LUNA

Estava sendo um dia tranqüilo, e como isso era bom depois de tudo que explodiu na minha cara. Posso dizer que minha vida nesses últimos dias tinha sido como um filme do roteirista, e claro diretor, Michael Bay. Pois só isso explicaria tantas reviravoltas, fugas de elevador, caras com armas, e vigilantes mascarados. Falta apenas o prédio onde trabalho cair em pedacinhos, e eu precisar pular usando uma camiseta como pára-quedas. Por favor Deus, eu não quero fazer isso!

Disse que estava sendo um dia calmo, e quis garantir que fosse permanecer assim quando ignorei as ligações Queen Jr. Mas apesar dele ter me enganado, conseguindo me tirar de meu limbo pessoal, foi uma coisa simples de resolver, só algumas informações sobre um artefato mitológico. Com isso eu poderia lidar, mas preferia nem imaginar o porquê de Connor quer saber sobre a adaga da Helena de Tróia.

Mitologia é uma área muito extensa, com mitos que se confundem a realidade. Devo admitir, não é o meu forte. Mas aquelas que o cinema abordou, eu acabei me aprofundando. Afinal, como não se interessar pela mitologia de Troia quando Brad Pitt é o Aquiles e Eric Bana dá vida a Heitor?

Passando esse momento ‘não sei o que você quer com isso’, o único incidente foi uma reunião com a contabilidade da empresa, que precisei adiar. Por que minha chefe foi... Não faço idéia de para onde foi. Ela simplesmente sumiu da sala. Deixou apenas um recado na mesa, pedindo para remarcar a reunião para a quinta feira. Algo que eu acharia anormal na semana passada, mas hoje, acho completamente compreensivo.

–Oi? – olho para o monitor antes de levantar minha cabeça em direção a voz, e agradeço internamente, por faltar apenas dez minutos para dar a minha hora.

–Oi,Connor. – ele me olhava com aqueles incríveis olhos azuis. Se eu fosse cinco centímetros mais suscetível, estaria suspirando. Sem falar em seu sorriso, tenho certeza que se Connor Hawke estivesse em Titanic, seu sorriso teria derretido o Iceberg, o transatlântico teria chego em New York, Jack teria vivido com a Rose, e Celine Dion não teria metade do sucesso que tem.

Preciso piscar duas vezes para perceber que Isis estava um pouco atrás do irmão, e a seu lado um garoto mal-encarado que olhava para janela atrás de mim. Juro, tive a impressão que ele se jogaria daqui de cima, mas conhecendo melhor a família da minha chefe, não duvido que um ‘amigo’ deles, faria isso sem pensar duas vezes. Era como olhar para um grande outdoor, com a frase “Sou Perigoso” em letras garrafais.

Seus olhos azuis eram frios, desprovidos de emoções. Sua pele branca contrastava com seus cabelos negros em um corte social, tinha o porte esguio, porem musculoso, como um nadador. Apesar de ter cara de um adolescente revoltado, como Heath Ledger em 1999. Esse garoto se parece muito com alguém, mas minha cabeça não consegue fazer associação. Pode ser o meu instinto de sobrevivência, que está gritando alucinadamente para eu corra na direção oposta daquele menino.

–Oi Luna. – Isis dá um pequeno sorriso parecendo constrangida por alguma coisa, tinha a impressão que era algo que o irmão dela faria.

–Oi Isis. – sorrio para ela.

Isis assim como Felicity, compunha o seleto grupo das pessoas com quem eu me sinto à vontade. Pode ser pelo fato de que sempre falamos dos filmes que gostamos, por ela não ligar para o meu jeito de ser, nunca parecer me julgar, ou talvez, simplesmente por que ela é muito fofa. Quem sabe todas as alternativas a cima, mas o importante era, que me sentia bem com ela.

–Esse é Damian. –Isis apresenta o rapaz ao seu lado, e pisco algumas vezes para colocar minha cabeça para funcionar. Agora sei com que ele se parece, mas isso não era possível.

–Damian Wayne? – ele acena com a cabeça. – Filho do multibilionário Bruce Wayne? – concorda novamente parecendo entediado. – Mas não pode ser, você está morto.

