PHILIPPE

–Oi. -faz cerca de cinco minutos, que Mia permanece parda na porta do meu quarto de hospital, e essa já é a quarta vez que ela diz a mesma coisa, “Oi’”, e em cada uma das vezes consigo ver Ross de “Friends”, em seu cumprimento.

–Como você está? –desisto de esperar que ela entre e começo a conversar distância mesmo.

–Foi você quem teve o sangue drenado, foi sequestrado, resgatado por vigilantes, e está em uma cama hospitalar. Ainda me pergunta, como eu estou? –seus olhos estavam marejados, e mais fundos o que o normal, como se já tivesse chorado muito essa noite.

–Não necessariamente nessa ordem, mas acaba de resumir minha noite. –deixo de lado a parte em que revelei a Lu e ao Con, que sempre soube dos passatempos deles. Pareceu pervertido, mas nem era. –E você, vai ficar segurando a porta? – aponto para ela, que parece pronta para fugir a qualquer momento. –Acho que a estrutura foi pensada para se aguentar de pé, sozinha. –debocho, mas Mia não se move. – Sem falar que está começando a me dar tontura, por ficar nessa posição. –volto a deitar confortavelmente na cama, era isso ou colocar para fora sabe-se lá, o que tem no meu estômago.

–Me desculpa. –Mia cobre nossa distância em cinco passos largos, colocando uma das mãos sobre a minha testa. –Você está gelado.

–Não se deixe enganar. – tento fazer piada, mas minha voz está muito grogue para ter o efeito que quero, ainda assim, consigo tirar um sorriso de seu rosto. –Vai me dizer o que foi tudo isso?

–Podemos falar outra hora. – cogita se sentando ao lado da minha cama.

–Podemos fazer agora, e pensar em outras coisas, para outras horas. –não havia sobrado muito de mim além do bom humor, não iria dispensar assim.

–Phill, você não tem jeito. – a olho e havia um sorriso delicado em seu rosto.

–Não tenho mesmo, é por isso que você gosta de mim. –e o sorriso desaparece, tenho que aprender a ficar quieto quando estou ganhado, apesar que não sei se foi uma perda de verdade. –Então... -Mia pisca duas vezes, mostrando o quão incerta estava. –É agora, que você me diz que puxou todo o seu carisma do lado materno da família.

–Mais ou menos.

–Mia, não estou em condições de te descascar como uma cebola. –paro por um momento. –Juro que dessa vez não era para parecer um comentário sexual. –as vezes me surpreendo com a influência de Connor em mim. –O que estou querendo dizer é que ganhei o direito de saber o que foi tudo que aconteceu nas últimas horas.

–É melhor não se envolver, nada de bom poder vir daí. –tenta na defensiva, a essa altura meu estomago já estava as volta com tanta embromação.

–Envolver mais do que já estou, e não estou querendo dizer pelo que passei essa noite. – respiro, precisava me controlar.

–Phill, você é só um amigo meu, e King fez o que fez. – aponta para os equipamentos que monitoraram minha respiração e frequência cardíaca. –É minha culpa.

–Não estamos caminhado para lugar algum, na verdade me sinto estagnado como se estivesse ligado a vários quilos de metal. – respiro para conter minha frustração. – Se não quer contar, tudo bem. – entrego os pontos, sem energia para mais protestos.

–Ele matou a minha mãe. – solta de uma vez, e tenho que fazer força para engolir o suco gástrico que veio para na garganta. –Eu era pequena, lembro que naquela noite, minha me colocou cedo na cama. Hoje, percebo o quanto ela parecia transtornada, e inquieta. –Mia nem pisca, imersa em seus pensamentos, como se estivesse revivendo o momento. -Sei que realmente dormir, mas tive um pesadelo, como se alguém em minha cabeça gritasse, pedisse socorro... Não era um pesadelo, quando me levantei, minha mãe estava jogada sobre a bancada da cozinha, suas roupas completamente ensanguentadas. Os gritos do meu sonho, os pedidos de socorro, eram dela, era ela pedindo para que ele não a matasse. Lembro de ter ficado um bom tempo parada na porta, ele não havia me visto, estava muito ocupado limpando as mãos e a faca que havia usado para matá-la. Subi correndo para o meu quarto e me tranquei dentro, rezando para que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo, mas não era. Na manhã seguinte ela havia desaparecido, nunca acharam o seu corpo, para o mundo era apenas mais uma mulher que abandonou a família.

–E o que aconteceu com você? –me sinto desconfortável com a pergunta, mas já que estávamos falando sobre...

–King nunca assumiu minha paternidade, pulei de orfanato para orfanato, lar adotivo para lar adotivo, até que um doador anônimo bancou meus estudos, e uma preceptora para cuidar de mim. -seus olhos estavam marejados. –Sabia quem era esse doador anônimo, mas fiquei quieta, precisava juntar provas para conseguir destruí-lo, só que alguém fez esse trabalho antes de mim. –dá de ombros parecendo cansada.

–Então, por que ele veio atrás de você? Ele fugiu da cadeia, poderia ter sumido mas queria alguma coisa. – não faz sentido a meu ver.

