WALLY

Eu o procurei em todos os lugares e quando não o achei em casa, ou na Star Labs, e sabia que não estava na sede da Liga. Só existia um lugar onde encontraria meu pai, e quando estou, como estou nesse momento, só ele pode me entender. Entro no cemitério e posso o ver em frente ao tumulo de meus avós.

–Quando você voltou no tempo, ficava se culpando, sempre que soltava algum “spoiler”. -um sorriso triste surge em seus lábios. -Era como você chamava...

–Tio, isso só tem alguns meses para mim, me lembro de tudo. -falo e ele me olha, parecia cansado, preocupado e mais alguma outra coisa.

–Verdade. -confirma após um longo suspiro. -Mas não deveria se sentir assim, por que a verdade é que guardou o maior de todos os spoilers. Eu nunca me toquei que você nunca falou do meu pai, ou disse algo a respeito dele, mas como poderia? -ele passa a mão na face. -Nunca o conheceu.

–Sinto muito pai. -toco em seu ombro me aproximando mais dele. -Não era algo que eu soltaria, eu nunca poderia te machucar.

–Eu sei filho, sei disso. -e ali estava o motivo de estar aqui nesse momento, essa certeza que Barry Allen exala a respeito de todos que ama. -Seu avô teria muito orgulho do homem que é, daria tudo para que ele te conhecesse.

–Bom, ele me conheceu. -resolvo que já passou da hora dele saber.

–Como? -a palavra sai rapidamente, eu um tom cheio de surpresa.

–Eu corria todos os dias para Central City, naquela época você não sabia, mas nunca enganou o vô Henry. E sinceramente, eu fico surpreso da Tia Iris ter comprado sua história... Um cara fica nove meses de coma, então no mesmo dia que ele acorda milagrosamente sem seqüelas, um raio aparece pela cidade? -o encaro descrente.

–Não comece a julgar! -repreende, com os olhos brilhando de emoção.

–Certo. -me recomponho. -Mas como disse, eu vinha aqui todos os dias, e sabia que ele sempre soube quem você era, então simplesmente entrava na prisão e conversava com ele, não é como se uma câmera de segurança pudesse me flagrar. -Barry abre um sorriso largo. -Ele sempre falava de como me parecia com você, o quanto ele se orgulhava. Henry foi um grande homem, e um dos motivos de me considerar o moleque de mais sorte desse mundo. Mesmo com todas as histórias que sempre me contou a respeito dele, nenhuma se comparava a como ele era de verdade. Você teve um grande pai. -concluo sorrindo para ele.

–Eu não sei como você pode se parecer tanto comigo Kid, mas garanto que não existe nenhuma outra razão na vida que me faça mais feliz. Obrigado por guardar isso. -me puxa para um abraço.

–Disponha. -respondo quando nos afastamos. -Mas me conta ai, qual o motivo de estar à noite em um cemitério, o que aconteceu? -ele limpa a garganta e passa a mão pelo rosto se recompondo.

–Não sei se lembra Wally, mas a esteira cósmica foi roubada, não temos idéia do motivo. E você vai para faculdade em dois dias.

–Eu sei tio, é triste perder a baba não remunerada. -finjo tristeza e ele dá risada.

–Mas qual o seu drama da vez? -o olho confuso. -É sério Kid? Você veio atrás de mim, no meio do cemitério, à noite... Posso continuar por mais um longo tempo...

–Isis. -falo de uma vez.

–Ah, Oliver me contou! -ele segura o riso e eu o olho horrorizado.

–Todo mundo sabe disso! -quase grito. -E ninguém está pirando?

–Eu não disse isso. -ele me olha confuso, antes de me puxar pela mão e de repente estávamos em casa, dentro do meu quarto. E ele fecha aporta. -Aquele não era lugar para você ficar surtando. Agora, pode surtar.

–Ela está estranha, e xingando coisas como “inferno” e “droga”. -gesticulo com as mãos, andando de um lado a outro. -Ah, e tem o Damian Wayne. -dou uma risada sem nenhum humor, e ele me encara sem expressão. -Ele não age como uma pessoa com ninguém, mas claro que com Isis ele é todo educado, e cheio de respostas para as perguntas dela!

