ISIS

Minha mente estava um turbilhão, tudo parecia girar. Damian permanecia parado em minha frente, mas seu olhar estava distante, como que em conflito com o que saia como uma cachoeira por sua boca. Me escoro na bancada, para me sustentar de pé, enquanto ele continua a falar.

–Isis, eu me preocupei com você todos os dias que não nos falamos, quase enlouqueci te procurando nas pirâmides, nuca parei de procurar informações sobre essa adaga. – Damian respira profundamente e tenta parecer menos maníaco, sem sucesso. – Não estou acostumado a... Me importar com um estranho. Sem ofensas. –acrescenta sob meu olhar ofendido. –Família é uma coisa. Meu pai, Dick, Barbara e as crianças, e juro que se disser a alguém que te disse isso, nego até a morte, mas me preocupo até mesmo com o Jason e o Tim. Só que você é diferente, eu não sei o porquê, só sei que é assim. – da de ombros parecendo exausto. Fico em silencio, não sabia o que dizer, ou se deveria dizer alguma coisa, mas ele continua. – Você mudou muita coisa, agora as pessoas me olham e enxergam algo em mim.

–Por que você é alguém Damian, alguém bom, apesar de insistir em demonstra o contrário. –me indigno com aquilo.

–Prefiro a indiferença ao olhar de decepção. – nunca tinha o visto dessa maneira, ele se importava com o que os outros pensavam sobre ele, e se importava ainda mais com o que eu pensava.

–Você nunca me decepcionou, me enfureceu, quis arrancar seu rim pela boca, mas sei quem é você. –respiro, ótimo agora era a minha vez de ter falar tudo o que vinha me atormentando com relação a ele. Merda! – Eu precisei de você, mas você não estava lá por que não quer que os outros acreditem que é um ser humano? Acreditem em quem você é? Ou no que pode fazer pelos outros?

–Eu não sou bom, não nasci para ser bom, acredite. – sorri sem humor, meche nos cabelos, tudo nele alertava ‘eu sou rebelde, não se aproxime’ seu queixo quadrado, cabelos escuros, meticulosamente arrumados, olhos azuis e pele branca, mas não me importava com o aviso, ele era meu amigo, mesmo contra a própria vontade. Puxo o banco ao seu lado e me sento olhando fixamente para frente.

–Não acredito que tenha nascido para ser mal também. – puxo sua mão e entrelaço nossos dedos, Damian olha para nossas mãos juntas como se fosse algo estranho, então quando estava prestes a soltá-la, ele acaricia a minha com seu polegar. – Nascemos uma página em branco, as pessoas a nossa volta são responsável só por parte do que escrevemos em nós mesmos, o resto é feito por nossa conta. Você decidiu seguir por um caminho, ele é seu, eu odeio te dizer isso Damian, mas nossos caminhos se cruzaram e preciso da sua ajuda para escrever a minha página. – dou um beijo na sua bochecha e deito minha cabeça em seu ombro.

–Odeio isso! –afirma.

–Cala a boca ou vou continuar a te chamar de “Você-sabe-quem”. – fecho a cara irritada, mas não me movo, estava mesmo confortável ali.

–Você vai me ajudar a escrever a minha também. – sinto a vibração do sorriso em sua voz. –Agora me diz, você já tem um plano?

–Plano? – levanto a minha cabeça e o olho sem entender.

–Você viu alguma coisa lá naquela pirâmide, seja qual for o seu plano estou dentro. – era disso que precisava, abro o maior sorriso possível, por que era ótimo ter Damian de novo ao meu lado, sinto uma brisa diferente, como se alguém passasse por nós, mas não consigo prestar atenção. Ele me olha por um tempo parecendo hipnotizado, se não fosse Damian Wayne, diria que estava tentando me distrair.

CONNOR

–Não acredito, estávamos tão próximos! – esbravejo enquanto passava pela porta da casa da Luna me jogando no seu sofá.

–Damian tinha razão. Não sabemos o quanto isso pode ser perigoso para Isis. E você não pode culpá-lo por se preocupar de mais com a sua irmã. – pondera enquanto pega duas garrafas na geladeira, uma de cerveja, e outra de soda, que me entrega.

–Posso culpar o moleque por qualquer coisa, ela é minha irmã, e eu sei o que ele quer com ela. – reclamo enquanto bebo meu primeiro gole. –Não sabia que era fã de bebidas.

