WALLY

Esses últimos dois anos quase me mataram, e não estou fazendo drama ao constatar isso. As pessoas costumam dizer que o amor é a força mais poderosa de todas, dizem isso por que não correm na Speed Force todos os dias. De todos os heróis que existem, tio Barry e eu somos os únicos que nem mesmo se fossemos estúpidos o suficiente, poderíamos afastar as pessoas que amamos. Já falei sobre o canto da sereia, e ter uma ancora, é a única coisa que nos impede de cair nele. Eu nem mesmo sabia se ainda tinha a minha, eu sentia que ela estava viva, é claro, caso o contrário já teria me deixado levar pela Força da Aceleração a muito tempo, mas era apenas fé, sentia que parte de mim estava por ai, respirando.

Parado na soleira da porta, meu cérebro calculava involuntariamente quantos meses, semanas e dias se passaram desde a última vez em que vi aqueles olhos. Continuavam escuros, brilhantes, mas agora tinham dor e muito mais maturidade neles. Era como se tivessem assistido o pior do mundo, e mesmo o que há de mais sombrio não tirou deles a essência. Abro um sorriso bobo, para ela que sorri da mesma forma em resposta, enquanto uma única lágrima escorria por sua face. Era linda, a ponto de não parecer real.

–Luna me deu uma cópia das chaves, estão no meu bolso, mas não consegui alcançar. –sua voz estava ainda mais linda, tudo nela estava.

Sara permanece parada a minha frente, vestida com seu uniforme das forças armadas. Ela segurava uma caixa enorme nas mãos, tinha uma grande mala no estilo militar nas costas. Tiro a caixa de suas mãos, e ela se livra da mala, de qualquer jeito, nós nos jogamos um nos braços do outro, abraçando apertado, com cuidado, sentindo minha âncora tomando seu lugar de direito, enquanto meu coração voltava a bater.

–Senti tanto a sua falta. –a escuto murmurar com voz de choro, enquanto distribuía beijos por toda a minha face, se equilibrando na ponta dos pés para me alcançar.

Envolvo meus braços em volta de sua cintura, tirando seus pés do chão, e a puxo para dentro, depois pensaria na bagagem. Encosto meus lábios nos dela, enquanto suas mãos se enterravam em meus cabelos, os bagunçando, como ela adorava fazer. Sinto suas mãos na base da minha camiseta, e a ajudo a arrancando rapidamente, Sara se afasta um pouco me olhando, enquanto encosta a ponta de seus dedos em meu abdômen.

–É você. –sussurra, erguendo os olhos, para encontrar os meus.

Sara retira a parte de cima de seu uniforme, depois a camiseta branca que estava por baixo, ficando apenas com o sutiã, vejo algumas cicatrizes que não estavam ali a dois anos, desenhadas em sua pele morena. Mesmo assim ela é a imagem da perfeição, merece o codinome que tem, é como ver uma deusa grega, minha Artêmis. Passo minhas mãos, em seus ombros, ao longo de seus braços, parando em sua cintura. A puxo para mais perto, voltando a beijá-la. Não sei como chegamos ao quarto, talvez minha super velocidade, talvez estivesse tão perdido nela, que não me dei conta. Passamos horas amando um ao outro, era como telepatia, um pensava e o outro agia, como duas partes de uma coisa só.

–Eu te amo. –sussurro em seu ouvido, quando a tenho deitada em meus braços.

–Do mesmo jeito de antes? –ela se levanta em seu cotovelos, para me olhar nos olhos, por um momento, pensei ver dúvida neles, isso seria algo novo, em todos esses anos.

–Não. –respondo a confundindo, o que a deixa ainda mais linda, Deus, nunca vou me cansar de ver esses olhos.

–Wally, me desculpe, eu nunca mais vou a lugar algum sem vo... –começa a dizer enérgica, com lágrimas acumulando em seus olhos.

–Linda, eu não te amo do mesmo jeito, por que antes de ficar sem te ver, não me dava conta do quanto eu te amava. –ela abre um sorriso bobo. –É maior do que eu, posso me perder sem você, literalmente.

–Não vai acontece, nunca mais vou te deixar. –promete, me perco nos traços delicados de sua face, não tenho vontade de fazer mais nada além de olhar para ela.

–Casa comigo? –não sei se perguntei ou pensei em voz alta.

–Eu já aceitei esse pedido a quatro anos atrás. –franze as sobrancelhas, até disso eu sentia falta. Sorrio me esticando para alcançar minha mesinha de cabeceira, e tiro uma caixinha azul da primeira gaveta.

–Bom, há quatro anos, eu não tinha dinheiro para te comprar isso. –abro a caixa a mostrando a aliança delicada com um diamante no centro.

–Wally, é linda! –exclama. Suspiro de forma teatral, demonstrando impaciência para que ela se lembrasse de dar a minha resposta. –Claro que me caso! –responde em meio ao riso, coloco a aliança em seu dedo e volto a beijá-la em seguida.

–Só faltaram as pizzas, então eu poderia dizer, que se morresse agora, nesse momento. Eu morreria feliz. –brinco.

–Tudo bem. –ela se senta na cama, segurando o lençol para cobrir seus seios. –Mas por que das pizzas?

–Quero que minha lápide esteja escrito: Morreu como viveu, comendo! –gesticulo com o braço enquanto falo, e escuto sua gargalhada divertida.

