LUNA

Acho que Connor está me torturando, ou esperando que eu implore para ele ser menos puritano, só pode. Três semanas de namoro, e o lugar mais ousado no qual ele encostou, foi meu joelho, já estou a ponto de ir à loucura, prevejo o momento em que vou conseguir uma ordem judicial por agarrá-lo. Estou sentada no sofá, entre as suas pernas, com seus braços em volta do meu corpo, estamos apenas esperando Phill chegar com Mia, para o encontro dos dois, mas até que Philippe atravesse a cidade e volte, nós teríamos tempo, não entendo o que está acontecendo, só sei que meus hormônios estão entrando em ebulição dentro de mim.

Enquanto isso, a tortura continuava. Sentia seus lábios em meus cabelos, as vezes em minha orelha, onde ele beijava, ou mordiscava de leve, suas mãos passeavam por meus braços, depois me apertavam contra seu corpo firme. Beijava minha bochecha, cheirava meu cabelo e pescoço, ria de algumas cenas do filme que eu fingia assistir, bem pertinho do meu ouvido, em um determinado momento, passei a me concentrar em minha respiração, ou não responderia por mim.

–Phill está demorando. –murmuro com um esforço sobre humano para não gaguejar.

–Ele saiu a doze minutos Luna, não está nem no meio do caminho! –responde, seguido de uma gargalhada quando Channing Tatum e Jonah Hill ficam sobre efeito de êxtase. –Nunca vou me cansar desse filme. –murmura em meio ao riso, que droga, ele é sexy até sem se esforçar.

–É... Um bom filme. –dou de ombros, voltando a me escorar em seu corpo, e seus braços fortes imediatamente me prendem ali, que se dane! –Connor, o que estamos fa... fazendo? –pregunto de uma vez, como quem arranca um curativo.

–Assistindo Anjos da Lei, e esperando para ficar de baba, dos pirralhos. –responde confuso, e me viro um pouco para poder olhar em seus olhos, não deveria ter feito isso, só sinto ainda mais vontade de pular em seus braços e fazer coisas que me envergonharia ao relatar depois.

–Não estou falando disso. –aponto para tudo em volta. –Estou falando disso. –gesticulo para nós dois, o vejo morder os lábios para segurar um sorriso.

–Como assim? Nós estamos juntos. –ele suspira, e se inclina para me dar um selinho estalado nos lábios. –Nunca estive tão feliz em minha vida. Qual o problema? –semicerra os olhos, confuso. –Você não está, tem algo errado?

–Tem! –esbravejo, mas depois respiro fundo, me controlando. –Quer dizer, estou feliz, mu... muito feliz. Mas Connor, é sua religião? Por que eu entenderia se não te conhecesse a anos, e soubesse como são seus relacionamentos...

–Eram, só tenho esse relacionamento agora. –corrige sério.

–Tudo bem, como eles eram!

–Luna, eu estou tentando te entender, mas não consigo. –a pior parte, é que ele estava sendo sincero, posso ver em seus olhos azuis, angustiados.

–Vo... vo... você –merda, Connor percebe meu nervosismo, e acaricia meus braços, mas sinto formigar várias partes do meu corpo sob seu toque, aquilo não me ajudaria, então me levanto e paro em frente a bancada que separa a sala da cozinha, seus olhos me seguem preocupados. –Não me acha atraente?

Várias coisas passam pelo rosto de Connor. Primeiro seu queixo cai, em choque, depois ele segura o riso, para não me ofender, e por último, seus olhos parecem queimar, quando se levanta e caminha lentamente em minha direção, como um felino caçando. Ele para em minha frente, sem me tocar, mas dentro do meu espaço pessoal me olhando de cima, e quando começa a falar, sua voz é baixa, segura, e Deus, a coisa mais sexy que já ouvi.

–Quero te levar para minha cama desde o dia em que te conheci. –diz sério, me olhando nos olhos. –Conheço cada parte visível de seu corpo Luna, posso dizer onde fica cada marca, pinta ou curva. Estou louco para descobrir o que mais existe, onde todo esse tecido encobre. –me olha sem pudor, cheio de desejo, como se estivesse nua.

–Então por que não des.... descobre? –sussurro, paralisada, sem conseguir me mover. Connor toca de leve meu rosto com as pontas dos dedos e se inclina, para colar seus lábios nos meus, enquanto move sua boca sincronizada com a minha, suas mãos deslizam por meus braços, até encontrarem as minhas mãos, que ele segura, antes de se afastar, para me olhar nos olhos.

–Estou tentando te mostrar o quanto você é diferente, e quando acontecer...

Quando? –murmuro desolada, e ele solta um riso baixo.

–Quero que saiba que estará sendo amada. –continua, ignorando meu comentário. –não será apenas sexo Luna, não com você, esperei tanto tempo por isso. Vou te provar que mudei...

–Por que pensa que precisa provar alguma coisa? –o interrompo chocada. –Connor, depois do elevador, você nunca me tratou igual tratava as outras, eu sei disso, por que se lembra do meu nome todos os dias. –ele dá risada, encostando sua testa na minha.

–É o nome que mais gosto no mundo. –sussurra com ar de diversão, e lhe dou um sorriso tímido. –Então, sem provas? –balanço a cabeça em negativa. -Cortejos? Dotes? Ou declarações do meu eterno amor? –exagera, colocando a mão sobre o peito, fazendo charme, e nego, dando uma risadinha da qual me envergonho. Para minha surpresa, ele coloca a mão em meu seio, sobre a camiseta, sem nenhuma cerimônia, com um largo sorriso de uma criança que acabou de ganhar o presente de Natal.