–Não sou, mas em dias em que minha sanidade é contestada, ou quando sou teleportada para fora do planeta, ou sou apresentada para um marciano, costumo abrir uma exceção. – ela bate com sua garrafa na minha e dá um grande gole, parecia querer esquecer esse dia, não posso culpá-la. -E o que vamos fazer?

–Sobre o tribunal, Sara, ou sabendo que o Amazo ainda vai nos dar muito mais trabalho? –questiono enquanto finjo observar o teto branco do apartamento da Luna.

– Não quero falar sobre o tribunal ainda, estou com muita raiva para se quer pensar nisso. – mente, sei que 75% do cérebro dela está voltado exatamente para o assunto. Mas os 25% que restavam, era muita coisa.

–Isis nunca vai poder saber que J’onn conseguiu ver as profecias em sua mente, não era o que estávamos procurando de início, mas é um bom começo.

–Sem falar que agora temos uma ideia exata que Sara está correndo perigo.

–Só não sabemos qual é o perigo.- bufo de irritação e consigo ouvir sua risada ao meu lado. – Que bom que um de nós está se divertindo. –a olho de esgueira, levando a garrafa a boca mais uma vez.

–Não é isso. – sorri ainda mais, nesses curtos momentos, tenho vontade de que Luna fosse simplesmente como as outras, e não imune a tudo o que faço. – Sabia que quando você fica irritado nasce uma ruga bem entre os seus olhos? – coloca seu dedo no local. – Fica parecendo o zangado. – fecha a cara me imitando.

–Não sabia que era uma comediante Srta. Delphine. – zombo já me sentindo mais relaxado.

–Tenho os meus momentos. –sorri ao perceber que tinha conseguido o que queria. – Vamos achar uma maneira de salvar Sara, ajudar Isis e impedir o Amazo, acredite. –adorei o fato dela ter se incluído em todos os planos, Luna já era parte do que tínhamos, e nem tinha se dado conta.

Coloco suas mãos entre as minhas, apertando com carinho, tentando lhe passar um pouco da confiança que me faz sentir. – Não vai perder o seu irmão, eu te prometo. – Luna me olha com um brilho novo, passo meu braço por seus ombros e a puxo para mais perto, ficamos assim por um tempo que nem ao menos sei contar, só sei que era bom. Por que a única mulher que me faz sentir dessa forma tem que ser só a minha melhor amiga? Me sinto em um filme B de comedia romântica Teen.

Pego o controle da TV e fico zapeando pelos canais até encontrar alguma coisa para assistir. Deixo em um filme antigo dos anos oitenta e nem percebo quando o sono me atinge. Acordo assustado com meu celular tocando, e ouvindo de longe a música tema de “Pretty Woman”, só então percebo que Luna estava literalmente deitada em cima de mim, e meus braços estavam ao redor de seu corpo, se não fosse o barulho incessante não teria me movido nem mesmo um centímetro, mas olhar para seus lábios cheios e os cabelos espalhados por todos os lados, estava me animando um pouco demais. E isso só por que estava me esforçando para ignorar a pressão que seu corpo fazia sobre o meu. Consigo alcançar meu bolso, e pegar meu celular, mas o de Luna ainda tocava sem parar, precisava sair dali, sem que ela acordasse e nos visse dessa forma, posso nunca mais ser amigo dela, se isso acontecer.

–Droga! –murmuro quando ela se prende ainda mais a mim. –Isso vai acabar em merda. –vejo a foto de Dick no visor, claro que era ele! Grayson tem o pior time da história.

–Connor, fica quieto! –Luna reclama dormindo, me fazendo dar risada. Talvez ela não se importe tanto se acordar dessa forma... A quem quero enganar, ainda é a mesma garota, ela não atenderia minhas ligações por um mês.

Atendo o telefone e sussurro para que Dick espere. Me esquivo do corpo de Luna me sentindo o maior idiota do mundo, por dois motivos. Primeiro, nunca antes dormi com uma mulher vestida, é frustrante. E segundo, nunca achei nenhuma das mulheres com quem dormi, que são realmente muitas mulheres, tão lindas como acho a garota esparramada nesse sofá. E o celular dela ainda tocava sem parar.

–O que quer Grayson? –fecho a porta do banheiro atrás de mim.

‘Está me chamando de Grayson, então significa que voltou à ativa e acabei de interromper algo.’ deduz, e posso ouvir o sorriso de deboche em sua voz.

