LUNA

Sara e eu nos sentamos juntas em uma maca de frente para onde Connor estava. Como ele consegue sempre se ferir é uma pergunta que tenho carregado comigo ao longo desses anos. Já assisti Connor se jogar em frente de Isis para evitar que a irmã fosse atingida por estilhaços de uma granada, tirar o pai do caminho e ser golpeado pelo Grodd, entrar na mansão em chamas por Felicity, lutar a minha frente quando a caverna foi invadida, se expondo de propósito para me manter a salvo, enlouquecer quando Philippe foi sequestrado, e estar disposto a dar a vida por qualquer pessoa. Percebo que isso é o que mais amo e odeio nele ao mesmo tempo, a capacidade de não pensar duas vezes ao se sacrificar pelo bem maior, ou quem ele ama.

—Vocês ficarão bem em alguns minutos. –Cait diz tocando nossos rostos em um gesto carinhoso, e sai em seguida deixando nós três sozinhos.

—Eles estão pirando por eu ter me oferecido. –Sara comenta apontando para o centro do convex, onde todos falavam ao mesmo tempo e pareciam alterados.

—Para mim faz todo sentido que você seja o tributo, Katniss. –comento, e vejo uma pequena risada escapar pelos lábios dela. –Já lutei contra você Sra. West, e dei graças a Deus por ter feito com que me ame demais para não desejar realmente me partir em duas. –estremeço me lembrando da potência dos golpes dela.

—Obrigada, mas você aguentou bem. –devolve, me dando um leve empurrão com os ombros. –Connor não te preocupa? –olha com carinho para o amigo. –sempre acabando em uma maca, e dessa vez nem foi uma batalha de verdade.

—Tem um cara em uma saga de livros que se chama Jason. –devaneio, tentando não entrar no assunto em pauta. –Connor faz basicamente o trabalho dele em nossa equipe. Bom, ele não desmaia de cara, mas se Jason fosse um pouquinho suicida e propenso a atos heroicos que terminassem em morte eminente, teríamos uma versão do Connor na literatura!

—Muito engraçada! –simula uma risada. –Já li Percy Jackson, e não posso negar que a comparação é excelente. –a olho surpresa. –Okay, agora me fala a verdade.

—Só o que eu faço é me preocupar com ele Sara, mas o que poderia fazer para impedir? Aprendi a me defender sozinha, na esperança de que se um dia for preciso ele não se sacrifique por mim. Todos nós sabemos nos virar, e ainda assim ele insiste em se colocar em risco para nos poupar. –desabafo.

—Nossa, isso está te matando mesmo. –Sara se vira para me olhar, não respondo apenas contenho minha vontade infantil de deitar minha cabeça em seu colo e chorar pelas próximas horas, e rezo para que a glicose faça logo efeito em meu sangue e acabe com o que todo aquele álcool nos causou. –Dê a ele uma razão para lutar por ele mesmo. –comenta empurrando o braço de Connor com a ponta do pé. –Hey, grandão! –chama.

—Ele está desacordado, Sara.

—Está apenas dormindo, e já deu a hora de acordar. –continua a agitá-lo sem olhar em minha direção, e vejo Connor se mexer na maca, resmungando. –Hawke, acorda logo!

—Que merda, Diggle! –ele empurra o pé dela, sem abrir os olhos. Cara, não sei como ele consegue ser tão bonito, chega a embrulhar meu estômago. –Me deixa em paz!

—Nós temos um plano, pode ser que em dois dias tudo isso termine. –Sara fala, agora com mais segurança, já que não deve estar mais bêbada.

—Que bom. –Connor abre os olhos com dificuldade, e um pequeno sorriso aparece em seus lábios quando percebe que também estou lá. –Oi Lu, adoro quando usa esse vestido. –elogia com seu jeito cafajeste de sempre, e o meio sorriso que acaba comigo.

—Oi. –respondo boba, esticando minha mão para ele. –De novo em uma maca?

—Dessa vez foi culpa do acelerador, estava ganhando do Wally até então. –justifica sem ajudar muito.

—Nós vimos o vídeo, foi no pior momento. –Sara comenta fazendo careta. –Estava aqui pensando em uma coisa, e como melhor amiga sua, -aponta para o Connor. –e sua. –gesticula em minha direção. –Percebi que precisam fazer algo, amanhã bem cedo.

—Compras? –Connor pergunta.

—A despensa está mesmo muito vazia... –concordo e começamos a pensar a respeito. –Talvez possamos passar no supermercado pela manhã...

—Aquele no nosso quarteirão que faz delivery...

—Nossa, vocês parecem um casal de velhos! –Sara nos interrompe. –Não estou falando para fazerem compras, por que me importaria com isso? –nos olha indignada. –O que quero dizer é para vocês se casarem, aqui mesmo na Star Labs. –olhamos para ela sem reação. –Não me digam que planejavam um casamento no Plaza em junho? –debocha.

—Não é isso... –começo a dizer.

—Estamos no meio de uma guerra. –Connor completa, com a voz mais áspera do que o normal devido o choque que Sara nos causou.

—E daí? Sempre vai ter uma maldita guerra pairando sobre as nossas cabeças. Olha, o soro acabou! –comemora retirando o cateter do braço, faço o mesmo com o meu. –Nem todos aqui são realmente úteis no momento, enquanto quem precisa trabalhar no projeto fica, os outros ajudam no casamento. Vai, por favor. Preciso me ocupar com alguma coisa. –pula da maca, e vou em direção ao Connor o ajudando a se levantar. –Isis e eu podemos cuidar da decoração, e convidar as pessoas que sabemos que vocês querem ter na cerimônia, seremos como uma versão de vocês mesmos. –tenta vender a ideia, e suspira frustrada quando não expressamos nenhuma reação. –Sou sua madrinha Lu, nós conversamos sobre como você quer as coisas, sei onde está seu vestido, suas flores favoritas e as músicas que mais gostam. Só precisam dizer o nome de um celebrante. –estou começando a pensar que pode mesmo dar certo.

—Quem conseguiria fazer isso de um dia para o outro? –Connor pergunta, e por impulso olhamos ao mesmo tempo para a pessoa mais inusitada de todas naquele lugar.

—Jura? –Sara pergunta sem conseguir conter o riso. –Vou precisar de uma câmera agora, seria um desperdício não documentar isso!

—Conhecendo a fama da família dele, acho que já deve ter um sermão inteiro preparado. –Connor brinca me abraçando pela cintura. –O que acha, gatona? Quer se casar comigo, amanhã?

—Claro. –respondo segurando em seu rosto, e encosto minha testa na dele. –Só nunca mais me chame assim em público novamente. –aviso envergonhada, e o vejo dar risada sem se importar nem um pouco.