–Jura, Connor? Nem disfarçou? –pergunto, olhando da mão dele para seu rosto feliz.

–Não te entendo, a dois segundos você queria minha pureza! –debocha e seguro o riso.

–Não tem nada de puro ai! –revido.

–Eu te amo? –tenta melhorar, depois percebemos que nunca dissemos isso um ao outro, e os sorrisos desaparecem de nossas faces, em seguida ele tira sua mão do meu seio, e segura meu rosto com carinho. –Eu te amo, Luna. –repete, com olhos intensos, não sei descrever tudo o que sinto, era como uma avalanche, me limito a sorrir, e ficar na ponta dos pés para beijá-lo, mas quando nossos lábios se tocam e eu já estava prestes a agradecer a Deus, universo ou ao espirito de Woody Allen, por estar prestes a fazer sexo, finalmente, como o homem que amo, um barulho estrondoso nos afasta. E me lembro que sorte, geralmente não faz parte do roteiro da minha vida, Connor e eu olhamos em direção a porta. Merda, Philippe já estava de volta!

SARA

Tio Ollie e Tommy conversavam em voz baixa na sala, Isis e eu tentávamos ouvir algo através da parede da biblioteca, sobre o olhar de descriminação de um Damian entediado. A verdade é que por mim, eles já estariam namorando em algum lugar da mansão, ou em qualquer outro que quisessem, não sou uma visita para os Queen’s, tenho até um quarto no andar de cima, mas Isis parecia querer aproveitar o tempo a meu lado, quase perguntei se era ciúmes de Luna, mas resolvi não render, e acabei sugerindo a coisa mais idiota na qual consegui pensar.

–Por que não vão simplesmente lá, e perguntam o que querem? –Damian diz, após um bocejo.

–Eu nem mesmo o conheço. –falo estranhamente animada, Tommy Merlin era uma espécie de lenda, daria tudo para conhecer a versão do Tio Ollie com a qual ele conviveu.

–Também troquei poucas palavras com ele, mas só pela alegria da Laurel, acho que gosto do Tommy. –Isis fala tão inquieta quanto eu.

Damian revira os olhos, e se levanta saindo da biblioteca, Isis e eu trocamos um olhar confuso, antes de correr para porta, para ver o que o pequeno demônio faria. Ele caminhava tranquilamente em direção aos dois, Ollie sorri quando o vê, e assente, o incentivando a se aproximar, nos mantemos escondidas observando a cena.

–Tommy, esse é Damian Wayne, o namorado da minha filha Isis. –apresenta, e Tommy se levanta para apertar a mão de Damian, murmura algo no ouvido do garoto que faz Oliver gargalhar e Dam engolir em seco.

–Ele também é neto do Ra’s Al Ghul, filho de Thalia. –Tio Ollie completa.

–Não me orgulho da última parte. –Damian murmura, e Tommy sorri divertido.

–Tudo bem garoto, também sou filho de um psicopata, talvez devêssemos criar uma espécie de grupo de apoio. –brinca. –Algo como “FPA” ou “FDP, A” mesmo.

–Não é a pior ideia que já ouvi. –ele dá de ombros em resposta, se sentando relaxado na outra ponta do sofá. –Isis e Sara querem te conhecer. –aponta em nossa direção sem nos olhar, tem momentos em que odeio essa onisciência que parece fazer parte da Batfamilia! Saímos de nosso esconderijo como duas crianças arteiras, andando tímidas em direção aos três que sorriam.

–Olá Isis. –Tommy se levanta e abraça a sobrinha emprestada, com carinho.

–Oi Tommy. –responde com um largo sorriso.

–Você é linda, com certeza puxou a sua mãe, é totalmente a Felicity! –debocha, e vejo o tio Ollie revirar os olhos, ele vem em minha direção e coloca o braço sobre meus ombros, me levando em direção ao restante do grupo. –Que se me permite dizer, é muito mais gata hoje do que o que me lembro de quando ela era sua funcionária!

–Cara, ela é minha mulher. –Ollie balança a cabeça em negativa o olhando sério, tia Fel fica fora dos limites do humor dele.

–Claro, me desculpe. –responde com falso arrependimento.

–Essa é minha sobrinha, Sara Diggle. –Oliver diz cheio de orgulho, e vejo os olhos de Tommy brilharem por um momento, enquanto parecia pensar.

–Sara... –ele sussurra, depois abre um largo sorriso. –Laurel me contou a história de seu nome. Posso te dar um abraço?

–Claro. –respondo sorrindo, e ele me abraça como se fossemos amigos desde sempre, existe algo de especial em Tommy Merlin, um magnetismo, completamente inverso ao do pai, ele me lembra Connor ou Wally, esse tipo de pessoa, fácil de se apegar.

–Agora preciso conhecer o Connor. –diz quando nos afastamos. –E pedir desculpas para ele... –nós ficamos sérios por um momento, não tenho ideia de como meu amigo vai reagir ao Merlin a princípio.

–Bom, ele puxou boa parte do meu gênio, é bom pensar em algo mais elaborado do que “me desculpe, eu estava sem alma e queria matar seu pai”. –Ollie debocha, e nós damos risada.

–Por favor Tommy, eu preciso saber dos podres do papai! –Isis dispara ansiosa.

–Não! –Oliver diz sério, mas me junto a Isis ao lado do amigo dele que dava risada divertido.