–Nem tudo se resume a isso. –digo na defensiva, arrumando meu cabelo no espelho. E Dick solta uma gargalhada.

‘Ele está com a garota.’ Diz parecendo não ser para mim.

‘Pode passar os cinquenta!’ escuto a voz da Barbara no fundo.

–Estão entediados? –questiono com ironia.

‘Babs disse que você não vai mais sair pulando de cama em cama depois dessa garota, e eu disse que ela não deveria te subestimar. Estava te defendendo!’

–O que você quer? –pergunto pela segunda vez, agora sem paciência.

‘Temos uma missão, vou reviver meus dias de agente secreto. O que acha de um encontro triplo de casais?’

Abro a porta do banheiro e vejo uma Luna descabelada, em pé no meio da sala com o celular de cabeça para baixo, no ouvido. –Temos uma missão. –diz com um meio sorriso, de quem preferiria doar um rim.

–Acho que temos uma missão. –respondo para Dick, antes de desligar o telefone. –Mas por que você vai nessa missão? –aponto para Luna, que levanta o dedo indicador pedindo um minuto.

–Sim senhora, posso pedir a ele. –silencio enquanto a pessoa do outro lado a dava mais instruções. –Claro, eu passo as instruções. –ela desliga.

–Quem era?

–Sua mãe... Felicity. –esclarece ao perceber que tenho duas.

–Okay, mas por que minha mãe te colocou em uma missão? –nada estava fazendo muito sentido.

–Vamos a uma festa em Metrópoles, na casa de um dos fundadores do CADIMUS, Tomás Tompikins. É um pesquisador genético que conseguiu um bom avanço nas pesquisas para a cura da Síndrome de Tourette. Analisando os genes dos fetos ainda em gestação, seu artigo é um dos mais inspiradores da década! –a essa altura, eu já estava zonzo.

–Luna, é um pouco bizarro quando começa a falar a ficha das pessoas assim de cabeça. –ela me dá uma meio sorriso. –Mas nada do que disse me responde o porquê de você estar nessa missão.

–Ah, claro! –corre até sua bolsa e pega o tablet que estava nela. –A festa está tratando do futuro do mundo, é beneficente, e visa arrecadar fundos para orfanatos. Tompikins convidou todos os herdeiros das grandes empresas, e todos os tipos de fundações que se dedicam a filantropia. Somos os representantes da QC, Wally que deve levar Sara, vai representar a Star Labs, e Richard Grayson a Wayne Tech. –preciso conter o riso quando ela diz o nome dele tão formalmente. –Mas eu preciso chegar a lista dos lugares em que a CADMUS mantem seus laboratórios.

–Luna, não é uma boa ideia, e qualquer um de nós pode chegar a essa lista. –argumento desconfortável.

–O Sr. Wayne foi muito claro ao dizer que não quer nenhum rastro, serão as verdadeiras identidades de vocês lá, nada de fotos, copiar arquivos, ou coisas do tipo. Por isso estou nessa missão, vou memorizar a lista. –solto uma risada nervosa, enquanto olho para o lado e espero que Wally salte de algum canto dizendo que me pegou, mas nada acontece.

–É sério? –ela afirma balançando a cabeça. –E como vai fazer isso Luna, é impossível memorizar tantos endereços assim.

–Connor, eu tenho memória fotográfica. –fala como se fosse obvio. –Como acha que memorizo tantas falas, músicas de filmes e sei a ficha das pessoas de cabeça?

–Prestando atenção? –tento, e ela me olha sem expressão.

–Como você faz isso? –agora parecia confusa.

–Prestando atenção. –respondo entre o choque e a extrema admiração.

–Uau! –ela parece impressionada, e me olha como se eu tivesse crescido uns cinco centímetros. Nunca vou entender essa mulher.

Metrópoles 20:58

Entramos na mansão de Tompikins, que se parecia muito mais com um castelo, empregados nos guiaram até o salão de festas que para minha diversão, estava todo decorado com tema circense. Arrumo meu smoking antes de oferecer um dos meus braços a Luna, que estava linda, em um vestido preto e longo, com uma fenda em sua perna esquerda, seus cabelos estavam presos em um coque elegante, e sei que normalmente ela já é linda, mas hoje estava extrapolando.