—Oh, tão lindinhos! –a voz de Sara nos interrompe, quando estávamos prestes a nos beijar. –Tem certeza mesmo que querem escolher aquele cara para celebrar a união de vocês?

SEIS ANOS ATRAS...

Nunca consigo encaixar essa chave na bendita fechadura, sabia que era cedo demais para desistir do meu pequeno apartamento. De que adianta no fim das contas ter esse loft enorme e não conseguir nem mesmo entrar nele. Merda! A chave simplesmente não encaixa. Respiro fundo, dou alguns passos para trás e tento me acalmar, na semana passada fiquei tentando por meia hora, até finalmente abrir essa porta maldita. Felicity me aconselhou a mudar para uma fechadura eletrônica, mas é muito cara e não vou deixar que Connor pague por uma dessas sozinho.

—Oi. Por que está do lado de fora da sua casa? –escuto a voz de Damian que subia as escadas dois degraus por vez, ele olha minhas sacolas encostadas na parede e minha bolsa jogada de qualquer jeito no chão.

—Alguma co-coisa aconteceu? –gaguejo confusa, sem entender o que ele fazia ali.

—Acho que me tornei um garoto de entregas. –responde com seu humor radiante de sempre, me oferecendo um envelope pardo. –Encontrei Laurel na casa dos Queens. –justifica ao ver minha confusão.

Abro o envelope rapidamente e vejo um bloco mediano de documentos. Tateio a parede atrás de mim com minha mão livre e deixo meu corpo descer escorado na parede até que estivesse sentada na porta do meu loft. Enquanto meus olhos corriam pelas palavras nos documentos, meu coração batia acelerado e mal podia me conter, quase não sinto quando as lágrimas escorrem por meus olhos.

—Luna, está tudo bem? –escuto a voz de Damian, mas estava em algum lugar bem distante da minha mente. –Luna?

—Eu... –não consigo formular as palavras, meu coração mal cabia em meu peito.

Ofereço os papeis para ele que os analisa por um momento. Damian se senta ao meu lado depois de entender do que os papeis se tratavam e apenas fica em silêncio comigo, enquanto eu choro baixinho. Alguns minutos depois ele pega a chave que estava em minha mão e destrava a porta com um movimento rápido, leva todas as sacolas para dentro, depois pega a minha bolsa e estende a mão em minha direção, com um sorriso sutil nos lábios que sou incapaz de não retribuir, mesmo com as lágrimas que não paravam de escorrer por meu rosto.

—Parabéns, Delphine. –diz me ajudando a levantar. –Você mereceu ter seu irmão de volta. –queria dizer o quanto estava feliz, mas as palavras simplesmente não saiam, e algo no rosto do Damian me dizia que ele sabia bem disso.

Nesse dia ele permaneceu no loft como uma sombra silenciosa, até que Connor aparecer. Não conversamos, ficamos apenas sentados no sofá, bebendo o café ruim que ele fez. Eu apenas sorria e chorava ao mesmo tempo, tão perdida em mim mesma que cheguei a me sentir grata por dentre todas as pessoas, ser Damian a estar ali. Não havia necessidade de preencher os silêncio, as vezes pude ver Damian soltar alguns sorrisos discretos. Quando Connor chegou ele nos assistiu pular no sofá em comemoração, com os braços cruzados sobre o peito, mas ainda assim não nos julgou. Não o deixamos ir embora, ao invés disso convidamos os Queens, Wally, Thea e Roy, Diggle, Laurel e os Grayson’s.

Damian nunca pareceu precisar de um obrigado, ou encarar essas pequenas coisas que sempre faz como boas ações. Acho que ele socaria quem as nomeasse dessa forma. Acaba sendo apenas o instinto dele, ser bom. O neto do demônio é um dos caras legais, chega a ser irônico.

DAMIAN

Estava sentado recalculando alguns algoritmos, para introduzir o mesmo sistema que é usado na Torre da Liga, quando tenho uma sensação esquisita de estar sendo observado. Mas a única pessoa que perderia algum tempo desviando o seu olhar para mim, estava de costas conversando com Oliver a respeito de alguma técnica especifica de combate. Viro lentamente minha cabeça e vejo Sara, Luna e Connor me encarando, sinto um calafrio percorrer minha coluna, poucas vezes tive essa sensação na vida, a sensação de estar absolutamente ferrado.

Sara me chama com um gesto rápido com um dedo, e penso se não devo inventar um ataque a Gotham só para escapar de seja o que esses três estejam armando. Claro, nunca vão saber que tal pensamento passou pela minha cabeça, já que minha face demonstra a mesma expressão de sempre.

—Serio? – Sara pergunta aos amigos, como se fosse alguma coisa muito absurda o que estivesse acontecendo ali.

—Muito. – Connor tem um sorriso de pura felicidade no rosto, quem o visse não diria que havia recebido um soco do velocista mais rápido do mundo.

—Vocês quem sabem. – Sara levanta os braços em sinal de derrota, e sai me deixando confuso com o casal comercial de pasta de dente.

—Damian, nós vamos nos casar. – Luna fala, como se fosse a novidade do século, poderia até esperar uma atitude dessas do Connor, afinal, foi ele quem teve uma concussão, mas Delphine teve apenas uma embriagues leve, porém o Queen tinha o mesmo sorriso bobo no rosto. Aquilo estava mais estranho a cada momento.

—Vamos nos casar amanhã, aqui. – Connor passa o braço por sobre os ombros da noiva.

—Parabéns. – digo realmente feliz em não ser o padrinho. Da ultima vez, mesmo sendo o padrinho suplente, deu muito errado.

—Queremos você como nosso celebrante. - Delphine solta em um só folego. Posso voltar a cogitar ser o padrinho suplente, tenho certeza que Wally nunca tentaria matar Luna, estaria no horário certo, e eu nunca teria que o substituir. Bom, talvez a questão do horário seja um problema, mas posso cuidar disso...

—Quem disse que não dá para se pegar um morcego de guarda baixa? – Connor olha surpreso para minha cara, enquanto tentava processar o que tinha acabado de me pedir.

Abro minha boca repetidas vezes mais nenhum som escapa, sinto que a conexão entre meu cérebro e a boca estavam temporariamente fora de serviço. – O quê? – pergunto feito um idiota.

—Connor e eu vamos nos casar... – Delphine, fala cada palavra com muito cuidado, fecho meus olho e faço um sinal para que pare com uma das mãos e a outra aperto a ponte entre meus olhos.

—Pula essa parte, vai direto para o desfecho. – interrompo, e consigo ouvir sua risada nervosa e os passos de Connor parando ao meu lado.

