, e na primeira página, uma foto de Paulina, Lizete, Carlinhos e Carlos Daniel. Os olhos de Paulina marejaram. Era uma foto tirada no primeiro aniversário de Lizete depois do Casamento de Paulina e Carlos Daniel, ela estava com poucos meses de Gestação e já tinha Paulinha em seu ventre.

–Eu lembro do presente que você me deu, mãe.

–Lembra? –Disse Paulina engolindo o choro.

–Claro que lembro! –A Menina riu. –Foi uma fantasia de power rangers rosa. –A menina gargalhou. –Eu ainda tenho ela.

–Você tem ainda as fantasias filha? –Perguntou Paulina com um pequeno sorriso.

–Tenho todas! Inclusive a que você e o papai trouxeram de Cancun quando voltaram da lua de mel.

Um aperto surgiu no peito de Paulina.

Lizete folheou o álbum. Era uma foto de Paulina nos braços de Carlos Daniel. Foto tirada minutos antes de Paulina sair de Casa, indo para o hospital ganhar Paulinha.

–Esse dia foi engraçado. –Riu Lizete.

–Verdade. Seu Pai estava mais apavorado que eu. –Ela ri.

–Ai, não quero ver esse álbum. –Ela o coloca na caixa, -Quero ver esse!

–Não Filha. –Paulina sentiu seus olhos marejarem.

Lizete retirou da caixa um álbum branco com as letras “P e CD” Bordadas em dourado.

–Filha... –Paulina a olhou.

–São apenas fotos mãe! –Disse a garota.

Lizete abriu o álbum. Ela folheava as fotos calmamente, fazendo o Coração de Paulina ficar apertado. Enquanto a menina passava as fotos, lembranças daquele dia passavam na mente de Paulina.

–Mãe, posso te pedir uma coisa? –A menina largou o álbum no tapete

–Peça filha.

–Eu estou ficando com sono, e... queria que...

–Fala filha.

–Eu sei que tenho 16 anos mas... eu queria que você contasse uma história pra mim dormir.

Uma pequena lágrima desceu no rosto de Paulina.

–O que foi mãezinha?

–Eu... –Ela respirou fundo. –Lembrei de quando vim para cá, das histórias que eu lhe contava, das vezes que você chorou com ciúmes de mim com seu pai...

–Sério que eu fiz isso? –Perguntou ela espantada.

–Fez sim! –Paulina riu. –Teve uma noite, eu e seu pai estávamos aqui, com a lareira acesa. Fazia 3 anos naquela noite que estávamos casados. –Ela baixou a cabeça. –Eu tinha contado uma história pra você dormir e assim que sai do quarto vim para cá. Seu pai e eu nos sentamos na frente da lareira, estávamos tomando vinho. Seu pai... –Ela parou de contar a história.

–E ai mãe, continua!

–Esquece filha, -Ela abaixou a cabeça novamente. –Já faz muito tempo.

–Por favor mãe.

–Bom, -Ela respirou fundo- Seu pai me deu um anel e logo me deu um beijo. Quando ele me beijou, você entrou correndo aqui, chorando, pulou no meu colo e disse ao seu pai que eu era só sua. –Ela riu.

–Ah mãe, eu não fiz isso...

–Fez sim! Pergunte ao seu pai! –Você disse que ia fugir de casa e me levaria junto. –Paulina riu.

–Que vergonha! –Disse a menina escondendo o rosto.

–Bom, você quer uma historinha minha princesa?

–Quero.

–Então vamos subir!

Paulina e Lizete sobem as escadas abraçadas. A garota deita na cama. Paulina senta-se ao seu lado, e logo começa a contar a história da Cinderela, a favorita da garota quando pequena.

Carlinhos que estava no corredor, logo ligou para o pai.

–Pai?

–Fala Filho?

–A mamãe subiu. Entre logo.

–ok. Obrigado Filho.

Carlos Daniel entrou na casa e foi em direção a biblioteca. Largou sobre o sofá o enorme urso, muito parecido com o que ele deu a ela a 12 anos atrás, mas esse era amarelo. Junto ao urso, a caixa de chocolates. Ele abaixou-se e pegou o álbum de fotografias. Fez a volta na mesa e sentou-se, olhando as fotos. Segurando em uma das mãos o buque de rosas, desta vez, brancas.

–E assim foram felizes para Sempre! –Disse Paulina acariciando os cabelos da menina.

–Obrigado mãe. Você nem imagina como senti saudade de seus beijos de boa noite. –Ela sorri levemente.

–oh, filha, é claro que eu sei. Você sentiu falta de recebe-los e eu de dar eles em você. -Ela acaricia as bochechas da menina. –Te amo muito filha, -Ela beija a testa da garota e em seguida a bochecha. –Dorme bem.

Paulina levantou-se e foi em direção a porta.

–Mãe?

–Fala princesinha?

–Pode me fazer um favor?

–Claro, diga-me.

–Você poderia pegar meu celular?

–Claro, onde está?

–Na biblioteca.

–Tudo bem, já volto.

–E ah, mãe? –Ela chamou sussurrando.

–Fala meu anjo.

–Desculpe. –Disse baixinho.

–Desculpar? Pelo que? –Paulina olhou para ela novamente sem entender.

–Desculpe. Juro que é pelo seu bem. Me perdoa. –Ela disse ainda baixinho, puxando o cobertor, deixando apenas os olhos destapados.

–Do que você está falando Lizete? –Paulina a olhou em confronto.

–Boa noite mãe.

Paulina saiu do quarto de Lizete sem entender nada, mas mesmo assim, iria fazer o que ela pediu. Paulina desceu as escadarias e foi em direção a biblioteca. A porta estava entre aberta. Carlos Daniel pode escutar o som do caminhar de Paulina pela escadaria.