QUATRO ANOS DEPOIS

WALLY

Existe algo sobre correr na Speed Force que não tem como ser descrito. A forma como o vento bate em meu rosto, a vibração, como a Força da Velocidade entra em minhas veias, e a sinto mover cada uma de minhas moléculas. Tio Barry costuma dizer que a Força da Aceleração é como uma mulher em um jogo de sedução, e se não mantermos nosso foco, e tivermos nossa âncora, ela pode nos levar com ela, e nos perdemos para sempre, dentro de suas fendas. A âncora dele é minha tia Iris, com minha chegada, ele se firmou ainda mais, e depois vieram os gêmeos, hoje ele não corre mais perigo de cair no Canto da Sereia. Mas o problema é que sua voz é linda, e a cada dia, me sinto mais tentado a não voltar.

‘Flash, tem certeza que não precisa de reforços?’ escuto a voz de Cisco através do comunicador.

Ele veio passar alguns dias em Keystone City, para me ajudar com a mudança e adaptação, e principalmente, terminar de montar minha base. Agora, essa é minha cidade, e com minha chegada, ela ganha um Flash só dela, de brinde. Por mais que esse tenha sido o plano desde o início, eu não pensei realmente que me sentiria bem ao terminar a faculdade e sair da casa dos meus tios, mas fazem três dias desde que finalmente fiz isso, e depois de dois anos, foi a primeira vez que me lembro de como é me sentir livre. Acho que deve ter sido dessa mesma forma que Dick se sentiu ao deixar de ser o Robin e se mudar para Chicago.

‘Kid!’ a voz de Cisco parece alarmada, mas me perdi de tal modo em meus pensamentos que me esqueci dele e da pergunta que fez.

–Sério? Tem quatro anos desde que vesti o uniforme do Flash pela primeira vez, e ainda me chamam de Kid? –isso sempre me deixa irritado.

‘É um apelido carinhoso, não enche!’ avisto onde toda a baderna estava acontecendo.

–Não preciso de reforços Vibro, vai ser bom fazer isso sozinho, sabe como é, eles precisam saber que existe um novo xerife na cidade!

‘Já vi esse filme... Vai com calma Ki... Flash!’

Não precisava ir com calma, eu totalmente dava conta do que estava acontecendo. Haviam diversos carros de polícia, em frente ao banco de Keystone, um assalto a mão armada, até esse ponto, não há nenhuma dificuldade em resolver, faço isso com as mãos nas costas, mas não era um assalto normal. E quando entro no banco e vejo um gorila gigante segurando uma arma, minhas suspeitas se confirmam, definitivamente, nada de um assalto normal.

–Grodd! –cumprimento fazendo uma pequena reverencia, repleta de zombaria. –Senti sua falta cara, não te prendo a quanto tempo? Seis meses?

As pessoas estavam todas jogadas pelo chão, apavoradas, mas havia uma garotinha negra de cabelos cacheados, segurando uma pelúcia do Lanterna Verde em uma das mãos, enquanto a outra estava segurando firmemente um pingente que pendia de um cordão acima de seu peito. Não deveria ter mais do que seis anos, e algo nos olhos dela me lembrou Sara, apesar de sua péssima preferência por heróis, mas depois falo disso, agora tenho trabalho a fazer.

–Sério, vai mesmo fazer isso? –reclamo quando as pessoas cobrem os ouvidos com as mãos, se contorcendo de dor. Meus olhos vão de encontro com os da garotinha, ela não gritava como os outros, só olhava a mãe ao lado, como se quisesse protegê-la. –Faz anos desde que aprendeu a falar usando a boca, Grodd. Para logo com a palhaçada. –balanço a cabeça frustrado enquanto acelerava minha mente o impedindo de a invadir. Se tem uma coisa que mudou em quatro anos, foi o tamanho do meu pavio, não sei ser mais um poço de paciência, não que já tenha sido um algum dia. –Deixe essas pessoas saírem, e nós ficamos bem, eu te levo de volta para Iron Heights inteiro.

Você não é ele! –acusa com sua voz estrondosa, e levo minhas mãos aos lábios de forma teatral.

–Como se atreve? Depois de tudo o que passamos juntos! –debocho e escuto a risada de Cisco em meu comunicador, e vejo que as pessoas param de se contorcer, missão cumprida, ele havia se distraído o suficiente.

Kid! –ah que inferno, até o Macaco Louco não entende a mudança de codinome, mas já fazem QUATRO MALDITOS ANOS!

–Não. Me. Chama. Assim. –aviso entre dentes, antes de correr para tomar distância e atingi-lo com um soco. Preciso me adiantar e tirar do caminho, um senhor de idade, e dois homens que seriam atingidos na queda do balofo.

‘Você o irritou.’ Cisco avisa, como se eu precisasse de um aviso, quando o mostrengo passa a tentar me atingir com a estranha arma de vibrações dele. ‘Precisa de reforços Wally, não pode tirar todos do caminho, e combater o Grodd.’ Errado!

–Eu estou bem! –grito pegando a garotinha de cabelos cacheados em meus braços e a colocando do lado de fora com a mãe, junto aos outros reféns que estava tirando do local. –Não estou mal, para meu primeiro dia! –falo quando tiro a última pessoa e volto para dentro do banco.

–K.C.P.D! –a força tarefa ante meta-humanos invade o banco, e reconheço a voz que gritou, é de um dos meus melhores amigos, e uma das pessoa mais inoportunas que conheço.

Hunt segurava a arma apontada para Grodd. Ele desistira de ser policial forense em nosso terceiro ano de faculdade, quando fiquei sem tempo de parar todo troglodita que tentava espancá-lo, e resolvi o ensinar a se defender sozinho, e como não faço nada mal feito, o obriguei a malhar nas horas vagas. Não que me arrependa disso, é ótimo poder contar com um rosto amigo dentro da polícia, já que não tenho meu pai, ou meu avô nessa cidade, e me formei em engenharia mecânica. Não dá para ficar 100% dentro das coisas quando se trabalha na garagem da delegacia, mas o cara bem que poderia não fazer esse tipo de entrada, ainda mais trazendo consigo mais um... dois... dez policiais armados!