—Existe um milhão de pessoas que poderiam realizar nosso casamento...- Connor coloca a sua mão em meu ombro.

—Querem que eu providencie uma lista? Interrogue? – olho para o Queen realmente querendo acreditar que tinha conseguido escapar disso.

—Mas só conseguimos pensar em você para realiza-la no tempo certo, e da maneira que queremos. –Luna segura a minha mão com carinho, tento me lembrar em que momento eu havia me tornado um cerimonialista, nenhuma data especifica salta em minha mente.

—Vocês não fizeram o pedido.

—Não. – Luna sorri feliz com ela mesma. – Não vamos te dar a chance de recusar. – Luna abraça o noivo pela cintura e os dois caminham até os outros para contar a novidade. Fico aéreo por um momento, só volto a mim, quando ouço os gritos de felicidade de Felicity, Isis e Iris.

—Onde eu fui me meter?

SARA

—Não, não, não! – grito aos quatro ventos, quando entro na sala que havíamos escolhido para celebrar o a união dos meus dois melhores amigos. Sei que para todos deveria estar parecendo uma louca tirana, mas não ligava, era do casamento de Connor e Luna que estávamos tomando conta. –Eu nunca disse rosas brancas. – choramingo ao ver Dick carregando um vaso maior do que eu em suas mãos. – Disse tulipas, gardênias, copo de leite, mas nunca disse rosas.

—Tem noção de como foi difícil encontrar essas rosas? Imagina o restante da floricultura. – desdenha apoiando o rosário inteiro no altar ainda em formação.

—Nenhuma floricultura vai conseguir nos estregar essa quantidade de flores em pleno outono. –reclama mal humorado, Dick quando enfezado fica a cara do morcego máster, dá até arrepio.

—Eu voltei do reino da morte...

—Por sinal, ainda não lidei bem com isso.

—E vem me dizer que não somos capazes de conseguir umas florezinhas de nada? – dou dramaticidade a cena.

—Talvez se chantageássemos a Era... – cogita, e um sorriso pula do meu rosto.

—Ótimo... agora me traga as flores. – risco “flores” da minha lista, feliz por ter conseguido por fim algum resultado, mesmo que parcial.

—Pronto já trouxe o terno e o vestido, dos noivos. – Isis entra como se preparasse para correr uma maratona. – Precisamos trazer a vovó Dona. – para por um momento olhando para mim.

—Como ela vai reagir a tudo isso? – questiono enquanto os vultos do Wally carregando as cadeiras e posicionando no ambiente passavam por nós.

—Sinceramente? – Wally para nos olhando. -Dona vai estar tão feliz por você estar viva. – Wally me beija o rosto, e só esse contato faz uma onda elétrica percorrer o meu corpo, vou acabar o empurrando para dentro de uma dessas salas vazias e consumando o meu matrimonio, juro que se não fosse o casamento do Connor e da Luna, eu já teria feito. – Que mal vai ter tempo de olhar para todo o resto. – fala isso e desaparece, me deixando tonta.

—Vocês precisam de um quarto. – Isis debocha da minha situação.

—Não vou discordar. –ajeito o comunicador em meu ouvido.

—Onde está o Damian, e por que o Tim está trabalhando na parte dele como minha mãe e os outros?

—Olha, eu poderia dizer a verdade. –seguro o riso. –Poderia, mas tenho sido privada de coisas simples da vida a algum tempo, e ver a sua cara quando descobrir não será uma delas.

—Sara! –reclama.

—Pode colocar o vestido da Luna na sala da Gideon. –instruo. –O terno vai para a sala de treinamento do Barry. Tem duas dúzias de orquídeas na geladeira, pode montar o buque quando acabar.

—Eu não sei fazer isso! –protesta andando apressada a meu lado, segurando com esforço o terno e o vestido da noiva, sem falar em duas bolsas com sapatos e acessórios. Enquanto eu caminho em direção a Roy e Jason que estão papeando no corredor ao invés de trabalhar.

—Isis, você sabe fazer muitas coisas, e para as que ainda não aprendeu, foi inventada a internet! –ajeito a alça de sua blusa. –por favor, é o casamento do seu irmão. –tento meu melhor olhar “gato de botas”.

—Okay. –pragueja. –Eu faço, mas se ficar ruim, não te dou o direito de reclamar! –paro de andar de forma abrupta e olho para a pequena Queen que chega a se encolher.

—É melhor arrumar um colar enfeitiçado pela Zatana, se ficar ruim. –Isis engole em seco, com os olhos azuis arregalados. Pego o tablet e abro rapidamente um link, o encaminhando para o e-mail dela. –Pronto, agora já tem o passo a passo.

—Credo. –murmura me dando as costas para iniciar o trabalho.

—Vocês! –grito para os dois que se levantam assustados e desaparecem da minha vista, antes que possa alcança-los. –É pedir demais que tudo saia perfeito? –falo sozinha, tentando não surtar.

2 ANOS ATRÁS...

Suspeita de um atentado terrorista em Gotham, e Amanda me colocou na missão. A parte estranha é que estou tão perto de casa e ao mesmo tempo a um universo de distância, ocupada demais sendo um cãozinho da Waller. É a primeira vez que me sinto feliz em pisar nas ruas sujas dessa cidade, a única pergunta recorrente em minha mente, é como alguém pode ser idiota o suficiente para escolher Gotham, dentre todas as cidades para atacar? E por qual motivo eu sou necessária aqui? Não é como se a Amanda não soubesse da existência do Batman.

Estou dentro de uma van abafada, com o agente Corrigan. Jim deve ter seus vinte e seis anos, é um homem branco de aparência normal, com uma barba espeça e olhos azuis tristes. Foi policial, até que Amanda viu “algum talento” nele, e o recrutou para o CADIMUS. Na minha equipe atual, ele é o único que ainda confio de. Nós colocamos as máscaras de esquie, e puxamos os capuzes pretos de nossos casacos. Geralmente não usamos máscaras, mas Gotham é o tipo de cidade onde um Diggle pode ser popular.

‘O alvo está no terceiro andar, sejam rápidos e não deixem rastros.’ Escutamos a voz da Amanda em nossos comunicadores.

—Um dia eu ainda mato essa desgraçada. –Jim murmura enquanto carrega sua arma.

—Se eu não matar primeiro. –falo, colocando duas armas nos suportes em minhas pernas, antes de sairmos da van.

Depois disso a missão se torna um borrão, parece muito mais algo que o Esquadrão Suicida faria. O prédio estava cheio de seguranças, e me pergunto como o Batman não apareceu ainda, ou no mínimo um de seus agregados. Entro correndo, atirando nas mãos e joelhos dos capangas, Jim faz o mesmo, e conseguimos avançar rapidamente entre socos e disparos.