–Sentia falta disso. – seu sorriso é um convite para que me jogue sobre ela novamente.

SARA

Entro na casa dos meus pais, olhando tudo em volta, sentia falta de cada pedacinho. Meu coração se apertava a cada passo, e é quando vejo meu pai, sentado em frente à televisão, lendo um jornal, não me lembro nem mesmo de como respirar. Eu queria correr e pular em seus braços, me sentir protegida, mas minhas pernas não me obedeciam. Ele parecia cansado, triste, cabelo mais grisalhos, e algumas pequenas rugas ao redor dos seus olhos que enxergavam muito além do que nós queremos lhe mostrar. Dou um passo em sua direção, hesitante, a saudade era tanta que parecia ter se tornado uma barreira física, difícil de traspassar.

–Pai. –sussurro, com a dor presa na garganta, mas foi suficiente, ele se levanta, posso ver toda a emoção em seus olhos, era o que eu precisava para me libertar e correr para seus braços como se ainda fosse uma garotinha, a sua garotinha.

–Sara. –murmura enquanto me abraçava, permanecemos assim por mais de um minuto, mas nem um dos dois parecia querer se afastar. –Filha, me deixa te ver. –ele se afasta e estuda cada centímetro do meu rosto. –Você está bem?

–Agora eu estou. –respondo segurando o choro, e ele volta a me abraçar.

–Está tudo bem querida, você está em casa. –me consola, mesmo sem saber por tudo o que passei.

–Johnny, eu vou colocar o Steve para cuidar dos assuntos... –escuto a voz da minha mãe, que entrava na sala cheia de papeis nas mãos, papeis que se espalham pelo chão assim que ela me vê. –Sara! –exclama antes de correr em nossa direção, e nós abrimos espaço para ela no abraço.

–Mãe. –sussurro, sentia falta de dizer isso.

–Minha garotinha. –murmura beijando minha face. –Você voltou.

–É, eu voltei. –respondo feliz.

Passo toda a manhã nos braços dos meus pais, Wally havia me deixado em Star City, antes do trabalho oficial dele, hoje seria um dia longo para mim, mas estou adorando cada segundo. Eles parecem felizes quando os mostro a aliança de noivado, e pela reação do meu velho, não era a primeira vez que ele via aquele anel. No início da tarde, digo a eles que quero ver os meus padrinhos, pego o carro do meu pai e vou para a prefeitura.

Quando chego peço a nova assistente do meu padrinho para me anunciar, cogitei invadir a sala, mas sinceramente, conheço os reflexos do meu padrinho, ele me espetaria com uma flecha, antes de ver meu rosto. Apesar do anuncio ter estragado a surpresa, a garota mal terminou de dizer meu nome e Ollie já liberou minha entrada. Estava ansiosa por vê-lo, talvez mais do que por todos os outros. Oliver Queen é meu mentor, e meu segundo pai, mas além disso, ele entende o que é sentir auto vergonha, e sabe o que é já ter estado no inferno.

O gabinete dele, ainda era como me lembrava, elegante, familiar, e rodeado por janelas de vidro e fotografias. Meu padrinho estava à frente de sua mesa, olhando ansioso para a porta, quando me vê. -Sara? –um sorriso se abre lentamente em sua face, mas tudo o que consigo fazer é desabar, bem ali em sua frente. –Querida. –ele se apressa em minha direção e me rodeia com seus braços protetores. –Está tudo bem agora, você está em casa. –diz dando um beijo no alto da minha cabeça.

–Me perdoa. –murmuro em meio ao choro, e seus braços se apertam ainda mais a minha volta. –Eu fiz coisas horríveis, você não se orgulharia.

–Hey! –fala com a voz suave, me afastando delicadamente para que pudesse me olhar nos olhos. –Não se atreva a pedir perdão por sobreviver, por voltar para nossa família. –repreende, mas vejo empatia em seu rosto.

–A que custo? –olho em seus olhos azuis, que me fitavam de forma paternal, eu poderia confessar cada um de meus atos, que nada mudaria a forma como ele me olha nesse instante.

–Sara, vem aqui. –me guia até um sofá preto no centro de seu gabinete. –Vamos conversar.

–Não posso falar sobre a missão. –aviso.

–Não quero que fale, mas sou excelente em guardar segredos, caso mude de ideia. –ele se senta ao meu lado. –Quero te contar uma coisa. –segura a minha mão, olhando para meus dedos finos e longos, ele brinca com minha aliança, e um pequeno sorriso se forma em seus lábios, mas desaparece rapidamente quando volta a falar. –A primeira vez que matei uma pessoa, enquanto ainda estava preso na ilha. Eu fiz por que precisava, para proteger alguém que eu amei. Mas isso não justificou, eu ainda me sinto um pouco sujo por aquela morte, e por muitas outras.

–Como consegue seguir em frente? –eu olho cada milímetro de sua face, precisava mais do que tudo no mundo daquela resposta.

–Às vezes precisamos fazer o necessário. –dá de ombros.

–Minha mãe sempre diz isso....

–E seu pai sempre discorda. –ele completa me dando um sorriso fraco. –Eu passei a me enxergar como Felicity me via, como John acreditava que eu era, me moldei através dos olhos deles.

–Mas acabou de me dizer que ainda se arrepende das mortes. –o olho confusa.