–Claro, tenho uma perfeita. –ele ignora o olhar assassino do amigo sobre ele, e continua falando tranquilamente. –A clássica mijada no paparazzi! –vejo no rosto do meu padrinho que ele queria morrer naquele momento, Tommy acaba de ganhar meu coração!

CONNOR

–Ela não estava lá! –Phill diz, posso ver o desespero em seu rosto quanto entra em casa como um foguete. –A porta da casa dela estava arrombada, e tudo estava revirado. Eu não sei o que aconteceu com Mia. –ele deixa que seu corpo caia sobre o sofá, e Luna e eu temos uma breve conversa muda, ela vai confortar o irmão, enquanto eu digito uma mensagem reunindo o time na caverna.

–Acha que foi um assalto? –Luna pergunta, tentando passar tranquilidade a ele, que apenas dá de ombros perdido.

–Phill, você chamou a polícia? –precisava ser lógico e ter a cabeça no lugar certo.

–Não, eles nunca fazem nada. Preciso da sua ajuda. –a forma como ele diz, faz com que todo o meu corpo congele por um segundo.

–Minha ajuda? –repito feito um idiota, e vejo o pavor nos olhos da Luna.

–Não temos tempo, vocês estão perdendo mais tempo ainda tentando me despistar. –cobre o rosto com as mãos, as levando aos cabelos, um ato de puro desespero. –Por favor Con, só a consiga de volta, em segurança. –seus olhos se fixam nos meus, e faria qualquer coisa para não o ver mais daquela forma, balanço a cabeça confirmando, e saio em direção a porta. –Pode ir Lu, eu vou ficar bem. –o escuto dizer para a irmã.

Pego o meu casaco e de Luna que vinha atrás com dois capacetes, e ao passar pela porta jogo o casaco dela em sua direção e ela me joga meu capacete, descemos as escadas correndo. Espero apenas Luna passar seus braços em volta do meu abdômen, e já arranco com a moto na velocidade máxima. Eu sei que Philippe não é bobo, e que não somos os melhores mentirosos do mundo, mas não esperava por essa.

Chegamos a caverna em menos de dez minutos, e vejo minha mãe em frente aos computadores, Isis já estava vestida, ao lado do Robin, e meu pai estava mais afastado com Tommy Merlin em suas roupas de Arqueiro Negro a seu lado. Não me importo em como as lembranças daquele cara me torturando me assombram, precisava ajudar Phill e quanto mais gente melhor.

–Como você está? –Artêmis pergunta a Luna, nem mesmo tinha a visto do lado da escada, minha namorada murmura algo em resposta que não entendo, e continuo seguindo em direção a Felicity.

–O que aconteceu Connor, por que tanta urgência? –olho para Isis, que mesmo em estado de alerta, parecia feliz ao lado do namorado, não é algo que vemos com muita frequência a um tempo, e odeio ter que estragar isso.

–Mia Dearden, ela desapareceu.

–O que? Como? -então minha irmã já estava ao meu lado, e Luna já começa a trabalhar em seus computadores. –Não faz sentido, ela não teria o tal encontro com Philippe? Ele está bem?

–Phill foi busca-la em casa, e encontrou tudo revirado, parece que alguém a levou. –respondo, vendo seus olhos azuis se tornarem assustados. –Ele está bem, foi quem nos informou sobre o ocorrido. –respondo apenas com o olhar, o que todos pareciam querer saber no momento, “Philippe sabe do nosso segredo.”, não quero que Luna precise explicar o choque que foi para nós dois.

–A Canário já está nas ruas, vou pedir que ela dê uma olhada no local em busca de algo. –Felicity diz tocando o comunicador, onde passa a falar com Laurel.

–Connor, olha isso. –Luna diz mostrando os arquivos de Mia. –Ela já passou por nove orfanatos, bateu o meu recorde. –murmura, e Felicity passa a ajuda-la com os registros da garota.

–Isis, sabe algo que possa ajudar? –ela nega.

–Sei apenas que a mãe dela faleceu quando Mia ainda tinha sete anos. Não sou de perguntar para não dar espaço... –ela para de dizer, mas todos somos capazes de entende-la, tendemos a manter as pessoas longe, no intuito de protege-las, acontece que nem sempre dá certo.

–Vamos procurar pela cidade, não adianta ficar aqui. –meu pai diz. –Connor, vá se trocar. –confirmo e vou pegar meu uniforme.

‘... consegui falar com um vizinho.’ Escuto a voz de Laurel, quando voltava para o convex da caverna, já com meu traje de Arqueiro Verde. ‘Ele viu Mia sair, pelos fundos, antes que dois homens arrombassem a casa dela.’

–Está pronto? –Sara pergunta, me entregando meu arco e a aljava, balanço a cabeça confirmando. Vou até Luna, e toco seu ombro para que ela olhe em minha direção.

–Mantenha Phill informado, não é certo o deixar no escuro. –aconselho, e ela assente, com o rosto sério.

–Vou ligar para ele. –promete, e beijo o alto de sua cabeça, tentando tranquilizá-la.

–Vamos. –meu pai diz, e saímos em direção a nossas motos.

Sara sobe em minha garupa, Robin na de Nightmare, meu pai vai sozinho em sua moto, e Tommy usa a de Sara. ‘Vamos olhar em todos os possíveis cativeiros.’ O Arqueiro diz através dos comunicadores, e automaticamente nos dividimos, cada dupla cobriria uma parte da cidade, e Merlin iria com ele.