–Dinheiro, tudo se resume a dinheiro no final. Seus bens estavam congelados, ele não conseguiria acessar nada sem chamar a atenção das autoridades, para isso precisa do dinheiro que está em meu nome, como já atingi a maioridade, e posso usufruir do meu patrimônio, ele precisava de mim para conseguir fugir.

–Ele tem dinheiro para bancar um navio cargueiro, para me sequestrar, por que precisaria da sua mesada? –sei que não sou o rei da matemática, mas ainda assim não faz sentido.

–Segundo os meus contadores, tenho a terceira, se contar que King não está mais na lista, a segunda maior riqueza da cidade. –dá de ombros me deixando de queixo caído. –Só não sou mais rica que os Queen’s, acho que ele sempre me viu como o seu plano de fuga, não deu muito certo.

Não sei o que dizer, permaneço em choque, era tudo muito surreal. Mia Dearden, a garota quieta do nosso grupo, aquela que todos corriam para colar quando não havia mais tempo de estudar, a garota de grandes olhos, que atribuem tanta personalidade para seu rosto delicado, a menina que usou o mesmo jeans rasgado, por duas semanas após as férias, jurando que o lavou entre os fins de semana. A minha Mia Dearden, é na verdade filha de um dos maiores criminosos de Star City, e pelo historio da cidade, esse título é algo muito significativo.

–Nossa! –exclamo.

–Podemos resumir dessa maneira. –um sorriso triste aparece em seus lábios. – Me desculpe, nunca poderia ter me envolvido com você, Isis, Tess e Dany. Sem querer, coloquei um alvo em suas cabeças. –preciso me segurar, imaginando a reação de Isis ao ouvir esse discurso. -Depois que King foi preso, acreditei por um momento que teria uma vida comum, enfim, pude acreditar que agora sim existia alguma esperança.

Sei o que ela tem em mente, o nosso encontro frustrado. Pensando nesse último mês, nunca havia visto Mia mais leve, como se houvesse se livrado de um grande peso. Agora entendo o porquê. Tudo sobre ela passa a ser claro, tudo sobre nós passa a fazer sentido.

–Mas estava enganada, King sempre vai dar um jeito de entrar na minha vida, não posso arrastar nenhum de vocês comigo. –se ela soubesse quão fundo já estou envolvido em tudo.

–Essa não é uma escolha sua, sei que podemos achar um jeito de resolver tudo. – sorrio, acariciando seus dedos com ternura.

–Precisa descaçar. –diz sem desfazer o toque.

–Você também. –deito novamente na cama e sinto ela se ajeitar na poltrona ao meu lado não percebendo quando caio no sono.

SARA

Quando por fim chegamos em casa, era alguma coisa perto das sete da manhã. Nossa sala parecia ter sido vomitada pelos monstros do casamento, e isso já vem de algum tempo. Me jogo no sofá tirando os convites remanescentes de baixo da minha bunda.

–Quer alguma coisa para comer? –Wally aparece atrás do balcão carregando três bandejas de tudo que havia na geladeira.

–Não, obrigada. – rejeito fechando os olhos por um momento, e inclino minha cabeça no braço do sofá.

–Luna estava esquisita depois que voltou do quarto do Phil. –Wally mastigava o sanduiche enquanto trocava de canal sem prestar atenção.

–Foi uma noite complicada, até para os nossos padrões.

Não explicaria ao Wally, que Luna estava esquisita, mas não era só pelos problemas da noite, mas sim pelas soluções dela. Quando por fim voltaram do quarto de Philippe, Luna e Connor estavam distraídos, ausentes para o resto do mundo, e nessas horas detesto os conhecer tão bem. Não queria imaginar a cena de série medica, que deve ter se passado em um dos quartos de mantimentos do hospital, mas é como uma maldição, acaba criando forma em minha mente. Vou ter pesadelos essa noite.

–Terminou? –levanto minha cabeça e vejo que ele já tinha secado a garrafa de refrigerante, e todos os pratos vazios estavam em um canto perto do sofá. –Ótimo. – me levanto engatinhado no sofá trocando de posição e deitando minha cabeça em seu colo. –Assim é melhor. – sorrio de olhos fechado, aproveitando o nosso momento de paz.

–Não tenho do que reclamar. –sinto seu corpo relaxar aos poucos. –Falta muita coisa? – abro um dos olhos contra vontade e vejo seu pescoço recostado no encosto do sofá. – Do casamento? – pergunta vendo que eu não sabia do que ele falava.

–Não muito na verdade. Donna é incrível, aquela mulher é a própria força da natureza. – reconheço.

–Tempestade tropical, Donna. –Wally finge que ler um letreiro.

–Essa é uma boa denominação. – concordo. – Mas basicamente, agora, falta o jantar de ensaio, mas isso é só um dia antes do casamento. –Eu sei que é besteira, já vivemos juntos, mas o fato de tornar tudo oficial é ... não sei, me dá um certo pânico. –penso alto, olhando para o teto.

–Então, tenho que falar com a Luna, ou o Connor, eu ainda não consegui me decidir. Hunt já sabe, falei com ele por impulso, deveria ter deixado Connor... –não consigo puxar o ar, me sento com cuidado, indo para a outra ponta do sofá, e olho para seus olhos verdes, cheios de um desespero exagerado.