–Dick deve estar se sentindo em casa. –Wally comenta parando a nosso lado, com Sara. –Vou poder fazer piada disso pelo resto da noite! –mas pela cara de desânimo dele, não acredito que vá mesmo fazer.

Os dois estavam estranhos, conversaram apenas o básico em todo o caminho, e Kid parecia muito mais interessado, em passar seu tempo conversando com Luna. Que já estava bem intima dele, não que me importe, por que não me importo mesmo... Talvez um pouco, mas meu desconforto é irrelevante, com sei lá que perigo que Sara está correndo, Wally deveria permanecer ao lado dela.

–Vamos fazer o reconhecimento. –Sara diz depois de checar as horas. –Acabo de ver os Grayson. –Aponta para o bar do outro lado do salão, onde Dick e Babs estavam. –Vamos retocar a maquiagem Luna. –diz com um falso sorriso para Wally, que devolve da mesma forma, e dou um beijo no rosto de Luna, antes que elas se afastem na direção contrária.

–Deveríamos ser três casais. –sussurro para ele, enquanto andamos em direção ao bar. –O que aconteceu com vocês?

–Acho que posso contar agora, já que os Diggle’s e seus pais já sabem. –ele sorri sem humor. –Até os meus pais já sabem. –paro tocando seu ombro, o fazendo me olhar nos olhos. –Sara vai servir exército no próximo ano. –ele diz com os ombros caídos, e sinto um aperto instantâneo no meu peito, pode ser isso, não existe lugar mais perigoso do que uma zona de guerra.

–E como todos reagiram? –é só o que consigo perguntar.

–Bom, você pode escolher. –murmura com sarcasmo. –Lyla está orgulhosa da filha querer seguir o caminho de toda família, Diggle quer manda-la para a suíça ou algum colégio interno, ou um manicômio, e só para constar, estou com ele. –Wally olha em volta passando a mão no rosto. –Seu pai tentou a fazer mudar de ideia, sem sucesso. Felicity está pirando, como se já tivesse que planejar o funeral dela desde agora. E meus pais acham que vou surtar.

–E você vai? –semicerro meus olhos.

–Sinceramente Con, não sei mais. –ele nem mesmo parecia o Wally, era como se fosse capaz de correr e se cansar, e naquele momento estava exausto. –Sara é decidida, isso é uma das coisas que mais gosto nela, mas o que uma heroína vai fazer em uma zona de guerra, pensa comigo. Somos treinados para nos sacrificar por estranhos. –ele olha e posso ver o abismo que estava dentro dele.

–Ela sabe se cuidar. –não sei se queria o confortar, ou fazer com que eu mesmo me sinta melhor.

–É o que fico tentando pensar, na esperança de algum momento me convencer. –murmura, olhando para a namorada que estava em um vestido verde, entrando por uma porta seguida por Luna. –Olha Connor, vou me esforçar mais, sei que deve estar preocupado com Luna em campo, e se depender da minha atuação de namorado satisfeito, nada vai dar errado. –promete. Deus, preciso impedir o que for que aconteça com Sara, ou Wally nunca mais seria o mesmo.

–Eu sei que vai. –garanto com um meio sorriso, antes de seguirmos em direção aos Grayson. –Uau Babs! Por que se casou com esse cara? –elogio, vendo a mulher ruiva, de beleza absurda se levantar para nos cumprimentar. Barbara estava linda em um vestido vermelho, justo, e os cabelos soltos.

–Por que esse cara é bom. –Dick responde se levantando também.

–Vocês estão ótimos. –Babs elogia. –Wally até parece um adulto. –vejo as bochechas do meu amigo ficarem tão vermelhas quanto seus cabelos.

–E chega de abraçar minha mulher, Connor. –Dick brinca, quando a solto para apertar sua mão. –Entregue isso a sua nova namorada. –sussurra e sinto um pequeno estojo em minhas mãos, o guardo normalmente no bolso.

–Então, onde está a Luna? –Babs parece animada olhando em volta. –Quero logo conhecer oficialmente essa garota que mudou sua vida, como é mesmo que Sara a chama?

–Milagre do Connor. –Wally responde pedindo ao garçom uma bebida, como se aquilo fosse capaz de causar algum efeito nele.

–Não quero que vocês fiquem a analisando, ou encarando a garota. Luna não se sente confortável com isso. –aviso por já conhecer os modos da Batfamilia.

