CONNOR

—Me dê um bom motivo, só um Connor? – Luna me olha tentando entender por que estávamos parados em frente ao sanatório, sem o Wally.

—Não vou sujar a barra do Barry sem antes ter certeza que ele pisou feio na bola.

Não posso acreditar que o Barry, Barry Allen engravidou a mãe do Wally e passou a vida fingindo que nada havia acontecido, sem falar em ter traído a Iris. Não havia possibilidade do cara que conheço e admiro por toda a minha vida ter agido dessa forma, simplesmente não condiz com quem ele é.

—Qual é, Luna? Estamos falando do Barry Allen, ele só não é mais tranquilo que o Billy.

—Billy tem dezesseis anos. –é um ponto interessante. Cruzo meus braços sobre o peito e apenas a observo por um momento. –Tudo bem, eu concordo. Barry merece o benefício da dúvida. –diz com pesar. – Deus, ele não pode ser pai de Wally, Iris arrancaria cada centímetro dele com uma colher. –estremeço de forma involuntária ao imaginar a cena.

Novamente nós usamos Laurel como desculpa para entrar no hospital e não tivemos objeção por parte do guarda que apenas ficou observando minha noiva com um olhar muito interessado. Uma enfermeira nos acompanhou até um jardim ao sul do prédio, era um lugar bonito, onde nada tem a capacidade de chamar atenção. Paredes e piso claros, cheiro de desinfetante por todo o lado e algumas mesas de xadrez. O jardim também era bonito, mas nada especial, o local tinha bancos de madeira, mesas de concretos e muros, todos muito brancos, dando contrates a vegetação que era de um verde forte, parecia até cena de algum filme, talvez encontrasse Leonardo DiCaprio sentado em um dos banquinhos, como no final de A Ilha do Medo.

—Ela está tendo um dia bom. –a enfermeira aponta uma senhora sentada em uma toalha branca em meio ao gramado. –Não são muitos.

—Qual a história dela? –Luna pergunta, a mulher dá de ombros como se nunca tivesse se perguntado sobre o assunto.

—Acho que o de sempre, abuso de drogas, algum trauma muito forte que como sempre acaba destruindo a pessoa, alguns conseguem se recuperar. – indica todo o jardim em um movimento amplo, havia ali cerca de cinquenta pessoas internadas, mais alguns enfermeiros, que supervisionavam todos. –Outros não tem a mesma sorte. Vou deixar conversarem com ela, mas tentem não exaltá-la.

Ester Galler, tinha os cabelos ralos e brancos, com alguns fios ruivos que se destacavam. Sua pele era mais velha do que deveria, e seus dentes eram tão escassos quanto os cabelos, seus olhos eram de um azul leitoso, me perguntava se conseguia enxergar alguma coisa. Ester não deveria ser mais velha que qualquer uma das minhas mães, mas sua aparecia ia além do cansaço de uma idade muito avançada, era como se a demência tivesse encontrado um jeito de ser estampada em sua face.

—Senhora Galler? – Luna diz se sentando em frente a mulher. –Senhora Ester Galler? – tenta um sorriso tímido que normalmente ganharia qualquer um em seu caminho, mas nem mesmo conseguiu um indicio de que Ester havia notado a sua presença. Sento-me ao seu lado, mas Ester mantinha seu olhar perdido, como se seus olhos enxergassem através de nós, era algo aterrorizante, e olha que não tenho medo de muita coisa nessa vida.

—Senhora Galler, gostaríamos de falar sobre Wally. Consegue se lembrar dele? –Luna fala baixinho, tentando conseguir a atenção da mulher. Luna pega o seu celular e mostra a foto do nosso amigo. –Wallace.

Pela primeira vez, Ester demonstra alguma reação, um brilho de lucidez passa por seus olhos leitosos, como se viajasse para um lugar distante. Nós vemos uma lágrima solitária escorrer por sua face, enquanto ela estendia o dedo curvo em direção ao telefone. Ester Galler consegue entender, mas parece preferir ficar presa onde as lembranças não pudessem a tortura-la. No momento em que vejo suas feições mudarem percebo que faze-la se sentir assim parecia errado, quase como enfiar uma flecha na perna de alguém em busca de respostas.

—Ele tem os meus cabelos. -passa os dedos trêmulos pelos cabelos, na tentativa de arruma-los. -Mas todo o resto é do pai, os olhos, eu amava esses olhos, mas não nele. – seus olhos perdem de novo o foco, e vemos seu rosto se encher de tristeza.

—Me desculpe Sra. Galler, mas não acho que Wally se pareça com Paul. –Luna fala, e o rosto da mulher se fecha, se tornando quase sombrio.

—Paul, ele o tirou de mim! –grita olhando para Luna com ódio.

—Wally está bem. –diz tentando acalmá-la.