—Batman foi dado como morto de novo? –pergunto quando conseguimos chegar a escada em segurança.

—A Waller não me atualizou essa semana sobre as baixas que a Liga da Justiça sofreu. –comenta com seu sarcasmo de sempre. –Temos mais dois andares. –Jim pega um dispositivo, onde podemos checar o posicionamento dos capangas através da leitura de calor. –São muitos, Sara.

—Eu sei. –olho por sobre seus ombros, no mínimo vinte e cinco no segundo andar, e dezessete no terceiro. –Precisamos de um plano. –percebo uma tubo de ventilação sobre nossas cabeças. –Você pode ir direto para o terceiro, e eu os distraio.

—Não! –protesta se virando em minha direção. –Sara, você é menor e mais rápida, eu posso distraí-los, e você vai para o terceiro andar.

—Jim, consigo dar conta desses caras, não vou te deixar lutar sozinho.

—Vou ficar bem, prometo. –sorri indo em direção a porta, olho para ele por um momento sem conseguir me mover. –Sara, vai! –indica a grade de ventilação, então pulo na parede inversa, me impulsionando em direção a grade.

Jim apenas espera que eu entre no tubo, e arromba a porta. Posso ouvir todos os tiros sendo disparados, enquanto sigo em direção a sala onde o alvo estava. Verifico em meu dispositivo como estava a situação no andar, quatorze pessoas formavam o que parecia um círculo, enquanto duas estavam mais afastadas, com certeza uma delas é meu alvo. Retiro a tampa da grade de ventilação com cuidado, e tento ter uma visão do ambiente, é quando o ar me falta.

Aquele era o Silêncio, um dos muitos vilões insanos do morcego. Ele usa bandagens por todo o corpo, sobre tudo e terno, é como se o Constantine tivesse transado com a múmia e gerado esse treco. Ele estava afastado, em frente do que parece ser o Batman, depois de uma bela surra. As bandagens que cobrem o corpo do vilão psicopata/filósofo, estavam manchadas de sangue em alguns pontos, enquanto Bruce estava amarrado em uma cadeira sobre a mira do revolver dele, com todos os outros apontando em sua direção. Okay, isso pode dar merda, daquelas bem grandes.

Atiro uma bomba de fumaça, e nos dois segundos de confusão que ela causa, salto em direção ao silêncio, chutando a arma em sua mão para longe. Então começo a distribuir socos e chutes nos capangas que se aproximavam, sou atingida de raspão no braço, o que acaba com a brincadeira. Pego minhas armas e miro nos joelhos e mãos novamente, levo mais um tiro em meu abdômen e me recuso a desmaiar, com muito esforço.

—Se der mais um passo, mato o morcego. –Silêncio anuncia, quando sobramos só nós três.

—Nós precisamos de reforços. –falo tocando o comunicador com uma mão, enquanto miro no Silencio com a outra. Nada, nenhuma resposta como sempre. –Corrigan! –tento com o parceiro que já tenho no caso.

—Ah, esse deve ser o nome dele! –Silencio indica a porta, onde dois homens trazem Jim, cada um segurando em um de seus ombros. Ele estava coberto de sangue e desacordado, não sei nem mesmo quanto tempo eu vou me manter consciente. Merda, eu preciso de ajuda.

—Solta ele, Silêncio. –falo, tocando meu colar de estrela, e o sinto vibrar antes da voz de Luna tomar conta da minha mente. “Sim Connor, eu quero conversar. Quero mu... muito mesmo. Mas preciso ir agora, me desculpe” sua voz está cheia de pesar, quase como se aquilo doesse fisicamente nela. “Tudo bem Sara, estou aqui.” Parecia estar chorando.

—Qual o seu plano? Por que pegar o Batman, sabe que outros virão por ele. –digo ao psicopata, sentindo a bile me subir pela garganta.

—Impossível, não podem rastreá-lo! –se gaba.

“Sara, tente me responder okay? Está ferida? Batman está ferido? Contra quem está lutando?”

—Sim, você é um gênio, Silêncio. –disfarço minha resposta. –Meu amigo está vivo? –aponto para Jim, ele faz um gesto para um dos capangas que negam com um aceno e sinto meu coração se apertar. –Eles podem chegar a qualquer momento, essa é sua chance de fugir!

“J’onn está a caminho, aguenta fir... firme.”

Não teria aguentado por muito mais tempo, mas alguns segundos depois J’onn aparece no local. A desgraçada da Waller nem mesmo dá as caras, o Caçador de Marte nos resgata, leva Batman, eu e o corpo de Jim. Quando acordo na antiga caverna do Arqueiro, desativada a décadas, vejo o rosto preocupado de Luna ao meu lado.

—Co... como se sente? –gagueja, segurando minha mão entre as dela.

—Jim, Bruce? –pergunto com um nó formado em minha garganta, mal conseguindo respirar.

—Batman está na Torre sendo tratado. Vai ficar bem, você o salvou. –sorri com tristeza.

—E o Jim? –minha voz sai em um sussurro e ela nega.

—Sinto muito, vamos te deixar com o corpo dele nos arredores do CADIMUS, só te trouxemos por causa do ferimento no abdômen, teria morrido sem atendimento adequado.

—Luna, eu não aguento mais tantas mortes. –sinto as lágrimas escorrendo por meus olhos e levo minhas mãos à cabeça. –Toda essa destruição sem sentido.

—Eu sei, eu sei. E sinto tanto. –ela segura minha mão direita. –Andei pesquisando algumas pistas do Amazo, nada concreto, mas talvez te ajude a voltar mais rápido para casa. –me entrega um cartão de memória. –Não vou parar de procurar Sara... –é interrompida pelo celular tocando e vejo a foto de Connor no visor, seguido do olhar triste dela. –Desculpe, preciso atender.

—Pode colocar no viva voz? Sinto falta dele. –Luna sorri com tristeza, e faz o que pedi.

—Oi?

‘Parece que não vai voltar tão cedo. Olha Luna, talvez seja melhor permanecer assim mesmo. Temos uma casa, o Phill e qualquer outra coisa pode complicar tudo. E eu estou cansado de te assustar sempre que...’ a decepção na voz dele era palpável, a dor na face dela também.

—Connor, não é isso. –tenta justificar. –você não me assustou...

‘Claro que não!’ murmura com sarcasmo. ‘Saiu correndo por que deseja disputar uma maratona nesse verão?’

—Não...

‘Tudo bem, Luna, somos bons sendo amigos. Te vejo depois.’ A linha fica muda, e vejo uma única lágrima escorrer pelos olhos dela.