–Nossa! Aquela é a Luna? A mesma Luna que levou para a caverna no dia do ataque? –Dick parece impressionado ao vê-la atravessar o salão ao lado de Sara. –Agora faz todo sentido do mundo ela não te dar bola. –olho para ele irritado, mas Grayson apenas dá de ombros.

–Se ela não gosta de tanta atenção, deve estar querendo morrer agora. –Babs comenta, e vejo todos os caras do salão secando as duas. Bando de nerds!

–Por isso coloquei uma aliança no seu dedo. –Dick beija o rosto da mulher, me fazendo revirar os olhos. –Já está quase na hora de Wally fazer o mesmo. –Kid bufa irritado antes de virar toda a sua bebida e pedir outra, vejo Sara tirando uma taça de champanhe da bandeja de um garçom e fazer o mesmo.

–Está quase na hora. –Babs comenta, a troca de guardas vai acontecer em sete minutos. –Mas antes, Connor, precisa nos apresentar sua amiga. –Luna estava parada a nossa frente, um pouco constrangida.

–Luna, esses são Dick e Barbara. –aponto para o casal. –Eles já te conhecem. –murmuro para eles entre dentes.

–É muito bom te conhecer! –Babs diz apertando a mão dela, que sorria tímida. –Oficialmente. –acrescenta me olhando com sarcasmo. Quando ela quer, consegue ser pior do que o Grayson no quesito chatice.

–Connor fala muito de vocês. –comenta em voz baixa.

–Não tanto quanto fala de você. Dick Grayson. –Dick se adianta pegando a mão de Luna no mesmo momento que Barbara à solta. –Você é linda! –ele diz lentamente, como se Luna fosse uma obra de arte que ele estava analisando.

–O... Obrigada. –sua voz sai tremula em resposta.

–Ela gaguejou para ele. –Wally sussurra para mim com deboche, e posso escutar a risada de Barbara do meu lado

–Babs, seu marido está flertando com minha... Amiga! –reclamo indignado.

–Ele não está flertando. –defende, mas não parecia se importar nem um pouco, e até o momento, Dick ainda não havia soltado a mão de Luna. –Só a conhecendo, ele não tem culpa de ser tão charmoso, ou lindo. –suspira vendo os dois.

–Isso é algum tipo de fetiche? –questiono enojado, mas só faz com que os dois deem mais gargalhadas.

–Ops! –escuto Sara dizer apontando para Luna, que tinha o celular de Dick nas mãos o que me deixou de queixo caído. –Acho que ele conseguiu o número dela mais rápido do que você. –a verdade é que nem mesmo consegui o número dela, precisei invadir o banco de dados da QC para conseguir, meu deu um baita trabalho.

–O que estão fazendo? –me coloco entre os dois dando uma de Wally, eu sei, também não me orgulho disso.

–Eu a convidei para um jantar em minha casa. –Ele estende a mão para Barbara que se aproxima. –Vamos adorar receber vocês, estava falando com Luna como ela vai adorar te ver bancando a baba do Al, ou sendo maquiado por Chloe.

–Está usando seus filhos para.... –começo a dizer nervoso mas sou interrompido por Sara.

–Está na hora. –aponta para um guarda saindo de um corredor, e Wally passa o braço ao redor da cintura dela, e os dois seguem em direção aos Sr. Tompikins.

O plano não era dos mais complicados, Wally e Sara que passaram o dia tendo aulas com Cait, estariam cheios de dúvidas sobre o artigo de Tompikins, e seriam nossa distração. Dick e Barbara receberiam uma ligação da “baba” e precisariam de um lugar silenciosos para ouvi-la, um dos guardas os levaria para o fim do corredor, em uma das salas, eles dariam a volta por fora do prédio para entrar no escritório do Tompikins, onde Barbara invadiria o computador, e acessaria a lista dos endereços do CADIMUS. Luna e eu entraríamos em um dos quartos da mansão, como um casal que precisa de “privacidade”, onde a entregaria a lente que Dick me deu, e ela poderia ver tudo o que Babs está vendo em tempo real.

–Bom, lá vamos nós. –Barbara diz tirando o celular de sua bolsa de mão e os dois seguem a direção de um dos guardas. Respiro fundo, e puxo Luna para a pista de dança.

–Está pronta? –olho para ela que nega enquanto envolvo minhas mãos em sua cintura. Se não fosse treinado para situações estressantes, estaria tremendo nesse momento.