—Não o garoto. –respira, levando a mão ao peito. –Meu amor, o desgraçado tirou o meu amor de mim, me obrigou a viver uma vida de merda.

Luna e eu nos olhamos por um momento, não havia mais opções. Ela mexe no celular por alguns segundos, e vira com uma foto de Barry na tela, em direção a Ester que perde toda a expressão e apenas observa a foto por alguns segundos antes de um sorriso triste aparecer em seu rosto, seguido de uma lágrima, enquanto ela acariciava a tela do celular com a ponta do dedo deformado.

—Ele não era lindo? –sussurra com a voz áspera.

—Esse é o pai do Wally, Sra. Galler? –pergunto cauteloso, e ela balança a cabeça conformando.

—Paul o tirou de mim, ele me tirou tudo! –começa a se exaltar, mas Luna e eu estávamos perplexos demais para tentar acalmá-la. –Aquele desgraçado. – chorava aos berros, e eu olhava para Luna em desespero que parecia mais perdida que eu. –Espero que ele morra, espero que tenha o mesmo fim que...

Dois enfermeiros, tão grandes quanto eu, corriam em nossa direção, junto com a enfermeira que havia nos guiado. Ambos os enfermeiros a prenderam no chão, enquanto Ester se debatia, já a enfermeira vinha com uma seringa, cheia de um liquido leitoso, que fez meu estomago revirar. Os outros internos, se debatiam e gritavam, era como se a reação de Ester fosse um dominó caindo e levando com ela todos os demais, em um efeito cataclísmico.

—Os tirem daqui. – a enfermeira aponta para um guarda que olhava tudo a uma distância segura, parecendo entediado, como se isso fosse tão rotineiro quanto o jornal das seis. Nos levantamos, sem esperar que o Recruta Zero, tivesse a chance de nos enxotar portão a fora.

—Isso não pode estar certo, não é? – Luna me olha parada já a uma distância considerável do hospital. –Afinal temos Zooey Deschanel e Katy Perry, Emily Blunt e Lizzy Caplan, elas são quase a mesma coisa. Deus gostou do molde e deu um Ctrl+C, Ctrl+V, é possível. Não é? -sentamos no meio fio, olhando literalmente para o nada.

—Não sei, você que tem memória fotográfica, qual a probabilidade?

—Além de gêmeos idênticos? – me responde com outra pergunta.

—Agora precisamos contar ao Wally.

—M.. Mas ainda não faz sentido. –pela primeira vez deixa a ansiedade transparecer.

—Agora que percebeu? – deixo minha cabeça tombar sobre meus braços.

—Barry é o herói do Wally, a pessoa que ele mais ama e admira no mundo, é o pai dele. –Luna começa a se dar conta do que está realmente acontecendo, e vejo seus olhos se encherem de lágrimas. –Se isso for verdade, nós vamos destruir todo o mundo do nosso melhor amigo. Depois de tudo pelo qual tem passado desde o alistamento de Sara no exército, a morte dela e a traição do Hunter. Só não me parece justo, não com ele. –me levanto e estendo minha mão para que ela se levante também.

—Eu sei, meu amor. –a envolvo com meus braços, em uma tentativa de fazer com que se sinta segura. –Nada ultimamente tem sido muito justo, talvez não estejamos vendo as coisas pelo ângulo certo, talvez Ester seja apenas louca...

—Espera. –diz se afastando e pegando o celular. –Pode ser isso, seus pais já conheciam o Wally antes mesmo de tudo acontecer. –começa a falar, fazendo sinal para um taxi. –O que significa que Barry e Iris também o conheciam, eles já eram os pais dele, amavam o moleque.

—Acredita que Iris consentiu com isso? –pergunto sem conseguir imaginar um mundo, onde Iris West deixasse Barry fazer algo desse tipo, ou o incentivasse.

—Você assiste o amor dos seus pais por vocês todos os dias Connor, tem algo que eles não fariam? –é um bom ponto.

BARRY

Por algum milagre, consigo chegar em casa antes das seis, o que deve ser inédito desde que me tornei diretor forense. Don e Dawn estavam na Star Labs, ainda sendo mantidos em proteção. Nós tentamos deixar o lugar o mais parecido possível com a nossa casa, Iris e eu dormíamos lá com eles. Mas hoje eu preciso de um banho decente antes de ir para Star City ver Wally. Chega a ser estranha a necessidade de um pai em proteger seus filhos, mesmo depois deles se tornarem homens, e não precisarem mais de proteção. Não queria que Wally passasse pelas mesmas coisas que passei em minha juventude.