Sara e eu vamos para o porto, e estacionamos em uma parte mais afastada. Esse é o lugar mais perigoso de toda a cidade, não acho que uma garota como Mia se aventuraria a se esconder por esses lados, mas pelo que percebemos a aparência frágil não é necessariamente real. A garota precisaria ter o mínimo de instintos para conseguir escapar como fez, sempre tive um pressentimento a respeito dela, mas me parece ser ainda maior do que imaginei. Mandamos flechas com arpões para o alto de um dos contêineres, e nos içamos, em busca de uma visão mais ampla.

‘Connor!’ a voz da minha mãe ganha toda a minha atenção, por seu tom alarmado.

–O que houve?

‘Philippe não atende ao telefone, precisa ir a seu apartamento, agora.’

Sara nem mesmo precisa de um sinal, ela salta tomando a dianteira, e corremos de volta em direção a moto que ela passa a pilotar. Chegamos ao meu prédio e invadimos pelo lado de fora, abro a janela e me lanço para dentro da cozinha. Estava tudo no lugar, tirando um rastro de destruição que vinha do quarto de Philippe a porta de entrada, vejo seu celular chamando sobre a mesinha de centro, com uma foto dele beijando o rosto de Luna no visor. Preciso me escorar na bancada por um segundo, quando me dou conta do que acabou de acontecer.

–Arqueiro, a porta. –Artêmis me mostra a fechadura quebrada, e jogo um jarro que estava sobre a bancada na parede, com minhas veias pegando fogo.

‘Connor, me diz que você o encontrou.’ Era a voz baixa de Luna, tentando se manter calma. E reprimo a vontade de quebrar mais alguma coisa.

–Ele não está aqui, Luna. –é Sara quem responde, sabia que eu não encontraria palavras em meio a toda o sentimento de raiva e impotência que sinto.

‘Não...’

–Vou trazê-lo de volta. –prometo sério, saindo pelo mesmo lugar que entrei. –Nem que tenha que revirar cada centímetro dessa cidade.

PHILIPPE

Minha cabeça estava dentro de um saco escuro, meu estomago doía pelo chute que havia recebido enquanto tentava lutar contra os dois caras que invadiram o meu apartamento. Luna e Connor haviam saído por um tempo que não saberia mensurar, me deixaram ali sentado no sofá me sentindo inútil. É claro que sabia que eles não eram pessoas normais, na verdade descobri isso quando Isis e o namorado dela me salvaram anos atrás no tribunal, mas sempre soube que se eles não me contavam, era por algum motivo, então fingia ignorância. Minha irmã parecia se esforçar mais para manter o segredo, milhares de vezes vi a vontade de dizer a verdade nos olhos de Connor, sempre que precisava mentir estar com uma garota, e no momento seguinte olhar para Luna como se mais nada no mundo importasse além dela.

Mas fingir não saber as vezes era mais difícil, do que a tarefa deles de encobrir a verdade. Como quando tinha acabado de sair da cozinha e magicamente minha irmã apareceu na sala com cara de quem havia sofrido nove meses de enjoo em um único golpe, ou todas as vezes que Connor aparecia destruído, com mais ataduras que as múmias do museu, sem falar em todos os desaparecemos sem explicações dos Queen´s e agregados, justo antes de algum herói aparecer resolvendo algum problema. Mas hoje qualquer incomodo ou sensação de injustiça que possa ter existido em algum desses momentos ridículos, por eles não terem confiado em mim, desapareceu quando entrei na casa da Mia e vi tudo revirado. Um minuto de pânico me tomou antes retomar meu controle e correr para casa. Luna, Connor e o resto do clubinho deles saberiam o que fazer.

Quando os dois saíram, me sentei no sofá olhando para o meu celular que coloquei na mesa de centro esperando alguma notícia, e esses foram os minutos mais angustiantes da minha vida, até que enfim, meu celular tocou.

–Luna? – perguntei sem ao menos olhar o visor.

‘Phil’ era a voz sussurrada de Mia. ‘Não tenho muito tempo...’

–Onde você está? -não conseguia disfarçar a agonia em minha voz.

‘Liguei para dizer que vou ficar fora por um tempo, mas não podia ir sem me despedir de você.’ Senti que ela estava emocionada, só a queria em segurança, de preferência ao meu lado. ‘Vou sentir saudades.’

–Onde você está? Mia o que está acontecendo? Posso te ajudar, deixa eu te ajudar. – meu desespero crescia a cada instante.

‘Desculpe, não posso te meter nisso.’ Suspira parecendo cansada. ‘Tchau Phil.’ -e antes que pudesse dizer alguma coisa a ligação havia caído.

Não sei por quanto tempo fiquei olhando para o aparelho em minhas mãos, só me toquei que o mundo continuava girando quando ouvi um estrondo forte e a porta sendo escancarada, o resto foi só pancadaria, e a inconsciência me tomando.

Agora estava sentado em uma cadeira, mãos amarradas atrás das minhas costas, com uma náusea forte, não sabia se era do chute, nunca havia recebido um golpe desses. Claro que há anos faço aulas de artes marciais, foi a primeira coisa que Connor colocou em minha vida, mas nunca havia recebido um golpe com metade do impacto que recebi hoje. Havia algo a mais, um cheiro forte de maresia e o movimento do que me faz lembrar do cruzeiro para o qual minhas mães me arrastaram no natal passado. Então estava em uma embarcação, e pelo que consegui entender Mia havia conseguido fugir. Mas a questão era, o que estou fazendo aqui?