–Pre... pre... precisamos mesmo ir para um quar... quarto? –sussurra deitando a cabeça em meu ombro, enquanto nos movemos ao ritmo da música.

–Bom saber que ainda te faço gaguejar. –sussurro em seu ouvido, a sentindo estremecer. –Pensei que era só o Grayson agora. –Luna se afasta para olhar para meu rosto.

–Isso é ciúmes, Connor? –pergunta divertida.

–Talvez. –dou de ombros, e vejo de longe Dick e Barbara já sendo guiados para fora do salão por um dos guardas. –Está na hora. –aviso me afastando dela, e a fazendo girar de volta para mim.

Quando Luna para em minha frente, vejo por um segundo seus grandes olhos assustados, antes de me inclinar, e tocar de leve seus lábios com os meus. Pretendia ser doce a princípio, mas tudo muda, quando sinto o toque se sua língua na minha, as mãos dela seguram meu rosto, e as minhas se apertam em sua cintura, eu precisava de mais, e o que era para ser um teatro, passa a mexer de verdade com meus instintos. Separo nossos lábios, e ela amolece um pouco meu meus braços.

–Vem comigo. –sussurro em seu ouvido a puxando pelas mãos.

Nós subimos uma escada no final de um corredor, e no meio do caminho, a empurro em direção a parede, em parte por que precisávamos convencer, parte, por que beijá-la era a melhor coisa que já fiz na vida. Luna me segura pela gravata quando faço menção a me afastar, me puxando de volta para ela. A beijo com mais urgência, e passo minha mão pela lateral de seu corpo, em um lugar muito distante da minha mente, a parte sã que ainda me restava, me fez lembrar que estávamos sem tempo, e me afasto a pegando pela mão, e subimos o restante da escada correndo, finalmente os quartos!

–Ato final, está pronta? –digo quando paramos em frente a um.

Luna concorda com um aceno, antes de se jogar em meus braços e me beijar, suas mãos vão direto para os botões da minha blusa, e eu mesmo afrouxo minha gravata quando sinto minhas costas encostarem na madeira da porta. Eu levo uma das mãos a maçaneta, quando as de Luna de alguma forma já estavam em meu abdômen, ela consegue ser mais rápida do que eu! A porta se abre e envolvo meus braços em volta dela a abraçando apertado enquanto ainda a beijava, aproveitando meu último momento, mas assim que a porta se fecha, a solto delicadamente.

Nos afastamos um do outro, por que se não a eletricidade nos grudaria, e não sei o quanto da minha consciência ainda sobrou, não dava para confiar. Luna olha estática para minha barriga exposta como se estivesse em conflito consigo mesma, posso entende-la perfeitamente, precisei listar centenas de vezes todos os motivos para não jogar o plano para o alto e fazer o uso correto desse quarto.

–Toma, coloca isso. –falo, ainda com minha voz rouca, a entregando a lente. Luna se senta na cama e a coloca, enquanto eu volto a abotoar minha camisa. –Precisa piscar duas vezes sem intervalos para ativar, Babs vai estar acessando... –confiro o relógio em meu pulso. –Em vinte segundos. –pisca como orientei, depois fica muito parada, mas seus olhos se moviam como se estivesse lendo algo.

–Ela acabou de entrar. –narra. –Estou começando a ver a lista. –sussurra, depois passa um longo tempo em silêncio, e só volta a falar, após piscar mais duas vezes seguidas, desativando a lente. –Me sinto em uma sequência de Missão Impossível! –comenta me fazendo rir. Me sento a seu lado, deveríamos esperar o sinal agora para sair do quarto.

–Estamos bem? –pergunto atipicamente envergonhado, e Luna se vira para me olhar.

–Acho que não vamos nos falar por uns dois dias. –brinca segurando o riso. –Mas é... Estamos bem sim.

–Que bom. –olho para seu rosto perfeito, e respiro aliviado.

DAMIAN

Saio da casa dos Queens pensando em tudo que havia acontecido naquela tarde, eu que sai de casa pensando apenas em falar para Isis que achei um dado importante sobre a Katoptris, mas acabei me envolvendo em algo muito maior, de novo.