–Não mais. Eu não sei se foi uma boa ideia te trazer aqui. – Connor aponta para o garoto da ressureição.

–Não iria ficar esperando por vocês trazerem notícias. – de entediado ele começou a ficar irritado.

–Muita informação para mim. – respiro duas vezes profundamente. – Eu não preciso estar envolvida nisso. Faltam dois minutos para o meu horário acabar, e estou de saída. –digo para mim mesma tentando me tirar dessa realidade absurda em que eu fui me meter. Quando volto a abrir meus olhos Connor e Isis seguram a risada enquanto Damian revirava os olhos impacientemente.

–Luna precisamos de ajuda. – e lá vem de novo, o maldito sorriso cheios de dentes brancos e perfeitamente alinhados dele.

–Seja o que for, a res... res... resposta, é na... não. – aí Deus, eu não precisava ter uma das minhas crises de gagueira agora, não agora.

–Isso entre nós, já não tinha evoluído? – Connor senta na cadeira a minha frente apoiando o queixo sobre uma das mãos, o que me faz suspirar involuntariamente.

–Acho melhor esperarmos na sala da minha mãe, Damian. – Isis arrasta o garoto que, ao que parecia, não estava muito contente com a ideia, e só para deixar registrado, eu também não estava.

–Connor, seja o que for, eu não posso te ajudar. -afirmo, grata por não gaguejar mais. -Você tem uma estação espacial inteira, à sua disposição, não tem nada que eu faça, que eles. - aponto para o céu. – Não façam melhor. -suspiro, por que cada parte minha, estava muito propicia a ajudá-lo. -Qual é? Por que precisa ser eu? -choramingo.

–Suas capacidades são insubstituíveis. – ele sorri jogando charme, e não me agüento, começo a rir. Não dá, eu não repararia na maior parte do tempo, afinal, sou ante social. Mas a cada momento isso vem de uma maneira diferente. – Por que com você é tão difícil sempre?- não sabia o que aquilo significava, mas sua expressão ficou diferente, entre tristeza e o constrangimento.

–Okay. -puxo o ar pela boca, me recompondo. - Do que exatamente você precisa? – eu não acreditava que estava cedendo.

–Acesso. – sorri.

– Por que você não pede para a sua mãe?

–Por que ela não pode saber. – agora sim isso começava a fazer sentido.

–Sabe que eu estaria vendendo hot dog, ali na esquina se não fosse sua mãe, não sabe? -o sorriso em seu rosto diminui imediatamente. -Vou te ajudar, mas se perder meu emprego... -deixo no ar, até por que não consegui pensar em uma ameaça boa o bastante para um herói.

–Você não vai perder o emprego, e a essa altura você já é uma heroína honoraria. –tenta diminuir a gravidade do que ele estava me pedindo para fazer.

–Eu não quero isso. Não nas... nas... nasci, para isso. – já não falava para ele e sim para mim. – nasci para fazer o meu serviço, e voltar para casa em segurança.

–Felicity também acreditava nisso, ou pelo menos durante um tempo da vida dela. – ele parece refletir por um momento, até despertar com o seu sorriso costumeiro. – Você vai fazer o certo Luna.

– E você quer acesso a que exatamente? –me dou por vencida e começo a seguir as instruções.

–Tecnologia.

ISIS

Me sento em frente ao computador da minha mãe, esse tempinho que deixei aqueles dois lá conversando vai servir para ver onde o resto da minha família está, e para isso o computador pessoa de Felicity Queen, sempre é a melhor opção. Neles ela sempre deixa um jeito para ficar de olho em todos nós. A paranóia é tão grande que consegue nos observar até pelo celular. Não posso julgá-la, não com o marido e os filhos que tem, sem falar no melhor amigo e nos afilhados. Na verdade, não sei como não tem a cabeça lotada de fios brancos, claro que são pintados, mas mesmo assim os que eu sei que ela tem são muito poucos para o tamanho da preocupação que damos.

