Patricinha? Será?

Segredos e mentiras.


Primeiramente eu sabia que ia me arrepender do que eu estava prestes a fazer, segundo eu não fazia ideia de como fazer, terceiro Lis ficaria um pouco confusa se eu aparecesse na loja do Shopping que ela trabalha e dissesse “Lis, nossa amizade foi boa enquanto durou, mas Ethan disse que seria traição da parte dele...”

Ou “Lis eu te odeio você nunca seria minha amiga!” basicamente uma mentira para o bem, que nunca daria certo. Por que na verdade Ethan bem lá no fundo, bem fundo mesmo... Ele estava certo, e agora que ele disse também me sinto mal. Eu simplesmente podia ignorá-la até ela ligar os pontinhos, mas eu tive a maluca ideia de dizer que não podia mais, frente a frente.

Chego à loja que o próprio Ethan me informou que ela trabalhava.

–Oi, Clara. –Ela me vê antes mesmo que eu prepare o meu “textinho do que vou dizer”.

–Oi. –Digo, enquanto só uma coisa se passa pela minha cabeça. Não posso fazer isso. Mas tenho.

–E então? Veio comprar alguma coisa? –Ela sorri satisfeita com a ideia.

–Não... É... – Começo muito mal. – Você tem um tempinho livre?... Deixa pra lá nos falamos depois.

Me viro, sem nem olhar para ela.

–Espera, Clara. –Lis me chama. –Se quer me dizer alguma coisa, pode falar?

Clara essa é a sua hora de dizer não e sumir daqui, digo para mim mesma.

–Tenho. Meu Deus vai ser a coisa mais boba que eu já disse. –Digo enquanto reúno coragem, sabendo que essa coisa boba fica atrás do “diário com Ethan”, e estou mentindo para Lis nesse pequeno detalhe. Enquanto a diabinha Clara está no meu ombro, me dizendo “Deixa de ser problemática e desembucha!”

Suspiro e fecho os olhos, então:

–Não posso ser sua amiga. –Falo tão rápido que quando abro os olhos duvido que Lis entendeu alguma coisa. Ela continua parada. –Você me entendeu?

Ela continua calada.

–Sei lá fala alguma coisa. Não tem nenhuma lição de moral?

–Não. –Ela responde naturalmente. –Estou esperando o motivo, pra tirar alguma conclusão.

–É... –Começo. –Rebeca e Beatriz. Elas precisam de mim.

Não estou mentindo.

–Você as conhece. Sem mim elas são... Piores. –Continuo, enquanto Lis me ouvi atentamente. –Sem querer me gabar, mas já me gabando... Eu funciono como uma balança. Mesmo não tendo muita autoridade, faço a diferença. Da pra ficar um pouco equilibrado, além do mais, Rebeca e Beatriz só precisam de um ouvido bom, para que elas fiquem bem calminhas.

Fazendo o máximo de esforço para não mentir, acho que consegui terminar. Na verdade eu não tinha nenhum pouco de autoridade, eu só precisava “ouvi-las” e mais nada.

–E então? –Pergunto a ela por fim.

–Clara, sua... Bobinha. –Lis começa séria e depois ri quando vê a minha cara de... Assustada? –Podemos continuar sendo amigas.

Meu Deus! Minha nossa! Ela não entendeu... Não posso de jeito nenhum, assim vai dar na mesma.

–Amigas de “oi”? –Pergunto.

–Sim. –Ela ri. –Também de “como vai?” por que amigos de “oi” são só conhecidos que se dão bem, entendeu?

–Acho que sim.

–A gente se vê por aí? –Lis estende os braços em minha direção, pedindo um abraço.

–Tudo bem. –Sorrio enquanto a abraço. –Você é uma figura adorável. –Digo.

–Você que é Clara.

E então vou para casa. Não 100% chateada por isso, Lis e eu ainda vamos nos ver por aí. Só que acontece que tenho outra missão, bem difícil de entender. Por isso, devo tomar um banho, relaxar, esperar anoitecer, jantar com minha mãe, dormir e amanhã falar com Rebeca e Beatriz.

–Fazer as pazes? –Rebeca arregala os olhos, enquanto em sua mão vejo um pirulito vermelho que fica ainda mais vermelho no sol. Estamos de fora da escola e o sol esta tão quente, que se tivesse uma praia por perto todos os alunos não estariam aqui.

–Clara... Senti sua falta. –Beatriz diz enquanto me abraça.

–E por quê? –Rebeca pergunta desconfiada. –Digo: Você parecia bem com Lisa.

–Lisa é muito legal, mas Rebeca... Ninguém pode ter um substituto. –Digo. Rebeca fica séria, Beatriz olha para mim prendendo a respiração, até que... Ela corre e me abraça.

E no fim eu sempre amei essas duas.

–Ta. Devemos comemorar. Festinha hoje... –Beatriz diz.

–Na minha casa. –Rebeca completa.

–Tudo bem, com tanto que tenha batata-frita. –Digo rindo.

–Batata-frita? –As duas perguntam em coro.

–É. Sei lá, estou com vontade de comer batata-frita. –Respondo.