Foram os dois segundos que Grodd precisava para conseguir me pegar. Ele agarra meu pé, e me lança contra a parede. ‘Precisa de reforços!’ a voz de Cisco já estava me irritando, enquanto eu sentia uma pressão insuportável em uma de minhas costelas, que com certeza, devem ter sido fraturas.

–Eu dou conta. –digo com esforço me reerguendo e volto a correr, para tirar os policiais da mira das rajadas da arma de Grodd, nunca entendi o por que do Macaco Louco precisar de uma arma. –Precisam sair daqui, agora! –falo para Hunt que me olha assustado. Ele não era mais magrelo, ou desengonçado como quando nos conhecemos, agora se parecia com um atleta, sua acne desapareceu, e seus cabelos castanhos claros, se tornaram bem mais descolados, seus TOCs diminuíram consideravelmente.

–Não, você precisa de ajuda. –responde atirando no Grodd, o que não fazia nem cosquinha no gorila. E tem mais uma coisa, ele sabe que sou o Flash, descobriu em nosso segundo ano de faculdade, quando o Campus foi invadido pelo Mago do Tempo, e precisei improvisar, sem dispor de muito tempo. Trocadilho idiota, sei disso.

–Policial Hunt, retire sua força tarefa do local, agora! –grito o empurrando para o lado, antes que fosse atingido, vou em sua direção. –Você está bem? –pergunto o ajudando a se levantar.

–Sim, estou bem. –confirma. –É para tirar todos? –parecia bem convencido no momento.

–De preferência, agora! –ele assente, e começa a organizar a equipe, enquanto eu corro em volta do Grodd para distraí-lo.

Saia do meu caminho! –grita, típica fala de vilão, patético. O acerto várias vezes, em super velocidade, ao redor de seu corpo gigante.

Mas da mesma forma que eu sei lidar com Grodd, ele já combate o Flash, muito antes de me tornar o Kid Flash, e essa é uma variável irritante. Ele usa a arma para criar um círculo a seu redor, que me faz cair, sentindo tudo a minha volta girar. Levo minhas mãos à cabeça, e vejo o monstro mirando a arma diretamente para mim. Quando uma rajada de fogo o atinge pela lateral, o lançando contra a parede, onde o monstro cai desacordado.

–Se preferir, posso nunca ter estado aqui. –Ronnie debocha me estendendo a mão.

–Eu dava conta. –falo por puro orgulho, mas abro o mínimo sorriso. –Dei uma de Arqueiro 2014, não dei? –ele concorda com um aceno.

‘Cara, você precisa de uma equipe.’ Cisco fala.

–Enquanto não tem um, eu vou ficar de olho. –Firestom diz, antes de acender novamente e alçar voo. A polícia volta para pegar o Grodd, e eu começo a sair do local.

–Acha que Luna se mudaria para a cidade com Connor? –questiono andando em direção a saída, e vejo a garotinha de mãos dadas com a mãe, que ainda olhava para dentro do banco apreensiva, e só parece relaxar quando me vê.

‘Luna é vice CEO da QC, não vai deixar o emprego. E Connor é o Arqueiro Verde, Ollie é ocupado demais com os assuntos da Liga. Ele e Isis são os principais responsáveis pela segurança da cidade.’

–Sem graça. –murmuro, por ele ter destruído meus sonhos, e me lembrado de que há um membro a menos na segunda geração do time do Arqueiro.

–Flash! –a menininha grita correndo em minha direção, a mãe anda cautelosa a seguindo, quando pego a garota em meus braços.

–Ei! –cumprimento olhando feliz para seus grandes olhos escuros. –Você foi muito corajosa lá dentro! –elogio a fazendo sorrir tímida.

–Flash, obrigada. –a mãe diz sorrindo.

–Não por isso. –a entrego a garota, mas me inclino para falar em seu ouvido. –Sabia que o Lanterna é meio bobão? –me afasto para olha-la nos olhos, que pareciam surpresos, seus lábios formavam um O perfeito, enquanto a força com que ela segurava a pelúcia diminui. Mas Hal merece, então me inclino mais uma vez. –O Batman é muito mais legal! –sussurro e quando me afasto ela abre um largo sorriso.

–Eu tenho medo dele. –confessa em sua voz infantil me fazendo rir.

–É linda, eu também tenho, as vezes. –ela e a mãe dão risada.

–A Mulher Maravilha, é legal? –seu rostinho estava escondido por seus cabelos, mais uma vez meu coração se aperta, lembrando de Sara.

–Muito legal! –respondo ignorando o aperto em meu peito.

–Qual é seu preferido? –ela parecia mesmo curiosa, e as pessoas já se juntavam ao nosso redor para ouvir a conversa.

–Tirando o Flash? –pergunto, pensando em meu pai, e ela confirma. –Oraculo. –falo confiante, sem rodeios e ela franze a testa, confusa.

–Não conheço. –fala tristinha.

–Ninguém a conhece. –me inclino em sua direção em tom de segredo. –Ela é uma voz que fica na cabeça de todo herói, nos olha lá de cima. –aponto para o céu e a garota parece impressionada.

–Ela voa? –sorrio por seu raciocínio inocente.

–Não exatamente, mas é super inteligente, e cuida de nos manter unidos.

–Não parece ser tão legal. –dá de ombros um pouco desanimada.

–Eu não conheço ninguém mais legal do que ela!

–Gostava da Artêmis. –fala com a voz baixinha, como se estivesse triste, e a surpresa, retira o sorriso que estava em meu rosto.

–É. –hesito. –Eu também, linda. –toco o rosto dela, e saio em disparada para a minha base.

LUNA

–Phill, eu não sou sua empregada! –reclamo vendo um mundo de louças na pia, aquilo chega a arrepiar os cabelos da minha nuca. Não eram nem oito horas da manhã, não tem condições de ter tanta sujeira assim.

Mas um garoto lindo, de dezessete anos para a minha frente, com seus olhos violetas, pele muito branca que contrastava com seus cabelos escuros e cacheados, rebeldes como os meus. Philippe sofreu um surto de crescimento no último ano, e agora era pouco mais baixo que Connor, seu corpo também se desenvolveu bem, apesar dele se cuidar a maior parte disso é pura genética. Sem contar que meu irmão parece ter pulado a fase desengonçada da puberdade, ele era bonito no nível capa de revista. O que justifica o celular que não parava nunca de tocar, a cada ligação uma garota diferente, tentando ser chamada por ele para sair. Bom, Hawke não era a melhor influencia nesse quesito, uma prova é o meio sorriso cheio de charme que Phill me lança, tentando se livrar da bronca.

