ISIS

—Existe uma história a respeito de uma garota que morreu em uma floresta, e uma árvore cresceu ao redor dela. –comento, olhando para as estrelas que brilhavam no céu, enquanto estava deitada na grama do jardim da mansão ao lado do Damian.

—Está inventando.

—Não estou não. Ela tinha dezenove anos e havia acabado de ter o coração partido. –argumento.

—Agora não é só uma mentira, é uma mentira piegas. –Dam faz pouco caso, começando a me irritar. Me deito de lado para encará-lo.

—Acredita que eu tenho uma adaga que me mostra o futuro, mas não é capaz de acreditar que uma pessoa desistiu de viver por amor?

—Eu sei que você tem uma adaga que te permite ver o futuro, é um fato. –corrige, se virando também. –Você ficaria surpresa com o que o simples instinto de sobrevivência pode fazer por uma pessoa perdida em uma floresta.

—Ela não estava perdida, a mulher foi para a floresta para morrer! –ele ergue uma sobrancelha com o ar arrogante de sempre, se eu fosse qualquer outra pessoa nesse momento estaria me chamando de ignorante, ou ingênua, mas corto as cordas vocais dele com a Katoptris, se me disser algo assim, e Damian sabe.

—Isis, essa história é no máximo uma lenda...

‘Sei que é sua última noite em Star City antes da mudança, mas temos um novo Conde Vertigo. Os grandões estão em missão pela Liga, vocês querem vir ou não?’ escutamos a voz de Luna através dos comunicadores.

—Salvo pelo gongo! –digo a Damian que já estava de pé, e me estende a mão para me ajudar a levantar.

—Não vou brigar por uma lenda urbana. –afirma, como se fosse a palavra final, e sinto meu sangue ferver.

—Gláuks, só me leva para a caverna. –toco o comunicador e antes de desaparecer vejo um mínimo sorriso no rosto de Damian.

Luna estava sentada na frente dos computadores, Connor, Sara e Wally estavam atrás dela, todos parecendo estar muito interessados. Damian e eu nos juntamos a eles, e vemos um homem cercado pelo que parecem ser ninjas-do-pântano, bizarros. Havia uma espécie de cipós em suas roupas velhas e gastas, empunhavam bastões e não eram as pessoas mais bonitas que já vi na vida. Mas esse contudo não chega nem perto de ser o problema, enquanto o cara que usava uma capa marrom que encobria todo o seu corpo, e não deixava seu rosto a mostra, que julgo ser o Conde Vertigo da vez, caminhava as pessoas caiam.

—É como rever a décima temporada de Supernatural. –Luna comenta com uma empolgação contida.

—Esse cara me parece uma fusão da Era Venenosa com o Espantalho. –Damian diz.

—Vocês precisarão de máscaras de gás, e talvez tampões sonoros, não consigo ver nenhuma engrenagem que possa emitir som com esse disfarce bizarro de Comensal da Morte. –Luna tenta aproximar ao máximo a imagem, e ainda assim o disfarce era muito eficiente.

—Pode ser um Meta-humano. –Wally pondera.

—Ainda assim, como essa versão natureba da Liga dos Assassinos parece estar imune aos efeitos dele? –pergunto confusa.

—Talvez ele controle os poderes que possui, e deixa os aliados fora da linha e fogo. –Sara argumenta como a linha de raciocínio de um soldado.

—Vamos ter que arriscar. Vocês dois, vão se vestir. –Connor aponta para Damian e eu.

Cinco minutos depois somos teleportados para o centro de Star City. Isso parece final de maio, haviam pessoas caídas por todos os lados, como se estivessem em um grande acampamento religioso (não vou revelar como posso fazer essa comparação). O Flash limpava as ruas aos poucos, deixando as vítimas nos hospitais.

—Alguma ideia? –pergunto a Sara que me dava cobertura enquanto tentávamos descobrir algo relevante.

—Estão todos drogados, nós já vimos esses Condes Vertigos fazendo de tudo, mas esse não pediu dinheiro, não entrou em contato com a mídia. É tudo muito novo.