Eu levanto o olhar do computador e por um momento havia esquecido completamente que havia alguém comigo aqui. Damian não é do tipo quieto, ele é do tipo imperceptível, estava parado olhando pelas janelas o entardecer da minha cidade, bom essa era a aparência, mas sabendo de quem ele era filho, melhor conhecendo a árvore genealógica dele, poderia estar olhando os pontos mais vulneráveis talvez para defende-la, mais provável para atacá-la.

–Gotham é assim? –pergunto enquanto olho para os pontos coloridos, que indicavam que minha mãe estava na Torre e meu pai em algum ponto do Panamá. –Eu só apareço por lá a noite.

–Ela é mais suja. –ele vai até o sofá e se joga ali. – Mais barulhenta essa hora do dia também. Pessoas saindo do trabalho, é a hora que os assaltantes começam a agir. – eu não sei o que falar sobre isso, então tento mudar de assunto.

–Seu pai, como ele é por de baixo da máscara? Eu conheço o Bruce, mas gostaria de entender se é como o meu pai. – Damian joga a cabeça para trás no encosto do sofá e fica em silêncio, e fica assim por tanto tempo que eu achei que estava me dando uma indireta para calar a boca, mas quando eu não esperava mais, ele me surpreende.

–Bruce Wayne é pior sem a máscara. –não entendo aquilo. – Ele se importa e sem a mascará fica visível isso.

–Mas não é o certo se importar? –aquele garoto era muito complicado.

–Pergunte ao Todd se a preocupação do Wayne serviu para alguma coisa? -ao muda em seus olhos por um instante. -Ao menos quando acreditamos que não passamos de um fim para um meio, a decepção é menor. – Damian não desvia o olhar do teto, e sua voz era tão monótona como sempre, quase entediado. Mas eu consegui sentir em cada palavra o quanto tudo que havia acontecido com ele tinha o alterado.

–Mas ele se importa. –reafirmo o que ele disse.

–Mas não o suficiente para mudar a coisas. – Damian vira o rosto para mim, e seu olhar parecia um profundo precipício. – Continua agindo da mesma maneira, e nós sempre vamos continuar a cair, um por um. Pode ser que uma hora dessas o poço não funcione como deveria, ou melhor, ele pode funcionar bem demais, por vezes demais, e exija o seu pagamento. – eu sabia por alto o que era o poço, sabia que Todd havia passado por ele, e que essa era a única maneira de Damian ter voltado a vida, mas não entendia do que ele estava falando.

– Como assim?

–É só algumas histórias. – ele volta a olhar para o teto. – Quando mergulhamos no poço uma parte da nossa alma é levada como preço da magia.

–Magia sempre tem um preço. – já havia ouvido isso antes, mas não sei onde.

–Exatamente. Mas se sua alma é forte, você consegue voltar com parte dela, se ela é fraca, o que volta não é mais você. De qualquer forma, parte sua fica no poço. Uma hora dessas um de nós pode voltar de lá sem o que é de verdade, por que meu pai não está disposto a fazer o que tem que ser feito. Aí alguém vai ter que fazer o serviço na gente. – era algo muito perigoso, e eu acho que comecei a entender um pouco melhor quem era Damian Wayne, mas não sei se gostava disso.

–Magia sempre vem com um preço? – repito em voz baixa apertando a adaga em meu bolso. – Qual será o seu preço? – Damian me olha intrigado, mas Connor me salva ao aparecer na porta.

–Prontos? – e ele tinha um sorriso muito grade para ser boa coisa.

CONNOR

–Levanta daí pirralha, hora dos adultos trabalharem. -digo estralando meu pescoço, e por um milagre divino, Isis me obedece, se levantando da cadeira de nossa mãe, se sentando ao lado do membro menos amado da família Wayne. -Toda sua. -indico a cadeira para Luna.

A vejo caminhar em cima de seus saltos agulha, a saia de seu vestido azul, acabava um palmo abaixo de seus joelhos, mas modelava a perfeição que era seu corpo, seus cabelos cacheados, que sempre pareciam estar se revoltando contra ela, eram outra de suas imperfeições perfeitas. Ela merece o nome que tem, e mesmo sem querer, o que é uma coincidência hilária, Luna nunca passaria despercebida em lugar algum. Ela ilumina tudo. E por Deus, é linda demais, para seu próprio bem.