Tomo um banho rápido, ligo para Iris e os garotos, parece que Don tem passado tempo demais com o Cisco para minha própria sanidade. Estava no meio de uma conversa com Dawn quando escuto a campainha tocar, me despeço dos três e vou em direção a porta. Me surpreendo ao ver Luna e Connor do outro lado, ela tinha os olhos e a ponta do nariz vermelhos, Connor parecia apenas desconfortável.

—Aconteceu alguma coisa com Wally? –pergunto me esforçando para não deixá-los ali e correr para Star City.

—Ele está bem. –Connor se apressa em informar.

—Estava muito agitado pela manhã, e como não dorme a dias, eu o sedei. –Luna completa, eles me lembram os pais de Connor quando mais jovens, como parecem ser uma extensão um do outro. –Nós precisamos falar com você. –estudo o rosto deles por um momento, pareciam confusos, quase decepcionados. Abro espaço para que entrem e os conduzo até o sofá.

—O que querem me falar? –Luna respira fundo por um momento, como se tentasse encontrar as palavras. –Crianças, alguém morreu?

—Não tio, estão todos bem. –Connor diz com os olhos vidrados em meu rosto. –Só não é uma coisa fácil de dizer.

—Nós conhecemos a história de como Wally voltou ao passado e salvou Iris, os pais do Connor e o mundo. –balanço a cabeça concordando. –Sabemos que você o ama, e que ele tem sido o seu filho desde que você descobriu quem ele era, talvez até mesmo antes...

—Por isso nós não vamos julgá-lo se tiver feito de... tudo, para garantir a existência dele. –Connor parecia estar a ponto de vomitar, enquanto falava.

—É claro que eu faria de tudo, mas não consigo entender do que vocês estão falando.

—Ai meu Deus, eu não quero fazer isso. –Luna sussurra passando as mãos pelo rosto, vejo sua face vermelha. –Não tem jeito fácil de dizer, e queremos deixar claro que te respeitamos muito. Você é Barry Allen. –diz meu nome como se por si só já fosse um elogio, franzo o rosto sem entender nada. –Fala com ele, Connor. –sussurra entre dentes, e acompanho uma discursão muda entre os dois por cerca de dez segundos, enquanto decidem qual deles vai falar, seja lá o que.

—Nós sabemos o seu segredo. –Connor solta por fim, engolindo em seco, sem saber onde colocar as mãos.

—Segredo? –ergo uma sobrancelha, prendendo o riso com esforço. –Já entendi, Oliver inventou mais algum jogo idiota? Ou foi o Hal? –dou risada abertamente. –Sinto muito garotos, mas não vou cair dessa vez.

—Bear, não é jogo. –escuto a voz de Connor, pela primeira vez desde que ele apareceu em nossas vidas, o vejo realmente inseguro.

—Parece que Isis teve uma visão, mas como ela não pode falar sobre as visões, apenas disse um monte de coisas sem sentido para o Wally. –eles conseguem a minha atenção. –O que o levou a me pedir para pesquisar sobre os pais biológicos dele, e tentar descobrir se nenhum dos dois estava correndo algum tipo de risco.

—Wally foi atrás daqueles monstros? –questiono sério, tentando conter a raiva que a menção a existência deles me provoca.

—Não, não! –Luna se apressa em responder. –Ele não queria ter que ver nenhum dos dois, então me pediu para descobrir por ele. Acontece que Paul nos contou a verdade...

—Que verdade?

—Que o senhor, é o pai biológico de Wally. –Connor diz desconfortável. Fico sem reação olhando para os dois, esperando que Hall salte de trás de uma cortina para que eu possa socar a cara verde dele, mas nada acontece, eles acreditavam mesmo naquilo.

—Vocês estão falando sério? –questiono chocado. –Acham mesmo que sou o pai do Wally? –eles me olham perdidos. -Bom, eu sou o pai dele de fato, mas apesar de querer muito que de alguma forma pudesse ter sido responsável por dar a vida a ele, eu não sou.

—Ele está dizendo a verdade. –Luna fala olhando para a tela do celular.

—Me colocaram em um polígrafo! –exclamo pasmo.

—Desculpa tio, mas não tem ideia do quando essa história é bizarra. –Connor se levanta. –Talvez um CSI em nossa equipe possa nos ajudar a juntar as peças. O que me diz?

—Me digam o que descobriram, vamos ver o que podemos fazer. –me levanto e pego meu casaco. –Podemos trabalhar em meu laboratório, Felicity mexeu nos computadores por lá. –falo para Luna que sorri pela primeira vez, como se o mundo tivesse sido tirado de seus ombros. –Vocês são bons amigos. –falo para os dois em tom de agradecimento.

LUNA

A vida é basicamente uma série de eventos bizarros. Um dia ela pode ser extremamente normal, quase entediante, e no outro aliens são reais e minha chefe é a mulher do Arqueiro Verde, que por sinal é o prefeito da cidade. Em dias como o que estou vivendo hoje, começo a sentir falta de quando minha definição de uma semana agitada era não conseguir pedir comida no sábado à noite e precisar caminhar por três quadras até o meu restaurante preferido.