–Wally meu amor, nós precisamos conversar. –sussurro, abraçando meu próprio corpo, ele solta um murmuro temeroso se virando em minha direção.

–Você só me chama de “amor”, quando aprontou alguma coisa. –murmura brincando, mas seu sorriso desaparece quando percebe minha expressão. –Você fez mesmo alguma coisa, me diz, o que foi?

–Luna, não vai ser seu padrinho. –ele franze o rosto confuso. –Ela vai ser minha madrinha.

–Não estou entendendo. –solta uma risada nervosa e baixa, mudando de posição no sofá. –Minha melhor amiga, vai ser sua madrinha?

–Então, mas o meu melhor amigo, vai ser o seu padrinho. –tento ponderar, é não deu certo, o rosto de Wally fica vermelho. –Me pareceu justo. –dou de ombros, feito uma garotinha após levar uma bronca, o que diminui um pouco a expressão de raiva dele. –Não vai falar nada?

–Quando foi que fez isso? –posso ver o esforço para manter a voz calma.

–Ontem, pela manhã. –confesso. –Convidei Luna e Isis.

–Você me mandou escolher os convites na manhã passada... –ele massageia as têmporas. –Como pode ter convidado suas madrinhas, sem um convite. –dou um sorriso amarelo, e me levanto, tirando quatro convites que estavam atrás de um dos quadros, onde havia escondido.

–Aqui. –tiro um, e entrego os outros três dele. –São os convites para os padrinhos, não são os mesmos dos convidados. –Wally me olha chocado depois de ler o convite.

–Você os escondeu. –acusa.

–Não posso competir com sua super velocidade! –justifico começando a me irritar. –E por que você quer Connor e Luna ao mesmo tempo?

–Por que eles são como um entidade! –grita irritado em resposta. –Não se separa... –tenta procurar uma definição. -aquilo!

–Não seja infantil!

–Sara, por que você quer tanto a Luna? Ela é minha amiga.

–E minha! –esbravejo, e ele se cala, semicerrando os olhos.

–Desde quando? –engulo em seco. –Digo, eu entendo, ela é a namorada do Connor, e você o ama, mas por que faz questão da Luna? Não é justo Sara, eu só suportei aqueles malditos anos por causa dela!

–Eu também! –solto sem perceber, depois me dou conta de que falei demais. Wally me olhava assustado, desvio meu olhar, ele me conhece muito bem para conseguir ver a resposta em minha face. –Quer saber, isso não é uma negociação. Chama o Connor! Luna vai ser minha madrinha e ponto. –começo a subir as escadas em passos duros, e ele me segue com os olhos, boquiaberto. –E se continuar a choramingar, esquece a história de cabelo preto, tinta em seu shampoo vai ser fichinha! –ameaço do topo da escada, o encarando séria. –Vai acabar se casando parecendo um cosplay do Lex Lutor! –grito, e bato a porta do nosso quarto. Merda, essa foi por muito pouco!

ISIS

Toco a campainha do apartamento do meu irmão, e espero. Philippe acabou de ganhar alta, e por mais que a ideia de protelar esse encontro seja tentadora, preciso deixar que ele me olhe nos olhos, sabendo quem eu realmente sou. Isso, e um trabalho de economia doméstica para daqui a três dias, que preciso ajudá-lo a fazer. Connor abre a porta, e abre um grande sorriso quando me vê, é incrível como conseguir a garota o deixou mais leve.

–Pirralha!

–Ou, você pode me chamar do nome, que você mesmo escolheu para me batizarem. –reviro os olhos, e ele me puxa para dentro, me envolvendo em um abraço de urso.

–Parece que não te vejo a anos. –comenta me puxando em direção ao sofá, pega minha mochila de minhas mãos, e a joga sobre um puff.

–Luna, não vai gostar de ver isso. –aponto para a mochila.

–Luna, está trabalhando. Um de nós precisa manter as aparências. –dá de ombros, e joga o braço em meus ombros me puxando para mais perto. –Estava mesmo, querendo falar com você.

–Bom, aproveita, por que hoje eu estou aberta para ouvir todos dizendo o que pensam a meu respeito. –dou de ombros, colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha.

–O casamento de Sara e Wally está chegando... –estremeço involuntariamente, enquanto as imagens de Sara, correndo em seu vestido de noiva, invadem a minha mente, sem que perceba, estou com a mão sobre a Katoptris, escondida no bolso interno da minha jaqueta. –Dick tem um código, ele chama de O Código Mestre das Pistas. –solto uma risada curta.

–Damian e Jason, dizem que é uma baboseira da Spyral, raramente dá certo. –comento, me lembrando de uma discursão calorosa dos garotos, em um jantar na mansão Wayne.