—Artêmis, você acredita na história da mulher que morreu e virou uma árvore?

‘Como a avó da Pocahontas?’ me surpreendo com a voz de Luna. ‘Desculpe, o canal está aberto.’

—Não é como a avó da... Quem? –sussurro a última parte para Sara que dá de ombros sem alarde. –É a garota de dezenove anos, que teve o coração partido e...

‘Ah, a lenda urbana! Connor me contou essa história.’ Parece existir alguma piada interna na forma divertida em que ela comenta.

—Isso é um mito, Isis. –Sara diz sem rodeios. –Para falar a verdade, eu acho que a Felicity inventou essa história.

—Ela não inventou! –defendo feito uma criança.

‘Só você e Connor acreditam que alguém vagaria para uma floresta para morrer.’

—O instinto de sobrevivência nunca permitiria isso.

‘Pessoas desenvolvem habilidades inacreditáveis em um ambiente hostil.’

—Seu pai é a prova viva. –Sara completa. –Por que?

—Nada. –suspiro desapontada, sentindo o peso do anel em minha mão esquerda.

—Não tem mais ninguém em quatro quadras. - Wally para ao nosso lado. -E é uma história triste a da Menina Árvore. -ele passa o braço sobre o meus ombros, e vejo Sara segurar o riso. Wally tampa meus ouvidos em um esforço inútil. -Serio, você também vai dizer ao nossos filhos que o Papai Noel não existe? Ou Coelhinho da Páscoa?

—Não, o Noel, podemos fazer seu pai descer pela chaminé, o difícil vai ser ele andar com todo aquele enchimento, e o Coelhinho, Mutano pode resolver. Estou mais preocupada com a Fada dos Dentes, Shayera não vai querer colaborar. -Sara pondera preocupada.

—Tá eu já entendi o ponto. - me emburro me libertando dos braços do Wally, precisava do meu irmão, só ele me entenderia.

‘Gente, eles estão se aproximando.’ Luna chama a nossa atenção, mas não era necessário, sentia meu corpo todo pesado, como se fosse chamar o Raul a qualquer momento, e minha cabeça, não existe palavra para explicar o que estava sentindo.

—Alguém trouxe uma aspirina? - Wally cai de joelhos aos meus pés, de todas as maneira que imaginei na pré-adolescência até superar a minha queda por Wally, em nenhuma das possibilidades, ele estaria de joelhos, com a cara verde e deixando o jantar na sarjeta, a realidade sempre é tão animadora.

WALLY

Aquilo era nojento. De todos os meios que pensei que fosse morrer, nunca passou pela cabeça que uma poça de vomito estaria envolvida. Todos estávamos ruins, Sara mal se aguentava em pé, mas não se compara ao meu estado. Seja lá o que o Conde usava me afeta mais que todos os outros.

—Eu odeio, todas as variações desses Vertigos. -me levanto com dificuldade e irritado, pego Isis por ser a mais próxima, e a coloco a duas quadras de distância, voltando em seguida para resgatar Sara, que já estava no chão.

—Aquilo… Vertigo nunca teve um poder assim. -Sara sai do meu colo, se apoiando com dificuldade em uma parede. –Arqueiro Verde e Robin? -diz engolindo o estomago de volta para o seu local de direito.

Eles estavam caídos desacordados a dez metros de onde caímos, não aguentaria por mais tempo, e não tem como lutar vendo tudo dobrado. ‘Ele não vai conseguir pegar os dois.’ Escuto a voz de Isis em minha mente, enquanto começo a ficar mais lento.

‘Não tenho uma imagem adequada da câmera de transito que haquiei, mas parece uma frequência sonora.’ Luna começa a ponderar.

Pego Damian e o coloco onde as garotas estavam. Paro com minhas mãos sobre os joelhos, tentando recuperar o fôlego e resgatar Connor antes que alguém alcançasse o Con.

—Máscara de gás e tampões não funcionam. –Damian fala assim que recobra a consciência, e vejo Isis o ajudando a se levantar.

—Nós percebemos. –Sara e eu falamos em uníssono.