—Você está bem? –Connor pergunta quando entramos na delegacia.

—Estou ótima, só pensando em como vamos contar isso ao Wally. –Barry nos guia até a sala onde um garoto, com cara de estagiário, jogava campo minado no computador, tão distraído que mesmo se o capitão bumerangue entrasse fazendo confusão, ele não notaria.

—Teller? – o garoto salta da cadeira quando Barry chama. Mordo os lábios para conter o riso ao ver o quando Teller temia sobre o olhar de Barry. Deus, ele borraria as calças se Iris fosse a chefe dele!

—Sr. Allen? Pensei que já tivesse ido. –Teller tenta se recompor, Connor ao meu lado já dava risada abertamente do pobre coitado.

—Teller, pode ir. – Barry diz com um meio sorriso, o que faz com que garoto volte a respirar.

—Tchau, Teller. –Connor diz, e vemos o garoto tropeçar em uma caixa ao tentar se virar para retribuir a saudação. –Cara, você é o melhor. –olho para Connor esperando que ele pare de rir do coitado. –O que?

—Inacreditável. –murmuro para mim mesma, seguindo Barry.

—Por onde começamos? –Connor pergunta quando estamos sozinhos entre microscópios, tubos de ensaio, e todas as outras centenas de coisas que havia dentro do laboratório.

—Pelo que vocês disseram, o pai do Wally...

—Você. –Con o interrompe por reflexo e Barry o olha sério.

—O pai biológico dele. –esclarece, e vejo Connor murmurar algo como “ainda pode ser você”.

—Paul Galler disse que o pai de Wally é o responsável por ele estar preso a tantos anos. –Barry conclui.

—Foi isso o que tornou a parte de você ser o pai biológico dele tão crível. –argumento. –O Flash foi o responsável por prender Paul.

—Não exatamente. –Barry puxa a cadeira do computador para mim, e sorrio murmurando um obrigada. –Foi uma operação enorme, Iris, Ollie, Felicity a ARGUS, todos estavam envolvidos. Lyla foi a primeira de nós a ver Wally.

—Mas você o levou. –Connor argumenta.

—Sim, mas seu pai também estava lá. E não acho que ele esteja falando do Flash, até mesmo por que os Gallers nunca souberam minha identidade, ou nada a respeito da família que adotou o Wally, Laurel cuidou muito bem para que isso nunca acontecesse.

—Bom, eu puxei a lista de crimes dele em minha pesquisa inicial. –começo a juntar as peças do quebra-cabeça deformado em minha mente. Nessas horas gostaria de ter a capacidade do Sherlock Homes, e entrar em meu Palácio Mental, talvez e só talvez, eu poderia entender tudo isso. –Ester acusa Geller de ter tirado você, dela. –aponto para Barry, que faz carreta. –Desculpa, mas ela insiste que é você. Eu sei que Ester tem problemas mentais...

—Você quer dizer que ela é doida de pedra? Paul também não é melhor, acho que o descreveria como psicopata, tinha algo insano e terrivelmente vazio no olhar dele. –Connor interrompe, mas eu prefiro ignorar, já que uma aula de como o termo “doida de pedra” é politicamente incorreto, não nos ajudaria no momento.

—Mas quando viu a sua foto, foi como se toda a sanidade voltasse a ela, mesmo que por pouco tempo. –explico puxando a ficha do sujeito.

—Tio, foi surreal. – Connor concorda.

—Acho que deixei passar algo. –falo enquanto revejo o relatório de Laurel.

—Isso é novidade. –sinto a mão de Connor em meus ombros, enquanto acompanhava a leitura. –O caso do Wally o renderia doze anos de prisão, é muito, mas já estaria livre a muito tempo, esse aqui é o que lhe rendeu perpétua. –aponta para o homicídio.

—Talvez ele tenha matado o tal “amor” de Ester. –penso alto.

—Talvez ele seja muito parecido comigo.

—Julgando pela forma que ela reagiu a sua foto, ele deve ser sua sósia. –Connor diz.

-Paul Geller... – Barry começa a ler sentado em um outro computador. – tem uma ficha criminal bem extensa. Tenho acesso aos arquivos policiais de Keystone... – mas de repente Barry fica mudo, como se não acreditasse no que estava lendo, Connor para ao seu lado, e parece mais perdido que Barry. Pela cara dos dois não me surpreenderia se Paul Geller tivesse mata J.F. Kenedy.

—Malcolm Thawne. Thawne não é o sobrenome do Flash reverso? – Connor olha do monitor para o rosto do Barry, como se fosse uma partida de pingue-pongue, mas Barry estava estático.

