Patricinha? Será?

Jantar, amizade e decepção?


Lis agora esta no meu quarto, conversamos até agora que são sete da noite, o jantar será as oito. Por isso já vou me arrumar.

–E alguma coisa formal...? –Começo a perguntar, mas Lis me interrompe.

–Não, só vão estar meus pais e meus irmãos. Acontece que eles prezam muito os jantares, e quase que obrigatório. Podemos comer separados nas outras refeições, mas não no jantar. –Lis explica rindo.

–E por se algo tão particular da sua família, eles não vão se incomodar com a minha presença? Digo: Já levou alguém pra esse jantar tão “especial”? –Disse naturalmente.

–Sim, já levei. –Lis responde de imediato. –Ethan várias vezes. E Rafa no Natal do ano passado, a família de Ethan se juntou com a minha já que é muito pequena. E nos convidamos Rafa, a família dele não celebra o Natal.

–A minha também não. –Fico um pouco triste ao dizer isso, já que não vejo meu pai a mais de uma semana. –Na verdade Rebeca, Beatriz e eu, fazíamos uma festinha do pijama para qualquer festividade que envolvesse nossa família.

–Sente falta delas? –Lis me olha um pouco séria demais. Que chego a pensar que ela se sente culpada pela a briga entre minhas “ex-amigas”, e só por isso esta querendo minha amizade. E depois penso que não, Lis é muito legal para isso.

–Na verdade não. –Demoro um pouco para responder ao que esta na minha a cabeça há algum tempo. Não estou nem um pouco arrependida.

–Ótimo, por que agora temos um jantar super chato para ir. –Lis fica feliz com minha resposta.

E assim tomo banho e coloco calça Jeans simples junto a uma blusa de alcinhas amarelo-canário, por cima minha jaqueta Jeans escuro.

–Você esta ótima! –Lis me elogia.

–Obrigada, você também esta. –Devolvo. Vendo que Lis também não esta nada mal, com um vestido florido de lilás que eu devia ter reparado antes.

–Vamos? E meio longe já que vamos a pé.

–Não. –Falo enquanto descemos a escada. –Eu posso pedir para o motorista, nos levar.

Antes que Lis possa dizer qualquer desculpa, nego com a cabeça. Minutos depois, estamos frente a casa de Lis, um bairro um pouco distante, de classe média.

–E chegamos! –Lis abre a porta da sua casa, e olha para mim me convidando a entrar.

–Com licença? –Sorriu e entro.

A pequena casa é aconchegante e apesar de ser pequena é confortável. A porta dava a uma sala com sofá e TV. Lis passa na minha frente e me guia a sala de jantar onde vejo um homem que imagino ser o pai de Lis, ele esta sentado em uma cadeira na ponta da mesa de sete cadeiras.

–Pai, essa é minha amiga Clara. –Lis me apresenta, o pai de Lis sorri educadamente, como a filha sempre faz.

–E um prazer, Clara. –Ele diz.

–O prazer é meu. –Fico feliz com a educação dos dois. Enquanto a palavra de Lis se repete na minha mente “amiga”.

Aparecem dois garotos que imagino serem os irmãos de Lis, os dois possuem cabelos loiros um pouco escuro comparado aos de Lis, eles me encaram e depois se sentam.

–Esses são meus irmãos. O mais velho é Lucas. –Lis diz, imagino que ele deve ter 11 ou 12 anos. –E o menor é Davi. –E Davi deve ter 7 anos.

–Olá, meninos. Sou Clara. –Me apresento por que isso esta começando a ficar chato, Lis me apresentar e tal...

–Oi. –Os dois respondem.

–Clara, sente-se. –O pai de Lis convida.

–É mesmo, acabando que me esqueci... –Lis aponta para a cadeira e me sento ao seu lado.

Rapidamente uma mulher, que imagino ser a mãe de Lis, entra trazendo uma travessa que parece ser lasanha. Ela se aproxima de mim e me cumprimenta diferente de todas as pessoas que já me cumprimentaram.

–Oi, querida. –A mãe de Lis me dá um abraço, me levanto, o que a faz ficar muito satisfeita. Depois que me sento suas mãos seguram meu rosto e ela me dá um beijo na testa. –Sou Suzana e você é...

–Clara. –Sorriu mostrando que aprendi direitinho com a sua filha.

–Eu já volto. –Suzana sai, trazendo de volta uma travessa, sinto o cheiro de carne logo quando ela coloca na mesa. Parece ser uma costela assada. Ela sai outra vez, eu até pergunto se ela precisa de ajuda, ela nega.

O pai de Lis me pergunta algumas coisas, para não ficarmos em silêncio. Coisa do tipo: “Como você é na escola?” Respondo: “Bem, eu tento”, ele continua com: “E os seus pais trabalham de que?” Respondo: “Eles trabalham na mesma empresa de turismo, como minha mãe aqui e meu pai viaja o mundo”.

Esperei pelo clássico “o que quer ser quando crescer?” mais a mãe de Lis termina e finalmente estamos com a mesma responsabilidade, devorar toda aquela comida. Pego uma pequena porção de cada: Feijão, arroz, costela, lasanha, e muita salada porque amo tomate. Conversamos normalmente, Suzana conta como foi seu dia na escola onde trabalha de professora. E decido que se eu fosse escolher o modelo perfeito de família, seria aquela. Todos terminam de comer, e vamos para a sala, conversamos até eu perceber que já esta ficando tarde.

–Bem e essa é a minha hora. –Sorrio para todos. –A noite foi muita boa, muito obrigada Lis pelo convite.

–Não precisa agradecer. –Lis diz.

–Aliás, obrigada a todos. Estava tudo muito bom. –Digo para Suzana.

–Pode voltar quando quiser. –Diz o pai de Lis, que até agora não sei bem o nome. E a essa altura do campeonato, não posso perguntar.

Me levanto, por fim decida a ir. Antes abraço cada um daquela família, agradecendo. Quando é a vez de Lis ela diz:

–Te vejo amanhã na escola? –Ou melhor, Lis pergunta.

–Sim. Até amanhã. –Respondo.

Ligo para César. E ele me busca, em poucos minutos estou em casa. Tomo um banho por que o calor esta de matar naquela jaqueta, e depois simplesmente durmo como uma pedra.

Acordo como sempre atrasada, corro como sempre, não como cedo como sempre. Vou para escola como sempre... Mas no fundo hoje não esta como “sempre”. Pelo que parece hoje na escola vai ser diferente e não como “sempre”.

Sabe aquelas pessoas que são tão legais que te fazem sentir vergonha pelo que você é? Mesmo que você nunca tenha feito nada de errado? Só de olhar para aquela pessoa, seu dia melhora... Assim é Lis. Na escola: Lis, Ethan, Rafa e eu não nos tornamos um grupinho, mas Lis não descolava de mim. Nem eu dela. No vôlei Lis me ajudou e até Elisa notou uma melhora em mim. Estava tudo bem até isso acontecer...

–Clara, você não pode ser amiga de Lis. –Ethan diz, enquanto estamos no nosso “diário”. –Por que... E como se eu tivesse traindo, eu nunca contei a ela sobre isso... Isso me deixa mal...

–Eu não posso ser amiga dela, por que você não quer? Por que isso te deixa mal? –Debocho um pouco, chocada demais.

–Só me entenda, estou mentindo. Mentiras são traições. Isso se torna mais difícil com vocês duas lado a lado.