–Noite do pijama pode ser? –Beatriz pergunta empolgada.

–Você esta diferente. –Rebeca me encara de inicio como se eu fosse um ET, depois sorri, gostando desse meu diferente.

–Se diferente pra você é bom. Então está tudo certo. –Falo enquanto andamos rumo à aula.

Vejo Lis, então nos cumprimentamos, Rebeca e Beatriz me olham de cara feia, mas não me importo.

Chego em casa e almoço, tomo um banho, por que não aguento todo esse calor. Logo Ethan chega.

–Olá, “Diário”. –Cumprimento.

–Oi, “Senhorita: Eu sou boa demais para escrever em um diário”. –Ethan diz, se sentando de frente a piscina. Riu depois me sento.

–Se sinta feliz por eu ter feito o que você pediu, só não muito, porque isso também partiu de mim. –Digo falando de Lis.

–O que disse a ela? –Ethan me olha, por um momento vi que ele estava com medo da minha resposta.

–Que Rebeca e Beatriz precisavam de mim. E ela disse que continuaríamos a ser amigas, de “oi” e “como vai?”. –Suspiro. –Ela é uma ótima amiga.

Por um breve segundo achei que Ethan não tivesse gostado da minha ultima frase, achei que ele tivesse pensado que eu estaria debochando, mas ele só ficou calado.

–Rebeca e Beatriz podem ter muitos defeitos. Mas elas não são tão ruins. –Concluo.

–Mais vale dois ou um amigo na mão do que nenhum. –Ethan diz.

–O que? –Pergunto me virando para ele.

–Esquece...

–Rafa e você parecem se dá muito bem. –Digo.

–Sim, e foi sempre assim. –Ele diz quase como se disse “não estou afim de falar desse assunto”.

–Aquela sua frase... Muito errada. –Digo depois de alguns minutos. –Por que também existe outra que diz assim: Antes só do que mal acompanhando, nem sempre os “amigos” são amigos.

–Exato. –Ele sorri forçadamente para debochar.

Depois de Ethan ir embora, não tem nada para fazer só pra variar. Espero até anoitecer então vou para casa de Rebeca.

–Vamos fazer o jogo dos segredos, pra... Fortalecer nossa amizade. –Beatriz se senta no chão do quarto de Rebeca e nos convida a segui-la. Estamos vestidas com pijamas. Observação importante: Rebeca e Beatriz estão usando pijamas idênticos, rosa. Não sei por que, mas também não pergunto.

–Espera! –Rebeca praticamente grita antes de se sentar. –Vou buscar a batata-frita.

Beatriz e eu permanecemos caladas, primeiramente nem ela nem eu temos muito assunto quando estamos sozinhas.

–Esta aqui. –Rebeca volta com uma porção de batata-frita para cada uma de nos. E se senta. O rosto de Rebeca, já apresenta culpa antes mesmo de comer. Ao contrario dela, Beatriz e eu estamos felizes da vida. –A chega! Eu não consigo! –Diz Rebeca empurrando a batata-frita para nos.

–Passa pra cá. –Digo.

–Vamos começar. Rebeca apaga a luz. –Beatriz diz.

–Mas o que é isso? Vamos falar com espíritos, para ter que apagar a luz? –Rebeca levanta relutante.

–Não. É pra dar um ar de suspense e pra perder um pouco da vergonha de contar os segredos. –Explica Beatriz. Rebeca apaga a luz, enquanto Beatriz acende uma lanterna, que só Deus sabe de onde ela tirou. Rebeca se senta. –Ótimo... Rebeca comece. Diga pra gente um segredo.

–Por que e tenho que começar? –Rebeca implica. –Tudo bem... Esse é bem secreto. Então caprichem nos seus... Verônica é minha irmã. Teve uma época que meus pais se separaram então, meu pai se tornou pai dela. Só que ela não sabe.

–Minha nossa! –Beatriz e eu falamos em coro.

–Tudo bem, minha vez. –Diz Beatriz. –Vou ser bem rápida. Eu tinha mania de colocar câmera em muitos lugares. Já coloquei no quarto de vocês duas, na sala de aula da nossa turma e no...

–O que? –Rebeca e eu gritamos.

–Calma gente... Foi por pouco tempo, e não vi nada demais. –Beatriz suspira. –Clara...

–Sério, gente. Não tenho nada pra contar. –Digo, basicamente verdade, já que não posso contar de Ethan. –Minha vida não é muito interessante, e quase não acontece nada.

–Nadinha? –As duas me encaram esperando algo, qualquer segredo.

–Não. –Respondo.

E então não fui pra escola no outro dia, e a... Eu já disse o quanto eu amo sexta-feira?

–Ta doente? –Ethan me pergunta logo quando chega, sem nem um “oi”.

–Não, só preguiça. Aceita um suco?

–Sim. –Ele diz.

–Volto já... –Digo. Peço para Denise preparar um suco. Mas quando volto fico em choque.

–Eu sei eu sei, Rafa. –Ethan diz no celular, não vendo que estou escutando. –Rafa, sei que errado... Não. Não estou traindo Lis. Sei que você odeia a Clara...