–Não de todas elas. –seus olhos se escurecem por um segundo, como se lembrasse de algo. -Me arrependo das que eu escolhi matar, não das que não exigiram escolha. –ele respira fundo. -Qual foi o seu caso? –não existia julgamento em seus olhos, era apenas uma conversa franca.

–Um pouco dos dois, eu acho. –pondero enojada. –Eu tentei Ollie, procurei outro caminho, mas no final só restou instinto de sobrevivência. –levo minhas mãos ao rosto, escondendo minha face, enquanto voltava a chorar. –Havia uma garota, ela estava infiltrada em meu grupo. –começo a contar, ou enlouqueceria, se existe alguém que pode ouvir isso, esse alguém é meu tio Ollie. –Ninguém sabia do disfarce dela, nos tornamos amigas, cuidamos uma da outra. Eu acreditei que podia confiar. –olho em seus olhos, enquanto falava com meus dentes cerrados, me sinto tão tola, que se pudesse me daria uma surra. –Um dia, eu voltei mais cedo para a base, caçar alimento sempre foi muito mais fácil para mim do que era para os outros, geralmente eu enrolava para não levantar suspeitas, mas nesse dia estava cansada, e com saudades de casa... Então pensei, “que se dane”, matei o primeiro faisão que vi, e voltei. No meio do caminho eu a encontrei conversando com.... –suspiro frustrada por não poder dar detalhes.

–Uma pessoa? –ele sugere solidário.

–Isso, uma pessoa inimiga. –esse é o termo mais ridículo que já usei na vida. –Ela estava nos entregando em uma bandeja de prata, a todos nós.

–O que você fez?

–Escutei escondida, esperei até que ela fechasse o acordo. Pelo que eles falaram, ela tinha uma rota de fuga, e eu sabia onde ficava. Então esperei que ela afastasse e segui a “pessoa inimiga”. –fecho meus olhos me lembrando do som do pescoço dele se quebrando em minhas mãos. –Dei um jeito nele. –me limito a contar, mas tenho certeza que me fiz ser entendida. –Depois segui para a rota de fuga, e sabotei o avião dela. Não existiu escolha, e eu não poderia matá-la olhando em seus olhos. De uma forma estranha, eu me importava com ela, com todos os que estavam a meu lado na missão.

–Tem certeza que ela morreu?

–Consigo me virar com mecânica. –dou de ombros. –Sem para quedas, ou freios reservas. –não era de tudo verdade, eu também a droguei antes de sua partida, mas por algum motivo, não consegui contar isso a ele. –Ela está morta. –garanto.

–Precisa se perdoar. –diz me olhando sério. –E nem pense em acreditar que não merece mais ser Artêmis, ou estar com Wally. –fico surpresa e ele abre um sorriso. –Já estive onde você está hoje, não foi à toa que me procurou. Sei o que está se passando por sua cabecinha linda.

É, talvez ele soubesse mesmo.

Há dois anos atrás, Waller me interceptou dentro do exército, ela formou uma equipe composta por “soldados promissores”, o melhor dos melhores, e eu estava inclusa. Éramos no total cinco pessoas, cada um com uma especialidade diferente, mas havia algo em comum, todos possuíam laços com a ARGUS, filhos de grandes agentes. Amanda Waller é a porra de um demônio de encruzilhada, mas ao invés de te oferecer dez anos, em troca de sua alma, ela toma posse dela, te transforma em uma máquina que apenas cumpre ordens.

Nossa missão era finalizar o projeto Amazo, encontrar o tal pai dele, e destruí-lo. Jade Nguyen, ou Lince, como nós a chamávamos, foi a garota que estava nos traindo. Antes de matá-la, ela era como uma irmã para mim, antes de descobrir sua jogada, eu me sacrificaria por ela, sem pensar duas vezes, mas existia muito mais por trás do Projeto Amazo. Tantas pontas soltas, que não tive escolha, se não aceitar perder minha alma para a velha Waller. Minha família, meus amigos, e toda a liga dependiam de nosso sucesso.

FELICITY

Oliver havia me ligado a cerca de meia hora atrás, para me dar a melhor notícia deste ano: Sara estava de volta. Há dois anos os Diggle, Allens, Oliver ou eu conseguíamos ter paz. Sempre ansiosos com a volta da nossa garota. Era uma experiência muito pior do que a que passamos com Wally, por que com ele tínhamos certeza que voltaria, já havíamos vivenciado aquilo, era só uma questão de tempo e tudo estaria bem.

Mas quando Sara foi para o exército, tudo foi diferente, e depois quando aceitou a missão secreta, que nem mesmo eu poderia rastrear, meu coração passou a ser apertado em peito, mais a cada dia. Todas as vezes em que Isis tem uma nova visão, eu rezo para que Sara esteja bem, tão bem quanto minha afilhada pode estar em condições que eu nem posso imaginar. E agora finalmente ela está bem, estava no gabinete da prefeitura conversando com Oliver, e eu tinha que me segurar para não largar essa reunião insuportável com o conselho diretivo, com uma Luna que parecia tão ansiosa quanto eu, e sair correndo para a Caverna.

–Felicity? – ouço a voz de Luna na porta da minha sala, peço que ela entre enquanto digito uma mensagem para Iris, pedindo par que ela e Barry estivessem em Star em quarenta minutos, pedi a ela por que sabia que se pedisse para Barry, eles só chegariam amanhã.