–Não vai colar. –aviso em voz baixa. –É sua obrigação, então deixe o que estiver fazendo, e limpa isso!

Escuto a porta da frente se abrir, e Connor entrar com a blusa social branca amassada, para fora de sua calça social, um dos sapatos na mão, e o paletó na outra, isso sem falar na cara de sono. Ele se joga no sofá, murmurando um oi, que respondemos em uníssono.

–Pensei que a regra era nada de passar a noite. –Phill murmura o provocando enquanto começava a lavar as vasilhas, e eu o olho assustada, depois me viro para Connor que mais alguns segundos e apagaria completamente.

–Andou ensinado suas regras para meu irmão? –paro a frente dele, que me olha de baixo para cima com, o ar cafajeste de sempre, antes de encontrar meus olhos furiosos.

–O garoto tem talento. –justifica se sentando, e me puxa, fazendo com que caia a seu lado. –Não gosto quando fica me olhando desse jeito. –reclama tocando entre minhas sobrancelhas. –E não Phill, a regra é clara, não vale dormir, e eu não preguei os olhos. –para minha tristeza, vejo que Phill abre o mesmo sorriso que ele. Só o que me faltava era criar um mini Connor, com o Connor!

–Quanto tempo tem desde que você voltou com a Vicky, um ano? –pergunto o olhando de lado.

–Não namoro a Vicky, somos apenas amigos com benefícios. –fala entre um bocejo, deitando a cabeça em meu ombro. –Somos parecidos demais, e ela me faz querer arrancar meus tímpanos sempre que abre a boca.

–Nós mulheres esperamos nos casar um dia, ter uma família, e essas coisas. Não pode brincar com os sentimentos da garota.

–Engraçado você dizer isso! –ele se levanta com dificuldade, como se seu corpo doesse, mas mantinha um largo sorriso no rosto, eu nunca aprendo!

–Vai ser divertido. –Phill diz largando a bucha de lado e se virando para nos ver.

–Já fazem quatro anos. –reviro meus olhos.

–Phill, o que mesmo que eu fiz a quatro anos? –ele grita para meu irmão, apontando em sua direção.

–Pediu Luna em casamento! –diz animado, e Connor ergue uma sobrancelha para mim.

–Nossa plateia não me deixa mentir!

–Não. –protesto. –Você sugeriu que nos casássemos, para que pudesse ter uma casa, estabilidade, e com isso conseguir a guarda de Phill. –corrijo. –Foi uma sugestão!

–Bom, se essa é sua versão dos fatos. –finge tristeza e dou um tapa em seu braço. –Ai! –esfrega o local travando os dentes como se tivesse mesmo doido, mas sei que não deve ter feito nem cosquinha. –E não pareça assim tão benevolente! –Connor parecia estranho, um pouco grogue, mas como sei que ele não bebe sob nenhuma circunstância, aquilo deve ser muito sono.

–Sabe que “benevolente” não é a palavra que procurava, não é? –debocho analisando seu rosto.

–Você sugeriu que morássemos juntos! –acusa.

–Não sei o que tem de errado em minha sugestão. –olho em volta, do nosso apartamento incrível de três quartos, e uma lavanderia particular. Super bem decorado, com paredes brancas, tirando uma da sala que era vermelha, e as dos quartos, menos o de Connor, claro. Se entrar naquele lugar, na mesma hora a pessoa deduz que um monge mora ali. –Estamos bem, há quatro anos!

–Poderíamos estar casados, há quatro anos! –implica. –E não parecendo uma versão hétero de Will e Grace.

–Claro. –decido entrar no jogo, e coloco minhas pernas sobre as dele, mas era algo tão comum que Connor apenas as segura enquanto me olha nos olhos com um sorriso contido nos lábios. –Só eu, por quatro anos. A única mulher em quem você tocaria. –minha voz naturalmente baixa se enche de provocação, e vejo a cor desaparecer do rosto de Connor. –Todos os dias, para o resto de sua vida. Seria o seu menu de um prato só, o prato que repetiria até que a morte nos separasse. –o sorriso desaparece de seu rosto me fazendo dar risada, e escuto o riso rouco do meu irmão. –Foi exatamente o que pensei! –me levanto. –Você não estava pronto para um relacionamento sério. –bagunço os cabelos do meu melhor amigo. –E você, volte para a pia! Precisa terminar isso antes de ir para a escola. –aponto para Phill que se levanta contrariado.

–Luna? –escuto a voz de Connor me chamar.

–Sim. –me viro, o vendo baqueado de sono.

–Eu mudei. –fala com um ar diferente.

–Sei disso. –garanto com um sorriso fraco nos lábios.

Vou para meu quarto, não teria que chegar na QC antes das dez. Felicity sempre aliviava meu lado, já que tenho a mesma jornada dupla que ela, e agora que me tornei uma espécie de aprendiz dela na caverna, tudo estava ainda mais puxado. Mas fechada aqui em meu quarto, olhando para o pôster do Club dos Cinco sobre minha cômoda, posso respirar aliviada, e dar o tempo que meu coração precisa para se acalmar. Não era ciúmes, por que não tenho nenhum sentimento de posse sobre Connor, ele tem a vida dele e eu aceito isso. Mas escutar sempre as piadinhas dele sobre como poderíamos estar bem, e casados hoje, sempre me balança.

Eu sei que mesmo com todas as minhas limitações afetivas, assim como Phill, Connor era uma extensão minha, okay, não exatamente como Phill. Por que ao menos uma vez por semana, preciso tomar um banho frio, para conter minha vontade de arrancar as roupas do meu amigo com os dentes, e isso não é nem um pouco fraternal. Mas deu para pegar o sentido da coisa toda. Levaria uma bala por ele, apenas para que seu coração não parasse de bater, faria qualquer coisa.