Quando cheguei era alguma por volta das cinco horas, o Sol ainda estava bem visível, não era o meu horário favorito. Mas eu tinha que conversar com Isis, e não iria esperar. Passar pelo sistema de segurança foi uma das coisas mais fáceis que eu já fiz na vida. Por que com certeza não apertaria a campainha, não era o jeito oficial de um Wayne. A casa estava parcialmente quieta, mas consegui distinguir a voz de Connor e Felicity, talvez alguns múrmuros da de Luna, passo pela porta e confirmo o que meus ouvido já tinham certeza. Subo os degraus, se Isis não estivesse em casa iria esperá-la em seu quarto, não tinha intenção alguma de falar com os membros, ou agregados, da família Queen, só por que não queria.

Mas a cada passo que dou até o quarto dela, uma bola de gelo parece crescer em meu estomago. “Damian, você é um idiota! E se ela se recusar a falar com você?” ótima hora para a minha consciência resolver tomar voz, onde você estava nos meus últimos quinze anos? “Não tinha nada interessante para destacar.” Essa era muito boa, minha consciência tem a mesma ironia do Dick e a acidez de Jason, se fosse alguém para me dar conselhos não seria esses dois, minha voz interna poderia vir com sotaque inglês, seria muito mais convincente e provavelmente até consideraria ouvi-la. “Sou sua consciência, não espere milagres!” Ótimo estou maluco!

Continuo subindo e aos poucos percebo que Isis não está sozinha no quarto. Isso seria mal, não estava interessado em arranjar uma encrenca com o Arqueiro Verde, não depois do nosso último treino, e acho que o velho Wayne ficaria uma fera.

Porém a voz que vinha do quarto não era masculina, parecia ser da Felicity, o que não fazia sentido, já que ela estava lá na cozinha conversando com Connor. Paro de frente para as duas, elas não percebem minha presença de imediato, isso me dá tempo de analisar tudo ali. Isis está claramente irritada, e Felicity não parecia muito à vontade com ... com ela mesma, seus olhos pareciam perder o foco por alguns instantes e quando voltavam ao foco ela demonstrava claramente irritação com alguma coisa, até parecia que estava tentando ver algo por de baixo de uma camada de água turva.

–Você não está lá na cozinha? – Isis diz alguma coisa, mas só parte do meu cérebro capta aquilo. – Eu te vi na cozinha. – eu quando percebo o que realmente estava acontecendo ali quero me socar internamente por não ter percebido antes.

–Vocês perderam a noção da realidade? – Isis olha para mim e volta a olhar para o que parecia a sua mãe.

–Acho melhor deixar vocês conversarem. – a falsa Felicity desce as escadas com a velocidade que só pode ser descrita como sobre-humana, ou marciana também se encaixaria.

–Espere aqui. – eu sei que ela não vai ficar e me inquieta pensar no que pode acontecer. –Pelo amor de tudo que é mais sagrado, apenas obedeça. –tento sem esperanças, desço o mais rápido que posso e encontro duas Felicitys, uma Luna e um Connor espumando pela boca.

–Isso é muito esquisito. – Luna aponta para as duas Felicitys a sua frente, dando a deixa para J’onn voltar a ser ele.

Abro minha boca, com a intensão de falar, mas minha voz não sai, em vez disso sou inundado com imagens de Connor conversando com a Canário Negro e todos ali presentes, uma conversa que parecia ter acontecido hoje mais cedo.

“Precisamos ajudar Isis, ela está passando por muita coisa, e não sabíamos mais o que fazer.” consigo ouvir a voz mental de Felicity, em seus pensamentos ela não consegue ser a mulher forte de sempre, estava perto de desabar vendo a filha tão perto do perigo e se sentindo inútil.

“Estávamos perto, seu idiota!” Connor falava cada palavrão mentalmente que fez Felicity olhar feio para ele e Luna parecer assustada.

“Na verdade não estávamos, o máximo que eu consegui foram sensações, nada de realmente concreto.” J’onn intervém. “Ela não iria se abrir. Parecia que estava se fechando ainda mais. Está irritada, nervosa e com medo.”

“Vocês sabem o que estão fazendo?” perco a paciência. “Isso é perigoso de mais. A Katoptris não gosta que seus donos dividam seus segredos com mais ninguém. Quantas foram as mulheres que perderam a vida por ter revelado suas visões? Vocês não sabem, mas eu sei o número exato, sei por que não paro de pesquisar tudo que encontro sobre essa Adaga do inferno!”