–Todos os dados da reunião foram computados, o conselho vai dar o parecer em dois dias. –Luna explica me passando algumas anotações pessoais que havia feito na reunião.

–Obrigada. Luna, sei que não é mais minha assistente, mas poderia ligar para o Connor e para a minha cunhada, e falar que quero aqueles três traseiros hoje as oito na caverna. – sorrio para ela que concorda com um aceno. –E você também, tenho certeza que o Wally vai aparecer. –Corro rapidamente meus dedos pela tela do meu celular avisando para Laurel que ela estava sendo intimada, e em menos de meio minuto tenho um ‘estarei lá’ como resposta. - Falta só a Isis, mas como ela anda mais com os morcegos vou pedir para Tim mandar ela para casa. –minha ansiedade era tanta que começava a roer os cantinhos das minhas unhas.

–Sra...

–Por favor Luna, toda vez que você fala em Sra. nessa sala, eu penso na minha sogra, e por Deus ela não era uma flor de pessoa.

–Desculpa. – Luna sorri e eu acompanho. – O que eu ia dizer é que é dia de semana, provavelmente Isis está em casa.

–Isso não impede Damian de estar lá com ela. – afirmo enquanto mando uma mensagem para Tim.

Quando enfim chegamos na caverna, Connor estava treinando com Roy em um dos tatames, enquanto Thea se preparava para entrar na luta. Me sentei em minha cadeira enquanto Luna começou a olhar o nosso arsenal, vendo de estava tudo correto.

–Acho que vamos precisar de mais flechas. – sorrio comigo mesma pensando que essa caverna logo estaria completa.

–Qual o problema? –Laurel aparece no elevador com um sorriso no rosto e uma pilha de papeis nas mãos.

–Solução. – respondo feliz.

– Se fosse para vir para aqui, eu teria vindo de carro. – Isis reclama ao parecer no centro da sala, com Damian ao seu lado. –Tim precisa parar de brincar com o teletransportador, aquilo é caro. Por que estamos todos aqui? Seja o que for eu não tenho culpa. –ela ergue uma mão, como se desse sua palavra.

– Nem todos, Barry e a Iris estão chega... – sou interrompida por uma lufada de vento que tira nossos cabelos dos lugares, e ao lado de Luna, Barry e Iris aparecem, ele com a aparência de que sempre esteve ali, ela por sua vez parecia que ter corrido uma maratona.

–Estou ficando velha para isso. –reclama levando a mão ao peito para recuperar os batimentos, Luna oferece uma cadeira que ela aceita de bom grado com um sorriso doce nos lábios.

–Então? –Connor me encara, quicando impaciente no mesmo lugar, e eu apenas aponto para o elevador. – Que seja a Chloë Grace Moretz. –pede com os olhos fechados ao lado de Luna que lhe dá um tapa no ombro. –Será que nem direito de sonhar tenho mais?

–Isso por que você não é casado, ainda. –Roy enfatiza o ainda e é a vez dele levar um safanão de Thea. – Eu disse, não disse? – estávamos todos rindo quando a porta do elevador finalmente se abre, Oliver, Wally, John e Lyla saem a frente, e o silencio recai sobre todos, acho que eu mesma não respirava.

–Adoro essa caverna cheia. –meu olhar se encontra com o de Sara, ela olha diretamente para mim e seu sorriso, acho que era o espelho do meu, ela estava em casa! Engulo a emoção para não deixar trasbordarem para os meus olhos e corro para abraçar minha afilhada. Eu a amo tanto quanto amo Wally, Isis e o Connor, eles eram as minhas crianças e não importa quanto tempo se passasse, isso nunca vai mudar.

Sara está em volta a abraços, os únicos a não se moverem foram Isis e Damian, bom ele eu entendo, mas Isis, isso não é o seu normal. -Só faltam vocês. -Sara olha para os dois, e aquilo parecia o gatilho que Isis precisava para se jogar nos braços da amiga.

Sara acaricia os cabelos de minha filha da forma protetora que só uma irmã mais velha teria. Lyla caminha para o meu lado junto a John, sinto sua mão em meus ombros, e observamos nossos filhos, reunidos. Não foi fácil, e na maior parte do tempo, não tínhamos a menor ideia do que estávamos fazendo, mas fizemos. Nós conseguimos contra toda a lógica, ser pais.

–Não sabe quanto rezei para você voltar. –Isis diz baixinho e todos estamos contendo as lagrimas, um trabalho difícil.

–Não sabia que era religiosa. –Sara tenta amenizar o clima, se não iríamos precisar que quilômetros de lenços de papel.

–Não era, não sou. – Isis se afasta olhando a amiga.

–Obrigada. –Sara trasborda sinceridade.

–E bom que esteja de volta. – Damian tem as mãos nos bolsos da frente da calça jeans.

–E bom estar de volta. – Sara estende o braço e abraça Damian pegando o garoto e todos de surpresa, ele sorri tímido antes de retribuir.

–Ok, ok, chega de abraçar a minha noiva. –Wally aparece ao lado de Damian, só para não perder a tradição de implicar com o “namorado” da minha filha. Os dois se soltam dando risada, e Sara estende sua mão para Wally.