–Okay, acho melhor você se sentar. -escuto a voz dele ao fundo, mas continuo meu monólogo.

–Então eu fui levá-la em casa, por que o Connor encontrou a Felicity dele...

–Como?

–Longa história. -falo rapidamente. -Mas ele está apaixonado, logo agora que o pequeno demônio está se engraçando com a irmã dele, logo agora Connor perde o foco! -tinha vontade de esmurrar alguma coisa. -Então eu precisei fazer, o que ele deveria estar fazendo.

–E ela virou uma fera. -adivinha me surpreendendo.

–Como sabe?

–Wally, sou perito na friendzone. -aponta para ele mesmo. -E você se preocupando com ela como um irmão faria, a deixou revoltada... Logo hoje, filho. -ele balança a cabeça como se não pudesse crer em minha falta de sorte. -Isis não está em seu melhor momento, teve um briga com Oliver logo pela manhã, decidiu redecorar o quarto e que quer participar do time, tipo de verdade, escolheu até um nome A lá Batfamilia. Acho que Ollie está considerando a mandar para um mosteiro...

–Deveriam ter me dito antes. -puxo meus cabelos tentando pensar na merda que tudo isso se tornou. -Ela gritou comigo como se eu fosse um estranho, nunca a vi com tanta raiva, e depois falou que não era minha irmã. -respiro fundo, aquilo doeu mais do que poderia imaginar. -Disse que está apaixonada por mim, que me ama.

–Mas você sabia disso. -pondera.

–Ela só tem treze anos...

–Agora você está falando como Oliver.

SARA

Faltavam três dias para o final de das férias de verão, eu estava aproveitando cada minuto antes do retorno as aulas. Agradecia todas as manhãs em que acordava com o sol batendo na minha janela e não com a voz do Tim na minha orelha me encaminhado para alguma missão. Com esse pensamento eu acabo por levantar mais animada.

Por ser sexta minha mãe já tinha saído para o seu escritório, ela se tornou diretora da ARGUS, após substituir a louca da Waller, que assumiu o CADIMUS. Meu pai deve estar em alguma missão pela Liga, por que não existe sinal dele pela casa. E posso garantir que amo minha família, mais do que tudo no mundo, mais do que chocolate, mas adoro ficar de boa em casa sozinha, esse são momentos raros e deliciosos. Me jogo no sofá da sala, ainda de pijama, ligando a TV procurando alguma coisa interessante para assistir, e ficando irritada com a falta de opções, por fim deixo na reprise de um seriado antigo.

Já fazia uns vinte minutos que estava assim quando ouço meu celular tocar. -Oi mãe. – atendo enquanto troco o canal novamente.

‘Bom dia Sara. ’ três palavras e eu já sabia que o dia dela não tinha começado tão bem quanto o meu.

–Alguma coisa errada? – pergunto já subindo para o meu quarto para me trocar.

‘Não filha, preciso apenas de um número de um documento que deixei em casa’. Ela logo percebe o meu alarme ligado, coisas de família, ou talvez da profissão que temos. ‘Tem uma pasta em cima da minha mesa, lá vai ter um número na primeira ficha, você pode passar para mim? ’ passo o número, e apesar de estar curiosa pelo que aquilo seria, sei que é coisa do trabalho e não posso perguntar, não pelo menos por telefone.

Em cima da mesa entre papeis e pastas, haviam duas fotos, uma era dos meus pais se olhando apaixonadamente em seu segundo casamento. Pois um casamento só é comum demais, e não se aplica a nós os Diggles. Para ter certeza que era a coisa certa a fazer tem que ser feito pelo menos duas vezes, lei básica de tentativa e erro. E a outra foto era minha com um vestido horroroso, rosa com renda, e rodado. Deus o que minha mãe tinha na cabeça quando comprou esse vestido? E o pior, ela praticamente me obrigou a usá-lo na minha festa de doze anos, não que ela tenha feito cara de brava ou coisa parecida, na verdade usou uma tática muito mais eficaz, fez a cara de mãe toda pidona, não tive como me negar a usar, claro que fiz questão, sem querer digamos, de derramar suco de uva nos três primeiros minutos de festa, mas aí já era tarde, e ela tinha me eternizado nessa foto que me atormenta desde então.