–Ele funciona. –Connor garante se levantando, se senta na mesinha de centro, ficando de frente para mim e segura minhas mãos entre as suas. –O que estou querendo dizer, é que se existe algo que não possa falar, algo do qual precise de ajuda para resolver, Isis, existem muitos meios de burlar o silencio. –fico paralisada, olhando para seus olhos azuis, tão parecidos com os do nosso pai. –Nós costumávamos contar tudo um para o outro, eu era quem te mantinha segura, quem resolvia suas crises. E agora, me sinto como apenas um conhecido seu. Você tem Damian e toda a Batfamilia, e não gosto de pensar que passa mais tempo com o Jason, do que comigo. –faz careta, e não consigo deixar de sorrir.

–Você está certo, só que em partes. –sussurro. –A verdade, é que sempre quero correr para você, e não poder te contar as coisas, me mata, também sinto sua falta. E odeio ser obrigada a manter qualquer segredo, principalmente de você, só o que queria é poder desabafar. –Connor abre um pequeno sorriso. -Mas está errado com relação a Damian e aos outros.

–Não estou... –levanto uma mão, o silenciando.

–Damian é meu namorado, seria o mesmo que me compara com a Luna. –nossos rostos espelham a careta um do outro. –E você também fica todo sentimental em relação a Phill, e eu nunca reclamei. –Connor dá risada, da pontada de ciúmes em minha voz. –A verdade, é que Jason, Tim, ou Dick, são meus amigos, não meus irmãos. Esse lugar é só seu. –garanto, depois nos abraçamos por um tempo, o que me faz querer jogar essa maldita faca no centro de um vulcão, e conseguir um pouco de paz em minha vida.

–Vou te soltar, para você ir ver o Philippe. –ele diz, dando um beijo em meu ombro, mas não se afasta, e eu me prendo com mais força a ele, não preciso de alguém me protegendo, mas confesso que estar aqui com Connor faz tudo parecer mais fácil.

–Ele pode esperar mais dois minutos. –murmuro baixinho, me sentindo uma garotinha de novo.

–É, ele pode.

LUNA

–Não vou usar esse vestido. –reclamo enquanto olho o decote profundo nas minhas costas, que chega a mostrar os dois furinhos antes da minha bunda. –Mais um pouco e conseguem ver o que não devem, ai atrás.

–Você está perfeita. –Connor envolve suas grandes mãos em minha cintura. –Muito acessível. – sorri sugestivamente, é impossível levar uma vida normal sendo namorada dele, 90% do meu dia passo pensado nele em toda sua gloria, usar o elevador para a nossa primeira vez não foi sábio, só me deixou com a imaginação ainda mais fértil, o que nos leva aos outros 10%, que uso tomando duchas geladas, e juro, não me ajuda em nada os olhares que ele me dá.

–Não tem como ir para algum lugar usando isso. – arranco o vestido ficando apenas de calcinha, o que não foi uma boa ideia, Connor me puxa pelo braço, me fazendo cair sobre ele.

–Podemos ficar aqui. –sua voz parece mel liquido, a coisa mais sexy desde... não sei, não me vem nada a mente, só ele. Seguro um suspiro na garganta, se me deixar levar não sairíamos hoje desse quarto, e apesar da ideia ser tentadora, muita coisa está acontecendo, sem falar que Sara e Wally não nos perdoariam se chegássemos atrasados.

–Connor? –o repreendo, mas no final era um aviso para nós dois.

–Mia vai acompanhar Philippe? – questiona passando seus longos dedos, pelo caminho da minha coluna, espalhando sensações que eu não deveria estar tendo nesse momento.

–Sim. –rolo para o lado da cama e me levanto apressada.

Abro o meu guarda-roupas feliz por ter algumas opções decentes de vestido para noite ali dentro. Escolho um no estilo grego, azul marinho, de alças traspassadas nas costas, com um belo, porém, discreto decote, bem marcado na cintura, e a leveza da saia longa é o toque especial no modelo, prendo o meus cabelos em um coque lateral, pego sandálias douradas, de tiras finas, e um salto bem alto, que combinam com o bracelete e o par de brincos delicados.

–Deveria ser um crime. – só sua voz é capaz de me fazer estremecer. –Acho que você consegue ficar linda, até mesmo vestindo um pano de saco. -quando olho para Connor ainda de calça jeans e camisa social, devo concordar, deveria ser um crime alguém ser tão perfeito a ponto de me deixar sem fala.

–Você tem que se trocar, Phill já foi buscar Mia na casa de Laurel.

Ele se levanta, fazendo uma careta fofa, e me deixa nos últimos retoques da maquiagem. Philippe se recuperou bem de tudo que passou a menos de um mês, sua personalidade não sofreu um arranhão se quer. Mia por outro lado, sei que não a conheço, mas estou gostando de a ter por perto, ela faz bem ao Philippe, e sei que ela está sozinha, não é uma coisa fácil para ninguém, ainda mais quando o seu pai é um maluco psicopata, fica difícil fazer amizades.

–Pronta? – Connor me tira do meu devaneio, se fosse uma pintura de Michelangelo não seria mais bonito.

–Pensando bem, não sei. Você parece que é um astro de Hollywood. –choramingo manhosa.

–Às vezes me pergunto se você consegue se ver claramente. –ele nos vira de frete para o espelho de corpo inteiro, que fica na porta do meu guarda roupas, e vejo o reflexo de nós dois, com sorrisos bobos no rosto. – O foco do tapete vermelho, será apenas um. –ele envolve minha cintura e beija meu ombro.