–Boa noite? – uma voz altiva acompanhada por barulho no assoalho de metal me faz despertar para o que estava a minha volta, o barulho de algo sendo arrastado e parando a minha frente. –Espero que esteja confortável.

–Já estive pior. –minto. Uma gargalhada maníaca faz eco no ambiente, parecia querer perfurar os meus tímpanos.

–Você tem espirito meu jovem. Admiro isso em uma pessoa. –de repente o saco preto é retirado e leva algum tempo para me acostumar com a luz do ambiente. –Meus homens disseram que você deu um certo trabalho. –seu sorriso era frio como gelo.

Reconheço esse cara, faz pouco tempo que os noticiários estampavam sua foto, dizendo que o grande rei de Star havia sido preso por vários esquemas de corrupção, formação de quadrilha, tráfico de influência, assassinato e tantas outras coisas mais. Ele estava mais magro, os cabelo mais curtos, quase um corte militar, mas estava usando um terno que parecia com a soma de todas as minhas mesadas da vida toda. Não posso negar, um frio me percorreu a espinha, aquilo não podia ser bom.

–Não seria divertido se fosse fácil. –anos dividindo o apartamento com o Connor, me ensinou ao menos como ser petulante.

–É não seria. –King tinha um sorriso cruel em seus lábios. –Meus homens viram você entrando na casa da minha filha.

–Filha? Que filha? –pergunto.

–Mia, onde ela está? -o golpe no meu estomago volta a doer, Mia Dearden era filha de John King? Será que Tess era de algum grupo separatista, ou Danny seria um espião da KGB? Será que alguém na minha vida era perto de normal?

King se levanta, agora realmente mostrando a que veio. Inclina a cadeira onde estava sentado, a fazendo ficar apenas nas duas pernas traseiras, meus pés não encostavam no chão, seu rosto estava tão próximo do meu que conseguia sentir sua respiração quente.

–Vejo que não sabe onde Mia está. – seu hálito metálico parecia corroer meu nariz, como amônia. –Nos últimos dias, perdi parte do meu reinado, nada que não consiga reaver, mas tenho influencia o suficiente para sair da cadeia, poder o bastante para te ter aqui. –King coloca minha cadeira de volta na posição inicial, aponta para alguém atrás de mim, um troglodita aparece e começa amarrar meus pés. –Mas andei investigando. Sua irmã tem muita influência, e o namoradinho dela, filho do prefeito, tem muito mais.

Pensei em falar que Connor e Luna não namoram a tanto tempo assim, que era apenas um boato dos tabloides, querendo conseguir manchete. Mas King puxa uma corrente com um gancho na ponta, prende na minha perna recém amarrada e indica para o gorila, que começa a puxar na ponta oposta da sala, sou arrastado da cadeira, batendo minhas costas na própria cadeira e depois no chão, para logo depois ser pendurado pelos pés, de ponta cabeça, no meio da sala. O que tira toda a minha vontade de esclarecer os fatos.

–O corpo humano tem 4,7 litros de sangue, esses litros consistem em aproximadamente 12174 gotas de plasma. - King tira uma navalha do bolso e risca o meu pescoço, quase não sinto a dor, um corte leve, pega um celular e tira uma foto minha. – No seu caso, 12173 gotas de plasma, esse é o tempo que sua irmã e o seu cunhado tem para me trazer a minha filha. -esse seria um bom momento para descobrir que Luna instalou um nano chip de rastreamento em mim enquanto eu dormia, juro nem vou ficar irritado com esse negócio de confiança.

LUNA

Faz cerca de uma hora desde que Phill desapareceu, sequestrado na verdade, mas me obrigo a não pensar especificamente nessa palavra, ou não consigo trabalhar. E não serei um peso morto na equipe, principalmente quando o resgate do meu irmão está em jogo.

–Alguma coisa? –Connor entra, caminhando em minha direção.

–As cam...came...camera. –paro e respiro profundamente, meu medo não ajudaria ninguém. –As câmeras de segurança filmaram quando dois sujeitos abordaram um morador do nosso prédio, eles o mataram, só para conseguir entrar em nosso apartamento.

Connor se abaixa a minha frente e puxa a minha cadeira até que possamos nos ver, pega meu rosto com carinho e enxuga minhas lagrimas que nem sabia que estava derramando. Vejo o rosto dele de uma forma que nunca vi antes, só uma vez na verdade, quando descobrimos sobre as visões que a Katoptris concedia a Isis, ele estava com medo, raiva, e mais alguma coisa que não sei identificar. Merda! Não conseguiria nada se não me acalmar.

–Conseguimos pegar o celular do Philippe, tem uma ligação sem identificação. – parte da minha consciência consegue captar a conversa de Sara com Felicity, arrasto minha cadeira para o lado dos computadores dela e começo a auxiliar a rastrear a chamada.

–Foi feita de um telefone público no terminal rodoviário. –Felicity explica enquanto tento interceptar o sinal das câmeras de segurança até a hora da ligação.

– Mia usou o telefone público e subiu em um ônibus para Dakota. –aproximo a câmera para rastrear a placa do ônibus, enquanto Felicity consegue a rota e as imagens em tempo real do ônibus em movimento.

–O que vamos fazer? –Isis questiona ao lado do namorado, vi que ela tinha uma das mãos sempre em contato com bolso onde escondia a Katoptris, como se pedisse para ter uma visão naquele momento, mas sei que não era assim que aquela faca de queijo funciona, não há nada mais temperamental que ela nesse mundo.