–Connor! -escuto a voz de Isis me chamar, me arrancando de meus devaneios, me assusto ao ver que a pivetinha está ao meu lado, cutucando meu braço. -Está parecendo nossa mãe, quando o pai começa a treinar. -sussurra divertida. -Desse jeito a garota vai se assustar. -bufo em resposta, e vou para trás da cadeira, onde Luna estava sentada, e todos se agrupam ao nosso redor, a vendo digitar rapidamente alguns códigos de comando.

–Podem, por... por favor, dar um passo para... -ela indica o espaço ao redor dela, e todos nos afastamos. Luna fecha seus olhos e inspira, como se precisasse se acalmar.

–Olha, vamos sentar ali, até que ela libere os acessos. -aponto para o sofá, Damian é o único que parece não entender, mas não dou a mínima para ele, então apenas os guio para longe dela.

–Pronto. -diz com sua voz normalmente baixa, depois de alguns minutos, já se levantando. -Tudo liberado.

–Obrigado. -digo com um sorriso idiota no rosto, e Isis toma o lugar onde Luna estava, e vejo a mulher caminhando em direção a saída. -Vai aonde? -dou dois passos em sua direção.

–Embora. -sussurra. -Vocês não precisam mais de mim. E lembra daquele carrinho de hot dog? -olha para os lados rapidamente antes de se inclinar em minha direção, e dizer em tom de segredo. -Eu não me sinto confortável com pessoas Connor, me imagine tendo que falar com elas o tempo todo... Um monte de estranhos me dizendo como querem a comida deles... -seus olhos se perdem no nada, e não consigo conter o riso. -Não é uma piada! -repreende séria.

–Sei que não é. -seguro o riso, olhando em seus olhos. -Felicity te adora, não vai te despedir, me disse que foi a primeira assistente competente que encontrou em anos. Ela até me proibiu de dar em cima de você! -faço careta ao contar.

–Você não é um filho obediente então. -murmura, mas vejo um sorriso brincar em seus lábios.

–Não dou em cima de você! -me faço de ofendido e ela apenas me olha descrente. -Sou seu amigo Luna!

–Ah merda! -escuto a voz de Isis, que ganha imediatamente minha atenção.

–Por favor, fique? -peço apressado, nem sei o motivo, mas não gosto de pensar nela indo embora sozinha depois de minha irmã, soltar um atípico palavrão, por que para Isis, até mesmo côcô é um palavrão em potencial.

–Okay. -sussurra em resposta e toco seu ombro, antes de caminhar para o lado de minha irmã e Damian, ambos com expressões nada boas. Luna permanece escorada na porta, com a mão na maçaneta, como se ao primeiro susto fosse sair correndo por sua vida.

–Tem essa pasta. -Isis diz clicando no link. -E isso dentro.

Vejo a ficha dos membros fundadores da Liga, tirando meu pai e Bruce, que não estavam listados por algum motivo. Existia os projetos mecânicos de um andróide, olho para Damian esperando que ele soubesse do que se tratava. E ele acena de forma negativa.

–Podemos pedir ao Cisco para dar uma olhada. -Isis sugere desanimada.

–Não. -falo pegando meu celular e ele atende no primeiro toque. -QC, agora.

WALLY

Connor tem sorte por ser meu melhor amigo, por que se não fosse já teria dado um jeito de abandoná-lo no pico do monte Everest a muitos anos atrás. Olho para minha namorada linda, sentada ao meu lado no sofá, Sara tinha suas pernas sobre as minhas e uma vasilha com pipoca em seu colo, enquanto assistíamos um filme de terror hilário, com John e Lyla sentados no outro sofá. Tiro suas pernas com cuidado e me levanto, atraindo o olhar de todos.

–Preciso ir. -falo.

–Algo em que eu possa ajudar. -Diggle se prontifica imediatamente, e apenas sorrio em resposta.

–Acho que não. -dou de ombros. -Era o Connor.

–Eu posso ajudar? -Sara segura minha mão me olhando séria.