‘Flash, é melhor correr. O Arqueiro está exposto.’ A voz de Luna já estava alarmada. Corro e pego Connor, mas não estou em minha melhor forma e ele não é o cara mais leve que conheço, quando chegamos ao beco escuro onde os outros estavam o jogo de qualquer jeito no chão, sentido todos os meus músculos tensionados. Imediatamente ele começou a se revirar e Sara o ajuda a se sentar direito.

—Não estou mais enjoada. –comenta. –Arqueiro e Robin recobraram a consciência quase que imediatamente.

—Nós ficamos mais tempo expostos, encontramos cinco ninjas do esgoto na outra rua. –Connor começa a contar. –Um deles ligou uma espécie de dispositivo, e foi quando começamos a sentir que nossas cabeças explodiriam.

‘Definitivamente é uma frequência sonora.’ Luna conclui. ‘Flash, poderia me ajudar aqui?’ em seguida estou na frente dela na caverna. –Isso foi rápido, até mesmo para você.

—Sabe o que dizem. –dou de ombros e Luna me encara esperando que eu diga o que “dizem”. –Eu sou o cara mais rápido do mundo!

—Okay. –mantem a expressão imparcial para não me ofender, enquanto caminha em direção a uma mesa com vários comunicadores sobre ela. –Cisco projetou isso para anular o Flautista, e não sou engenheira mecânica, não tem muito o que possa fazer, mas calculei a frequência sonora, talvez você possa configurá-los para anular o Vertigo.

—É uma boa ideia.

—Eu sei, sabe o que dizem. –debocha, e resolvo ignorar como vingança.

—Você falou para Isis que não acredita na história da Garota Árvore? –pergunto enquanto desmonto o comunicador.

—Bom, nada nessa história é preciso. Quer dizer, uma garota namora um filho de um militar em um verão no México, eles se apaixonam, mas ele volta para o EUA. Então ela se aventura como uma imigrante ilegal e bate na porta da família dele, sem dinheiro nem nada? Como ela conseguiu chegar lá em primeiro lugar?

—Se esqueceu do amor Lu, pessoas fazem loucuras por amor. –Luna revira os olhos, acertando através do tablet a transmissão do programa para os comunicadores.

—Felicity inventou essa história, e tem tantos furos que tenho certeza que estava balbuciando para evitar responder algo para o Connor, mas ele acabou gostando e a história continuou sendo contada ao longo dos anos. –sorrio, por ser exatamente o que penso.

—Não tem como um corpo se decompor e uma árvore crescer a tempo do homem ter uma filha pequena, sair para acampar com a garota e falar sobre o primeiro amor dele. –comento passando para o segundo comunicador. –Homens não falam dessas coisas!

— Mesmo recebendo os nutrientes do cadáver, demorariam no mínimo dez anos para a árvore crescer, e pela forma que Felicity a descreve, ela deveria ter no mínimo uns cem anos. –Luna diz enérgica, ela se anima com qualquer coisa que a permite ser a CDF que é.

—Entendo o porquê de Felicity ter feito com que eles acreditassem nessa história. Eles cresceram no meio de toda essa loucura, é natural tentar fazer com que acreditem em amor verdadeiro e essas cafonices.

—Isso está muito mais para uma versão muito ruim de Romeu e Julieta. Acho que estamos prontos. –coloco um dos comunicadores no ouvido, e volto para o centro de Star City.

—Vocês sabem que o comunicador estava aberto? –Isis me encara mal humorada enquanto coloca o seu comunicador, de alguma maneira ela parecia muito petulante. –E só para registro, amor verdadeiro e predestinação existem, acredite. – e falou com tal convicção que me fez acreditar que de alguma maneira louca ela realmente tinha visto a tal “predestinação”.

—Se você diz. – Sara já está em posição de combate. – Precisamos destruir os dispositivos.

‘Tomem cuidado, a proximidade pode fazer vocês se sentirem um pouco desconfortáveis.’

—Baby, em uma escala de um a dez, quão desconfortável? –Connor pergunta.

‘Sete e meio?’ responde com a voz típica de quem se desculpas.

—Poderia ser pior. – Damian admite esperançoso, o que era esquisito.