– John, Laurel, Tommy e Oliver, já estão nas ruas, podemos mandar seguir o ônibus, enquanto o restante de vocês continuam procurando por Phill. –Felicity digita freneticamente em seus computadores. –Estou direcionando os satélites da Liga, da Queen Consolidation e da Industrias Wayne para tentar localizar o Philippe, só acho que vai demorar um pouco.

–Você tem acesso aos nossos satélites? –Damian se assusta, mas se recompõe ao ver todos o olhando com a cara de “que diabos você está falando?”. –Isso não é relevante no momento.

–Luna? –Sara aponta para o meu celular na ponta da minha mesa. Todos nós olhamos alarmados.

Connor o pega, antes que possa se quer fazer algum movimento, seja o que for que ele viu na tela não podia ser bom, sei que estava se esforçando para se controlar a minha frente, mas agora estava tudo prestes a ir para o espaço. Pego o celular da sua mão e o que vejo me tira o ar, Phill de ponta cabeça, sangue pingando de sua garganta. Esse era o meio mais cruel de matar alguém, e a marca registrada de King. Ele costumava deixar seus reféns dessa maneira, até conseguir o que queria ou simplesmente os ver sagrar como forma de punição ou prazer. Leio rapidamente sua mensagem, e me viro para explicar aos outros.

–Ele tem por volta de duas horas. – calculo rapidamente. –Ele quer Mia... – respiro fundo, estava difícil conseguir racionar naquele momento, me sentia culpada, por que se Phill tivesse ficado com as mães de adotivas, certamente não estaria passando por um sequestro. –King acha que por ser da presidência de Q.C. consigo localizar Mia, ele quer fazer uma troca. Mia por Phill.

–Isso é absurdo. –Sara esbraveja ao meu lado.

–Consegue rastrear de onde foi encaminhada a imagem? –Damian para ao meu lado pegando o celular da minha mão. Apenas descordo com a cabeça, King não seria idiota a ponto de deixar um meio de localiza-lo. –Podemos analisar a imagem então. – ele amplia a foto na tela principal da caverna, tenho que segurar meu estomago para não jogar o conteúdo dele para fora.

–O que estamos procurando? –Isis observa atentamente. –Parece uma caixa de metal, pode ser um cofre?

–Não. –Sara descarta. –Muito escuro, cofres tem uma iluminação independente, como parte do esquema de segurança.

–Um cofre desativado? –tenta de novo.

–Improvável, muito fácil de rastrear, um cofre fora do sistema de segurança. - Damian nem ao menos piscava para captar cada detalhe da foto. –Ele não pode estar em um local fixo, já descartamos todos quando procuramos pela garota. Tem que ser um local de difícil acesso, e fácil defesa. –era assustador ver como a mente dele trabalhava, e ficava feliz por está trabalhando ao nosso lado. –Um cargueiro? Tem alguma embarcação, grande o suficiente na costa de Star? -Felicity começa a rastrear e localiza onze embarcações atracadas perto, abre em um mapa para fácil visualização. –Esses são pequenos. –aponta para três embarcações. –Não tem como comportar uma sala desse tamanho. Estes dois? – ele aponta para dois petroleiros. – Históricos? – puxo rapidamente.

–Petroleiros atracados a cerca de uma semana esperando autorização das refinarias para aproximação. – respondo na maior eficiência que consigo.

–Esses quatros. – Felicity risca os riscam do mapa. – São suprimentos que estão esperando autorização da guarda costeira para sair do país, eu mesma assinei o pedido de encaminhamento para países em zonas de guerra.

–Sobram dois. – Damian olha para mim. – Não é certo, mas é onde começaria a procurar. – deixou claro que era uma opinião, e no momento era o nosso melhor palpite.

–Vamos dividir em dois grupos. Quando o restante voltar, peça para nos encontrar. – Connor toma a frente cumprimentando Damian pela ajuda. –Cuida da minha irmã. – Damian assente levemente com a cabeça, e os quatro saem.

–Sei como se sente. –Felicity aperta a minha mão, depois que todos já haviam saído. –É como dar um tiro no escuro, e a maioria das coisas que fazemos é mesmo um tiro no escuro, as vezes damos sorte, outras não. Mas hoje não é um tiro no escuro, hoje é o Phill, é um de nós. Se for preciso, vamos mobilizar todo o nosso pessoal, mas ele volta para casa, e quando terminarmos, Deus ajude John King, por que ninguém mais vai.

CONNOR

–A quanto tempo fazemos isso juntos? –Sara dizia em minha garupa, enquanto eu dirigia enxergando vermelho, mais uma vez a caminho do porto da cidade.

–Não é o momento. –respondo simplesmente, não quero desperdiçar minha raiva, tão rara com minha melhor amiga, sendo que tenho King para encarar em breve.

–O que quero dizer é que somos parceiros, e conheço seus movimentos antes mesmo que você os execute, termino algum desses por você, e sei no que está pensando em fazer agora.

–Você não entende Sara, não sabe a importância desse garoto para mim. –respiro fundo, e acelero mais, deixando Robin e Nightmare para trás. –Phill faz parte da minha família.

–Está certo, eu não conheço Philippe muito bem. Mas conheço a irmã dele, e Luna faz parte da minha família. –estranho o argumento, mas pelo tom de sua voz, mesmo soando estranho, era verdade. –Acredite Con, matar alguém não é tão simples, e depois que faz pela primeira vez, não tem como voltar atrás.