–Não linda, deve ser algum drama existencial dele, mas se precisar te ligo. -pisco para ela, e volto minha direção para meus sogros. -Tchau Lyla, ligo para você também Dig. -espero apenas ele assentir, e saio em disparada, em poucos segundos estou parado em frente à sala da minha madrinha, batendo na divisória que separa seu escritório da mesa de Luna, que, aliás, estava parada de costas, escorada na entrada segurando a maçaneta.

–Oi! -digo a ela com um sorriso largo, e a garota retribui como se por reflexo, me cedendo passagem.

–Oi.

–Quem pediu pizza? -olho para os três que estavam parados atrás do computador.

–Wally, consegue nos dizer o que são esses projetos? -Connor pergunta e Isis se levanta, sem olhar em minha direção, com o rosto corado. O que seria normal para mim, se Damian não a tivesse seguido com os olhos até a garota parar ao lado de Luna na entrada.

–Se importa? -a vejo perguntar baixinho para a outra que abre um sorriso e nega.

–Por favor. -Luna responde, e vejo que Damian ainda as observava, claro que Connor estava ocupado demais com Luna para notar Damian. Reviro meus olhos um tanto irritado, e começo a ler os arquivos.

–Ivo? -olho para os dois. -Aquele Ivo? -eles concordam. -Bom, isso explica a tecnologia de 2009.

–Entende isso? -acho acabei de me ofender com a pergunta de Connor.

–Mesmo se não entendesse, o que não é o caso. Eu poderia ler tudo a respeito em cinco minutos. -dou de ombros. -Aqui. -aponto para a estrutura do andróide. -É um humanóide, feito para se misturar. Estrutura de aço... -passo meus olhos pelo designer. -É lindo, estão vendo essas conexões? - suspiro encantado. -É tão complexo como o corpo humano, isso é impossível!

–O que é impossível West? -Damian pergunta impaciente.

–É como se ele tivesse sido criado para ter consciência. -passo meus olhos pelos arquivos com minha super velocidade, amo a Fel por ela ter instalado esse programa em todos os computados aos quais meu pai, ou eu, poderíamos ter acesso. -Olhe, cada uma dessas ligações, cada fiação... -procuro rapidamente uma imagem da estrutura de um corpo humano, e a coloco ao lado, para que eles entendam do que estava falando.

–Isso é impossível. -Damian sussurra quando se dá conta.

–É o que estava tentando dizer, mas onde encontraram isso? E por que razão estava com o CADIMUS? -viro a cadeira em direção a Connor, tentando não ligar isso, ao imenso buraco na parede que encontramos no dia do meu aniversário.

–Connor. -Isis chama. -Mostra para ele.

–Não surta. -ele avisa, minimizando a tela em que estava, e abrindo outra com a ficha do meu pai, ou melhor, do Flash.

–O que isso tem a ver com o Amazo? -só percebo como a pergunta é idiota quando ninguém se dá ao trabalho de me responder, e consigo ligar dois mais dois. -Estão todos aqui. Superman, Mulher Maravilha, Mulher Gavião, Tornado Vermelho... -eram os membros da Liga da Justiça. -Mas o Arqueiro Verde não está. -olho para Connor. -Nem o Batman. -me viro para Damian. -Por que não? -sinto o chão desaparecer por um momento. -Não é mais um dos planos do...

–Não seja idiota. -Damian me interrompe. -O Batman não trabalha para o governo, ou para qualquer outra pessoa. -faz sentido.

–Mas que merda é isso tudo então? -tento calcular todas as probabilidades, acelerando meu cérebro, o que demora alguns segundos.

–Licença. -escuto uma voz feminina baixa, e olho em direção a Luna, que afastava uma mecha de seu cabelo que havia se prendido a seus lábios. -Olha, eu não convivo nesse meio a muito tempo, mas é assustador pra caramba. -ela abraça o próprio corpo. -Consigo entender por que o governo construiria uma arma que pudesse parar vocês.

–Uma arma? -Damian pondera, e eu percebo que era obvio.

–Por isso Batman e Arqueiro Verde não aparecem, assim como a Canário Negro. -ela continua a falar. -São humanos normais, bom, vocês entenderam.

–Uau! -exclamo, a olhando de verdade, acho que pela primeira vez. -Muito esperta.