Me levanto ficando ao seu lado, fiquei tentada a estalar meus dedos em frente ao seu rosto, para ver se ele reagia. É estranho ver o homem mais rápido do mundo, ou talvez o segundo mais rápido, nessa situação. Demorou um pouco mais que o saldável até ele parecer recuperar a ligação entre o cérebro e o restante do corpo. Barry volta a ler o arquivo, descendo com o texto muito mais devagar do que seria o seu usual apenas para que nós o conseguíssemos ler.

Segundo os altos do inquérito, Paul havia esperado em frente à casa da vítima e disparado sete tiros em sua direção, só que os tiros não atingiram apenas Malcom, um deles feriu o filho mais velho que também morreu no local. Malcolm Thawne faleceu deixando esposa, um filho, e uma filha que ainda não havia nascido.

—Se esse é o pai biológico do Wally, significa que Eddie é parente dele, e tentou matar Iris? – Connor tentava encaixar as peças, mas até eu estava tendo dor de cabeça.

—Parece uma bola de neve.

Barry começa a ir mais rápido entre os arquivos, de maneira que não conseguia mais acompanha-lo, ninguém além de Wally seria capaz de tal feito. Até que por fim ele para em uma imagem, em outro momento qualquer jugaria ser uma foto de alguns anos atrás de Barry, uma onde ele usava um terno qualquer, e brigara com o seu cabelereiro, o cabelo estava na altura dos ombros, não tinha o brilho constante nos olhos que Barry tem. Malcom sobre tudo me parecia um homem cansado, o que de uma forma triste percebo ser exatamente a feição de Wally nesses últimos meses. Ainda assim, Malcolm Francine e Barry Allen são estranhamente parecidos.

—Acha que Waller possa ter te clonado de alguma maneira? –afinal não seria a primeira vez que Amanda tentaria fazer algo assim. –Lutor talvez?

—Só tem uma forma de descobrir. –Barry se levanta, não esperando por companhia e antes que se quer tivesse piscado, ele havia desaparecido.

—O que fazemos agora? –Connor pergunta, batendo os dedos na mesa de metal. –Quer olhar sua ficha criminal?

—Não tenho uma ficha criminal! –exclamo chocada.

—Ótimo, então vamos olhar a minha, ou a do meu pai, acho que ele tem uma das boas. –dá de ombros se sentando onde Barry estava, me limito a sorrir. Mas antes que pudéssemos ver o que os Queens fizeram, Barry passa pela porta parecendo segurar algo.

—Acho que o acordei, apesar de parecer que Sara já estava empenhada em fazer isso. –diz fazendo careta ao colocar o que acredito ser um fio de cabelo do Wally em um tipo de máquina. Depois ele arranca um dele e coloca do outro lado. –Vamos saber em vinte minutos.

—O que vamos fazer até lá? –olho para a tela do computador, na verdade eu deveria ligar para Wally e o colocar a par de tudo. –Deveriamos falar com o Wally. –digo, mas a verdade é que nenhum de nós quer passar por isso.

—Ou, eu posso mostrar a ficha do Ollie para vocês! –Barry sugere e Connor se levanta animado. –Juro, ele já urinou em um policial.

—Sério? –me junto a eles.

SARA

Não pode ser crime tentar transar com o próprio marido, qual é, a mamãe aqui tem necessidades! Necessidades essas que estão sendo negligenciadas a muito, muito tempo. Me sinto como uma adolescente em lugar para fazer sexo. Não posso usar a casa dos meus padrinhos para isso, apesar de ser tentador eu o s respeito demais. A fazenda onde Linda Parker mora também está completa e totalmente fora de questão, nunca usaria a casa dos meus pais, não posso chegar perto do meu apartamento até que o filho de uma vaca do Hunter esteja enjaulado. Connor me ofereceu a chave do loft deles, agora que Phill foi convencionalmente mandado para um estágio em Washington com Mia, para mantê-los longe dos olhos do psicopata. Por que diabo eu não aceitei essa chave?

—Hey baby! –sussurro no ouvido do Wally, que dormia sereno na cama hospitalar da caverna.

—Hum... –ele se mexe meio bruto e tapa os ouvidos. Inferno!

—Wally, o que acha de brincar um pouquinho? –tento mais uma vez, com minha melhor voz de garota levada. Quando sinto um vento forte entrar no quarto, mas antes que possa perceber tudo estava de volta ao normal. –Que porcaria foi essa?

—Não fui eu! –Wally exclama se sentando. –Por que você estava me machucando? –questiona confuso, com aquele rosto lindo, maxilar quadrado, a boca perfeita... Os cabelos bagunçados, aqueles ombros fortes e largos... –Sara!

—Hum...

—Por que está me olhando desse jeito? –o vejo segurar o riso, o que só o deixa ainda mais lindo.