Termino de me arrumar, checo minha maquiagem, e aliso minha saia preta, combinando com minha blusa rosa bebê, escolho os saltos e estava pronta. Escuto duas batidas na porta. –Pode entrar! –falo o mais alto que posso, e vejo Connor passar pela porta com os olhos entre abertos, e se jogar em minha cama.

–Eu não estava com Vicky. –diz baixinho, e o olho surpresa. –Bom, eu estive com ela, mas precisei sair no meio do encontro, para atender a um chamado da Liga. –sento na beirada da cama a seu lado. –E você está dispensada do serviço hoje.

–Por que? –questiono confusa.

–Preciso de acompanhamento. –ele desabotoa a blusa, e vejo uma faixa em seu braço direito, perto dos ombros. –Fui capturado, mas não podia contar isso perto do Phill.

–Capturado por quem? –toco sua testa, e ele tira minhas mão de lá, a levando aos lábios.

–É algum projeto do CADIMUS, temos quase certeza. –diz dando um beijo em minha mão, seus lábios estavam febris.

–E vo-você... –hesito, mas ele sabe o que queria dizer, CADIMUS é famoso, por clonar pessoas.

–Sou eu mesmo Lu. –me dá um pequeno sorriso. –J’onn e Cyborg fizeram todos os testes necessários, mas injetaram um soro em mim, e eles tem medo de que algo aconteça, mesmo eu já tendo tomado o antídoto.

–Felicity sabe? –pareceu mágica, assim que digo seu nome, escuto meu celular vibrando sobre a mesa de canto. –Chefe. –cumprimento.

‘Luna, Connor já te colocou a par da situação?’

–Sim, estou com ele agora.

‘Ótimo, seja quem for que o pegou, parece ter desistido quando percebeu que era o Arqueiro Verde errado.’ Sinto a apreensão em sua voz.

–Quem era? –contenho o medo, para que não transpareça em meu rosto, e ele sorri de lado para mim, passando a mão em meus cabelos, murmurando que estava bem.

‘Dick nos disse que era um Arqueiro Negro.’

–O pai psicopata de Thea?

‘Olha! Foi a mesma coisa que falei. Mas Malcom está preso, checamos a cela dele hoje.’ Ela bufa frustrada. ‘Um Arqueiro Negro incomoda muita gente...’

–Dois Arqueiros Negros, incomodam muito mais. –completo. –Eu te mando notícias dele, e fica tranquila, que não vou o deixar sozinho.

‘Obrigada.’

–Não por isso. –digo antes de desligar o celular.

–Phill já foi para o colégio. –conta fechando os olhos.

–Não sei se você deveria dormir. –falo apreensiva, e ele abre os braços, para que me deite em seu ombro bom, o que faço sem protestos.

–Aquele cara, seja quem for, era muito bom, e tem uma história com o Arqueiro. –diz sonolento.

–O que aconteceu com seu braço?

–Uma flecha, com o tal soro, mas Dick me resgatou pouco tempo depois, o cara, nem tentou impedi-lo Luna, ele quer meu pai, eu fui apenas um acidente de percurso.

–Espero que seja tudo um grande mal-entendido. –murmuro, sentindo seus lábios serem pressionados contra meus cabelos, e passo meu braço ao redor de seu abdômen.

–Sabe que eu estou bem, não é? –seu tom de voz muda. –Seu coração, está acelerado.

–Detesto quando você chega machucado. –respondo. –E nada de dormir!

–Quer maratonar SPN? –sugere fazendo um sorriso satisfeito se formar em meu rosto.

ISIS

Me jogo da cama, pensando em uma alternativa para minha vida profissional, se enquanto só estudo está difícil de levantar para ir à escola, depois de uma noite de vigilância, imagina quando ingressar em uma profissão. Pois diferente do meu querido e amado irmão, pretendo sim exercer o oficio depois de me formar, oficio esse que não tenho a menor ideia de qual vai ser. E a cada dia que meus dezoito anos se aproximam, me sinto ainda mais pressionada a escolher.

Me enfio de baixo de uma ducha gelada, depois do susto que tivemos ontem com Connor, até que conseguimos encontra-lo, comprovar que ele era realmente ele, e quando finalmente fui mandada de volta, não pude aproveitar mais do que duas horas e meia de sono. Saio do banheiro para o closet.

–Deus, em outra vida, se é que isso existe, me faça nascer um panda! -reclamo olhando para o espelho enquanto observo os estragos de uma noite mal dormida estampadas, em efeito 3D, na minha cara amarrotada.

Os anos me fizeram mais parecida com minha tia, com pequenos traços da minha mãe, como os olhos, lábios, e todo o temperamento, okay, isso não é completamente verdade. Pode-se dizer que peguei o pior dos dois, e um pouquinho da teimosia de Connor.

–Panda? – ouço a voz do meu pai vinda do interior do meu quarto.

–Pandas são fofos, ninguém quer machucá-los, todos os amam, e eles não precisam se importar com o mundo. Só o que os importa é o próximo broto de bambu que iram comer. – reclamo de mal humor.

–Sua tia mandou um folheto da Universidade de Washington, ela tem esperanças que você vá morar com eles em Seattle, no próximo ano.

Meus tios haviam se mudado para cuidar da nova divisão dos negócios da família, bom, isso é a declaração oficial. Mas não deixa de ser verdade, já que o negócio da família é o combate ao crime. E quando Conde Vertigo, um dos vários, resolveu expandir os seus negócios, precisamos mandar nossos representantes para lá também, só calhou da Queen Consolidation ter um prédio na cidade.

–Agradeço, mas pretendo cursar uma faculdade mais próxima de casa. – sorrio colocando meu rosto para fora da porta.

Meu pai parecia não estar em melhor estado que eu, a diferença é que um terno Dormeuil consegue fazer milagre em qualquer um. Te garanto que se invés do meu jeans, camiseta branca e meu cardigã royal, eu estivesse usando um Valentino Garavani, ninguém iria notar minha cara amaçada.

–Sei que você pretende ficar perto de casa filha, mas não quero que suas opções se resumam a sua área de vigilância. – ele tem aquela cara de ‘pai complacente’, odeio quando ele fica assim.