–É que assisti muitas vezes a Exterminador do Futuro. -fala como se isso diminuísse seus méritos. -Apesar disso se parecer muito mais com Blade Runner. - como se só o Connor não bastasse!

–A humanidade tem a ilusão ridícula de pensar que podem criar uma inteligência artificial, dar consciência a ela, poderes, e ainda assim esperar ser servido por essa coisa. -Connor parece pensar alto. -É como se toda a dramaturgia fosse em vão!

–Exato! -Luna concorda animada, mas quando todos a olhamos, ela volta a se encolher constrangida.

–O que fazemos agora? -Isis pergunta.

–Vou buscar uma forma de rastreá-lo. -Damian diz indo em direção a janela.

–Damian! -ela grita quando ele estava prestes a saltar. -Use a porta, não tem que sair assim. -fala chocada. -E nos mantenha informados, nós estamos procurando a mesma coisa! -não devo estar enxergando direito, só pode ser isso, por que tive a impressão de que ele sorriu para ela, antes de começar a andar em direção a porta. -Damian!

–Eu entro em contato. -fala enquanto passava por ela e Luna. Olho para Connor, esperando que ele tenha percebido, mas nada. Nada!

–Acho melhor, apagarmos os rastros. -Connor diz, e me levanto, cedendo lugar para Isis. -Wally, você leva Isis embora? -me pergunta em voz baixa.

–Não sei se percebeu Connor, mas sua irmã, não está muito afim de passar algum tempo a meu lado. -olho para ele beirando a raiva, como pode, logo agora, ele parar de ser o irmão mais paranóico do mundo?

–Ah, eu sei disso. -dá de ombros fazendo com que meus olhos quase saltem do meu rosto. -Ela teve uma crise existencial hoje... Longa história, estou tentando não me preocupar com isso agora, mas preciso levar Luna em casa. -ele me olha, não era só o Connor, sendo o Connor...

–Não! -escondo meu rosto com as mãos quando me dou conta do que estava acontecendo. Quando dou por mim, já estou dando risada. -É como se estivesse de volta a 2014! -solto em meio ao riso.

–Do que está falando Wally? -posso sentir o nervosismo em sua voz.

–Nada. -respiro fundo, tentando parar de rir. -Vai lá levar a Luna. -dou as costas indo em direção a Isis e Connor sai junto a sua versão da Felicity, estou me sentindo o Diggle agora! -Pronta? -pergunto a Isis que assente, então a pego no colo, e em segundos estávamos em frente à mansão dos Queens.

–Obrigada Wally. -murmura sem me olhar nos olhos, quando a coloco no chão.

–O que tem entre você e Damian? -pergunto tentando soar casual, e ela me olha confusa.

–O que?

–Damian Wayne, o Robin...

–Eu sei quem ele é Wally! -exclama e seus olhos se enchem de lágrimas, antes de seu rosto atingir um tom de vermelho quase florescente. -Você. -aponta o dedo em riste para mim, falando entre dentes. -Não pode fazer isso!

–Não estou fazendo nada, só cuidando de você Isis, como sempre cuidei. -justifico sem entender sua fúria. -Sabe que Damian é encrenca...

–Está cuidando de mim? -repete como se fosse a coisa mais idiota do mundo. -Wally, eu não sou sua irmã, droga! -me encolho por reflexo, nunca a vi tão furiosa antes. -Você me trata como se eu fosse, mas eu não te vejo da mesma forma, não vou ver sua preocupação fraternal como ela realmente é. Ao invés disso, vou revirar à noite toda na minha cama, com os aqueles lençóis rosa ridículos, pensando no que isso pode significar. Por que é isso que uma garota apaixonada faz Wally, por que eu te amo, inferno! -grita, antes de se virar e sair correndo para dentro. E me deixar aqui parado, como se tivesse levado um soco no estômago.

LUNA

–Coloca o cinto. -Connor diz antes de dar partida em seu porshe prata, e eu o olho sem entender. -Normalmente eu usaria isso para encostar em uma garota, prenderia o cinto por você, mas somos amigos. -quase sorrio com isso. -Então coloque logo esse cinto, ou eu mesmo vou fazer, e você vai gostar! -ameaça, e eu coloco o cinto no mesmo instante.