—Eu te amo. –sussurro o fazendo sorrir.

—Eu também te amo. –responde por reflexo, e balanço a cabeça concordando sem dar muita atenção, mais ocupada em colocar minhas mãos por baixo de sua camisa. –O que está fazendo, linda? –olha para os lados, como uma criança com medo de ser pega fazendo arte.

—Nosso casamento, ele não foi exatamente validado. –falo e vejo muitas coisas passarem pelo rosto do Wally. Surpresa, animação, diversão, tudo em menos de um segundo.

—Bom, considerando que você nem mesmo estava lá, acho que seria a primeira a me matar se eu tivesse consumado...

—Esse é um detalhe, não precisa ficar se lembrando dos detalhes. –murmuro observando seus lábios como uma viciada em cocaína, ou qualquer uma dessas drogas pesadas.

—Estamos na caverna, qualquer um pode entrar aqui. –argumenta.

—Sei. –concordo me deitando a seu lado na cama, como uma garota comportada, sem ao menos tocá-lo. –Está certo, apesar de ser competitiva não quero enfrentar nossos padrinhos nesse quesito. –nós dois fazemos careta ao imaginar a cena.

—Vai ser tão traumatizante para nós, quando para eles!

—Verdade.

—Mas... –Wally começa a dizer, se virando para poder me olhar. –Podemos nos beijar, afinal somos casados. –tecnicamente não somos, mas quem se importa com os malditos detalhes!

—Gosto muito dessa ideia. –respondo com um sorriso radiante. –Talvez alguns amaços como na época de colégio! –sugiro o vendo soltar uma risada divertida.

—Qualquer coisa que minha mulher quiser.

Sinto suas mãos enormes em volta do meu rosto quando nossos lábios se tocam. Apenas nos beijamos por um tempo, mas não havia me dado conta até esse momento do quanto senti falta dele, do cheiro, da pegada, da voz. Acaricio seu abdômen com as pontas dos meus dedos, e o vejo estremecer com o toque. Não demora muito e nossos lados competitivos falam mais alto e aquilo se transforma em um jogo de resistência, para ver quem seria o mais forte, ou no meu caso, o mais desesperado.

As mãos do Wally brincavam com meus seios por baixo da blusa, eu tinha as minhas em cima de sua calça. E desejava a morte a cada miserável segundo. Estávamos realmente dando o nosso melhor, nos beijando como se nunca mais fossemos fazer isso, nos acariciando sem pudor algum, só não estávamos de fato transando por medo de alguém chegar. Mas isso já tinha mais do que vinte minutos, e ninguém apareceu!

—Que se dane! –falo, tirando minha blusa e subindo nos quadris de Wally que nem mesmo protesta. Arranco de alguma forma a blusa dele. –Chega de preliminares, vamos apenas fazer.

—Concordo. –responde ofegante, e nos afastamos para nos livrar de nossas roupas, quando escuto o barulho do elevador.

—Não! –choramingo vestindo minha blusa novamente, e vejo Wally tentando cobrir seu colo com o lençol, enquanto vestia a camisa ainda na cama. –Odeio seja lá quem for. –falo rancorosa, e vejo o elevador se abrir e Connor sair de dentro dele. –Odeio você! –ele parece confuso a princípio e aponta para o próprio peito. –É, você mesmo seu Brad Pitt dos anos 90!

—Pensava que Isis era ruim em xingamentos. –diz com deboche, mas perde a pose quando vê as lágrimas escorrendo por meus olhos. –Sara, o que foi? –fala preocupado, mas não consigo responder, apenas me encolho na poltrona ao lado da cama hospitalar, apoio meus braços sobre meus joelhos, tombando minha cabeça e me permito chorar como uma criança de dois anos. –Sou eu?

—De certa forma. –Wally responde, em seguida sinto sua mão em meus cabelos. –Está tudo bem, podemos fazer o quanto você quiser depois que pegarmos o Hunter. –tenta me consolar.

—Eu não quero depois. –digo em meio ao choro. –Quero agora! Sai daqui, Connor!

—Ela quer o que?

—Cara é melhor não...

—Sexo Connor, quero fazer sexo com ele! –aponto para o Wally e vejo Connor entre o desconforto e o divertimento. –Eu morri, tenho que me parecer com outra pessoa na frente dos outros, não posso ter uma vida. E vocês me veem reclamar disso?

—Não? –os dois se olham. -Não! –afirmam me olhando como se eu fosse o Apocalipse.

—Não, vocês não veem, por que eu não reclamo!

—Me desculpe Sarinha, eu sinto muito por ter que ouvir tudo isso. –diz com o semblante enojado, se encolhendo sob meu olhar assassino. –Não estaria aqui se não fosse realmente importante. –Connor se vira para Wally. –Luna e Barry estão lá em baixo e querem falar com você.