—Tudo bem. –respira fundo, secando o rosto e se recompondo. –Consegui um pouco de soro para você, vai fazer com que se recupere em poucas horas...

—Luna, o que foi isso? –questiono preocupada.

—Não vou reclamar da minha vida com você Sara. Não faz sentido quando acabou de perder um amigo e está em uma cama hospitalar. –responde se fazendo de forte, e pega uma seringa com o soro para injetar em meu braço.

—Por favor, me deixa te ajudar? –peço segurando sua mão, Luna respira fundo, injeta o soro e volta a se sentar na cadeira a meu lado. –Só quero te ouvir.

—Tem sido difícil morar na mesma casa que ele. Tem muita tensão entre nós dois, e isso piora quando acidentalmente eu o vejo de toalha, ou ele me pega de camisola no meio da noite indo beber água. –começa a contar. –Ontem teve uma grande batalha, tem um novo vilão tentando tomar Star City, para variar. Ele colocou fogo na mansão dos Queens. –olho assustada. –Oliver estava em missão com a Liga, Isis em Seattle com Thea e Roy. Era folga da Felicity, e eu estava na caverna ajudando Connor, John e Laurel com a cidade, quando recebemos a ligação. Ele entrou na mansão para resgatá-la e os dois quase morreram sufocados, enquanto Laurel e John lidavam com os bandidos. Foi um pesadelo, mas por fim Connor saiu com Felicity em seus braços, e você sabe, quase morreu no processo.

—É a cara dele. –digo com tristeza. –Como eles estão?

—Bem, os dois estão muito bem. Mas eu passei a noite no quarto dele, não transamos! –se apressa em explicar. –Nós nos beijamos. –faz careta. –Algumas vezes, e dissemos coisas um para o outro, mas ele estava medicado, sonolento, pensei que esqueceria.

—Mas não esqueceu. –constato.

—Não de tudo... Hoje a garota com quem ele está saindo ligou pela manhã, foi a primeira coisa que escutei ao acordar. Connor disse que terminaria com ela, e nós estávamos falando sobre isso quando você me chamou, já sabe do resto.

—Me desculpe. –peço com sinceridade.

—Não se desculpe, Sara. Eu sempre vou vir por você.

AGORA...

LUNA

—Eu não deveria estar aqui. –protesto me olhando no espelho roubado de alguma loja próxima, e com uma das mesas de Caitlin servindo de penteadeira, nunca havia visto tanta maquiagem na minha frente, acho que Isis passou na casa de cada membro feminino da Liga, trouxe tudo em um saco de lixo e despejou aqui.

—É exatamente aqui que você deveria estar. –Sara fala, parada na porta. –Tia Fel e os outros estão dando conta de tudo por lá. Agora me faça o imenso favor de ficar igual a Elizabeth Taylor, Audrey Hepburn ou quem você achar a maior diva do cinema, mas Luna Delphine, futura Luna Hawke, você só sai daqui em duas horas, e eu quero uma obra de arte quando voltar. –balanço minha cabeça concordando com a versão tirana da minha melhor amiga. – Ótimo. –sorri antes de bater à porta ao sair.

—Se você quiser ver o que uma pessoa é capaz, dê poder a ela. –me encaro no espelho chocada.

—Eu ouvir isso. –ouço sua voz ranzinza do outro lado, me encolho arrependida, então tento a tática infalível.

—Eu te amo.

—Valeu a tentativa. –quase infalível, concluo. –Uma hora e cinquenta e cinco minutos!

Ok, tenho menos do que duas horas para ficar a mistura perfeita de Grace Kelly e Gene Tierney. Acho que se fosse menos, não me casaria hoje, e nem estou falando por causa do meu noivo, e sim por que não passaria no controle de qualidade da minha madrinha.

—Vim te ajudar. –Isis entra se esgueirando pela porta. –Sara acha que estou arrumando, de novo, as cadeiras, segundo ela em um meio arco direcionado ao altar.

—Ótimo, me ajuda com cabelo. – meio que imploro, e Isis sorri.

–Essa era a ideia. – me vira contra o espelho, de modo que agora estou encarando a porta, e começa puxar meu cabelo, fazendo coisas que eu nem sabia ser possível, em um determinado momento pensei que iria sufocar com a rajada de spray que Isis lançou em minha cabeça. –O mago do tempo pode invadir aquela sala que o seu cabelo não vai sair do lugar. –me garante feliz. Isis me vira novamente, e vejo um coque lateral perfeito, digno das atrizes mais glamorosas do tapete vermelho. -Você é a única pessoa que eu sempre imaginei colocando a vida do Connor no lugar. -me abraça e sou obrigada a segurar as lagrimas. – Obrigada por amar aquele idiota. –beija o alto da minha cabeça. –Essa noite você se torna oficialmente parte da minha família, mas já faz muito que eu te amo como se fosse minha irmã.

—Eu te amo. –sussurro em resposta, ela para com as mãos na maçaneta e um sorriso enorme no rosto.

Isis sai, me deixando sem palavras após sua demonstração de carinho. Mas conforme as horas passassem, existia uma coisa que ninguém conseguiria substituir. Começo a me maquiar tentando não sentir a dor esmagadora que dividia meu peito com a grande felicidade. Não saberia explicar nem se quisesse, mas era mais ou menos como um cabo de guerra, onde a saudade puxava de um lado e a alegria puxava de outro, e eu era a corda prestes a se romper no meio.

—Luna? –a voz do Phill vem tímida do outro lado da porta. –Você está vestida, não está? – entra com as mão tampando os olhos.

—Estou Phil. – sorrio para ele que tinha um estojo de veludo nas mãos. –Nossa, você está perfeito. –elogio encantada ao vê-lo em um terno preto de grife, que tenho para mim que foi obra da Sara, nunca meu irmão notaria a diferença entre um Versace e uma da ponta de estoque. -Não me diz que saiu para comprar um presente de casamento. – tento bancar a durona, sem sucesso.

—Não, isso é uma coisa que eu já tinha mandado fazer a muito tempo, estava só esperando vocês dois se decidirem. – dá de ombros. – ainda bem que estava pronto.

—Phill, você não pre...

—Sim precisava. –interrompe me entregando o presente. –Eu sei que mandou reformar o vestido da mamãe, e o quanto ficou triste por não ter encontrado o diadema que ela usou. – espera que eu abra o estojo. – Não é o mesmo. – se apreça em dizer. –Procurei por todas as casas de penhores da cidade, mas não encontrei, então Laurel me levou a um joalheiro que fez a replica. –não tem como minha maquiagem aguentar até o final do dia.

—Obrigada. –o envolvo com meus braços, descansando meu queixo em seus ombros.