–Qual a sua história Luna? -diz com os olhos na estrada, e nem vou perguntar como ele sabe meu endereço, por que se souber a resposta, provavelmente terei um impulso súbito em me mudar imediatamente, e não tenho dinheiro para isso agora, não tenho dinheiro para nada agora.

–Você sabe minha história. -me esquivo. -Garota esquisita, apaixonada por cinema, que trabalha para sua mãe. E nunca vai parar em sua cama...

–Ai! -coloca a mão sobre o peito de forma teatral. -Essa doeu.

–Mas esse não é um problema, por que somos amigos. -o lembro.

–Isso ai de amizade que você está falando. -concorda de má vontade. -E não entenda isso como uma cantada, por que estou genuinamente curioso. Mas como você namora? -ele me olha por um segundo, parecendo envergonhado. -Não é por mal, só que você não faz o tipo que adora um abraço.

–Sou anti social Connor, não assexuada. -reviro os olhos.

–Isso quer dizer que namora? -respiro fundo, ele insistiria até ter a resposta completa.

–Sim, eu não sei se posso chamar de namoro. Tive dois relacionamentos em minha vida, mas nenhum deles eram do tipo super afetuoso. -resumo.

–Que droga Luna, você só está me enchendo de mais duvidas! -ele era o retrato da frustração.

–Que bom que somos amigos então, por que teremos muito tempo para conversar. -não consigo segurar o riso, e percebo ele assistindo minha risada através do retrovisor.

–Para de ficar repetindo isso! - reclama, e me surpreendo ao perceber que aquilo não me incomodou, pelo contrário.

–Qual a sua história Connor? -mudo de assunto.

–O que você não sabe?

–Bom, eu sei do monastério, que, aliás, explodiu minha cabeça! -mexo minhas mãos ao redor do meu rosto imitando uma bomba e ele dá risada. -Você é um monge! -afirmo, deixando transparecer o quanto aquilo me chocava. -Não tinha que ter aquilo de voto de castidade e essas coisas?

–Celibato é para padres Luna, não monges. -corrige divertido. -Mas eu não bebo, tenho uma filosofia pacifista...

–Connor, seu trabalho é espancar pessoas. -interrompo chocada.

–Só pessoas que merecem, e faço isso para manter a ordem. Salvo mais vidas, do que as machuco. -ele parecia uma pessoa complexa, e cheia de camadas agora, tão diferente do cara superficial que marcava hora para terminar um encontro que conheci no elevador.

–Uau! -solto e ele me olha sem entender. -Por que finge ser um idiota?

–Identidades secretas tem um preço Luna. -filosofa. -E não se engane, sou um idiota.

–Eu acreditaria, até ver você falar de Isis, suas mães, ou Oliver. Ou ver você com algum deles, principalmente com a Isis. É como se ela fosse o centro do seu mundo. -eu me identifico, particularmente com isso, mas claro que não vou contar minha tragédia pessoal para o bonitão a meu lado.

–Um homem que não se dedica a família, jamais poderá ser um homem de verdade. -diz cheio de pompa, e não consigo segurar o riso quando o vejo citando O Poderoso Chefão para mim.

–Ele foi bom, e delicado, mas era mal e era tão mal educado. -cantarolo baixinho olhando para ele que abre um sorriso largo.

–Você é péssima cantora, sério, não deveria cantar, tipo nunca. -dou de ombros, sem me importar.

–Foi tão gentil, e tão cortes, por que será que não notei nenhuma vez? -ergo meu braço em direção a sua face, com minha mão imitando um microfone para ele.

–Eu reparei, no seu falar. Não gaguejou quando cheguei a lhe tocar! -canta a parte da Fera, adaptando só para implicar, tombo minha cabeça, literalmente me dobrando de rir. -Aliás, o que te faz gaguejar? -eu suspiro, me virando para olhá-lo quando acaba de estacionar na porta da minha casa.

–É uma gagueira nervosa Connor. Só acontece se eu estiver com muita raiva. -meneio a cabeça. -Ou nervosa.

–Quando nos conhecemos?

–Muita, muita raiva!