‘Provavelmente há mais de um dispositivo.’

—Esquece o que disse.

—Quantos Gláuks? –Sara olha para todos os lados fora do beco.

‘Provavelmente quatro.’

—Wally você vai atrás dos dispositivos, nós vamos distrair os monstros do pântano. –Damian da às coordenadas.

Começo a procurar no local onde Connor havia visto o dispositivo. Seria fácil de localizar, era do tamanho de uma lixeira, tateio por um tempo longo demais para o meu gosto tentando desativar essa gerigonça. Quando meu estomago começa a revirar novamente, e minha cabeça tem a confortável sensação de ter sido jogada dentro de um liquidificador.

—Delicia. –reclamo, colocando minhas mãos nos joelhos, ouço barulho ao longe de explosões, mas minha cabeça estava piorando a cada momento. –Que se dane. – vibro minha mão até atravessar o equipamento puxando de qualquer maneira o que tivesse lá dentro, fazendo o dispositivo explodir. – Menos um, só faltam três.

CONNOR

Aquilo era como lutar em Barco Viking de um parque de diversão. Tudo parecia estar pronto para virar de ponta cabeça, mas ao menos estávamos conseguindo nos manter na luta, ou quase, por que estávamos apanhando feio. Eu mais errava as minhas flechas do que acertava, até que uma explosão perto de onde Damian e eu havíamos caído, fez a sensação amenizar. Não sou de exatas, mas diria que melhorou cerca de 25%, o que é mais do que suficiente para extinguir minha margem de erro.

—Faltam só três. –sorrio para um dos Espantalhos a minha frente antes de quebrar pelo menos três dos seus dentes. –Ouvi falar que a prisão tem dentistas.

Todos a minha volta já haviam melhorado, e após mais uma explosão tudo parecia estava mais fácil. Ainda existia o enjoou e a dor de cabeça, e todo o mal estar, mas isso já está se tornando uma consequência normal, já os monstros do pântano estavam perdendo de lavada. Damian e Isis pareciam estar competindo para ver quem deixaria o maior número de ossos quebrados pelo caminho, e estava um disputa acirrada. Já Sara lutava com o próprio Conde Vertigo, okay, não o próprio, já que o primeiro tinha recebido uma flecha no peito do meu velho, mas dá para entender o espirito.

—Terceira explosão. – Sara sorri quando Wally destruía o terceiro dispositivo. – Acabou Vertigo. Se você se entregar, eu prometo não quebrar sua mandíbula.

—Agora só resta você e o ultimo dispositivo. –aponto para o Conde me aproximando, e vejo Isis e Damian fazendo o mesmo, depois de finalizarem os últimos dois capangas, no momento exato da ultima explosão ocorrer e o Flash parar ao meu lado.

—Reformulando, só sobrou você. – Nightmare sorri como um anjo, o que deve fazer os idiotas que lutam contra ela sentir um medo do inferno.

—Vocês acham que eu estou acabado? – o Conde começa a falar a típica frase de vilão acuado.

Vertigo aperta algum comando em seu braço que desperta novamente a sensação maldita, em uma escala ainda maior, só continuávamos de pé por causa dos comunicadores bloqueando parte das ondas sonoras. Wally e Isis estavam caídos, Damian usava um dos seus bastões como apoio, Sara assim como eu apoiava seu peso no arco, tentando de forma sobre humana lutar contra. Mas antes que conseguíssemos entender uma explosão e Conde Vertigo desaba no chão.

—O que foi isso? – Damian pergunta enquanto levanta Isis e Wally.

‘Ele sobrecarregou o próprio sistema. Os dispositivos espalhados eram réplicas da frequência dele, como altos falantes em uma escola. Dessa forma não precisava forçar o principal, quando os outros foram desativados a defesa desse caiu, então consegui carregar um vírus depois de acessar a frequência sem nada para me bloquear, então BUM!’ Luna explica.

—Isso faz sentido. – Wally estava tão amarelo quando o uniforme do B1. –Tanto sentido quanto o milk-shake que meu cérebro se transformou consegue processar.