—Eu não sei como funciona, se pode ser considerado algo novo, ou algo velho. – dá de ombros me fazendo dar risada em meio as lagrimas. –Eles estariam orgulhosos. – conclui olhado nos meus olhos.

—De nós dois. – acaricio a seu rosto.

—Phil, eu te falei, cinco minutos. –ouço a voz de Sara no corredor, seguida de batidas apreçadas.

—Você me colocou em um terno engomadinho....

—O seu casamento vamos fazer na praia entoando Kumbaya, mas esse não é o seu casamento. Então, não atrase a noiva!

—Em pensar que fiquei feliz quando a vi viva. –debocha.

—Logo ela volta a ser a Sara de sempre. Vamos rezar. –sussurro a última parte, para que a general não me escutasse do outro lado da porta.

Philippe sai e retoco a maquiagem, visto o meu vestido olhando para o diadema sobre a mesa. Esse objeto é a representação da minha vida no momento, algo novo que subsistiria algo perdido. Ele é a lembrança dos meus pais, ao mesmo tempo que representaria o início da minha nova família. Ele era lindo, três linhas trançadas em dourado, bronze e prata, cravejadas de pequenos cristais. Simples, mas importante. Coloco em minha cabeça sentindo o peso simbólico que tinha.

—Como eu queria que vocês estivessem aqui. – me pego dizendo para o espelho com os olhos cheio de lagrimas. Sorrio com tristeza ao perceber que me pareço muito mais com a minha mãe do que me lembrava.

—De alguma forma, eles estão. –vejo Wally parado a porta usando um terno muito parecido com o do Phill, que contrastava com o cabelo vermelho e rebelde. –Nossa! –me olha dos pés à cabeça, com um sorriso enorme em seu rosto.

—Você não deveria estar aqui. – sorrio tentando me recompor. – Se Sara te pegar, vai fazer todo aquele sermão sobre estar atrasando a noiva. –retoco o pó, o olhando pelo espelho, só então o vejo realmente, parecia mais maduro, talvez algumas ruguinhas leves em volta dos olhos que não deveriam estar lá. –Wally é você, você?

—Como assim Lu, eu, eu? Conhece alguém que tenha esse charme natural? Acha que o mundo sobreviveria a dois de mim?

—Tá é você. – concordo. – Mas não é o você de hoje... de agora... do meu tempo. – me atrapalho. – Me diz, quantos anos?

—Talvez uns trinta. – pondera rapidamente.

—Alguma coisa que Isis tenha visto que vá alterar o futuro? – cogito já pegando meu comunicador para alerta a todos.

—Não. Relaxa, Luna. – Wally me puxa de volta para a cadeira. – Hoje é sobre você, e não sobre mais um atentado que iremos impedir. –Wally toma minhas mãos nas suas, se abaixando em minha frente. – Hoje algo muito importante está acontecendo, não esse hoje, quer dizer, esse hoje também. Não importa a idade que tenha, sempre vou odiar viagens no tempo. –respira fundo e volta a se concentrar. -Em meu tempo também está acontecendo algo muito importante, não posso dar spoilers. –sorri como alguma piada interna. –mas você está lá me ajudando, e percebi que no dia do seu casamento com tudo que aconteceu na minha vida, acabei não prestando atenção na minha melhor amiga. Me perdoe.

—Você voltou no tempo, por mim? –pergunto emocionada.

—Luna, você é uma dessas pessoas pela qual vale a pena tentar a sorte, faria qualquer coisa por você. –beija minhas mãos se levantando. -Preciso ir antes que Sara volte. Mas antes, você está linda. –Wally sorri, tocando meu rosto. –Não percebi o quanto foi difícil para você, e agora sei que está sentindo mais saudade dos seus pais do que jamais sentiu antes. –baixo meus olhos, incapaz de negar. –Eles estariam orgulhosos de quem se tornou, da mulher forte, melhor amiga e irmã protetora. Você tem sido isso por mim há anos. –me puxa para um abraço de urso.

—Obrigada por estar aqui. –me limito a dizer. –Eu te amo, você sempre foi a minha pessoa, em qualquer tempo.

—Eu te amo, Lu.

—Espero que tenha acabado. – Mônica, quero dizer Sara, bate na porta. Sinto um leve beijo em minha testa e Wally 2.0 já havia retornado de volta para o seu futuro.

—Já acabei. –suspiro me recompondo. Sara passa pela porta, usando um vestido vermelho de um ombro só, longo que a deixava ainda mais bonita, e segurando dois buques, um de orquídeas azuis, e outro menor, de rosas brancas.

—Uau, isso que chamo de trabalho bem feito! –exclama com cara de boba ao me ver.

Meu vestido era champanhe no estilo Gatsby, com mangas em renda que cobriam meus ombros, um decote em formato de coração, elegante. Revestido em renda, com a cintura bordada com pedras em tons de prata velho, e pérola. Sara sorri, me entregando o buque azul, e ajeita o diadema em minha cabeça.

—Está perfeita. –elogia me olhando cheia de carinho.

—Obrigada.

—Bom, seus acompanhantes estão prontos. –limpa uma lágrima que escapa por seus olhos. –Não temos tempo para ficar tricotando!

—Consegue agir como uma general, até com você mesma. –brinco, enquanto Sara abre a porta.

Estava esperando apenas o Phill, mas ao abrir a porta me deparo com meu irmão, ladeado por Oliver, John e Roy. Levo minhas mãos a meus lábios tentando não permitir que o choro escape. Phill me olhava encantado, enquanto os outros sorriam.

—Não tenho mãos suficientes. –comento, a única coisa que consigo verbalizar.

—Phill vai te levar ao altar, querida. –Oliver fala, dando um passo à frente. –Queríamos apenas que soubesse que estávamos aqui, por você.

—Obrigada. –murmuro, com a voz embargada. Roy e Dig me abraçam, Oliver toca meu rosto com carinho, então saem me deixando com Philippe e Sara.

—Connor acabou de entrar. –Sara diz em seu modo robô. –Wally, você está cinco segundos atrasa... –antes que ela complete a frase, Wally para a seu lado, lhe estendendo o braço.

—Credo mulher, precisa parar um pouco! –ele reclama, fazendo com que Phill e eu déssemos risada.

CONNOR

Sara transformou uma sala comum da Star Labs em um lugar perfeito para um casamento. Havia um tapete vermelho entre as cadeiras coberto por pétalas das rosas que Dick trouxe errado e quase lhe custaram a vida. Com flores espalhadas por todo o local, pendendo do teto, nas pilastras, e decorando o altar. Ela poderia fazer isso para viver, claro, se alguém fosse corajoso o suficiente para pagar uma psicopata ocasional!