Por sinal, fotos, meus pais adoram fotos. Na parede da escada haviam uma serie de porta retratos, fotos minhas, dos meus padrinhos, meus pais, Wally e os Allen, Isis e Connor, todos estavam eternizados ali. Havia até mesmo, uma foto do Bruce em um canto na parede, e o assustador era que ele estava sorrindo, não um sorriso ensaiado, mas um cheio de dentes, desses que alcançam os olhos. Foi tirada no casamento do Clark com a Lois, uma das poucas vezes que o vi sorri, sinistro, ainda penso que meu pai só a pendurou ali como uma ameaça velada, tipo o que acontece se eu andar fora da linha.

Mas de todas as fotos que tinha em casa, apenas as que estavam na estante perto da porta eram diferentes. Tinham um ar solene, para mim eram especiais, eu via como um histórico da minha família. Minha mãe, meu pai, meu tio Andy, e o último a entrar nesse seleto grupo foi o meu primo Artie. Todos estavam devidamente fardados, e aqui está uma coisa que ninguém sabe sobre mim, por que eu mesma demorei a entender. É isso que quero, minha foto entre eles. Eu Sara Michaels Diggle quero servir ao exército.

Parece loucura, sou uma heroína, não deveria querer entrar para o exército. Mas é como uma tradição, velada, de família. Essa vontade parece ter tomado forma depois que vi Wally escolher a faculdade, e decidir o próprio futuro. Agora eu me vejo nesse momento, não sei como explicar que é isso que eu quero, sei como vai ser a reação do meu pai, minha mãe, e até a do Wally, e sei que não serão boas. Mas é o meu futuro, é o que eu quero, e vou ter que lutar por isso.

‘Sara?’ uma voz em meu ouvido me desperta do devaneio. ‘Não me diga que ainda está dormindo?’

–Tim eu estou de ferias, meus últimos três dias de ferias, acho bem aceitável se ainda estivesse dormindo. – fecho a porta do escritório dos meus pais e subo para o meu quarto, algo me diz que a minha tranquilidade hoje acabou.

‘Mas pelo que percebo você já está acordada, e com o seu mal humor costumeiro. ’ o deboche era tangível.

–Sou uma adolescente, sei que você lembra como é isso, e é natural da nossa idade só ficar bem-humorada depois das oito da noite. Acordar cedo não é para todos. – reclamo enquanto visto o meu uniforme. – Deixando o papo furado de lado, para onde você vai me levar?

‘Lanterna e Batman. ’ fala como se fosse tudo o que eu precisasse saber.

–Por favor, me diga que não vou ficar no meio da inimizade eterna entre Gardner e Wayne. – levo minhas mãos a cabeça tentando conter o desespero.

‘Não. ’ ouço Tim gargalhar do outro lado. ‘Mas faz tempo que não os colocamos em missão juntos, vou falar com o J’onn... ’

–Faça isso e o Bruce vai tirar sua mesada, quero ver como vai se sustentar em NY sem o generoso ‘fundo de auxílio aos heróis da família’. Ironizo o fazendo parar de rir na hora.

‘Belo ponto. ’ concorda. ‘Sua missão é se reunir com Stuart e o Wayne para localizar uma célula terrorista que está traficando armas para Vlatava. ’

–Achei que não iríamos mais entrar em confrontos políticos. – visto minha aljava e amarro meus cabelos em um rabo. – Estou pronta. – em milésimo de segundos sinto aquela sensação esquisita de ter as minhas moléculas desintegras e reagrupadas em outro local, a primeira vez que passei por isso tive que segura à vontade de deixar meu almoço, já ingerido, no chão da estação espacial da Liga.

–Achamos que essa regra não se aplica quando bombas nucleares, químicas e biológicas estão em questão. – Batman entra na sala com o seu costumeiro senso se humor. – E sim, o ‘fundo de auxílio aos heróis’ teria uma nova linha de crédito. – ele olha para Tim que apenas sorri com a ameaça. Eu acho meio maluco da parte dele tirar uma da cara do morcegão, mas quem era eu para me meter em assuntos de família.