—Não fala de comida agora. –Sara reclama se inclinando sobre uma lixeira perto dela.

‘Mais uma vez o dia foi salvo...’

—Baby, não completa essa frase, nossa vida sexual não precisa passar por essa prova. – reclamo e me sentindo tão amarelo quanto Wally.

LUNA

—Tem um segundo? –escuto a voz de Damian, quando estava encerrando os computadores da caverna e acionando o sistema de segurança, enquanto os outros se trocavam. Mas ele já estava com suas roupas civis em minha frente, parecendo uma versão jovem do pai em seu sobre tudo preto.

—Claro. –aponto para a cadeira de Felicity ao meu lado e ele se senta. –Qual o problema.

—Isis está esquisita, em geral eu a conheço, consigo ler suas expressões...

—A história da garota que virou árvore? –encurto o assunto e o vejo fazer careta.

—Nada faz sentido naquilo. –parece estar se esforçando para não ofender ninguém com sua opinião verdadeira. -Connor me disse que é uma história que a mãe deles os contava quando eram pequenos. Eu não sabia disso.

—Ela não está brava com você. –tento encontrar uma forma de explicar, Wayne é um excelente ouvinte, seus olhos azuis estavam cravados em meu rosto como um policial em um interrogatório, essa é com certeza a conversa mais desconfortável que já tive na vida. –Bom, é com você, mas não é esse o ponto. Isis não gosta de mudanças, ela se sente frustrada e quebra coisas, ou reforma o próprio quarto.

—Acha que é por causa da faculdade? –balanço a cabeça concordando.

—Você deu um anel para ela Damian, não sei o que isso significa de verdade. –tento não fazer careta, estremeço só de imaginar qual seria a minha reação se Phill fizesse algo parecido. –E agora ela vai sair de casa, da cidade que ela ama, e nada nunca mais será igual.

—Preciso arrumar alguma forma de acreditar nessa maldita história. –pondera coçando a cabeça.

—Bom acho que posso ajudar. –ajeito minha postura olhando para a porta para não sermos pegos de surpresa por nenhum dos Queens. –A garota pode ter engravidado, e os pais muito religiosos a expulsaram de casa. Por isso ela veio para nosso país ilegalmente.

—Faz mais sentido. –concorda.

—A história dos pais dele não precisa mudar, sabemos que pessoas são cruéis as vezes. Ela pode ter entrado em uma depressão profunda e sempre ter tido instintos suicidas, então se matou encostada em uma árvore, da qual seu corpo serviu como fertilizante. O que a faria crescer mais rápido. Só que a última parte de quando o garoto vai acampar com a filha e conta a história do primeiro amor dele, depois os dois veem o espirito da garota morta que se despede do amado... Bom, não tem como isso fazer sentido. –sussurro para ele que sorri de lado.

—Obrigado. –ele diz se levantando.

—Damian. –chamo quando ele estava perto do elevador, fazendo com que se virasse para me olhar. –Talvez não precise acreditar nessa história, talvez possa contar uma nova a ela. Isis só precisa de algo para se agarrar por essa noite, um fiozinho de esperança. –algo parece se acender em seu rosto, e Damian acena discreto antes das portas se fecharem. –Acho que o casamento fez de mim uma pessoa mais sábia! –exclamo para meus computadores que desligavam.

—Com certeza. –escuto a voz de Connor que sai de traz de uma pilastra do lado oposto do vestiário.

—Está ai a quanto tempo?

—Antes do Damian chegar, gosto de pensar um pouco, depois de um dia difícil. E como eu não tenho uma montanha, aproveito a melhor vista dessa caverna. –sorrio lisonjeada.

—Me desculpe por não acreditar na sua história. –ele alarga o sorriso e posso ver seus dentes alinhados.

—Nunca acreditei, mas Felicity fica feliz ao conta-la e Isis acredita de verdade. –dá de ombros se abaixando em frente à minha cadeira. –Mas eu agradeço por seu esforço. –beija de leve meus lábios. –Pronta para levar Philippe para a faculdade amanhã? –se ergue e me puxa junto, pego minha bolsa e o casaco que Connor me ajuda a vestir.