Meu pai, minhas mães, Donna, Isis e meus tios estavam na primeira fileira. Seguidos por todo o time do Arqueiro, e Tommy Merlin, que apesar de não ser do Time, faz parte da família. Os Grayson tentavam fazer com que Al parasse de tentar vir em minha direção, enquanto eu continuava brincando com meu afilhado a distância, para me acalmar. A Batfamilia também estava presente, até mesmo Bruce, não sei se veio por nós, ou para presenciar o filho pagando mico, mas seja como for, não tenho do que reclamar. Por último, mas não menos importante, o time do Flash como era de se esperar, assim como Joe e Quentin Lance.

—Vai começar. –Damian fala atrás do púlpito, quando começamos a escutar o refrão de Closing Time.

SETE ANOS ATRÁS...

Estou sem calças no sofá da Luna, tenho minhas pernas cobertas por uma manta, e uma ferida aberta em minha coxa que faz parecer que meus ossos estão derretendo em ácido. Mas tudo o que consigo pensar é que valeu a pena, antes eu saindo machucado da missão do que Isis na linha de fogo. Não posso imaginar o que seria essa ferida no corpo dela ao invés do meu.

Então quando chego na casa dessa garota, e vejo seus olhos inchados provavelmente por chorar em desespero, todas as contas sobre o balcão e a forma como ela pensa que precisa lidar com tudo sozinha e carregar o mundo nas costas, me lembro da péssima ideia que tive essa manhã. E percebo que mesmo a pior das ideias pode acabar bem se for realizada ao lado de alguém como ela.

—Posso te ajudar com estabilidade. –falo olhando para aqueles olhos imensos e lindos, repletos de medo. A primeira coisa que pensei quando derrotamos Amazo, foi em vê-la. Não sei como nomear isso, mas no mínimo posso considera-la uma amiga, no pior dos casos.

—Co... Como? –gagueja, preciso respirar fundo e tentar formular as palavras.

—Nós somos bons juntos, e sabemos lidar um com o outro. Não vou tirar sua privacidade, e posso ser útil legalmente. –parte minha, percebe que estava falando rápido demais, mas se eu parar, posso não conseguir ir até o fim. –Melhorei bastante nesse último ano, desde que nos conhecemos, e não me perdoaria se perdesse a guarda do Phill por algo tão bobo quanto dinheiro. E somos bem estáveis...

—Connor, por favor, comece a fazer sentido. –sua voz sai em um sussurro.

—Bom... É que, nós podemos nos casar.

Tudo acontece muito, muito rápido depois disso. A minha perna que já estava doendo como um maldito inferno, sobe o que posso considerar como mais um nível e preciso morder os lábios para não gemer de dor. Luna perde toda a cor de seu rosto, e não a vejo respirar por uns cinco segundos enquanto me olha como se eu fosse louco.

—Casamento? –repete se levantando, e não posso mantê-la ao meu lado, por que mal consigo me manter consciente. –Ca... casamento? –começa a andar de um lado para o outro, fazendo minha cabeça girar.

—Luna, por favor. –falo com a respiração entrecortada. –Pode ficar em um lugar só?

—Quer se ca... casar! –exclama sem parar de andar. –Se casar, Connor?

—Pronto, quebrei a Luna. –falo com sarcasmo, engolindo em seco pela dor insuportável em minha perna. –Me ajoelharia, mas como pode ver... –gesticulo em direção a perna.

—Nós somos a-amigos! –sua voz volta ao tom baixo de sempre.

—Por isso estou propondo. –respondo. –É perfeito se pensar um pouco, nós temos os mesmos problemas de compromisso. –a vejo franzir o rosto e me encarar por um segundo. –Você tem medo de se relacionar Delphine!

—Não, eu não tenho! –seria mais convincente se a voz dela não saísse em um sussurro tímido. –E você que tem problemas emocionais? –acusa, o que me faz rir por cima da dor. –Não é engraçado! Mal se lembra do nome das garotas com quem sai!

—Foi o que disse agora mesmo. Nós dois temos problemas. –falo cada sílaba pausadamente, como se ela fosse incapaz de entender, apenas para irritá-la.

—Eu vejo o que tem por baixo dessa casca, Connor. –Luna volta a se sentar ao meu lado, apesar de saber que está com raiva. –Isso de tentar afastar essas garotas, pode pensar que é para manter a pose de playboy, mas a verdade é que tem medo de gostar de verdade de alguém e perder essa pessoa. –não sei o que dizer, claro que isso machuca meu ego.

—E não está me rejeitando nesse momento por medo de me perder também? –minha voz sai seca, queria que machucasse. Mas quando vejo seus olhos se encherem de lágrimas, sinto mais culpa do que já senti em toda a minha vida.

—Não. –fala com pesar. –Deus, não é por isso.

Luna se levanta indo em direção ao balcão que separa a pequena sala da cozinha menor ainda de seu apartamento. Ela permanece parada, de costas para mim por alguns segundos, enquanto se recompõe, e pega o telefone em seguida. Percebo que ela estava prestes a avisar Felicity do meu estado, mas se sair dessa forma posso perder a amizade dela. Faço força para levantar, segurando a manta na frente do meu quadril, quando sinto uma fisgada intensa ao colocar a perna no chão.

—Felicity, oi... –é só o que escuto, antes de perder a consciência.

AGORA...

Sara e Wally caminham em nossa direção, com sorrisos imensos estampados em seus rostos. Meu estômago parece estar prestes a sair pela boca quando vejo Luna de braços dados com Phill. Ela era como uma pintura, tamanha a perfeição, sorria com os olhos presos aos meus durante todo o percurso, desço os dois degraus do altar e vou busca-la. Aperto a mão de Philippe, que se inclina para falar em meu ouvido.

—Se magoar minha irmã, dou um jeito de quebrar seus dentes. –ameaça, me esforço para não dar risada.

—Eu vou cuidar dela, te prometo. –digo, olhando para seus olhos violetas. Pego a mão de Luna e subimos no altar, Sara e Wally se posicionam atrás de nós dois.

—Connor e Luna me convidaram para celebrar a união deles, diante da família e amigos. –Damian começa a dizer, nos surpreendendo por não parecer tão mal humorado como o habitual. –Pensei no que poderia dizer, cogitei uma cerimônia budista, o que seria muito mais fácil, então me lembrei que Delphine é Cristã. –reclama, ai está o mal humorado filho do morcego, já estava começando a me preocupar. –Mas isso importa para nenhum dos dois, a religião diferente, as crenças inversas. Aqui temos simplesmente a força e o desejos de duas pessoas que só querem estar juntas. – Damian se inclina para que só Luna e eu, possamos ouvi-lo. -Não tem como eu falar de amor aqui, vocês me conhecem, poderiam ter escolhido qualquer outro para a cerimônia.- suprimo um sorriso da piada que era Damian se sentindo culpado por algo. – A força e a fé que um tem no outro, essa será a religião que os guiara, e não importa quantas vezes a vida coloque obstáculos, sempre haverá forças para chutá-los para longe. Literalmente! –mais uma vez, as pessoas dão risada. –Vocês escreveram os votos? -pergunta em voz baixa.

