~~ 156 Ag ~~

(eu errei a data na terça, my bad)

A essa altura da vida, Sokka já deveria estar mais acostumado ao frio de sua terra natal, mas ainda assim se encolhia sob o o grosso casaco de forro de pelo quando o dragão de Zuko sobrevoou a grande cidade central da Tribo da Água do Sul.

As ruas estavam calmas sob eles. Como se o mundo inteiro houvesse congelado e ninguém duvidaria que fosse exatamente o que havia acontecido. Havia muito mais calor próximo ao centro, mas isso não impedia que as pessoas tremessem de frio e se enrolassem em suas camas muito antes do anoitecer, que nessa época costumava acontecer por volta das 3 ou 4 horas da tarde.

Estavam indo para a área mais afastada da cidade e Sokka se perguntava como Senna e Tonraq podiam viver tão longe do calor. Às vezes se esquecia de que havia crescido ali em uma época em que o único sistema de aquecimento eram o gelo e a neve com o isolamento de peles.

Não demorou para que avistassem Katara ao lado de fora da casa da família. Parecia exausta, com a respiração formando uma fumaça espessa de condensação no ar congelado, mas não parecia machucada.

Sokka praticamente saltou do animal antes mesmo que ele encostasse no chão e correu para abraçar a irmã caçula. Parecia muito magra sob o casaco grosso e isso o preocupou bastante, mas não a ouviu reclamar de dor, o que era algo bom.

— Você está bem? Onde estão as crianças? — perguntou encarando os olhos azuis brilhantes, pronto para a batalha.

Ele não precisava explicar que com crianças queria dizer Korra, mas também seus sobrinhos que, por mais que já houvessem passado dos seus 35 anos, ainda eram crianças para ele.

— Kya está cuidando de Tonraq lá dentro e Tenzin seguiu atrás de Zaheer e seu bando — disse Katara, correndo em direção ao dragão, mas foi barrada pelo irmão — Eu vou junto!

Ela decretou, encarando Sokka com um olhar mortal que ele não via há quase uma década. Os dois homens se entreolharam com um misto de medo e compreensão. Nenhum dos dois queria que Katara se colocasse em risco e não era uma missão de resgate qualquer. Era a missão de resgate do Avatar.

— Katara... — Sokka começou, procurando as palavras certas para dizer, sabendo que Zuko não iria interferir naquela briga de família.

Mas ninguém simplesmente dizia para a viúva de Aang o que ela deveria fazer, nunca fora assim e não iria começar a ser agora que já havia vencido uma guerra, criado três filhos e começava a treinar seu segundo Avatar.

Ele chegou a ensaiar um discurso em sua cabeça, mas então a irmã recuou por conta própria. Abaixando os olhos para o chão e soltando o braço do irmão, havia entendido a troca de olhares entre os homens e mesmo que não tivesse, sabia que todos haviam ficado preocupados quando se propôs a treinar Korra.

Korra não era Aang e ela sabia bem disso, mas não podia evitar enxergá-lo em pequenas coisas da menina. Gestos espontâneos, alguns sorrisos e brincadeiras dela eram tão mais próximos do marido do que qualquer um de seus filhos.

Katara não pode evitar de se apagar a ela. Korra não era Aang, mas ele era parte dela, assim como era parte de Bumi, Kya e Tenzin. A nova avatar era como uma filha para ela e por isso não poderia agir com a frieza que precisava.

— Vocês deveriam se apressar — ela respondeu em um suspiro tristonho — Eu vou voltar para dentro e ajudar Kya, vou deixar as coisas preparadas para quando vocês voltarem — respondeu mais uma vez, assistindo enquanto o grande dragão vermelho cruzava o céus — Eu só espero não precisar.

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Katara recebeu a menina dos braços de Tenzin e então a aninhou e a embalou enquanto os olhinhos azuis se abriam para encontrar os da mulher mais velha.

— Tia Katara — ela sussurrou acordando, erguendo as mãozinhas pequenas em direção ao rosto da mulher que lhe sorria com doçura — O que aconteceu?

— Não importa agora querida — ela sussurrou, antes de estende-la para Senna que saia da casa pequena — Vá com a mamãe, sim?

A mulher agradeceu a mestre em silêncio e então levou a criança para junto do pai, não demorou para que Kya saísse da sala. Ela nunca passava muito tempo junto com Korra, isso parecia afetar um pouco a menina que sempre perguntava porque a filha de Katara mantinha a distância, mas a curandeira sempre evitava o assunto.

Ela se virou para o filho mais uma vez. A cada dia que passava Tenzin se parecia mais com uma sombra de Aang, uma sombra mais séria e cansada do que a versão mais séria e cansada que seu marido já havia sido.

Ela tocou o rosto frio do filho. Tinham algumas escoriações, mas nada tão sério quanto a ferida aberta na testa que manchava a sobrancelha castanha de sangue fresco.

— Como você está? Vamos curar esse corte — ela disse, tentando levar o homem para dentro de sua tenda de cura, mas ele hesitou e limpou o sangue com a manga amarela que já estava marrom escura de tanto esfrega-la. Sangue seco e congelado, adivinhou a mãe.

— Depois — ele respondeu, apertando as mãos da mãe com carinho e as beijou com delicadeza — Eu prometi voltar para ajudar com a prisão.

— Vocês não os contiveram ainda? — perguntou Katara, observando o semblante cansado do filho caçula.