– E o Stuart? – pergunto enquanto olho para a porta de onde o Batman havia surgido.

–John já está infiltrado nas linhas do exército revolucionário. – Tim mostra algumas imagens que, provavelmente, o Lanterna havia enviado. – Bruce vai entrar como um possível colaborador do governo que está no poder, e você vai ser a assistente pessoal dele.

–Vocês sabem que eu tenho dezessete anos? Minha aparência é de uma garota de dezessete anos. – não que eu não goste da missão, mas a Barbara seria uma escolha mais óbvia que eu.

Tim vem até mim e me entrega um colar dourado com uma pedra que parecia água-marinha, interessante, agora teríamos jóias como acessórios de batalha. Ele ao ver minha cara de cética indica que eu colocasse no pescoço, eu o faço, mas nada parece mudar, até que ele me dá um espelho, e quando eu olho quem está refletida não sou eu, mas sim uma mulher loira, por volta dos seus vinte e seis anos, de uma pele castanha, e traços de uma amazona, muito bonita, mas nada inofensiva. – Zatana enfeitiçou esse colar, enquanto você tiver usando essa vai ser sua aparência. – Tim parece muito contente com ele mesmo. – Quando retirar volta a ser você.

–Interessante. Mas para registro, da próxima vez que for mudar minha aparecia, deixa que eu mesmo escolho com quem devo parecer. – Retiro o colar e Batman fica ao meu lado indicando que já estava na hora e em poucos segundo lá vem a sensação de estar brincando com as minhas moléculas de novo.

WALLY

Estou tentando não me meter nisso, é a vida dela, e como deixou claro, eu não sou seu irmão, não tenho que agir como tal. Merda, mas Isis não tem idade para decidir quem cuida de sua vida ou não, e ela está treze anos atrasada com essa história de irmãos. Noticia nova princesa, nem sempre família é aquela que você escolhe, ou que carrega o mesmo DNA que você, sou seu irmão querendo ou não. E vou me importar até que dê meu ultimo suspiro, droga!

Devia estar fazendo minhas malas, e me preparando para ir para a faculdade, mas não, estou aqui, olhando para a secretária do meu padrinho no gabinete da prefeitura, enquanto espero que ela me anuncie. Tio Barry me fez perceber uma coisa quando disse que estou agindo como ele, Ollie talvez seja o único que possa resolver isso. Não que eu vá dedurar Sara e esse principio de tragédia romântica, não é isso, mas tem alguma coisa errada em toda aquela revolta, e não quero deixar crescer seja qual for o problema, hoje será resolvido.

–Senhor West, o prefeito lhe aguarda. -diz simpática.

–Obrigada Mercy. -sorrio para ela, por que é impossível não ser legal com quem me chama de senhor.

Entro na sala, e vejo Ollie sentado atrás de sua mesa, com uma bola de tênis na mão. Ele sorri quando me vê, se levantando para vir em minha direção. Esse foi o motivo de ter estranhado tanto sua versão do passado, esse Ollie aqui diante dos meus olhos, é um cara que sabe valorizar quem ele ama, e às vezes me pego pensando que esse é o seu super poder.

–Filho, pensei que não te veria antes de ir para a faculdade. -fala me dando um abraço de lado.

–Mesmo se não tivesse um motivo para estar aqui, eu viria me despedir de vocês, apesar de não estar nem mesmo saindo de Central City, e minha velocidade, você sabe, me fazer estar a dois minutos de qualquer lugar...

–Wally... Não estraga o momento. -sinto sua mão em meu ombro e me calo, com um sorriso contido. -O que quer falar comigo?

Caminho até o sofá preto que ficava de costas para as janelas de vidro, passo a mão em meu rosto e me sento ali. Ollie parece estudar minhas feições e ocupa a poltrona a minha frente. Testo em minha mente todas as formas cabíveis de iniciar essa conversa, mas nenhuma parece boa.

–Por favor, Wally, não me diz que você e Sara fizeram besteira e agora quer que te esconda do John. Por que não sei ainda se vou querer me juntar a ele, enquanto arranca suas tripas. -engulo em seco, o olhando assustado.