–Sr. Queen... – digo enquanto puxo meu cabelo em um rabo de cavalo, por que é o máximo que eu conseguiria fazer hoje, e particularmente isso me servia bem, me jogo ao lado dele na cama, minha crise de mal humor matinal, já saindo do meu corpo. –Minha área de atuação é o mundo, então, a menos que eu queria fazer um intercâmbio, deixa eu ver... –penso em todos os planetas habitados que conheço, é são muitos, mas escolho o mais barra pesada que posso imaginar. – Thanagar, acho que posso escolher qualquer Universidade no planeta, que estarei sempre a um teletransporte de casa. – sorrio para ele e beijo sua bochecha. –Sem falar que as universidades de Star e Central estão em ótimas colocações nos cursos que eu estou escolhendo. –minto, por que não fazia ideia do que seguir na vida.

–E seriam? – era a nona vez que ele tentava uma resposta, e sempre respondia a mesma coisa.

–Quando tiver uma certeza vocês serão os primeiros a saber! Agora se me der licença, tenho aula de álgebra no primeiro horário, e estou muito perto de estar atrasada. – pego minha mochila, e desço correndo as escadas, pego uma maçã na cesta de frutas e subo em meu carrinho.

Meu lindo bebê, um Posher 911, branco, entendam, eu não sou igual o Wally, que ama mecânica, carro e tudo isso, eu amo o meu carro, e toda a possibilidade que ele me traz. Como Nightmare sou independente, já como Isis, minha vida tem as limitações de uma adolescente normal. Okay, não tão normal, afinal eu tenho uma faca encantada que não importa em se manifesta a qualquer momento do dia, seja durante uma das poucas horas de sono ou durante a prova de literatura.

Já estou na metade do caminho quando ligo para o Philippe. Nós dois estudamos na mesma escola desde que Luna conseguiu a guarda do irmão, não sei como ela consegue manter segredo sobre a vida que levamos para ele, mas o irmão não é meu. Não me cabe julgar.

‘Oi Isis.’ fala com a sua voz rouca, cheia da animação costumeira.

–Bom dia Phill, eu estou um pouquinho atrasada.

‘Acho que é de família. Connor acabou de chegar, de uma noitada, estava acabado.’ meu coração se aperta ao lembrar do meu irmão, e por tudo que ele tinha passado nessa noite.

–Você sabe como é o Connor. Não desperdiça uma oportunidade. –minto. – Mas liguei para avisar que em dois minutos eu estou passando ai.

‘Sem pressa, tenho que terminar de lavar a louça e tirar o seu irmão do sofá.’

–Um mito e vinte e sete segundos, Phill. – cronometro para ele se apressar, não espero a resposta e desligo o telefone.

Paro em frente ao prédio onde os três moram, em um bairro conceituado da cidade, e lá está ele, sorrindo, com os seus olhos violetas e cabelos cacheados, tudo nele era incomum, mas não de uma forma ruim. Phill se tornou um ótimo amigo, desde que entrou nas nossas vidas, minha primeira visão foram seus olhos, não dá para negar uma ligação depois de algo assim. Claro que sempre preciso mentir para ele, e a cada dia minhas desculpas pioram. Cresci cercada por pessoas do nosso clubinho, particularmente grande, de vigilantes, e ter amigos que são normais é esquisito para mim, mas um esquisito bom.

–Cinema hoje à noite e nem pense em desmarcar de novo. –Phill diz ao entrar no carro, e não posso evitar de dar risada, algo em seu rosto me lembra alguém que é interrogado pelo Jason em seus piores dias. –Pelo amor de Deus, me livra daquela Melanie do primeiro período. –está explicado. –Posso ter dado a entender que vou ter um encontro com ela essa noite.

–Deu a entender? –olho de lado e o vejo bagunçando ainda mais os cabelos, em um tic nervoso. E volto a conduzir o meu carro pelo tráfico da cidade.

–Pensei que era uma saída de grupo, mas Danny a escutou se gabando que sairia comigo. –ele bufa. –Em um encontro.

–Sério? – contenho o riso. – Você está passando muito tempo com o meu irmão.

–Luna também acha isso. – murmura mexendo no telefone.

–Não é um elogio. –esclareço.

–Também não é um quando ela fala.

–Phill! –chamo para que ele parasse de mexer no telefone e me olhasse. -A questão é, se você não as quer em sua vida, então não de a entender que quer. Connor é um cara legal, mas olha o que todas as regras dele fizeram com o único relacionamento que ele já quis ter na vida. –ótimo, a essa hora do dia e já estou bancando a terapeuta.

Paro meu carro em uma das poucas vagas que restavam no estacionamento do colégio, dou uma olhada rápida no espelho do quebra-sol, minhas olheiras estavam sob controle, mas precisaria dormir pelo menos quatro horas essa noite, e precisava inventar uma desculpa para Phill, talvez arrumar uma substituta.

–Vamos rainha da beleza. –sorri me passando minha mochila. –A aula nos espera. – corremos pelos corredores, precisávamos nos apreçar se não quiséssemos ficar além do horário em detenção, e eu precisava estar em outro lugar essa tarde, tipo na minha cama, de baixo das cobertas agarrada ao travesseiro. Preciso parar de pensar nesse sono. Antes de entrarmos na sala de aula Phill joga o braço sobre o meu ombro em um gesto casual.

–Se ela tiver uma arma eu vou estar morta antes do primeiro sinal. – reclamo e ele apenas pisca para mim. Dito e feito, Melanie nos vê e seu olhar assassino se volta contra mim, quase temo pela minha vida.

Vou até a minha cadeira e me sento lá, no segundo exato que o primeiro sinal toca e o professor mais corpulento possível entra fechando a porta ao passar. Aulas arrastadas e entediantes, na metade do tempo tive que segurar minha mente para não devanear para qualquer outro canto, e na outra metade me controlei para não usar meu celular e invadir o sistema de alarme de incêndio e ativar os sprinklers. Ideia tentadora, muito, de mais!

–Não vai comer nada? –Danny, um dos poucos amigos que Phill e eu tínhamos senta ao meu lado na mesa do refeitório, com a maior bandeja de comida que a cantina pode oferecer. Me volto para a fila do almoço e sei que antes de chegar ao final o sinal já haveria soado para que voltássemos a aula.