–Deus! Agora sei por que Isis tanto reclamava. – a voz enojada de Phill pode ser ouvida enquanto volta para a sala.

–Preciso te ensinar umas técnicas. –Connor grita para a porta aberta enquanto quero entrar no meu guarda-roupas e me trancar lá dentro.

–Você. –aponto para Connor com meu dedo em riste.

–Não foi nada de mais, ele sobrevive Luna. –abre um sorriso a fim de me acalmar, e sai do quarto atrás do meu irmão. –Nosso garoto, precisa entender que quando os adultos se amam... –posso escutar sua voz a distância, e imagino a cara de Phill, tendo de ouvir todo o deboche de Connor, na frente da Mia.

ISIS

Já estava cansada de ver minha mãe, e minhas tias andando feito baratas tontas de um lado a outro do salão, arrumando o que já estava impecável. Preciso melhorar minha rebeldia, afinal, ninguém exigiu que Connor chegasse mais cedo nesse bendito jantar. Tia Iris para, com as mãos sobre o peito, e o olhar marejado, ah não, vai chorar de novo!

–Sua vez! –Babs aponta em minha direção, e respiro fundo cansada, antes de colocar um sorriso no rosto e me resignar a minha sina.

–Está tudo lindo, tia. –falo para ela, que me olha emocionada, depois volta seu olhar para o salão.

Flores vermelhas com folhas de um verde vivo, estavam trançadas ao redor das pilastras. Haviam jarros de begônias brancas no centro das mesas, com bambus verdinhos entre elas, e as toalhas vermelhas de tecido fino, davam o toque final. Era realmente tocante, o cuidado delas em todo o simbolismo envolvendo o casal. Estava tudo perfeito, bom, tudo menos o fato da Tia Iris ser uma manteiga derretida.

–Meu garotinho. –ela sorri olhando para o nada. –Quando o encontrei, Wally estava desnutrido e machucado. –nunca vou me cansar dessa história, apesar de uma parte da minha mente me alertar que é melhor que ela não a conte até o fim, se quiser evitar o choro. –Lyla e eu nos revezávamos para dar vitaminas e tratarmos escondidas de seus ferimentos. Eu na fábrica, e ela quando fingia avaliar aqueles monstros que colocaram meu bebê no mundo. Depois que os tiramos finalmente de lá, sua mãe quem cuidou dele, até que conseguíssemos a guarda. –sorri para mim, cheia de carinho.

–Vocês foram incríveis, não sei o que faria no seu lugar, conhecendo o meu filho ainda jovem, descobrir tudo o que ele passaria em minha ausência. –assumo, e depois me lembro que não era para fazê-la chorar.

–Imagina o que é conhecer um ruivinho lindo, que se casaria com sua filha, então? –tia Lyla aparece, colocando o braço sobre os ombros de Iris, tão emocionada quanto a outra, o que é muito bizarro, por que nunca a vi dessa forma.

Babs faz um sinal para mim, que deixo as duas mães babando os próprios filhos, e saio a francesa. Barbara estava ajeitando o terninho escuro do Al, que parecia um mini Bruce, super fofo, dentro daquilo. Me abaixo em frente ao garoto, que joga os braços ao meu redor, com um largo sorriso no rosto.

–Oi meu príncipe! –cumprimento Al que sorri.

–Hoje, o meu papai, estava falando com o tio Damian, que você estaria chorando muito, por que o Ali, vai se casar com a Sala. –solta inocente, e engasgo com minha própria saliva, me levantando e ouvindo a risada de Barbara. –Não chola não, tia. –murmura com os olhinhos tristes, puxando a barra de meu vestido salmão.

–Não vou chorar, querido. –garanto, um pouco desconfortável, parece séculos desde que tive minha paixonite pelo Wally. –Seu papai, é um...

–Opa! –Barbara exclama tapando minha boca. –Tia Isis, te deve um dólar! –fala para o garoto, que pisca confuso. –Não falamos das qualidades do meu marido, na frente das crianças. –sussurra para mim, com um sorriso travado no rosto para Al que nos observava atento.

–Toma, cara. –Damian aparece, em um terno escuro, os cabelos perfeitamente alinhados, e toda aquela pose que exala sempre, e se agacha na frente do sobrinho, o entregando o que eu acredito ser, uma nota de vinte dólores. –O seu papai, é um mané. –diz de forma carinhosa, o olhando nos olhos.

–O que é mané, tio Dam? –Barbara revira os olhos a meu lado, e eu seguro o riso.

–Pessoas que usam trapézio. –dá de ombros se levantando.

–Ah! –o garotinho exclama feliz, e nem mesmo Babs consegue conter o riso. –Posso contar para ele, mamãe? –pede animado. –Mané, é mais fácil que taspeszis... –desiste da palavra no meio, e Barbara morde os lábios olhando de Damian para mim, depois se volta para o Alfred, que esperava ansioso por uma resposta.