–Noiva? – quase grito, veja bem, não sou entusiasta de casamento e toda a cerimônia, demorou muito tempo para Oliver conseguir me colocar em frete a um juiz de paz, e eu só concordei por que ele aceitou meus termos. Quarta-feira com apenas John e Thea como nossas testemunhas, ela por ser família do Oliver, e John por que precisávamos da testemunha, tipo, por lei. Mas era a Sara e o Wally que estavam dizendo sim, nossos primeiros bebês. Credo! Pensei como minha mãe agora.

Volto o meu olhar para Iris a cobrando, mas ela apenas pede desculpa por não ter me contado com um olhar de ‘sinto muito’. Sara começa a andar em direção ao fundo da caverna e para em frente ao seu uniforme, a redoma automaticamente se retrai, ela estende a mão e retira o seu capuz.

–Acha que é uma boa ideia Sara? Faz dois anos, a cidade mudou muito. –Connor a olha preocupado.

–Os bandidos continuam covardes? –questiona em resposta.

–Sim. –Oliver tem um sorriso como que diz ‘viu? Eu quem a treinei.’

–Então eu sei exatamente onde ir.

–Eu não vou poder ir... – Isis tinha um olhar de pânico na face.

–Temos uma busca em um clube de gângster que estão traficando drogas de Gotham para Star. –Damian diz mais rápido que o normal, e Isis não pensa duas vezes e desaparecem em uma rajada de luz, ela estava mentindo, só tinha medo de saber o porquê.

–Também teremos que voltar para Seattle. –Thea puxa Sara para um beijo. –Aquela cidade é uma versão molhada de Star City. –franze o cenho olhando para o irmão que faz o mesmo.

–E não faça mais isso de desaparecer. –Roy a abraça também e beija o alto da sua cabeça.

–Não vou, tio. –Sara sorri e logo Thea e Roy também não estão mais aqui.

–E a caverna está esvaziando de novo. – me jogo na cadeira.

–Calma Fel, Wally vai ficar. –Barry já havia cumprimentando Sara e tinha a sua mulher em seu colo, pronto para sair.

–É Fel, hoje eu vou ficar por aqui. –Wally se joga em meu colo, todo teatral feito um bebê gigante, Deus ele estava pesado. Quando viro minha cabeça para me despedir Barry já não estava ali, a essa altura estavam dando bronca em um dos gêmeos.

–Essa parte de falar com o vento, é sempre frustrante. –murmuro com dificuldade, e Oliver puxa Wally do meu colo dando risada.

–O que temos de interessante, amor? –e todos estavam em volta da minha tela. Uma sensação de felicidade que me era familiar me toma, depois de muito tempo.

–Bom... –começo a entrar nas câmeras de segurança da cidade. –Temos um novo magnata na cidade, o nome dele é John King, muito pretencioso, eu sei. –reviro os olhos colocando a foto de um cara de meia idade, barrigudo, com os cabelos negros apenas ocupando a parte inferior de sua cabeça, e trajando um terno de marca. –Oliver tem dado conta dele como prefeito, da forma que pode, cortar suas investias por poder, desvios de dinheiro para a caridade e essas coisas.

–Não tem sido o suficiente. –Oliver acrescenta, com a mão no encosto da minha cadeira.

–Nem perto disso. –Luna diz abrindo mais relatórios nas telas. –Não por falta de eficiência, o problema é que esse homem tem muita sujeira escondida por debaixo do tapete.

–Eu o definiria como Egomaníaco Psicopata. –Oliver diz.

–Resumindo a história, ele é o típico político super vilão. Não consigo gostar desse tipo. –Connor fala como se refletisse sozinho, e todos olhamos para ele espantados. –Sou um monge, não posso odiar pessoas. –explica. Oliver e John reviram os olhos, eu apenas volto para os monitores. –Ele consegue mudar seus bens, sempre que estamos perto de intercepta-los.

–Até agora eu só vi crimes fiscais, o que podemos fazer em um caso desses? –Sara se aproxima para ler os monitores. –Não somos o FBI.

–Deixamos o melhor para o final. –Luna e eu dizemos em uníssono.

–Que gracinha, agora elas falam ao mesmo tempo. –escuto a voz de Wally dizendo ao fundo, mas ele se cala, assim que começamos a mostrar as fotos dos corpos.

–Cada uma dessas pessoas foram mortas pouco antes de Oliver e eu chegarmos para interroga-las. –Dig conta. –Elas eram funcionárias do King, assessores de campanha, assistentes pessoais, todos morreram assim que foram despedidos.

–Ele está limpando seus rastros. –Sara argumenta. –Já olharam as baixas dos relatórios de perícia, atestados de óbito, ou seguros entregues as famílias? –Lyla a olha espantada, como se estivesse acabado de descobrir algo não muito agradável.

–Não. –murmuro, já invadindo o sistema da polícia para conseguir o que ela queria. –Acho que não pensamos nisso. –sussurro, vendo que não existiam certidões de óbito, seguros, e que em todos os relatórios da polícia, constava que as pessoas assassinadas eram indigentes.

–As contas, e todo o dinheiro desviado, eles estão em nome dessas pessoas. –Lyla constata. Oliver também olha para Sara, não da mesma forma que Lyla, ele parecia conversar com a afilhada de uma forma muda.

–Brilhante, Sara. –elogia, mas o conheço, sei que estava tentando mudar o foco.

–Você acabou de agir exatamente como a sua mãe. –John diz, com orgulho na voz, só então me dou conta do porquê de toda a apreensão nos olhos de Lyla. Waller não se atreveria, ou se atreveria?