–Vai sim. – Tess senta do meu outro lado e passa um suco e um sanduiche natural. Tess e Danny namoram desde tempos imemoriáveis, ela foi a minha primeira amiga na escola, com os seus cabelos lisos e negro, lábios volumosos e pele acobreada, Tess poderia ser a encarnação da Pocahontas, já Danny era o típico jogador de basquete, alto, esguio, cabelos castanhos escuros na altura dos olhos verdes. Um dos poucos caras da escola que não se intimidavam de andar com Philippe.

–Obrigada. – agradeço a misericórdia, por que não iria levantar para comprar nada e provavelmente morreria de inanição antes de encarar aquela fila.

–Melanie está querendo a sua cabeça em uma badeja de prata. – Mia senta à nossa frente com Phill sentado ao seu lado. –Você colocou a cabeça dela a prêmio. – cutuca Phill irritada.

Mia Dearden tinha tudo para ser a garota mais popular do colégio. Olhos verdes, cabelos loiros e longos, um jeito meigo, é uma atleta. Mas algo (ou alguém), por assim dizer, a atraiu para nosso grupo. Existe uma coisa escura dentro dela, não de uma forma ruim, é como se ela tivesse seus próprios segredos, não posso julgar, as vezes sinto que olhar para minha amiga, fosse como ver um espelho.

–Como se alguém fosse encarar a filha do prefeito. –Phill desdenha.

–Por isso que nenhum garoto na escola chega na Isis. –Danny fala entre uma garfada e outra.

Mas eu nem estava ligando para a conversa, apesar de ver Tess dar um tapa na nuca do namorado e achar cômico. Estava interessada no meu celular, uma serie de novas fotos do Flash em Keystone tinham sido postadas no site do jornal da tia Iris, e Cisco fez questão de encaminhar para todos com o título “Se sentindo o dono do pedaço.”

–Isis? – me viro para Tess que parecia estar falando comigo e eu para variar, não estava prestando atenção.

–Oi?

–Vai fazer alguma coisa? – olho para Tess sem entender. – Sobre a Melanie.

–Eu? O assunto dela é com o Phill. – olho irritada para ele que sorri um sorriso cheio de dentes e sarcasmos. – Termine isso. – O sinal toca indicando mais três horas de martírio.

Quando finalmente a aula termina, coloco minha mochila nas costas e olho para meu celular uma vez mais, antes de o enfiar no bolso da jaqueta, vejo uma mensagem com apenas algumas palavras. “Esperando na sua casa”

–Ei Queen? – uma voz me grita, fazendo o meu estomago embrulhar, me viro e lá está Melanie com o seu grupinho de garotas mais populares do colégio. -O que você tem com o Philippe? -essa era boa, suprimo a gargalhada no que parecia um soluço, ajeito minha mochila nas costas, gesto que ela identificou como medo.

–Phill e eu somos amigos desde antes de entrar na escola Melanie...

–Só amigos? – me interrompe.

–Algum problema Isis? – Phill passa o braço por sobre o meu ombro enquanto sorri para Melanie e para as outras meninas que suspiram para ele feito idiotas. – Olá garotas. –se fosse filho do meu pai não pareceria tanto com Connor. Ele me olha esperando uma resposta, as garotas parecem constrangidas.

–Melanie queria saber se estamos juntos. –confesso, precisei segurar o riso ao ver a expressão de Phill.

–É o que os amigos fazem. –sorri mais uma vez com simpatia, aquele tipo de educação que soa melhor do que uma resposta mal criada. -Cinema hoje. – isso não era uma pergunta, e ficou claro que era só comigo.

Dou de ombros cansada de mais para arranjar uma desculpa, e sinceramente, essas meninas meio que me irritaram. –Claro. Agora podemos ir?

–Claro. –espera que eu dê o primeiro passo. -Até mais. –se despede simpático. –Garotas bizarras, odeio o ensino médio.

–Ainda bem que esse é nosso último ano. –concordo entrando no carro.

– O filme começa as sete, Tess, Dany e Mia também irão. – Phill enfatiza antes de fechar a porta do carro, mas eu já estava pensando na desculpa que usaria para faltar.

Morte na família? Essa a Luna teria que me cobrir falando que a QC estava de luto oficial, muito trabalho. Meu gato foi atropelado? Teria que arranjar um gato até o final do dia, mas não sei se conseguiria atropelar o bichano. Perdi a chave do meu carro? Ele iria me perguntar o por que não peguei um dos vinte parados na nossa garagem. Eu já disse não sei mentir?

Deixo meu amigo em casa, fico tentada a subir para ver meu irmão, mas me lembro que tenho visita me esperando, então vou direto para a mansão. Guardo o meu carro na garagem de casa e subo apressada para o meu quarto.

–Demorou. – essa é saudação que recebo.

–Eu estava em aula Damian. – jogo minha mochila nos pés da minha cama, ele parecia uma estátua encostado na parede, Deus, aquele idiota era uma versão melhorada do pai dele, se é que isso era possível. –Você não veio de Gotham, perdendo um dia de aula, que não iria assistir de qualquer jeito, só para cronometrar a minha volta para casa, veio? -brinco me jogando na cama enquanto tiro meus tênis ao mesmo tempo. – Cama, amada cama, sabe o quanto eu senti a sua falta? – recito puxando meu travesseiro para um abraço.

–Na verdade, quero a sua caverna emprestada para avaliar algumas pistas de um caso. –senta ao meu lado me jogando um saquinho com alguns fios de cabelo.

–E eu aqui reclamando que você nunca me dá nada. – olho para as evidencia. – Não que eu esteja te negando a caverna, mas você não tem a sua?

–Dick está se escondendo lá, Chloe está meio rebelde esses dias, e ele não está sabendo lidar muito bem com isso.

–O que você pode falar de crianças rebeldes? – questiono subindo em meus cotovelos para encará-lo melhor.

–Pensa que eu estou achando ruim? – Damian sorri parecendo verdadeiramente orgulhoso. –Chloe pode não ter meu sangue, mas tenho orgulho daquela menina, estou quase revelando o segredo para que Dick não tenha mais onde se esconder. – não aguento e começo a gargalhar de Damian, ele era completamente apaixonado pelos sobrinhos, todos nós éramos apaixonados por Al e Chloe, sem falar em Don e Dawn que são as pestes mais encantadoras desse e qualquer outro planeta. Sinto meu celular vibrar em meu bolso, desviando minha atenção, pego o parelho que continha uma mensagem.