–Ele mereceu essa. –murmura para ela mesma, antes de se abaixar na frente do filho. –Pode querido. –ajeita os cabelo escuro da criança, que volta a sorrir com os olhos brilhando, e corre em direção ao canto, onde Dick, John, Barry e meu pai, conversavam. –Seu irmão não vai gostar. –avisa dando um tapinha no braço do Damian, que apenas dá de ombros coçando o queixo.

–Vocês, deveriam ajudar a receber os convidados. –Barbara aponta para a porta.

Ela se afasta e Damian coloca o braço em volta da minha cintura, enquanto caminhávamos em direção a porta. Encosto minha cabeça em seu ombro, senti falta dele durante a semana, tem ficado mais difícil com o passar do tempo, estar longe. Paramos em frente à porta, e ele beija o alto da minha cabeça, se afastando um pouco para me olhar nos olhos.

–Alguma dor de cotovelo, ou vontade de roubar o noivo? –pergunta, e posso ver o desconforto disfarçado em sua voz, vou ter que arrumar um motivo para treinar com o Asa essa semana, só para dar uns bons socos nele, de forma politicamente correta.

–Ciúmes, Wayne? –sorrio divertida, colocando minhas mãos em volta de seu maxilar quadrado.

–Já te disse, Queen. –ele me dá um meio sorriso. – Meu ciúme é irracional. –suspiro, feito boba o admirando.

–Você ainda não é engraçado. –comento. –Mas fica um charme, sempre que tenta. Por falar nisso, vou colocar óleo nas luvas do uniforme do Dick. –ameaço, começando a tramar uma vingança. –Não, isso seria assassinato, e ele tem dois filhos... Pó de mico seria muito infantil? O que você acha de caneta florescente? Dessas que só se enxerga no escuro. Posso escrever “mané” nos trajes dele, assim quando estiver...

–Uau! –Damian me interrompe, ele me olhava admirado. –Quem te vê tramando essas coisas, não imagina o estrago que você faz em um campo de batalha. Isis, você tem o nível de um coelhinho, em uma escala de vilãs. –debocha, e sinto meu rosto queimar. –Chega a ser adorável, de tão patético! –brinca e eu o empurro para que fique do outro lado da porta.

–Vamos trabalhar, antes que eu faça um estrago em você. –ops! –Não estrago nesse sentido aí... –começo a explicar e Damian abre um largo sorriso sugestivo, olho para os lados, com medo de alguém ter escutado.

–Eu não recebo convidados, Isis. –reclama, sorrindo para algum parente distante da família West, que entrava acompanhado de uma senhora muito velha. –Você destruiu minha reputação.

–E você me ama por isso. –respondo, soprando um beijo para ele, que não pode evitar a cara de bobo.

–Já estou usando “mané” como xingamento, só me falta agora, correr em jardins floridos. –murmura, estremecendo de leve.

–Podemos marcar para essa sexta, no jardim da minha casa. –brinco, o vendo arregalar os olhos em resposta, mas não pode me responder, pois Kon-el e M'gann passam pela porta de braços dados.

Ele estava a cada dia mais parecido com o Clark, usava um terno azul escuro, mas parecia muito incomodado com a gravata. M'gann estava em sua forma humana, uma garota ruiva, de olhos verdes e pele branca. Mas travo, assim que a vejo de verdade, e como todo em todo pesadelo adolescente, seu vestido era exatamente como o meu.

–Ah não! –exclamamos ao mesmo tempo.

Levo minhas mãos ao toper tomara que caia do meu vestido, e vejo o Superboy parar ao lado do Damian, observando a cena que estávamos protagonizando. Escolhi esse vestido a dois meses, em um dos catálogos de Milão que minha tia Thea, trouxe para mim, era praticamente impossível alguém ter um igual. Não que eu me importe com vestidos, e essas coisas, mas justo no casamento em que vou ficar na mesa com os noivos, bem na frete de todos, ter um vestido igual, é sacanagem.

–Jura, Isis? –Miss Marte reclama, me olhando com pesar. –Demorei horas para escolher!

–Imagina então, quem precisa comprar um vestido. –murmuro revirando os olhos, mas algo parece se acender em seu rosto.

–Hello, M'gann! –dá um tapinha na cabeça, antes de olhar para os lados, e transformar, seu vestido salmão, tomara que caia, de saia godé, em um tubinho roxo, com um detalhe de cruz no peitoral, usando a transmutação marciana.

–Obrigada. –suspiro aliviada, e ela pisca para mim, antes de cumprimentar o Damian, e entrar no salão. – Facilita a vida de qualquer mulher. – falo no ouvido de Damian, não vejo a hora de Palmer sintetizar essa tecnologia, vou ser a primeira da fila para testar.

–Acho que chegou todo mundo. – Wally aparece ao meu lado, parecendo ter tomado algum energético ou coisa do tipo, estava quase intangível de tanto que vibrava.

–Cara, calma! – Damian olha para os lados para ver se alguém mais havia notado.

–Fala quando for o seu casamento. – Wally retruca fazendo Damian ter uma crise de tosse, como se tivesse engolido qualquer coisa que tinha intenção de falar, ficaria irritada com ele, mas estava mais preocupada com o meu amigo quase desaparecendo.

–Respira Wally, hoje é só o jantar. – Wally coloca as mãos nos joelhos, tentando puxar o ar.