–Tenho um endereço. –Luna diz. –É melhor se trocarem.

OLIVER

Dentro da caverna, precisei inventar que sentia falta de como era combater o crime, apenas com arqueiros, para conseguir manter os outros fora dessa missão. Para ser justo, eles não resistiram, Lyla, Laurel e Felicity queriam mais detalhes a respeito do pedido de casamento, e Luna, parecia saber bem mais do que todos, chegando a reforçar meu argumento, o que fez Connor ficar do meu lado. Dig ainda não havia percebido nada, mas ele é a pessoa mais observadora que conheço, um dia em campo com Sara, e ele veria os traços do treinamento da Waller em cada um de seus golpes, do mesmo jeito que os percebi durante a nossa conversa.

Se pudesse, e não soubesse que mesmo com sua lógica mórbida e distorcida, Waller tenta manter o mundo em segurança, eu já a teria matado a muitos anos. Acho que nesse momento, ela é a pessoa que mais odeio no planeta. Já estou furioso o suficiente, quero poupar John de tudo isso, ao menos até que Sara esteja pronta para ela mesma contar. Já Connor, seria bom para ela o ter por perto, ele é completamente focado em suas missões, e consegue conversar com Sara em combate de uma forma só deles, não importa os anos que se passaram, isso não é algo que se perde.

–Eu ainda não entendo por que precisamos ir até a casa dele o prender, Oraculo poderia mandar os relatórios e todas as provas para a polícia, e terminar o caso. –Sara grita, da garupa da minha moto, enquanto dirigia em alta velocidade para a mansão do King.

‘A mesma polícia que mudou os relatórios de autopsia?’ escutamos a voz de Connor em nossos comunicadores, sua moto estava um metro a frente da minha.

–Aquilo foi hakeado a distância, nem preciso ser a Oraculo para saber disso. –ela responde.

–Ele não é um político corrupto Sara, King matou pessoas com suas próprias mãos, e sua mansão é como um grande forte. –respondo parando a alguns metros de uma imponente mansão branca pretenciosa, cercada por um muro imenso, e cheia de guarda costas em volta.

–Quem é esse cara? O presidente dos EUA? –ela pergunta, saindo da moto.

–Não se depender de mim. –respondo a caminho do muro.

Não contaríamos com o elemento surpresa por muito tempo, Felicity desativa os alarmes principais, e a cerca elétrica, por tempo suficiente para que nós entrássemos na mansão, sem sermos percebidos. Tudo em Sara mostrava o quanto ela estava entediada com a missão, e como ela preferia estar batendo em assaltantes de rua. Aponto para um porta a nossa direita, com meu arco em punho, e Connor abre a porta lateral que nos leva para um corredor escuro.

‘Próxima porta a direita.’ Escuto a voz de Felicity, vindo do meu comunicador. Ela nos guiava através da casa até estarmos em um escritório. ‘Coloque o dispositivo no servidor dele.’

King possuía o melhor que o dinheiro pode comprar, em relação a segurança digital. Quando se é um corrupto/assassino ao nível dele, é importante possuir seu próprio servidor, gerador de energia independente, e até mesmo um satélite bloqueando invasão. O que foi um grande motivo de frustração para a minha mulher nesses últimos meses, e acredite, Felicity frustrada é igual a Oliver Queen frustrado, não preciso entrar em detalhes. Então, para conseguir os dados completos do King e lhe entregar uma passagem só de ida para uma prisão federal precisaríamos entrar na casa dele e acessar o servidor. Esse é o plano, Felicity desenvolveu um dispositivo específico para não deixar rastros ou assinaturas, mais uma coisa que a frustrou. Segundo ela, seu trabalho deveria ser exibido em uma galeria de artes. Pensando bem, não é mesmo a melhor maneira de trazer Artêmis a ativa no fim das constas.

–Tedio! –Sara reclama enquanto a barra de transferência indicava que ainda faltava vinte por cento para completar o procedimento.

–Vem vindo alguém. –Connor indica a porta, com os ouvidos abertos para prestar atenção em cada ruído no ambiente. –Quinze homens usando coturnos e outro com sapato social.

–Qual a cor do sapato social? -Sara implica de forma fraternal.

–Marrom, puxado para o café. Artêmis, o seu tedio vai acabar agora. –devolve o deboche com um sorriso largo no rosto, mas sua atenção é desviada para a mesa atrás do computador, no momento exato que as janelas da lateral do escritório explodem e cacos de vidros espalham por todos o cômodo.

–Você não estava contando com esses? –Sara sorria parecendo feliz como uma criança que acha um antigo brinquedo perdido. Olho para a barra de transferência, noventa e sete por cento.

–Protejam o servidor. –minha voz sai modificada pelo modulador. Vejo Connor pegar alguma coisa atrás de mim enquanto dispara suas flechas em dois guardas que estava à frente, eles caem no chão e consigo ver o rosto de John King, estava afetado pela ira, e apontava um revolver em minha direção.

–Destrua os três, os quero mortos! –grita, a ponto de explodir a pança proeminente que tinha, era quase engraçado, como em um episódio perdido de algum cartoon antigo.