—Ela? –Wally de repente parece estar inseguro, Connor não responde, apenas afirma com um aceno.

—O que está acontecendo? –pergunto.

—Tudo bem, eu coloco Sara a par de tudo, pode descer. –Wally respira fundo, se inclina para me dar um beijo nos lábios e entra no elevador.

—Connor? –olho para ele preocupada.

—Bom, não tem jeito fácil de dizer isso. –fala se sentando no chão a minha frente. –Barry é mesmo tio do Wally.

—O que!

WALLY

Estava sentado em uma cadeira, olhando para o tio Barry, enquanto Sara acariciava meus ombros tentando me confortar, Connor e Luna esperavam pacientes para que eu dissesse o que faríamos a seguir. Acontece que não sei o que fazer a seguir, não sei como pegar o Zoom, não sei nem mesmo como lidar com o fato do tio Barry ser realmente meu “tio” Barry. Luna comemorou quando pode completar a pesquisa em seu próprio território, palavras dela, não minhas. Mas ainda assim chegamos em um beco sem saída. Existiam três pessoas que poderiam comprovar a história, Nora, Henry e o Dr. Gilmore que fez o parto de Nora, todos os três mortos. Isso que eu chamo de uma sorte tipicamente minha!

—Talvez os Thawne’s sejam seus pais. –falo olhando para meu pai que está tão perdido quanto eu.

—Não. Na quinta série eu precisei de transfusão de sangue, e meu pai foi o doador. –responde. –E eu já fiz nosso mapeamento de genoma em um trabalho da faculdade.

—Nunca disseram que você poderia ter um irmão? –Connor pergunta.

—Não.

—Mas na outra linha do tempo, quando tia Iris perdeu os gêmeos, ela também nunca falava sobre eles. –argumento. –Não acho que tenha sido por mal, talvez ela não conseguisse falar sobre.

—Se tivéssemos mais alguém que estivesse vivo naquela época... –Luna começa a falar.

—Na verdade, nós temos! –escuto a voz animada de Sara. –Barry, os West’s são amigos da sua família a quanto tempo? –tio Barry sorri se levantando, e antes que possamos falar qualquer coisa ele não está mais a nossa frente.

—Odeio quando vocês fazem isso. –Connor reclama. –Onde ele foi?

—Buscar o Joe! –Sara diz orgulhosa dela mesma, no mesmo momento que meu tio aparece com meu avô murmurando xingamentos para ele.

—Oi vô. –cumprimento, cedendo minha cadeira a ele.

—Eu estou velho demais para esses sustos! –reclama rabugento. –Qualquer dia um de você ainda me ma... –ele para de falar quando seus olhos encontram Sara. –Você!

—É, eu estou viva. –diz abrindo os braços para abraça-lo. –Sinto muito não poder ter contado, Sr. West.

—Ah querida, é muito bom saber disso, muito bom mesmo! –fala emocionado enquanto a abraça, e vejo uma lágrima escorrer pela face de Sara.

—Senti sua falta, Joe.

—Eu também. –meu avô responde quando eles se afastam. –Do que precisam, por que me trouxeram aqui? –olha em volta. –Onde...

—Na caverna do Arqueiro Verde. –Barry diz. –Joe, precisamos de ajuda.

Passamos cerca de vinte minutos recontando a maldita história, desde as informações sem sentido de Isis, até a descoberta que fizemos. Joe fica tão chocado quanto todos nós, eu sinto minha cabeça doer com antecedência ao pensar em quantas vezes ainda terei que recontar isso, incluindo para minha mãe e irmãos.

—Então, o senhor se lembra se minha mãe estava ou não grávida de gêmeos? –Barry pergunta.

Joe nos olha parecendo perdido, ele olha do meu tio para mim, depois de volto para o meu tio, sei não era uma história fácil de assimilar. Mas quando por fim meu avô encontro a ligação entre a boca e o cérebro seus olhos eram muito tristes.

—A gravidez da sua mãe não foi fácil. – Joe volta a cadeira na direção do meu tio, quase como se pedisse desculpas por ter guardado esse segredo. – Vocês foram muito esperados pelos seus pais. – ali estava nossa resposta. – Mas eles sempre quiseram o melhor, em cada momento de escolha. – ele respira cansado. – Não foi exatamente uma surpresa que vocês decidiram sair antes do planejado, nem mesmo que nascessem na pior tempestade que Central City via em anos. Naquela noite Henry havia sido chamado para uma cirurgia às pressas e sua mãe estava sozinha em casa. Lembro de Nora aparecer na nossa porta com duas malas de roupas nos ombros e uma careta de dor. Francine e eu a levamos ao hospital, sai vestindo pijamas e com um o maior medo que já havia sentido na vida, medo que só voltou a se repetir quando Iris nasceu. –sorri nostálgico.