–Acho que ele está tendo uma crise de asma. – Damian me ajuda a segurar o peso de Wally.

–Não seja bobo, ele não tem asma. – recrimino Damian, mas a outra opção era um ataque de pânico. De repente Wally parece se acalmar, voltando a respirar normalmente.

–O que você fez? – Wally aponta para o Damian, fico sem entender nada, parada só observando Damian levantando uma pequena seringa.

–Não reclama, com o seu metabolismo, vai estar limpo antes da sua mãe achar outro motivo para chorar. O que deve acontecer... – Damian olha o relógio de pulso. – em três ou quatro minutos.

–Não vou reclamar. – Wally arruma a gravata vinho, olhando para Damian realmente agradecido. – Quantas doses ainda tem com você?

–O suficiente para hoje e amanhã. – responde, e não sei quando meu namorado e Wally se tornaram tão amigos, e sei menos ainda se gosto disso.

–Está tudo bem? – uma voz a porta nos chama a atenção, nos fazendo voltar a ser pessoas normais, na medida do possível é claro.

–Hunt! -Wally diz feliz abraçando o amigo. Olho para Hunt surpresa, sabia que ele havia conseguido um milagre, voltando a andar quando todos os médicos disseram que não restava esperanças, mas ele parecia capaz de correr uma maratona, essas coisas não deveriam levar um tempo maior?

SARA

Estava cercada por todos os lados, era como estar sendo observada por uma centena de olhos, como se todos estivessem aqui por mim. Mas estou sendo paranoica, era por dois toda essa comoção, Wally também é o centro das atenções, afinal esse era o nosso jantar de ensaio do casamento, então, natural todas as atenções estarem voltadas para nós, mas onde diabos estava o meu noivo?

–Algum problema Sara? - M'gann quase me faz desembainhar a faca de peixe como arma de combate, surgindo literalmente de lugar nenhum, marcianos só não são mais silenciosos que morcegos.

–M'gann, você não deveria aparecer assim do nada, pode matar alguém do coração um dia desses. – ela me dá um sorriso e pega na minha mão me puxando para voltar para o jantar.

–Se fosse você, não deixaria o seu pai começar o discurso de como foi a sua infância. – ela aponto para o meio do salão onde o meu velho, meu padrinho e o tio Barry estavam de pé, cada um deles com um microfone em mãos.

–Deus, isso não vai acabar em boa coisa. – olho a procura de ajuda, mas Wally tinha a mesma cara de terror que tenho certeza, estampava a minha face, Isis e Connor se curvavam de tanto rir e Luna estava perdida entre vergonha alheia e a vontade de sucumbir as gargalhadas.

–Damian? Cadê aquela peste? - M'gann me olha, acho que pensava que havia enlouquecido de vez.

–Ele está... – ela gira o olhar procurando pela sala, até encontra-lo. – ali.

–Me conecta a ele. – peço em desespero, e sinto a ligação mental sendo estabelecida.

‘Damian preciso de uma apagão.’ Imploro para que ele termine com o meu martírio.

–Senhoras e senhores. – Tio Barry começa o seu discurso.

‘Encara essa pagação de mico com dignidade, Diggle.’ –me responde com toda a solenidade, e quero enfiar esse seu ar superior em um lugar que não seria apropriado nem de pensar.

‘Muito obrigada por nada!’ respondo irritada fazendo M'gann se segurar para não rir.

–Pelo amor de Deus. Alguém segura esses velhos. –Wally se aproxima de mim enquanto tio Barry contava como foi que conheceu seu filho, pelo menos a versão oficial dos fatos, queria ver ele tentar explicar a viagem no tempo para a minha avó.

–Ali está o nosso casal. – nosso padrinho aponta para que juntemos a eles no centro do salão. Por que Deus não abre um buraco no chão nesse momento?

–Poderíamos, e acho que estamos no direito de contar várias histórias humilhantes desses dois. – meu velho começa a falar tomado pela emoção. –Mas acho que Sara e Wally deixariam de falar conosco, dependendo o nível de humilhação. – ele me puxa para um abraço que faz me sentir protegida, enquanto tio Barry e tio Ollie implicam com Wally.

–Em vez de contar algumas coisas que entreteriam nossos convidados...– Ollie aponta para uma tela e começa a mostrar cenas da nossa vida. Meus primeiros passos, seguida de uma foto de Wally entre Barry e Iris dormindo na cama de um dos quartos da mansão Queen, Connor arrastando uma corrente humana minha, do Wally e da Isis, nossas primeiras aulas de artes marciais, até algumas que nos observávamos a distância, quando começamos a perceber que não era amor fraternal o que existia entre nós. Então se seguem uma fila de fotos nossas, do início de nosso namoro, até agora.

–Chega, chega, vocês conseguiram provar o seu ponto. – Wally me abraça pela cintura. – Erámos crianças irresistíveis.

–Esse não era o ponto principal. – Fel se levanta junto com tia Iris e minha mãe.

–Somos gratos por ter tido a chance de ser pais de pessoas tão maravilhosas. – minha mãe vem até mim dando um beijo em minha testa imitando o gesto com Wally e seguindo para abraçar meu pai.