—Nem um pouco, vou morrer de saudades. –desabafo com meu coração apertado.

—Olha, eu não sei se ajuda, mas Bruce nos deu as coordenadas para uma ilha particular dele, caso estejamos interessados em uma lua de mel. –paramos em frente ao elevador.

—É sério? –ele confirma balançando a cabeça.

—Mas se quiser bancar a Annie Wilkes, eu te arrumo um martelo! –debocha, e dou um soco em seu braço como resposta.

—Não é engraçado! –reclamo quando entramos no elevador, e Connor se vira para me olhar com o rosto sério.

—Ele não está te deixando Lu, vamos vê-lo sempre.

—Eu sei. –sussurro sentindo suas mãos acariciarem meus ombros.

—E tem o mais importante.

—O que é o mais importante?

—Dessa vez, você não vai ficar sozinha. É uma promessa. –Connor acaricia meu rosto com carinho, e tocamos nossos lábios como se estivéssemos selando um contrato.

DAMIAN

Já faz algum tempo que eu estou empoleirado na sacada de Isis. A observo correr de um lado para o outro arrumando coisas já arrumadas de suas malas de maneiras diferentes. Sei que pareço um perseguidor, mas em minha defesa ela é a única coisa que me acalma. Mesmo em dias como estes, quando não está nem mesmo próxima de demonstrar serenidade.

—Sabe que se entrar pela porta ninguém vai te barrar, por que insiste na janela? – Isis corta meus pensamentos, abrindo a porta da sacada para que eu entre.

— Na verdade eu queria te chamar para ir a um lugar...

—As quatro? – me interrompe cética com um sorriso nos lábios.

—Pensa pelo lado positivo, não vai ter que levantar as seis pela manhã, já que já vai estar acordada. – tento.

—Lembra quando eu disse para deixar as piadas para o Dick? – aceno positivamente, lembrando todas as vezes que já havia ouvido esse mesmo comentário. – Talvez você ainda tenha salvação Sr. Wayne.

—Obrigada Srta. Queen. –me inclino fingindo uma reverencia.

—Menos Damian. – ela sorri, pegando uma jaqueta e me seguindo até sacada. – Não podemos usar a escada mesmo? – nego com a cabeça e me jogo caindo no gramado da mansão, Isis para graciosamente ao meu lado. – Onde vamos?

Ativo meu comunicador que nos leva até a biblioteca da mansão Wayne, não é um dos locais mais românticos no mundo, talvez até um pouco mórbido, mas esse era o local que precisava contar essa história.

—Você quer me dá a bibliografia de Freud? -sorri. –Acho que minha mãe já colocou todos os livros dele no meu tablete, na linguagem original, alemã de 1917, uma leitura muito leve para passar o tempo.

—Na verdade, te trouxe aqui para pedir desculpas. O que não me verá fazer com frequência ao logo da vida, então aprecie o momento.

—Exatamente por que está se desculpando? –estreita os olhos me estudando. -Se é que foi um pedido de desculpas isso aí que você acabou de fazer. –levanta sua sobrancelha esquerda, em sua expressão mais sincera de choque.

—Sente-se. – indico uma poltrona ao meu lado, e ela obedece, mas sem deixar de me encarar. –Por hoje, por não ter acreditado na sua história. Me desculpe, por mais que me ajuste e tente encaixar todos os detalhes, mas não dá. – era a mais pura verdade, não conseguia se quer imaginar algo assim funcionando na vida real, e olha que lido com magos, vez ou outra fantasmas e até vampiros. – Então pedi ajuda a Luna...

—Você pediu ajuda? Serio? Está começando a ficar mais estranho a cada momento. – me interrompe agora com as duas sobrancelhas erguidas.

—Hilária. –deixo o sarcasmo escorrer. – Vai me deixar contar ou não? – ela acena positivamente. –Bom, ela na verdade conseguiu deixar tudo mais crível, ainda assim existem partes... –faço careta para controlar minha língua. -A questão é que eu não acredito, mas você sim, e sei que é importante.