Sara lutava encurralada em uma parede, mas se engana ao pensar que ela estava perdendo, eram sete a sua volta e dois já estavam no chão, ela desferia golpes como uma felina, eram graciosos os seus movimentos, mas letais. A minha frente cinco mercenários tentavam me enfiar em uma sacola preta e eu apenas tentava proteger o servidor para que tudo fosse enviado, a transmissão dos dados não podiam ser interrompida, só tínhamos essa chance.

‘Está completo, saiam daí.’ Felicity grita aos nossos ouvidos.

–Ah não. –Connor reclama. -Agora que estava ficando divertido.

‘Você é um monge Connor, aja como tal.’ Luna ralha impaciente.

–Precisa acabar com a minha festa? –meu filho murmura deixando mais dois inconscientes ao seus pés. –O tempo todo?

Já estávamos na janela quando King grita chamando nossa atenção. –Acha mesmo que isso vai te servir? Essa é a minha cidade, todos me devem algo, é só uma questão de tempo e logo vocês estarão em alguma vala.

–Essa cidade não é sua. –Sara quase rosna ao meu lado. –Pessoas como você acham que podem brincar com as vidas dos outros, e pessoas como nós mostram como vocês estão errados.

–John King. –Connor diz paciente, com o homem sobe a mira de seu arco. –Você falhou com essa cidade. –ele atira um flecha com tranquilizante no homem, e nós nos lançamos pela janela.

Ao chegarmos na caverna, Felicity estava ligada no 220V, parecia até o Flash após tomar doses excessivas de expresso italiano. Ela havia ligado para a Casa Branca, só esqueceu que já passava das duas da manhã e o presidente não estava em sua sala, logo a transferiram para a secretaria de defesa, que estava irritada pelo avanço da hora, mas a irritação pareceu sumir quando Felicity lhe encaminhou o dossiê de King, a Secretaria prometeu que pela manhã John King estaria preso e que dessa vez nem a intervenção divina ira o tirar da perpetua ou até, como disse Luna, da Milha Verde.

Vamos nos trocar, e Sara parecia muito mais com a minha afilhada de quatro anos atrás, me sinto aliviado por isso, não que seja tolo a ponto de acreditar que ela superou todos seus traumas prendendo um político, mas é um começo promissor. Quando Connor estava saindo do banheiro, já com suas roupas civis, o chamo para um canto mais afastado da caverna, para que não sejamos ouvidos.

–Eu vi você pegando alguma coisa naquela sala. –ele tenta desviar o olhar, mas sei que estava preocupado. -Connor você não precisa me esconder nada, de ninguém aqui dentro.

–Uma foto. –ele parecia incerto em me mostrar, mas acaba cedendo.

A imagem estava desfocada, como se tivesse sido tirada a distância, mas imediatamente reconheci o local. Era a fachada da escola de Isis, na foto haviam muitas pessoas, quase todas estavam borradas, mas pude distinguir Phill, Isis e seus amigos. Provavelmente estraria em pânico por minha filha, mas apenas uma pessoa estava perfeitamente focalizada, Mia Dearden, uma das melhores amigas de Isis, que frequenta a nossa casa desde que colocamos Isis nesta escola.

– O que você acha que isso quer dizer? –olho para seu rosto com cuidado.

–Não quero especular, mas vou descobri. –afirma pegando a foto de volta.

–Vocês dois. –Wally aparece feliz ao nosso lado, mas feliz do que eu o havia visto em anos. – Quem cochicha o rabo espicha. –tem momentos, que não acredito no que sai da boca dele.

– E quem escuta... – Sara para ao seu lado, o puxando pela orelha, mas nem assim ele tira o sorriso que parecia parafusado em seu rosto, não posso culpa-lo, dois dias longe de Felicity e eu já estaria surtando, imagina dois anos. –Que tal irmos para casa? Já me despedi de todo mundo. – ela pula no colo do Wally que dá um aceno para nós. – Tchau! –ela nos sorri e já não estão mais ali.

–Esses dois vão dar mais trauma para os filhos deles do que Felicity e você deram para a gente. –Connor parece desabafar.

–Ainda podemos lhe proporcionar outros traumas. –sorrio e ele me responde com um olhar de nojo. –Vai dizer que Phill nunca pegou você e a Luna...

–Pai! Eu realmente não preciso dessa conversa. –sai parecendo tonto, e eu fico parado no mesmo lugar, apenas olhando em volta, percebendo tudo o que conquistamos.

SARA

–Volto para te buscar em... –Wally olha em seu pulso, que não possuía nenhum relógio sobre seu uniforme de Flash. –Cinco horas, exatas. –ele beija meu rosto, me colocando em frente a mansão dos Queens.

–Tudo bem, estou com saudades do Connor e da Isis, não tivemos muito tempo sozinhos ainda. –respondo com um sorriso contrariado, preferia mil vezes nem ter saído da cama hoje, mas somos adultos agora, em pensar que esperei ansiosa por esse momento.

–Hunt está animado com sua volta, vamos chama-lo para jantar, ou te ajudar na faxina do nosso apartamento. –brinca com um lindo sorriso sapeca.

–Você quer dizer te ajudar. –corrijo apontando para ele.

–Nos ajudar. Vamos concordar assim. –pondera e concordo envolvendo meus braços ao redor de seu pescoço. –Não gosto de ir. –diz com seus olhos verdes me sondando.

–Amor, você precisa trabalhar, um de nós precisa, e foi você que decidiu não ser forense!