–E felizes por terem escolhido um ao outro. – tia Iris me abraça com força e bagunça ainda mais o cabelo do filho.

–Obrigado por ser o que são para nós, e um para o outro. – tia Fel nos envolve em um abraço de carinho, e estava difícil segurar as lagrimas.

–Acho que podia ser pior. – Wally sussurra em meu ouvido.

–Esse vídeo podia ter sido feito pela Isis ou pelo Connor, com a ajuda do Dick. – concordo.

–E só para vocês saberem, esse não vai ser o vídeo que vamos passar amanhã. – Connor aparece ao nosso lado lendo meus pensamentos. Vou precisar conversar novamente com Damian, ele precisa usar os poderes dele para o bem, e quando digo ‘para o bem’ é para o meu bem e minha sanidade futura. –Aos noivos. – Connor puxa um brinde após a pequena amostra que monges podem sim ser terroristas.

–Podemos o chantagear com todas as fotos das namoradas que ele já teve durante a vida. – Wally sugere enquanto sentamos em nossa mesa. – Algumas fotos são até obscenas, ele não vai querer que a Luna veja justo no dia do próprio casamento.

–Fale-me mais, estou gostando desse plano. – sorrio para Wally que maquinava estratagemas cruelmente satisfatórios, para minha surpresa.

–Viu o Hunt? –pergunta desviando do assunto, enquanto o garçom servia a entrada. – Ele estava sentado na mesa dos padrinhos quando fomos pagar o nosso mico.

–Não vi. – o ajudo a procurar pelo salão, quando vemos Hunt entrar pela porta de acesso lateral, havia um semblante fechado, que desparece quando percebe que estávamos o observando.

–E aí cara? Tudo certo? – Wally pergunta quando Hunt senta ao seu lado.

–Só uma chamada do meu médico, sobre a cessão de tratamento que foi marcada para amanhã. – responde pegando um copo de suco que o garçom estava servindo.

–Você vai conseguir estar aqui na cerimônia? – pergunto ansiosa por que sabia o quanto era importante para Wally a sua presença.

– Não perderia esse casamento por nada Sara. –sorri, e respiro aliviada. – Wally é meu irmão. – dá um tapinha nas costas de Wally sorrindo. – Ele vai ser grande. – não entendo o comentário que Hunt faz, mas minha atenção é desviada para Mama Smoak que estava discutindo com alguns garçons, peço licença para Hunt e deixo Wally conversando animadamente sobre o local da nossa lua de mel.

–Algum problema Donna? – pergunto forçando um sorriso.

–Nada minha querida. –Mama coloca suas mãos em minha bochecha apertando com carinho, porem forte o suficiente para me arrancar uma pequena careta de dor. – Só estava checando as bebidas com os garotos. –aponta para os garçons que estavam perdidos, aposto que tinham recebido uma bronca. – eles vão servir mais rápido no jantar de casamento, não vão rapazes? – os três garçons respondem que sim apressadamente com a cabeça. – E vão conversar com a cozinha para acertarem no ponto dos aspargos, não vão? – acho que vi um dos garçons se segurar na parede.

–Mama. – a puxo para longe, vejo um dos garçons respirarem aliviado. –O que você fez com eles?

–Nada. – responde com um sorriso animada. –Mas amanhã duas pessoas muito importantes para mim vão casar, e quero tudo perfeito. – me puxa para um abraço de urso. –Eu peguei você no colo, sabia? – puxo um guardanapo da mesa ao lado, por que posso sentir as lagrimas molhando o meu vestido, e a seda vermelha em meus ombros, com certeza ficaria manchada. –Sinto como se fosse a Isis ou o Connor se casando. Meus primeiros netinhos. – me solta do abraço e me olha com um sorriso que logo se transforma em uma cara de pânico. –Estou ficando velha! – não posso evitar de gargalhar o que me arrependo quando seus olhos me fuzilam.

–Donna você é a avó mais charmosa e linda que há. – abraço com carinho. – Não tem como estar velha, seu espírito nunca deixaria isso acontecer, é uma das pessoas mais jovens que conheço. E a minha avó favorita, só não deixe as outras saberem. – sorrio para ela que já tem o lenço enxugando as lagrimas que insistem em cair.

–Olha o que você fez. – me recrimina. – Borrei toda a minha maquiagem. – se despede de mim correndo para o banheiro com seu quite de primeiro socorros em mãos.

O jantar estava quase no final, tivemos que pedir para o garçom repetir três vezes o prato principal na minha mesa, todas elas haviam sido destinadas ao Wally, e vi que tio Barry havia feito o mesmo. Anotação para amanhã: pedir para o Chefe aumentar a proporção em cada prato e para os garçons diminuírem a quantidade de bebidas alcoólicas, por que posso jurar que vi alguém ser carregado para o banheiro. Mas o balanço era positivo, e por incrível que pareça ninguém precisou sair para atender algum chamado inesperado, só tínhamos que rezar para que a sorte continuasse ao nosso lado.

‘Sara.’ Luna me chama pelo comunicador. ‘Temos um chamado.’ cedo demais para comemorações, onde estavam esses malditos bandidos na hora do discurso?