–Sério, você precisa trabalhar isso de sempre precisar ameaçar as pessoas. -balanço a cabeça como se tentasse colocar meus pensamentos em ordem. -Não sei como consegue amigos!

–São meus mamilos, eles são lindos. -debocha, ainda sério. -O que fez de errado Kid?

–Não fiz nada de errado, e não tem nada a ver com a Sara. -levanto, incapaz de permanecer parado. -Vim falar sobre Isis, eu estou preocupado com ela. -Oliver suspira, passando a mão pelo rosto, e quando volta a me olhar, o vejo refletir minha expressão.

–É... Eu também estou. -responde, então eu volto a me sentar, por que sei que agora estamos falando o mesmo idioma.

SARA

–Pensei que teria que ficar esperando até o amanhecer aqui. – estávamos em uma floresta, Vlatava ficava praticamente a meio mundo de casa, então se era perto das onze da manhã em Starlling, aqui não deveria estar passando das duas. John Stuart vestia um uniforme camuflado tipicamente militar, botas de combate e para completar o seu visual “se afaste de mim”, ele carregava um rifle em suas costas.

–Alguma novidade? – Batman se aproxima lhe passando alguns equipamentos.

–Apenas que o armamento está para chegar amanhã, mas não consegui saber o local ou a hora. – olhando de novo para o Lanterna vejo que ele parecia exausto.

–Por que simplesmente você não aparece como Lanterna Verde e termina com tudo isso. – me parecia o mais simples a se fazer.

–Provavelmente começaríamos uma crise internacional. – Batman olhava um mapa que John havia lhe entregado, indicando possíveis locais onde as armas estavam estocadas, pontos estratégicos do exército revolucionário. –Precisamos de provas, por que ao que indica o mesmo traficante que está fornecendo para as forças revolucionárias, está fornecendo para o governo.

–Alguém está lucrando muito com isso. –olho o mapa, pensando em como eu poderia ajudar, não que eu não saiba o que estou fazendo, mas haviam muitos membros mais indicados da própria Liga para fazer esse trabalho. O plano era simples, localizar provas que nos levasse ao traficante, o problema era que não importa o quão simples é um plano, ele sempre vai complicar.

Deixamos Stuart e fomos em direção ao aeroporto, onde Bruce Wayne havia acabado de aterrissar com um dos seus muitos jatinhos particulares. Um comitê de recepção nos aguardava, e eu já era, segundo o meu passaporte, Paula Crock, assistente executiva de Bruce Wayne, usava um terninho cinza grafite, cabelos amarrados em um coque, óculos, saltos que provavelmente iriam triturar o meu pé, e claro o meu colar. O Primeiro ministro nos recepcionou com um olhar mortal, e uma leva de ‘guarda-costas’.

–Qual a desculpa para você estar aqui? – sussurro para que apenas Bruce possa me ouvir.

–Estamos aqui como possíveis investidores para desenvolvimento humano. – sorri sussurrando a respostas, lembra quando disse que era esquisito ver o sorriso do Bruce na foto do casamento do Clark? Bem, pessoalmente é ainda pior. Tive que conter a cara de medo, o que fez o sorriso dele ficar ainda mais largo.

–Por favor, para com isso. – me encolho do lado oposto ao dele quando subimos em uma limusine que nos levaria para o castelo.

–Esse é o Wayne. – aponta para si, eu faço força para não abrir a porta do carro em movimento e sair fugida dali, mas provavelmente seria atropelada pelas outras quatro limusines que vinham atrás da nossa. Passamos o restante do percurso falando de pontos sobre a agenda do “Wayne” enquanto estivéssemos no país, não poderíamos nos dar ao luxo de ser pegos por uma escuta.

O dia passou entre reuniões e discursos, a Rainha de Vlatava parecia uma boa pessoa, com o coração no lugar certo, mas a cabeça não parecia entender de como a administração do país deveria se suceder. Ela amava o seu povo, e em cinco minutos de conversa deu para notar isso, mas não sabia como ajudá-los. E como deu para imaginar o problema dela era sim o seu Primeiro Ministro, Yure Sharapova, um velho barrigudo, de cabelos ralos e brancos, com uma cara de fuinha horrorosa. Estava claro que ele queria mais poder do que possuía, só que a rainha não conseguia enxergar isso. Todas as propostas de desenvolvimento que Bruce oferecia eram imediatamente vetadas por Yure, e a Rainha, Mikhail Gorbachev, não sabia impor sua autoridade, e resolver os problemas a seu modo.