–Você viu a foto? –questiono irado, sem conseguir tirar a imagem de Phill pendurado de ponta cabeça da minha mente.

–Sim. –se limita a dizer, mas não argumenta mais depois disso.

Sara parecia falar por experiência própria, não sei o que ela passou no exército, ou no tempo em que esteve fora, mas tudo parece ter mudado. Ela voltou com certa escuridão, que tem combatido desde então. Sentimos uma rajada forte de vento, e quando olho para o lado, vejo Wally nos acompanhando, correndo sem dificuldades, em seu traje do Flash.

‘Onde me quer?’ pergunta através do comunicador, e por um momento apenas respiro fundo.

–Robin e Nightmare entraram no segundo cargueiro. –começo a responder. –Sara e eu entraremos no primeiro, pode ir com os outros, vou me sentir melhor em saber que terá mais alguém cuidando de Isis. –estou no meu limite, não posso lidar com algo acontecendo a minha irmã.

‘Estou a caminho.’ Diz já desaparecendo.

Estaciono no cais do porto, e Artêmis salta de minha garupa, vemos a distância os outros pararem em frente ao cargueiro a sul. Só havia um problema, teríamos que nadar até o cargueiro, Isis e Damian, poderiam ser levados pelo Wally, mas não é como se Sara e eu pudéssemos atirar flechas e nos içar ao cargueiro. Estava ponto de pular na água, quando vejo o Batwing parando sobre nossas cabeças, e uma corda sendo lançada em nossa direção. Espero Sara subir primeiro, e faço o mesmo em seguida.

–Não estavam pensando em nadar até o navio, estavam? –escutamos a voz de Asa Noturna que nos olhava de soslaio, incrédulo, enquanto pilotava o avião.

–Como soube? –Sara pergunta, e eu apenas o olho. O que ele e Wally estão fazendo não tem preço.

–Robin disse que estava ocupado, e quando o Batman perguntou em que, ele nos contou por alto. –dá de ombros como se não fosse nada. –Qual o plano? –se vira em minha direção.

–Sem troca de reféns, vamos pegar Philippe de volta, vivo. –deixo claro. –Vocês limpam o caminho, mas o King é meu.

–Muito justo. –Dick concorda e Sara dá de ombros, sem protestar. –Vou mudar para piloto automático. Vamos.

Saltamos na proa do navio, imediatamente os homens de King aparecem no convés para proteger o chefe. Fico feliz por ter dado sorte de escolher o navio certo, não demoraria muito, e o outro grupo viria a esse navio, mas para mim era pessoal, quero chegar ao King sozinho. Ladeado por Artêmis e Asa Noturna, começamos a avançar, sincronizados, desarmando e os nocauteando de forma eficiente, ninguém ali estava disposto a perder tempo, Sara me dá o sinal, e sigo adiante sem eles.

Quando entro de fato no navio, havia mais cinco capangas. Os idiotas correm em minha direção, acerto com meu arco na cabeça do primeiro, o chutando em seguida. Lanço uma flecha que prende o segundo a uma pilastra, e giro no ar, acertando meu pé no peito do terceiro. Os dois últimos parecem hesitar temerosos, mas de repente Wally e Isis estavam no local, e os deixo, seguindo a procura do meu cunhado. Três salas vazias depois, e finalmente encontro o local certo, Phill olhava em minha direção, amordaçado, mas com pânico no olhar, o que me faz parar a um passo da porta, e ver uma linha quase imperceptível que ligava de um lado a outro.

Seu rosto estava branco feito papel, os olhos pareciam vagos, mas ao olhar através dele, vejo uma arma, apontada em sua direção, e o desgraçado do King sentado tranquilamente em uma cadeira do lado. Vejo a linha que ligava a porta, mesmo se a pulasse, ao menor movimento a arma dispararia acertando Philippe. Toco meu comunicador.

–Flash, tem um segundo? –mal termino de falar e Wally já está a meu lado.

Pela primeira vez vejo pavor na face do King, ele realmente pensou que seu plano era infalível. Mostro a linha para Wally, e tudo acontece muito rápido. Sou empurrado para o lado, e vejo o vulto do Flash passando, a arma disparar, e Phill e Wally novamente a meu lado. Toco pescoço de Philippe, o pulso estava fraco, mas existia, o que me faz respirar aliviado.

–Leve-o para um hospital, depois busque a Gláuks.

–Não se contenha muito, ele merece. –Wally diz entre dentes, desaparecendo em seguida. Armo meu arco, e entro na sala.

–John King. –seus olhos parecem estar a ponto de saltarem das orbitas, e me delicio com o medo em seus olhos. –Você falhou com essa cidade! –digo com minha voz alterada pelo modelador.

LUNA

Wally segurava minha mão, na sala de espera do hospital. Quando vemos Sara, Isis e Connor vindo em nossa direção, já com suas roupas de civis. Nem sei quantos agradecimentos eu já murmurei incansavelmente desde que meu irmão foi resgatado, Wally ameaçou costurar minha boca, três vezes, o que não passa muita credibilidade. Mas havia alguém que merecia muito mais agradecimentos, mais do que posso mensurar.

Corro em direção ao Connor, que me abraça forte, não preciso falar, e algo me diz que ele se sentiria ofendido se dissesse. Me afasto e abraço Sara, o que faz com que um olhar desconfiado apareça no rosto de Isis, e trato de abraçar minha cunhada da mesma forma, que abre um largo sorriso feliz. Quem me viu, e quem me vê. Nunca imaginei que sairia por aí distribuindo abraços.