“Drácula, às 19h no cinema central! Nada de matar nenhum parente ou animal que você não tenha.” impossível não rir.

“Vou tentar.” respondo simplesmente, deixando na dúvida se eu iria tentar ir ou não matar alguém ou alguma coisa.

–Qual a graça? –Damian questiona olhando para o meu celular.

–Nada, só um cinema que eu vou mais tarde. –dou de ombro, colocando o celular na criado-mudo ao meu lado. Volto a olhar para Damian que estava com o semblante fechado.

–Então, melhor eu deixar você se arrumar.

–Onde você vai? – pergunto quando ele já estava a meio caminho da porta. – Não precisava da caverna ou uma coisa assim? – balanço o saquinho de evidencias, que ele tira da minha mão sem cerimônia.

–Uso a STAR Labs ou outra qualquer, não vou te atrapalhar, vejo que tem compromisso. – as vezes eu odeio ele tão, mais tão forte.

–Deixa de palhaçada. – me levanto voltando a calçar os meus tênis e logo em seguida tomo de volta as evidencias e saio a frente dele. Deveria ter deixado meu carro na porta de casa. Tenho que me conter para não olhar se ele está atrás de mim ou não, já que a peste se move como sombra. –Um dia ainda prendo um sino em seu pescoço. –reclamo para mim mesma enquanto saio pela cidade. Paro em uma das entradas da caverna, essa hora não deveria ter ninguém por aqui. Ótimo, só eu e o senhor ranzinza, vai ser muito divertido.

Como imaginei, estava tudo tranquilo aqui em baixo, nossos uniformes estavam em seus manequins, pareciam ansiosos para sair para brincar, as flechas dos Arqueiros estavam loucas para serem disparadas, e ali em um cantinho empoeirado, ok, não empoeirado, estava o uniforme da Artêmis, ninguém gosta de olhar naquela direção, só não o cobríamos pois ela merecia ser lembrada, por mais que a saudade doa. Respiro fundo, tudo que não podia agora era ficar melancólica.

–Qual o problema? – Damian vem com o seu olhar sombrio para o meu lado. – Se estiver com pressa, eu sei onde fica a saída.

–Sabe muita coisa, só não sabe o quão irritante consegue ser. Ou talvez saiba e faça isso de propósito. –me sento a frente dos computadores da minha mãe, Luna havia ganhado um local totalmente dela, com equipamentos tão bons quanto os da Oraculo, a questão agora era só arranjar um codinome, Cisco estava trabalhando nisso, e não aceitava nenhuma sugestão. –Quer saber qual o meu problema? -coloco os fios de cabelo no aparelho de reconhecimento de DNA. –Você é meu problema. – o acuso, e ele nem ao menos parece se importar. –Você consegue ser ao mesmo tempo a pessoa mais idiota e mais cuidadosa do mundo, você vai acabar me enlouquecendo. – ralho saindo da cadeira e parando a sua frente, ele era pelo menos uma cabeça mais alto que eu, mas não me importo, ele não recua e eu muito menos, ficamos nessa queda de braço por tanto tempo que eu estava ficando cansada de ficar irrita. –Sabe, na verdade? – reviro o olhar resignada. – Não sei por que eu me importo. Já deveria ter desistido a pelo menos quatro anos atrás, isso nunca vai mudar. – o que eu queria dizer, na verdade, era que isso nunca iria avançar, estávamos fadados a ficar sempre nesse impasse. Volto para minha cadeira, dando as costas para ele, iria terminar com esse reconhecimento e iria embora, ele que se virasse com o resto.

–É isso que fazemos Isis. – não me viro, porem sei que ele está mais perto de mim agora.

–Brigamos? – sai mais sarcástico que planejei, mas ele merecia.

–Também. -pondera. -Nos importamos. Foi assim desde o começo. –Damian, havia, literalmente, tomado um tiro por mim há três anos atrás, em uma missão de resgate de um filho do embaixador russo. Uma longa história, para outro dia, foi quando Connor decidiu parar de implicar de vez com Damian e aceitar que ele era parte da minha vida, apesar de que a parte que lhe cabia, ainda era um mistério.

Somo interrompidos quando o a análise é concluída, a amostra era inconclusiva. -É estranho. - reinicio a busca que dá no mesmo resultado. – De quem é esse DNA?

–Do cara que atacou o seu irmão ontem. –me viro surpresa, não esperava por aquilo. – Por que não entregou a pista para a Liga?

–Eu vou, mas precisava ter algum tipo de resposta antes. – ele retira a amostra de DNA, voltando para o saquinho de evidencias. – Entregue para a sua mãe.

– Obrigada. –dou um passo em sua direção e o abraço pela cintura.

–Não estávamos brigando? - aquele arrogante não perde uma.

–Como de costume. – respondo não deixando cair na provocação e Damian me envolve em seus braços retribuindo o abraço.

–Isis? – chama a minha atenção, mas não queria sair do abraço. – Seu celular está tocando.

–Ah! – murmuro ao perceber a vibração vindo do bolso da minha jaqueta. – Phill está avisando que precisou mudar o horário do filme, vai ser as seis. – respondo um ‘ok’ para o meu amigo e quando olho para Damian ele está estranho de novo, respiro fundo, e resolvo ignorá-lo. –Vou assistir um filme que é a sua cara, Drácula.

–Morcego, Isis, não vampiros. – ele estava sério e taciturno, aí, aí as vezes isso me entedia.

–Sabe Damian, as pessoas convidam amigos para sair, sei que é algo que lhe parece estranho, mas é bem normal entre pessoas da nossa idade, melhor, é bem normal entre pessoas. –o provoco.

–Desejo sorte aqueles que forem tentar te chamar para sair. – ele tinha um sorriso maquiavélico no rosto, credo! – Seu pai e seu irmão, Isis, sem falar no Wally. Esses três me cansam até hoje, e olha que eu sou um Wayne. –se explica.