WALLY

Oliver me conta em detalhes a tal reforma que Isis resolveu fazer em seu quarto, como Connor a levou para ver Lodai, e como eles tem fingido não saber disso. Apesar de achar engraçado, e até divertido a forma como costumam criar os filhos, para que os dois tenham essa falsa impressão de que são o Batman, quando Oliver e Felicity que na verdade bancam o morcego, monitorando de forma quase obsessiva a vida dos filhos. Agora vejo que mesmo meus padrinhos estão preocupados com isso. E depois de uma propina, Lodai contou a John que a arma de Isis era “ uma adaga com um mito bobo, que foi um bônus por anos de parceria”, palavras dele. Palavras que ninguém comprou, aquele cara de fuinha é o ser mais mercenário que conheço, não acho que um presente dele seja mesmo um presente.

–Um minuto Wally. -Ollie pede, pegando seu telefone que tocava em seu bolso. -Oi Felicity, pode falar.

Oliver sorri no momento em que escuta a voz da esposa, sorriso esse que vai murchando, e se torna uma carranca, enquanto ele me olha de forma ameaçadora, pela segunda vez em um dia. Acho que vou começar a trazer minha tia Iris para intermediar minhas conversas com meu padrinho, só ela consegue ser mais assustadora do que ele. Chega um ponto que olho para as janelas checando se existia algum super vilão, planando atrás de mim, do qual ainda não me dei conta da presença.

–Tudo bem, tenho um deles bem aqui na minha frente... -ele faz silencio enquanto minha madrinha falava, mas acho que dessa vez nem minha velocidade vai me salvar. -Wally. -parece estar respondendo a alguma pergunta dela. -Claro, estamos a caminho.

Ele diz a Mercy para desmarcar todos os compromissos do dia, o que me causou calafrios de antecipação. Quando disse que eu poderia estar correndo para a QC em segundos, ele apenas me encarou enquanto pegava a chave do carro, entrei no banco do carona sem nem mesmo respirar quando não necessário, e em sete longos minutos de jogos mentais, estávamos na QC. Subimos pelo elevador, e quando chegamos a sala de Felicity encontramos Connor, Luna, Isis e até mesmo Damian, enfileirados no centro da sala.

–Pode tomar seu lugar Wally. -Ollie diz apontando para o espaço após Damian, para onde vou resignado.

–Querem contar o que aconteceu, ou preferem que eu narre? -Felicity diz com um tablet nas mãos, andando de um lado a outro até que Oliver para a seu lado nos encarando, para nos “incentivar” a falar. -Olha, vocês até me ofendem. Invadindo meu escritório, achando que esse é o único local de onde monitoro os arquivos, e que meu sistema é assim tão fácil de burlar! -ela quase grita, chegando a ficar vermelha de raiva.

–Foi minha culpa. -Connor diz dando um passo à frente. -Estava fazendo um favor ao Arsenal, e acabei envolvendo Wally, depois Isis e Damian e por fim persuadi a Luna a me dar os acessos.

–Não foi exatamente o que aconteceu. -ela diz em voz baixa, e ele a olha surpreso como se esperasse que ela falasse chinês, ou sei lá. -Eu ajudei, por que eles estavam parecendo muito preocupados, e por que tenho uma dificuldade ridícula em dizer não para membros da sua família. -parece estar falando para ela mesma no fim, o que era adorável. -Desculpe Felicity... -ela olha para Oliver e engole em seco. -Me des... desculpe, Sr. Queen. -vejo Connor conter um sorriso, por que o pai quase não consegue manter a carranca, mas acho que anos com Felicity ajudaram e muito em seu auto controle.

–Ninguém me envolveu em nada, Connor e Isis me encontraram invadindo a casa de vocês atrás de informações sobre o Amazo. -Damian diz com sua arrogância natural e eu reviro meus olhos. Mas meus padrinhos não parecem surpresos. -Estava aqui por que quis.