— Ainda não — respondeu Tenzin, ainda se preparando para voltar para a batalha.

Sempre fora uma criança pacifica, o mais tranquilo dos três. Talvez o mais tranquilo entre todas as seis crianças. Havia se acostumado as competições constantes de Bumi e Kya, que normalmente acabavam com um dos dois machucados, Lin e Su não eram muito melhores, poderia dizer que na maior parte das vezes eram até mesmo piores. E mesmo Izumi acabava se envolvendo nas traquinagens em algum momento, mas nunca Tenzin.

Ele estava sempre mais concentrado em agradar o pai. Katara se perguntava se não foi isso que o aproximou de Lin naqueles anos distantes. Os dois eram pouco mais do que crianças com uma necessidade absurda de aprovação parental.

— Se cuide e não faça nada contra seus princípios — disse a mulher, beijando a seta azul na cabeça do filho — Tenzin! — O filho se virou rapidamente, os olhos azuis encontrando os da mãe — O seu pai teria orgulho de você.

Ele sorriu abertamente para ela. Feliz com a ideia de que o pai estaria orgulhoso dele.

Katara conhecia o filho melhor do que ninguém, sabia que cada passo de sua vida havia sido calculado para orgulhar Aang. Por um longo tempo ela temera que o filho não pudesse ser feliz sob tanta pressão, mas agora ela sabia que Pema havia sido a melhor escolha no fim das contas.

A mãe o viu montar no pequeno bisão voador, um dos bebês do velho Appa. Sorriu ao se lembrar sobre como os dois haviam crescido juntos, inseparáveis como os pais.

Sim, Aang tinha muito orgulho daquele menino, tanto quanto Toph tinha de Lin. Mesmo que nenhum dos dois pudesse dizer isso agora, fosse por orgulho ou força maior.

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Sokka nem conseguiu ver o sobrinho desaparecer com o novo avatar em seus braços no meio da branquidão brilhante do deserto de gelo. Estava ocupado demais tentando desnortear P'Li, mas seu bumerangue não parecia querer colaborar com ele.

Talvez estivesse pagando por todas as vezes que se gabara de ter derrubado o Homem Combustão apenas com seu bumerangue durante a guerra. Nunca fora um grande conhecedor do carma, mas tinha quase certeza de que era um caso disso agora.

"Ao menos se Toph estivesse aqui" ele pensou. Nos mais de 50 anos em que lutaram lado a lado haviam desenvolvido várias comunicações não verbais, haviam se acostumado a estarem lado a lado de tal forma que era instintivo e pelo menos 5 ou 6 vezes derrubaram dominadores de combustão.

Os adolescentes do Lótus Vermelha haviam entrado em uma luta feroz com Tenzin e Tonraq e de alguma forma haviam conseguido desacordar o pai da avatar.

Agora estavam apenas Zuko e Sokka contra as crianças e não era uma luta fácil. Claro que os amigos tinham a vantagem de terem lutado uma vida inteira juntos e conhecer bem cada ataque e movimento na hora de se auxiliarem, mas os quatro atacantes também pareciam bastante entrosados.

Com a dominação limitada a terra, Gazhan não era o maior inimigo que eles tinham. Afinal haviam apanhado o suficiente para a antiga chefe e policia para saber lidar com dominação básica de terra, mas Ming-hua estava em seu domínio e era uma guerreira feroz. Como se isso já não fosse preocupação suficiente, Zaheer era um bom combatente sem dominação, talvez o melhor que Sokka havia encontrado nos últimos anos.

Ele não tinha mais qualquer noção de por quanto tempo estiveram lutando. Se sentia ofegante e cansado e não haviam avançado muito desde então quando seu sobrinho apareceu, caindo do ar e acertando o chão, fazendo a neve se erguer por metros e metros sobre suas cabeças e lhe deixando cegos.

— Boa ideia, garoto — respondeu Sokka — mas nem sua tia, nem Lin vieram com a gente hoje.

Tenzin não pareceu se importar com a provocação. Estava mais preocupado em desviar das pedras que Gazhan jogava as cegas por ai. Sokka ainda lutava contra Zaheer quando sentiu a frente de sua camisa umedecer quando o chicote de Ming-hua o acertou em cheio.

Ele havia lutado o suficiente com a irmã para saber o que fazer a seguir. Ele atirou o bumerangue na direção do chicote e logo o gemido abafado da dominadora se fez ouvir sob a neblina pesada.

Depois disso ficou muito mais fácil derrubar os outros. Esperaram que a Lótus Branca chegasse para que pudessem entregar os prisioneiros e só então voltaram para a casa de Tonraq e Senna, onde Katara esperava por eles.

— Estão todos bem? — perguntou a mulher, correndo para junto dos homens, abraçando um por um para verificar se tudo estava bem — Ninguém se machucou gravemente.

— Nã... — Sokka não conseguiu terminar a resposta quando uma pontada fria acertou seu coração.

— Sokka! — ela gritou, segurando o irmão com o corpo para que ele não caísse no chão — Você está congelando, o que houve?

— Nada — ele respondeu, mas claramente havia algo de errado.

Katara correu as mãos pelo peito do homem, procurando qualquer sinal de alguma coisa errada, mas não tinha nada na superfície. Então o guiou para a parte de dentro da tenda onde era mais quente e ela poderia examina-lo melhor.