Damian sai me deixando pensando, e quando dou por mim, falta menos de uma hora para o cinema que não tinha desculpa nenhuma para faltar. Volto correndo para casa, tomo uma chuveirada rápida, olho para minha cama saudosa, pensando que só vou poder dormir mesmo no final de semana. Coloco um vestido florido, na altura da coxa, uma sapatilha e saio por que com certeza iria levar bronca dos meus amigos se chegasse atrasada.

Paro na porta do cinema e vejo os quatro na entrada parecendo impaciente. -Falei que ela vinha. – Phill estende a mão para nossos amigos, que lhe passam cinco dólares cada.

–Vocês me apostaram? – pergunto enquanto tento recuperar o folego da corrida de onde estacionei meu carro até o cinema.

–Não sabe o quanto de dinheiro já perdi por você. – Phill se inclina e me confidenciando.

–Vamos entrar? –Tess sorri para mim enquanto Danny já atacava a pipoca.

–Preciso comprar o meu ingresso. – olho para a fila da bilheteria e para os postos de alto-atendimento.

–Eu já comprei os nossos. – uma voz muito conhecida me gela a nuca. Me viro devagar pensando ter ouvido uma assombração ou algo do estilo. Mas não era o fantasma do Gasparzinho, para atenuar, pelo menos ele já havia morrido de verdade. Damian sorri para mim, com um saco de pipoca e dois refrigerantes nas mãos.

–Você veio? –era muita surpresa para pouco eu.

–Sabe Isis, pessoas da nossa idade, fazem isso, de sair com amigos. – Damian diz ao meu ouvido, enquanto passa o refrigerante para mim, eu estava muito abismada para ter alguma reação.

–Isis, não vai apresentar o seu amigo? – Mia me olha sorrindo, parecia gostar do que estava vendo, ou talvez estivesse rindo da minha cara de boba.

–Damian esses são Phill, Mia, Tess e Danny. – indico a cada um com a mão livre, Damian por sua vez sorri e cumprimenta a todos, esse cara era uma caixinha de surpresas. –Pessoal esse é o meu... –hesito, e Damian me olha divertido, esperando que eu definisse nossa estranha relação. –Amigo, Damian Wayne. –Phill olha por mais tempo do que seria considerado educado para o Damian, que tem um dos braços envolvido na minha cintura. Mas então me lembro que os dois já se conheceram, Philippe deveria estar ligando os pontos, nada bom para os segredos de Luna.

Por fim entramos na sala enquanto os trailers ainda estavam passando. -De onde veio toda essa cordialidade? – cochicho ao ouvido de Damian.

–Na minha família, fingir simpatia é uma arte passada de pai para filho. –devolve.

‘Nightmare, Robin?’ ouço a voz de Tim em meu ouvido. Serio? Será que nem consigo passar pelos créditos iniciais?

–Acho que eu quero um chocolate. – falo um pouco mais auto para que meus amigos possam me ouvir.

–Mas o filme acabou de começar. –Phill aponta para a tela que mostrava uma nuvem de morcego voando em círculos, tenho certeza que o Batman consegue fazer isso.

–Volto logo. –sorrio tentando demonstrar que estava tudo tranquilo.

–Eu preciso de mais refrigerante. –Damian aponta para o nosso copo, que estava quase cheio. –Vou com você.

–Nunca vou ter um encontro nessa vida. – digo ao sentir o frio da noite em minha face.

–Isso não era para ser um encontro. Não ainda. –Damian indica um local mais afastado da rua e quando não podíamos mais ser vistos por ninguém somos teleportados Deus sabe para onde.

WALLY

Os finais de dia são os piores, por que não tem nada mais que possa distrair minha mente. Me dei conta de que me mudar para Keystone, no fundo, era uma forma de me dar um recomeço, de suportar o que na frente de todos, escondo com sarcasmo e bom humor. Mas aqui sozinho, no meu novo apartamento, só me resta eu e tudo o que não quero lembrar.

O apartamento foi presente de aniversário dos meus padrinhos. Era um lugar bacana, com uma sala que tinha o tamanho perfeito, e não era exageradamente grande, uma cozinha espaçosa, com muitos armários de madeira, e eletrodomésticos em inox, não que isso seja importante, o importante era que todos os armários estavam empanturrados de comida, assim como a geladeira, e o frízer. Por que com os Queens, não existe esse negócio de miséria.

Tenho certeza que Isis ajudou na decoração, ninguém mais seria tão cuidadoso. Bom, uma pessoa poderia ser, mas na ausência dela, minha irmã postiça fez bem o trabalho. Haviam fotos da minha da minha família e amigos, espalhadas pela casa, entre quadros super maneiros, de carros de época. E haviam as fotos dela, colocadas em lugares estratégicos, onde eu poderia evitar olhar se quisesse, mas mesmo assim, estariam presentes ali, caso precisasse me lembrar de como é ter um coração batendo.

Escuto meu celular tocando, e vejo a foto de Luna no visor, na hora certa para evitar minha depressão. –Flash falando. –brinco a cumprimentando.

‘Recebemos fotos do seus feitos, no primeiro dia. Como é ter uma cidade só para você?’

–Preciso de uma equipe. –é minha forma de responder, e ela dá risada, do outro lado da linha. –Soube do que aconteceu com o Connor, como ele está?

‘Agora, dormindo. Mas está muito melhor, quase curado.’ Posso sentir a apreensão em sua voz. Luna conseguiu o título de melhor amiga, ela era silenciosa, e cuidadosa, tudo o que precisei nesses últimos anos.

–Connor quer alguma coisa? –questiono olhando ao redor.

‘Temos um presente para você, de boas-vindas.’ Conta animada, bom, o mais animada que Luna consegue ficar.

–Okay, estou a caminho de Star...

‘Não!’ me interrompe. ‘Não sai daí! É delivery, espera só um segundo...’ escuto a campainha tocar, deve ter me mandado meia dúzias de pizzas, Luna sabe como tocar meu coração! ‘Acho que o presente acabou de chegar!

–Tudo bem, fica ai na linha que vou... –escuto a chamada ser encerrada quando estou a caminho da porta.

Passar tanto tempo com Connor não tem feito boas coisas para Luna, meu amigo não é um bom exemplo de educação, isso em seus melhores dias. Abro a porta, e o que encontro não era um entregador, não era nada do que eu pudesse imaginar... Por um segundo, não sei como usar minhas pernas, ou minha voz.