POV Audrey Griffin

Sinto grande dificuldade em conseguir abrir os olhos, é como se todas as energias de meu corpo estivessem se esvaindo e só me restasse um singelo sopro de vida. Os primeiros sinais luminosos não me permitem distinguir onde estou ou sob quais condições, mas, aos poucos vou me adaptando a claridade. Percebo que estou deitada em algo que suponho ser madeira, devido a rigidez, e logo em seguido sinto amarrações em meus pulsos e tornozelos, viro minha lentamente minha cabeça e observo meus pulsos, estão em carne viva, certamente essas tiras de couro estão banhadas com verbena.

Tento forçar meu cérebro a lembrar do que havia acontecido e de como eu teria parado aqui. O simples fato de tentar focar meus pensamentos faz minha cabeça doer, mas eu tento continuar o esforço. A primeiro coisa que sinto é um intenso ardor no meu pescoço, vou tentando fazer meu corpo me guiar para o que possa ter ocorrido a mim. Em seguida sinto dores nas costas e é então que me recordo....

- Elijah! – Não consigo evitar que o nome dele saia de meus lábios e involuntariamente tento me levantar, esquecendo do fato de eu estar presa.

Consigo me lembrar de todos os fatos, desde a minha despedida com ele, a qual eu supus ser apenas um até logo, o meu encontro com aquela estranha moça e, enfim, o meu encontro com Niklaus. Eu não sabia o que tinha ocorrido com Elijah, ele poderia estar morto ou simplesmente poderia estar ausente da casa no momento em que eu cheguei e, quem sabe, nem ele mesmo sabia do meu paradeiro. Não posso negar, há em mim uma pequena esperança de que ele possa me buscar desse lugar.

Nesse instante escuto o barulho de uma porta se abrindo e pelos passos sei que há alguém vindo, não demora muito para que eu enxergue a imagem de Hector em minha frente. Ele desliza seu dedo indicador pelo meu rosto e eu apenas tento desviar – Acho que enfim poderemos começar.

- Onde está Elijah? – Pergunto, já começando a transparecer nervosismo em minha voz.

- Como assim minha cara? – ele me lança um sorriso confuso – Você deveria saber mais do que eu, afinal, foi você quem o matou.

- O que? – Não consigo disfarçar a indignação em minha voz – Eu não o matei, ele está vivo, eu sei que está. Você só está tentando me desestabilizar – Falo entre dentes.

- Por que eu faria isso minha cara? Eu não me importo com Elijah – Ele lança um olhar malicioso sob meu corpo – Voce é a principal atração dessa noite.

- O que quer dizer com isso?

- Olha só que falta de educação a minha – Ele ri – Seja bem vinda a fundação Augostine, uma irmandade que tem interesse em estudarmos os vampiros. Mas você minha querida Audrey, é muito mais do que uma mera vampira, vimos a sua magia, mas até onde sabíamos bruxas não poderiam ser vampiras – Ele pega uma estaca de madeira – Se você não começar a ser muito boazinha, eu vou cravar isso aqui no seu coraçãozinho.

Eu solto uma gargalhada e percebo a confusão em seus olhos.

- Ficarei feliz se você conseguir, de fato, me matar. Acredite, tem isso um inferno há séculos. Se você de fato quer algo de mim, vai ter de barganhar melhor do que isso.

Ele me fita em silêncio e com atenção.

— Então, façamos um acordo. Voce vai me responderá tudo o que eu quiser saber e eu, em troca, trarei Niklaus aqui para que ele te conte o que de fato aconteceu a Elijah, apesar de eu achar isso uma idiotice, pois você sabe muito bem que o matou.

- Eu nunca faria isso a ele – por instinto eu tento avançar, mas sou detida pelas ataduras. Meus caninos aparecem e meus dois olhos se metamorfam em vampiros.

- É claro que faria seu demônio – Ele crava a estaca no meu joelho esquerdo, e todo o ar escapa dos meus pulmões. Sinto os ossos do joelho se despedaçando, só consigo gritar de dor e nem percebo quando outra pessoa adentra ao recinto – Natalie, podemos começar.

Uma moça de rosto frio e inexpressivo senta-se ao meu lado, ela está segurando vários pergaminhos e uma pena, junto com um inteiro.

- O que mais chama a atenção em você são esses olhos – ele toca no meu rosto – quando acordou eles eram divergentes, um como os de um vampiro e o outro normal. Por que isso?

- M-Meu corpo... – Estou muito ofegante, a dor da madeira é insuportável – encontrou essa maneira de equilibrar o sangue de vampiro com o de bruxa. São sangues não compatíveis, nunca ficaria totalmente harmônico.

- Fantástico minha cara, mas se você era uma bruxa antes, como conseguiu se tornar uma vampira? – Ele pega uma faca e começa a fazer um corte no meu pulso, estou muito fraca, sei que não vou conseguir cicatrizar isso rapidamente, estou perdendo muito sangue.

- Existe um calendário... – Minha respiração está sendo difícil, sinto que meu corpo logo entrará em colapso – O Calendário Merlineano, ele tirou por um dia meus poderes de bruxa, entrei em contato com sangue de vampiro nesse dia e fui morta por um vampiro – Não quero contar que foi Niklaus que fez isso comigo, se houver alguma chance de Elijah estiver bem, eu não quero trair ele e o expor a Hector Salvatore, prefiro morrer calada. Posso até ser uma aberração, mas sou digna e uma mulher de palavra.

Tudo o que eu falava a mulher misteriosa anotava e os dois se entreolharam no momento em que menciono o calendário.

- Calendário Merlineano? – Ele pergunta intrigado – Como o bruxo Mérlin?

- Isso é impossível - A mulher fala pela primeira vez – Os bruxos de Mérlin foram extintos há mais de 700 anos.

- Eu sou a última sobrevivente – digo – Toda a minha família foi morta naquela noite – Eu já havia entendido como seria realizada essa brincadeira doentia, eu sou um experimento, um mero experimento, eles querem brincar comigo e entender como eu funciono. Estão me torturando, e continuarão a fazer isso para que eu conte tudo sobre mim, sobre Elijah... sobre nós. Eu não me importo em morrer, nunca tive vida depois dessa transformação, na verdade tive sim, depois de conhece-lo. Preciso saber o que aconteceu com ele antes de eu chegar na casa e se a minha única chance de saber será me encontrando com Niklaus, eu não medirei esforços para isso.

- Dizem que feitiços de Merlineanos são inquebráveis – Ele me fita com atenção.

- E são, apenas nós somos capazes de quebra-los. Feitiços de Merlin só podem ser executados por outro bruxo de Merlin, por isso são tão poderosos, éramos um clã pequeno e poucos tinham acesso aos grimórios.

- Imagino que você seja uma dessas poucos – Hector se volta para mim.

- Não perca seu tempo tentando me pedir para mostra-los, vocês não possuem o sangue sagrado, é inútil.

- Mas você o tem, e trabalhará conosco. Audrey, minha querida, você é a chave para tornar a fundação Augostine invencível e eterna.

- Nós temos um acordo – Eu estreito os olhos e falo entredentes – Eu te conto o que quer saber, e me deixa falar com Niklaus.

- E por que você acha que Niklaus irá querer falar com você – Ele ri – Ah minha menina, nós iremos te ensinar muitas coisas, especialmente sobre a importância de não se confiar nos outros.

Ele crava outra estaca de madeira, dessa vez no meu joelho direito.