–Claro que estava. -deixo escapar em tom de escárnio e todos me encaram pela atitude atípica. -O que é? -questiono o encarando, e Damian me olha quase divertido, o que só me dá mais ódio.

–Qual a sua parte em tudo isso Kid? -a voz da minha madrinha me tira do meu confronto silencioso com o pequeno demônio. Limpo a garganta e quando volto a olhar para eles, os dois pareciam intrigados.

–Eu vim analisar os projetos, e a estrutura de Amazo. -resumo sem paciência.

–Eu o chamei, e Wally só soube do que se tratava quando chegou aqui. -mais uma vez Connor toma a liderança.

–Eu viria de qualquer forma. -deixo claro após um longo suspiro, ignorando o olhar que meu melhor amigo me lançava.

–E você? -Oliver cruza os braços encarando Isis.

–Mesma história. -dá de ombros com sua carinha de anjo, completamente serena. -Encontramos Damian... -eles se olham por um segundo e um sorriso mínimo surge nos lábios de ambos. -E precisávamos de um computador potente...

–Quando iriam nos falar? -Felicity interrompe. -Isso é perigoso! E você Connor, é um membro da Liga, como não disse nada a ninguém?

–Fiquei preocupado, todos os heróis que possuem super poderes estão listados, não sabemos quem está por trás disso e só queríamos proteger vocês. -ele respira fundo. -Me desculpe mãe, por agir por suas costas.

–Desculpe por isso. -sussurro e escuto Luna dizer algo que soa como “Não quero vender Hot Dog”.

–Desculpe. -Isis murmura olhando para os próprios pés, depois encara Damian.

–Não estou arrependido, fiz o que precisava ser feito. -responde a pergunta muda dela e Isis intensifica o olhar, o que o faz bufar antes de olhar para o casal a sua frente. -Foi mal, invadir a casa de vocês. -como eles não vêem? Me controlo, e resolvo fixar meus olhos no quadro na parede atrás da mesa de Felicity.

–O que fazemos agora? -Connor pergunta o que estava na mente de todos nós.

–Batman e eu assumimos. -Ollie decreta o que causa um murmuro uníssono de protesto, vindo de todos nós. -Se precisarmos de ajuda recrutamos vocês, mas por agora estão liberados.

Pego Isis antes mesmo que qualquer um ali perceba e paramos na caverna do Arqueiro. Vejo seus olhos se estreitarem quando ela percebe o que fiz. -Me perdoa. -digo antes que ela comece a falar, e a vejo desviar seus olhos dos meus. -Eu não posso deixar de me importar com você, tentei, imaginei todas as probabilidades, mas não dá. Me perdoa por ter permitido isso ir tão longe, eu sempre soube de seus sentimentos, mas nunca pensei que fossem sérios. No fundo sempre esperei que você acordasse um dia e me visse como te vejo...

–Wally...

–Não, eu não terminei. -interrompo a fazendo me olhar irritada, mas ao menos estava me olhando. -Eu te amo Isis.

–Como você ama Don e Dawn. -completa.

–Não. -digo e ela me olha surpresa. -Eu te amo, como amo apenas você. Então não diga que não sou seu irmão, pois essa escolha não é sua. -seus olhos se enchem de lágrimas, e eu mesmo já estava alterado por medo de perder minha princesa. -Eu sei o que é ter a pior família do mundo Isis, antes dos West eu fui espancado, explorado e mal tratado de todas as formas que uma pessoa pode ser, e tinha apenas cinco anos. Agora, eu não vou abrir mão de nenhum de vocês, por que sei o inferno que é ser solitário, e te amo demais para deixar o mesmo acontecer com você. Então me perdoa, mas ser seu irmão não é uma opção, é o que eu sou, e você vai entender isso, vai perceber que é dessa forma que me ama. Droga Isis, você é minha família!

–Talvez eu só precise de um tempo... -ela pondera com lagrimas escorrendo pelos olhos, mas só essa possibilidade me encheu de alegria, abro um sorriso para ela assentindo.