—Sim. –respondo, me virando em direção ao Wally que estende a aliança da Luna para mim. –Oi. –falo, olhando para a mulher perfeita em minha frente, que sorri tímida.

—Oi.

—Luna, antes de te conhecer costumava me gabar de ser um jogador. Gostava de ser uma bagunça, de viver na ponte aérea, correr riscos e me isolar quando estivesse perdendo o controle. –começo a dizer a olhando nos olhos. –Percebo hoje, que antes de te conhecer não desejei pertencer a lugar nenhum, foi só quando te vi correr em direção aquele elevador, que me senti finalmente em casa. Nós somos as pessoas mais problemáticas que existem, eu posso ter alguns instintos suicidas, e você é a definição de ante social. –escuto nossos amigos concordando, em meio ao riso. –Não posso te prometer que vou parar de deixar a porta do armário aberta, ou me lembrar de guardar o jantar na geladeira. Mas prometo que você será meu primeiro e último pensamento, todos os dias pelo resto da nossa vida. Vou estar aqui em todos os momentos, por que você é meu lar. –coloco a aliança em seu dedo delicado, e beijo o dorso de sua mão. –Eu te amo. –ela sorri em resposta, e se vira para pegar a aliança com Sara.

—Não tenho palavras para descrever o quanto você me mudou, Connor. Me tirou da minha zona de conforto, preencheu minha vida com pessoas que aprendi a amar. –ela olha para nossos amigos. –Eu cresci vendo a relação dos meus pais, o amor devoto de um para o outro... –Luna para pôr um momento, respirando fundo para se recompor. –Queria que eles estivessem aqui para poderem ver que e... eu... encontrei esse mesmo tipo de amor. Daria qualquer coisa para que conhecessem a pessoa maravilhosa que você é, que te vissem com Philippe tentando transformá-lo em algum tipo bizarro de discípulo. –sorrimos um para o outro. –Prometo lutar todos os dias por nós dois, dividir todos os meus fardos com você, e aceitar de bom grado compartilhar os seus. Ser sua melhor amiga, mulher, companheira pelo resto de nossas vidas, e nunca desistir de nós. –ela coloca a aliança em meu dedo, e beija minha mão, da mesma forma que havia feito com a dela. –Eu te amo.

—Connor Hawke, aceita Luna Delphine como sua esposa? –Damian pergunta com um estranho sorriso nos lábios.

—Aceito. –respondo incomodado com a alegria do morcego.

—Luna Delphine, aceita Connor Hawke como seu marido?

—Sim. –Luna sorri, me fazendo pensar como pude ter tanta sorte.

—Então, pelo poder que a internet me proporcionou, eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva!

Puxo Luna com cuidado para meus braços, e pressiono meus lábios contra os dela, a beijando com carinho e me controlando para não protagonizar uma cena que fizesse minha mulher... Espera, ela é mesmo minha mulher... Epa, já era auto controle! Curvo o corpo de Luna de forma dramática e a beijo com vontade dessa vez.

SETE ANOS ATRAS...

Abro os meus olhos e percebo que estou na caverna, deitado na parte hospitalar, com os olhos irritados de Felicity que estava em pé ao meu lado, me observando. Tento falar, mas minha garganta parece estar cheia de areia. Então sou obrigado a ouvir o sermão calado.

—Jura Connor? –começa revirando os olhos. –Fugir do atendimento médio na Torre? Quantos anos você pensa que tem? Só por que sua namorada não atendeu o telefone?

—Luna... –limpo a garganta, percebendo minha voz áspera. –Ela vai perder o irmão.

—O que? –toda a fúria deixa o rosto de Felicity, que se senta na poltrona ao lado da minha maca.

—Acho que piorei tudo, ela deve estar me odiando. –passo a mão sobre o rosto, cansado de toda essa merda.

—Bom, isso não é verdade. –minha mãe franze o rosto se levantando, e levanta a parte superior da minha maca, para que ficasse sentado. –Ela veio com você, só não subiu por que pedi que ficasse no meu lugar, seu pai e John estão em campo.

—Ela veio? –Felicity abre um de seus sorrisos genuínos ao ouvir a surpresa em minha voz.

—Vou trocar de lugar com ela. –beija meu rosto. –Acho que já passou da idade de querer colo de mãe quando está doente. –diz em tom dramático, me fazendo sorrir.

—Eu te amo. –Felicity me olhando emocionada.

—Meu bebê, eu também! –me beija mais uma vez, e se afasta a contragosto, indo em direção ao elevador. Alguns segundos depois Luna aparece, abraçando algo contra o peito enquanto caminha em minha direção.

—Me desculpa. –dizemos ao mesmo tempo. –Me desculpa. –repito e ela assente. –Não deveria ter falado aquilo, só fiquei com raiva...

—Pelo que eu disse antes. –completa. –Me desculpa também.

—Tudo bem.

—Tem uma coisa que eu quero te mostrar.

Ela me entrega uma fotografia, onde uma mulher bonita, de cabelos escuros e a pele branca como a de Luna, olhava para um homem alto, com os traços muito parecidos com os da minha amiga. Só então percebo o terno e o vestido de noiva.

—São seus pais? –pergunto, observando a adoração com que um olhava para o outro.

—Sim. –Luna suspira. –Foi tirada no dia do casamento deles. Olha Connor, eu não quero me casar se não for para ter isso. –aponta para a fotografia. –Sei que está tentando me ajudar, e sou grata, mas não é justo com nenhum de nós. –sinto sua mão na minha, e olho em sua direção com um sorriso fraco. –Não tenho muito deles, mas tive o exemplo de como uma relação deve ser.

—Está certa. –concordo. –Falei sem pensar. –minto.

—Estamos bem?

—Claro, vamos dar um jeito de você não perder a guarda do seu irmão.

—Bom, eu meio que já descobrir como. Quer dizer, se ainda quiser me ajudar. –sorri tímida.

—Olha Delphine, não vou ficar te pedindo em casamento a cada duas horas! –debocho, e recebo um tapa no braço em resposta.

—Não seja idiota, Connor. Estou falando em dividirmos um apartamento, se quiser é claro. –nesse momento percebo que aceitaria qualquer coisa com ela.