—Damian, já entendi. Não precisa acreditar, eu acredito é suficiente. Cresci com essa historia na cabeça, e se tivesse visto o que eu vi, talvez também acreditasse.

— Tudo bem, mas tenho uma outra história para contar, algo que me por muito tempo eu achei que seria só mesmo uma história que nunca contaria a ninguém. Até você aparecer. – começo e olho para o quadro a minha frente, onde um eu mais jovem e bem mais arrogante estava ao lado de meu pai, Dick e Tim, e ao fundo Alfred com cara de quem queria estar em todos os lugares da Terra menos sendo eternizado em uma pintura. Era triste lembrar, mas uma tristeza boa, se é que existe tal coisa. – Sabe, esse era o local favorito do Alfred em toda a mansão, claro que nunca o deixávamos quieto muito tempo aqui, sempre um de nós surgia na caverna com um osso quebrado, ou um ferimento para ser costurado, na melhor hipótese.

—Ele era muito importante para você. – sorri me afagando a mão.

—Sim, para todos nós. – sorrio de volta, brincando com sua aliança negra. – Essa história tem a ver com ele, e de como suas esperanças em nós mudou cada membro da minha família. De certo modo parece mais surreal que a sua história falsa.

—Que tal parar de julgar a minha historia e contar a sua?

—Parece justo para mim. –concordo, mas a verdade era que não sabia como começar. –Alfred sempre teve muita fé em nós, até mesmo no Jason, e a sua maior esperança era que encontrássemos um momento de paz, e para ele essa paz seria alguém que nos ajudasse a passar por todo o nosso caminho. Então em algum momento, não sei dizer quando, ele mandou fazer um objeto que nos lembrasse dessa esperança. A persistência dele em ter fé em um bando de garotos problemáticos. – tiro a aliança de seu dedo, e coloco na palma da sua mão. – Mandou fazer essas alianças negras, para cada um de nós, com uma exceção. Alfred acreditava que a cor delas representava nossas almas, o que aos olhos dele não era algo ruim. A escuridão em meu pai foi o que trouxe justiça a Gotham, e esperança para as famílias dessa cidade. E cada um de seus filhos herdou uma pare de seu lado sombrio. – começo a divagar. –Mas o importante era que para Alfred cada uma dessas alianças significava um pedaço de nós, e que um dia entregaríamos a pessoa certa que nós desse essa paz e a mesma esperança que proporcionamos a cidade. – volto a colocar a aliança em seu dedo. – Eu não acreditava que a passaria para alguém, e por anos ficou jogada em uma gaveta qualquer no meu quarto. Mas então você apareceu, e fez o que acreditava ser impossível. Fez valer a fé do Alfred, você me mudou Isis, e mesmo que não dure para sempre, foi você quem me fez conhecer o significado de estar em paz. Eu te amo por isso. –sorrio com uma timidez estranha, por que é mais difícil falar sobre sentimentos do que enfrentar toda uma leva de capangas do Darkside. –Está vendo, mais difícil de acreditar do que a árvore mágica da sua história. –Isis me afaga o rosto e beija meus lábios.

—Obrigada. – diz simplesmente.

—Não agradeça, você pegou o pior dos quatro. –brinco e a vejo negar sorrindo.

—Alfred fez uma para cada um de vocês, com uma exceção? – concordo.

—Alfred era esperto, ele sempre soube que Barbara carregaria a aliança de Dick, mesmo que seja em um colar em seu pescoço. -Isis sai da sua poltrona e senta em meu colo envolvendo meu pescoço com os braços.

—Sabe, você não vai poder ficar entrando pela janela no meu apartamento no campus. Sem falar no susto que vai causar em Mia se ela der de cara com você empoleirado em algum canto. – sorri brincando com o meu cabelo.

— Alguma outra ideia?

—Poderia usar a chave e passar pela porta. – Isis tira uma chave pequena do bolso da jaqueta. – Não é uma aliança cheia de significado, mas você pode usa-la sempre que quiser.

—Obrigado. –sorrio com gratidão, não pelas chaves, mas por ela ser exatamente quem preciso na minha vida.