–Obrigado. -digo cheio de sinceridade.

SARA

Eram quase dez horas da noite, meu corpo estava exausto e confuso pelo fuso-horário, e até o momento não temos nenhuma pista concreta. A entrega das armas aconteceriam a qualquer momento, deixando a situação ainda mais frustrante e desesperadora. Estava andando pelo castelo, quando passei por uma porta e uma luz me chamou a atenção.

‘ ...uma hora, eu preciso estar lá. À distância, mas preciso ver se tudo ocorrerá como o planejado. ’ me escondo atrás de uma cortina e consigo ver quando Yure sair acompanhado de um dos seus guardas. Vou em direção oposta procurando por Bruce, o encontro conversando com a rainha, faço um pequeno movimento para chamar sua atenção, espero ele me alcançar enquanto tomo ar.

–Vai ser daqui uma hora, Yuri está por trás de tudo. - digo entre respirações entrecortadas.

–Já suspeitava. – e agora sim ele parecia o Batman, carranca fechada e olhar ameaçador, quase suspiro aliviada por isso. – Vou avisar Lanterna para que fique apostos, preciso que crie uma maneira da Rainha descobrir sobre o Yuri.

–Mas por que você não faz isso? – ele é o Batman, cheio de planos A’s, B’s, e todas as letras do alfabeto.

–Preciso que seja um plano seu, é por isso que te chamei para essa missão Sara. – sai me deixando com mais dúvidas do que certezas.

Volto para o meu quarto e pego algumas flechas com sistemas de vigilância. Felicity tem acesso aos melhores satélites, e com essas flechas eu poderia fazer com que eles acompanhassem o meu alvo para qualquer lugar sobre a superfície da terra. Agora eu precisava fazer com que as imagens fossem transmitidas para o salão de conferencias do castelo. Dois minutos de treinamento com a Fel, e isso torna mais simples que andar de bicicleta. Duas batidas na porta me tiram do meu momento Felicity Smoak. Abro e Bruce está ali, impaciente.

–Qual é o plano? – pergunta, parecia muito difícil para ele ter que ouvir instruções.

–Precisamos deixar que a entrega seja feita. – ele me olha como se eu fosse uma aberração de circo, ok talvez não de circo, mas deu para entender. Pego minha flecha e vou até a janela onde vejo um carro sedan escuro perto do portão, acerto a flecha nele e agora estava tudo perfeito. – Yure vai estar na negociação, essa flecha vai dar o ponto em que os satélites terão que monitorar, ao mesmo tempo em que conseguimos o áudio. Transmitimos para que a Rainha veja, e depois da transação ocorrida, Stuart se livra das armas. Nunca saímos do castelo, nossas identidades não serão comprometida, e a decisão final será tomada pelo poder máximo do país, no caso a Rainha.

–Isso foi... – começa a dizer, e eu penso ‘ridículo, pouco eficaz, não é do jeito certo’. – Exatamente por que te trouxe aqui. – levo um susto com o que ouço. -Sei qual é a sua escolha para os próximos anos Sara. Sei que quer servir, e com o que você acabou de fazer sei também onde vai agir. Tomou as melhores decisões com as informações que tinha, soube que não cabia a você decidir o final de Yure.

–Como assim você sabe o que eu quero fazer dos próximos anos? Ninguém mais sabe. – tenho que tomar cuidado para não sair correndo daquele cara com o poder de ler a mente das pessoas.

–Para mim era obvio, você idolatra os seus pais, achei que quisesse seguir os passos deles. – e lá está o sorriso de novo. – Por sinal, boa sorte em contar para eles.

–Sem falar no meu namorado e nos meus padrinhos e todo o resto do time. – bufo já pensando na batalha que teria pela frente. – Mas agora precisamos colocar a Rainha na sala de conferencias.

Tudo ocorreu como o planejado, Yuri foi preso, a Rainha convocou uma reunião entre as forças revolucionárias para entender os seus pontos e assim criar um novo plano governo para Vlatava da melhor maneira possível. E as dez horas da noite do sábado eu já estava deitada na minha cama, com o colar em uma caixa no meu armário, e os saltos em um saco, na lixeira lá da rua.