—Mas o que aconteceu? –minha vida tinha se tornado um quase uma novela, juro que conseguia ouvir em minha cabeça a voz do locutor “Cenas dos próximos capítulos”.

—Nora queria um parto normal, e tentou muito para que fosse assim, mas um parto já é complicado, gêmeos seria quase impossível. – Joe parece pensar por um momento. – Na verdade, o médico que fez o parto, não foi o mesmo que acompanhou a sua gestação. Não é fácil lembrar, foi a muito tempo, mas de alguma maneira parecia alterado, não haviam enfermeiras, e tudo parece ter sido muito difícil.

—Dr. Gilmore, depois de cinco anos teve a licença medica caçada. –Luna lê rapidamente um arquivo. – No registro fala de displicência medica, e episódios de alcoolismo. Não tem mais relatos sobre ele depois disso.

—Esse mesmo, levou Nora para o centro cirúrgico, Francine tentou acompanhar o parto, mas o médico a impediu, falou que era um caso complicado, usou alguns termos estranhos e não soubemos mais de vocês por horas. Quando Henry conseguiu sair da cirurgia, Nora já havia dado a luz, só que o seu irmão foi dado como morto. – dá de ombros parecendo cansado. -Foi difícil para os dois lidar com a perda, mas por você Barry, eles lutaram todos os dias, vi o sofrimento que eles passaram, mas a cada sorriso seu, Nora encontrava novas forças, cada pequeno choro, Henry se esforçava para ser um pai melhor. Desculpa, não tenho muito mais. – sorri tristemente.

—Isso foi o que precisávamos. –agradeço sincero, não era muito, mas a essa altura qualquer informação era válida.

—Meu irmão, meus pais chegaram a dar um nome?

—Samuel Norbert Allen. – Joe responde.

—Meu pai era Samuel Allen. – tento entender o que isso significa. – Sou neto de Nora e Henry Allen. – Sara me abraça, me sinto confortável com o pensamento, muito ainda precisava ser explicado, mas dentre todas as coisas, Nora e Henry eram duas grandes conquistas e de alguma forma é como se tivesse encontrado o caminho de volta para minha família, minha família de verdade.

—Mas precisamos saber como Samuel Allen se tornou Malcom Thawne, e eu odeio saber que a única maneira de termos essa resposta hoje é o prisioneiro em uma cela ante gravidade na Star Labs. – Connor leva as mãos à cabeça parecendo tão cansado quanto eu estava me sentido.

—Será que podemos voltar no tempo e só assistir o que aconteceu? – tento e vejo a cara de não que meu vô fazia, será que ele nunca tinha ouvido a expressão “perguntar não ofende?”

—Não precisam exatamente ir atrás do Flash Reverso de imediato. –Luna diz, tentando não nos fazer parecer estupidos. –É só pesquisar o que aconteceu com a mãe de Malcom, parece que o verdadeiro Malcom morreu, só o que não sabemos é o que levou o Dr. Gilmore a trocar os bebês.

—Que verdadeiro Malcom? –escutamos a voz de Felicity que entrava na caverna acompanhada de Ollie, Isis e Damian.

—Ótimo, vamos ter que contar tudo de novo. –murmuro cansado.

—Kid, vamos a Star Labs, contar para sua mãe e os gêmeos. Tenho certeza que Luna e Connor podem colocar os outros a par da história toda. –tio Barry se levanta, tão exausto com tudo aquilo quanto eu. –E de qualquer forma, nós vamos estar perto de quem pode ou não ter mais respostas.

—Não vão me carregar de novo! –Joe recua quando estou prestes a pegá-lo.

—Eu posso teleportar vocês. –Luna oferece, mas eu precisava correr e sei que meu tio também.

—Pode teleportar o Joe. –responde. –Wally e eu o encontramos lá. –nos entre olhamos por um segundo antes de sair em disparada, lado a lado. –Precisamos falar com o Thawne.

—É melhor do que esperar por mais pesquisas. –concordo.

A essa altura já estávamos em Central, entramos na Star Labs e vamos direto para a cela do Reverso. Era uma espécie de pequeno apartamento, todo cercado de vidro, que ficava no subterrâneo do laboratório. Não nos pareceu humano mantê-lo por tantos anos em um cubículo, e Caitlin tem trabalhado em uma forma de tirar a velocidade dele, para que possamos transferi-lo para a ARGUS. Vejo o semblante do meu pai se fechar quando vê o homem louro, de aparência insana dentro da cela.

—Quem diria, o herói precisa de mim! –Eddie diz, e vemos um raio vermelho passar por seus olhos. –E trouxe companhia!

—Nós precisamos conversar.