“Acha que é o único?” a voz de Felicity ganha um outro tom, agora está no tom você sabe com quem está falando? “Toda a Liga que tem alguma ligação com magia está trabalhando nisso nesse exato momento. Constantine e Zatana então conversando com todas as ninfas e sátiros que existem nesse plano, Diana está negociando com Afrodite para tentar livra minha filha de toda essa maldição. Eu li pergaminhos que nem mesmo deveriam existir, pergaminhos roubados da própria biblioteca de Hades. Tudo para encontrar uma solução.” Ela para e respira, como se precisasse colocar a mente em ondem. “Nada Damian, foi isso que encontramos, nada de solução, nada que pudesse ao menos aliviar a carga de Isis.”

“Ela consegue. Isis pode lidar com isso.” Foi o que meu cérebro conseguiu raciocinar depois de tudo, Felicity ri, um riso sem vida.

“Ela tem treze anos Damian. Não quero que ela lide com isso, é um peso muito grande para qualquer um. Ela só tem treze anos.’ Repete, mas não era mais para mim, era como se fosse algo que ela tinha na mente a muito tempo, como um grito desesperado aos céus.

“Ela consegue.” Repito feito um retardado.

“Não podemos arriscar.” Até mesmo em nossa mente Luna tem a voz discreta e tímida.

“Digamos que isso seja uma ideia viável.” começo. “Isis não deixaria a mente exposta a esse ponto, ninguém que foi treinado como fomos, deixaria a guarda baixa. Ainda mais com uma pessoa interpretando um de vocês.” Viro para o J’onn. “Sua atuação é digna da Framboesa de Ouro.” Luna tem um pequeno e silencioso ataque de riso. “Seria muito mais viável, se é que essa é a palavra correta, se vocês tentassem baixar a guarda da Isis enquanto J’onn tenta entrar na mente dela aos poucos. Ele se camufla em algum lugar, e pode ver a mente dela, sem precisar interpretar mais.” Não acredito que estava participando disso. “Mas é muito importante que ela nunca saiba que outra pessoa tem consciência do que ela viu. E o mais importante, só você J’onn, pode saber do que se trata a visão.” Sinto a mente de todos recuar.

“Damian está certo, não sabemos o quanto isso tudo pode influenciar, se eu souber o que está acontecendo vou saber guiar Isis pelo caminho certo, ela vai tomar as atitudes dela e eu vou apenas ajudá-la, e usar dos recursos da Liga a favor do que ela precisar.” ninguém parece aceitar a ideia de primeira, mas parecia ser o melhor plano no final.

“Quem vai subir e conversar com ela?” questiono olhando de um para o outro.

“Na verdade, ela já está esperando que um de nós apareça.” Felicity responde ao mesmo tempo que Connor parecia inconformado. “E depois eu e você...” aponta para o Connor. “Já estivemos lá, seria esquisito. E por mais que Isis adore Luna, ela se sente mais segura com Damian. Agora, engole esse orgulho de irmão ciumento.” Connor revira os olhos como se disse-se: ‘eu, com ciúmes desse cara ai?’ Mas ficou quieto. E eu apenas olhava de uma para o outro, pensando que deveria ter ficado em casa.

“Quem você quer enganar?” Essa não era a voz da minha consciência, era a voz da Luna, olhei espantado para ela, que se encolheu encostando em Connor como se precisasse ser protegida.

E agora estou eu aqui sentado na minha cama, pensando em tudo que havia acontecido. Não apenas o fato que o J’onn sabe de tudo que a Isis viu, mas principalmente que a Isis sabe tudo que eu sinto. É difícil ter que admitir, mas isso me dá mais medo do que enfrentar toda a cambada do asilo Arkham em um único folego, e pior que isso, eu conhecia os dela também, e tenho uma séria suspeita que depois de hoje, não existe mais volta.

Como se você quisesse.

Agora você volta? Era oficial eu era louco, estou conversando comigo mesmo, deveria ter ouvido o Tim, ele sempre falou que eu era pirado.

“Fez o certo. Digo, com relação a Isis. Ela já sabia, você já sabia, todos já sabiam. E fez o certo em não ouvir o Tim também.”

Muito conveniente.

Eu ganho, você ganha.”

Louco, me jogo na cama e cubro minha cabeça com o travesseiro. – Louco! –grito tendo o som abafado pela espuma.

“Apaixonado, mas é a mesma coisa.”

–Cala a boca!