–Eu amo meu trabalho, não estava falando dele. –dá de ombros. –Não gosto de te deixar, ou ir para qualquer lugar sem você. –seu rosto estava sério, era como se desabafasse, meu coração chega a falhar uma batida. –Era diferente, Sara. Você é meu único motivo para não correr. –pela forma que ele falou as palavras, parecia muito mais complexo do que aparentavam.

–Bom... –fico na ponta dos meus pés para aproximar meu rosto do dele, até que nossos narizes se tocassem. –Pode me arrumar um macacão jeans, me colocar dentro da oficina, e rezar para que ninguém perceba que não trabalho lá. –ele dá risada, da forma séria que apresentei meu plano mirabolante.

–Esse não é um bom plano. –diz ainda sorrindo, posso sentir sua respiração quente em minha face. –Mas gostei da parte do macacão. –é minha vez de sorrir, antes de beijá-lo.

–As cinco. –murmuro zonza quando nos separamos, Wally pisca para mim, antes de desaparecer.

Respiro fundo, olhando para as portas duplas de madeira escura a minha frente. Eu giro a minha chave na fechadura, me esforçando para fazer a maior quantidade de barulho que posso, silencio nessa casa nunca acaba em coisa boa. –TIA! –grito assim que fecho a porta atrás de mim. –EU ESTOU EM CASA! –continuo a gritar. –ISIS! –estava na metade da escada quando vejo a cabeleira loura de Connor surgir do corredor, onde ficam os quartos.

–Eu cheguei primeiro, pode parar o escândalo, nós estamos seguros. –brinca com um sorriso sincero, vindo me abraçar.

–Eles não estão em casa? –pergunto quando nos afastamos, e vamos em direção a sala de TV.

–Meu pai está cuidando do King, como prefeito agora. –dá de ombros. –Te chamei, por que queria passar um tempo com você, e por que sei que andou ligando para a Luna, mesmo sem ter tempo para seu primo preferido. –finge estar chateado, e senta no sofá a meu lado.

–Desculpe. –digo com sinceridade. –Se falasse com você, teria vindo primeiro para Star, e precisava ver o Wally. Então Luna convenceu Tim a brincar um pouco com o teletransporte, e me encontrou em Keystone para entregar a chave, e me dar o endereço dele.

–Ela não me disse nada. –ele olha para as próprias mãos, aquilo é tão atípico do confiante Connor Hawke, que precisei segurar o riso.

–Con, ela também estava com muita pressa, disse que precisava ficar de olho em você. –consigo a atenção dele, o fazendo me olhar de lado. –Posso perguntar uma coisa, e me promete ser sincero?

–Claro, qualquer coisa. –responde sem hesitar.

–Essa lerdeza é biológica? Uma coisa que se passa de pai para filhos, ou foi o convívio com o tio Ollie? –digo séria e ele me empurra de brincadeira. –Não, eu estou genuinamente curiosa. –resisto me levantando do sofá. –Quatro anos se passaram, e ainda assim, você e Isis estão nesses relacionamentos confusos, e sem definição.

–É o que se espera quando se envolve com um Wayne. –escuto a voz de Damian que estava parado na soleira da porta. –Mas isso não justifica o Connor.

–Mora aqui agora? –implico, mas ele não parece se importar, dando de ombros. –No seu caso eu acho que é patológico mesmo. –cruzo os braços olhando para o pequeno demônio em remissão.

–Ainda se assusta com meu pai? –devolve a provocação, e imediatamente o sorriso simpático e brilhante do Bruce invade minha mente, me fazendo estremecer.

–Não é engraçado. –respondo séria, provocando riso nos dois. Ele estava muito mais parecido com o pai, mas por alguma razão o Wayne nascido da doida varrida, não me assusta nem um pouco. Contrariando todas as probabilidades, eu gosto dele.

–Ele veio trazer Isis. –Connor responde quebrando o silencio. –Foram a Central City buscar um presente seu na Star Labs.

–Presente? –pergunto a Damian animada, segurando um sorriso, para não ceder depois dele me fazer pensar na identidade secreta do Batman, credo! Estremeci de novo. Ele assente, e vejo Isis entrar na sala com uma grande caixa verde.

–Um presente! –acrescenta me entregando a caixa. –Estou feliz por estar de volta. –seus olhos brilhavam emocionados, o que me faz sorrir feliz.

Coloco a caixa sobre o sofá, e a abro com cuidado. Foram dois anos no exército, mais outros dois no inferno, mas quando vejo o novo uniforme, ainda verde, sem mangas, com o capuz que se ajusta a meu rosto, parecido com o do Wally, a única diferença era o espaço acima para meu rabo de cavalo, quando vejo isso, e sinto a presença das pessoas que amo ao meu lado, nesse momento eu me sinto em casa. Tio Ollie estava certo, não vai cicatrizar, provavelmente vou continuar a gritar enquanto durmo por um tempo, a cama vai parecer mole demais, e vou sentir que não a mereço. Mas posso me moldar novamente, me reconstruir através dos olhos de todos ao meu redor, me lembrar de como é ser apenas uma heroína.

–Então, o que achou? –Isis pergunta quicando impaciente a meu lado.

–É perfeito. –respondo admirada.

–Bem vinda de volta, Artêmis. –Damian diz com um pequeno sorriso no rosto.

É bom estar de volta.