–Obrigada. –digo as duas quando me afasto.

–Como ele está? –Connor pergunta ansioso.

–Fizeram duas transfusões de sangue. –conto. –Ele ainda não acordou, está muito fraco. E Mia?

–Meu pai ficou conversando com ela na base, eles virão em seguida. –Isis responde aflita.

–Aconteceu alguma coisa? –pergunto preocupada.

–Delphine! –um médico segurando uma prancheta, impede que Isis me responda, Connor e eu seguimos em direção a ele. –Vocês são parentes de Philippe?

–Sim. –respondo. –Como ele está?

–Bem, mas perdeu muito sangue, vai ficar um pouco sonolento, e fraco por algumas horas.

–Podemos vê-lo? –Connor pergunta tão ansioso quanto eu, e o médico assente.

O seguimos pelos corredores, até o quarto em que Philippe estava, ele nos cede espaço, e vejo meu irmão deitado, olhando para a própria mão, como se ela lhe fosse estranha. Me aproximo temerosa, queria correr e o abraçar, mas tenho mentido à anos, e nem sei a quanto tempo ele tem consciência de minha mentira.

–Olha, eu estou com uma veia roxa. –sua voz soa fraca, me mostra a mão, com a expressão de desgosto. E Connor me olha segurando o riso. –Pensei que só velhos tinham dessas coisas. –Phill me dá um meio sorriso, acho que estava se divertindo com meu espanto. –Não vai ter drama, abraços e choradeira? –abre os braços como um convite, e me jogo neles, feliz. –Ai! –murmura pelo impacto, mas quanto faço menção a me afastar ele me segura com força. –Eu estou bem Lu, não vai me perder. –sorrio aliviada, sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto.

–Me desculpa por te colocar em tu... tudo isso. –respiro fundo e me afasto para olhar seus olhos violetas. –Eu quis te ter por perto, co... comigo, mas acho que suas mães te manteriam mais se... seguro...

–Nem termine. –me interrompe sério. –Não vou sair de perto de você Luna, não estou nem ai para o que faz em suas horas vagas, nunca me importei, é sua vida.

–Phill...

–Eu não terminei. –ele olha em direção ao Connor. –Obrigado por nos manter em segurança, por todos esses anos.

–Não agradeça. –responde com o mínimo sorriso.

–Eu sei que não preciso, mas quero que saiba que sou grato. –depois um sorriso fraco aparece em seus lábios. –Vocês são mentirosos terríveis! –debocha nos fazendo dar risada, e Connor se aproxima se sentando do outro lado de sua cama.

–Graças a Deus, não tenho que mentir mais. –o puxo com cuidado por mais uma abraço.

–Licença, não queria interromper.

Me afasto de Philippe e vejo uma garota bonita, loura, de olhos verdes, e uma aparência frágil, parada na soleira da porta. Phill parece prender o ar, quando a olha, era estranho ver isso. Connor pega minha mão, puxando para que eu me levante.

–Não está interrompendo. –responde a garota, me puxando para fora com ele. –Fiquem a vontade, bom, não tão à vontade.

–Muito sutil Con. –Phill murmura envergonhado, e saímos os deixando lá.

–Vamos para a sala de espera, dar notícias aos outros. –Connor diz, mas me lembro de algo que vi, enquanto seguíamos o médico pelos corredores.

–Eles podem esperar um pouquinho. –respondo o puxando na direção contrária.

Havia um elevador desativado, em um corredor deserto, parece que toda essa área do hospital está em reforma. Puxo Connor, e nos esgueiramos em direção ao elevador, tiro meu tablete da bolsa e invado o sistema elétrico do hospital, para conseguir abrir a porta.

–O que está fazendo? –Connor pergunta olhando para os lados, mesmo desconfiado, me dava cobertura.

–Temos que resolver uma coisa. –entro no elevador, e o chamo em um gesto com as mãos. Connor mordia os lábios, para nãos sorrir, uso o tablet para fechar a porta atrás de nós.

–Vai me assassinar? Por que, vou te avisar, um hospital não é o melhor lugar para isso. –escuto Connor dizer, mas estava ocupada, verificando o circuito de câmeras e congelando a desse elevador. Guardo o tablet na bolsa, e a jogo no chão de qualquer jeito.

–Eu te amo. –digo olhando em seus olhos, e todo o ar de deboche deixa seu rosto. –Cinco anos, dois meses, uma semana e três dias, é tempo demais. E percebo que se depender de nossa sorte, morreremos em um relacionamento imaculado. –coloco minhas mãos na gola de sua camisa branca, desabotoando, e vejo um sorriso se abrir lentamente em seu rosto quando finalmente entende minhas intenções.

–Eu gosto da sua reação ao excesso de adrenalina. –brinca terminando com a distância que restava entre nós.

Ele me ajuda com os botões e tiro meu casaco, depois a blusa, e Connor me puxa, colando seus lábios nos meus. Connor me ergue em seus braços como se não pesasse nada, prendo minhas pernas em seu quadril e sinto minhas costas se encostarem na parede gelada.

Dois minutos depois estamos fazendo amor. Nada parecido com o que imaginamos, ou planejamos durante esses anos, mas de alguma forma foi melhor. Me senti adorada, como se nada mais no mundo existisse além de nós dois dentro daquele elevador, a ponto de não acreditar em minha própria sorte. Talvez, eu não seja tão azarada afinal.