LAUREL

–Laurel? –ouço a voz da Felicity em algum lugar distante. –Laurel? –meu nome é seguido por pequenos tremores no meu corpo, será que estou tendo convulsões? –Laurel? – sua voz é mais enérgica o que me faz levantar assustada.

–Felicity? –me surpreendo ao perceber que estava dormindo em cima de um monte de papeis, tinha um colado na lateral do meu rosto como prova. –Estava cruzando alguns...

–Quanto tempo você não vai para casa Laurel? –não havia julgamento em suas palavras, só preocupação. Ela continua me olhando esperando uma resposta. E não sabia ao certo quanto tempo estava trancada na Torre, três, quatro, uma semana? Era complicado mensurar tempo quando estou aqui em cima, sem dia ou noite, e completamente imersa...

–Não sei ao certo. –respondo cansada de mais para achar uma desculpa.

–Vai tomar um banho e comer alguma coisa, o banho primeiro. –sorri mas não me movo do lugar.

–E se fosse o Oliver? – Felicity suspira parecendo cansada e se senta ao meu lado.

–Estaria desse jeito. –aponta para mim tirando alguma coisa do meu cabelo. – Mas você faria o mesmo que estou fazendo. –ela toca meu braço. -Laurel você não está sozinha, Oliver e Thea estão da mesma maneira, só que eles nos deixam ajudar, não precisa hesitar em pedir ajuda, por que não está só. –repete com carinho. Lhe dou um forte abraço, é impossível não chorar, parece que toda a angustia que venho sofrendo desde a morte de Tommy renasce dentro de mim.

–Não posso perde-lo, não de novo. –sussurro sentindo as mãos de Felicity em meus cabelos.

–Não vai. –diz cheia de certeza. Felicity sabia o que era perder alguém que se ama, durante todos esses anos que Oliver esteve em sua vida, não saberia contar quantas vezes ele foi dado como morto, quantas vezes a vi chorar, antes de levantar a cabeça e encontra-lo, não sei como, mas ela sempre sabia que Oliver estava, de alguma maneira vivo.

–Por que não senti? –penso alto.

– Não, não, não! Nem pense nisso. –fala seria olhando firme em meus olhos. -Não existia uma forma de saber que ele estava por aí. Você o viu morto, uma barra de ferro perfurou o corpo dele. Em um mundo normal, um mundo que acreditávamos ser o nosso a vinte e dois anos atrás, não existia uma forma de sobreviver a algo desse tipo. – Felicity tem esse dom, parece ler nossos sentimentos em nossa face.

–Nós não vivemos nesse mundo. – ficamos em silencio por um momento, até que minha atenção é desviada para Isis que nos olhavam tensa parada a porta.

–Vamos tentar localiza-lo, e você vai descaçar. –Felicity diz por fim, não abrindo meio para contestação.

Os corredores da Torre estão vazios, heróis em missões, treinando, ou quem sabe descansando, independente disso, estão sempre atentos. Esse não é o meu estado no momento, tenho que admitir que não fiz muita coisa desde que descobrimos que Tommy está vivo. Meu emprego na promotoria ficou para segundo plano, encaminhei meus clientes para os melhores advogados que conheço e respeito, os jovens heróis que normalmente treino ficaram a cargo de outros como o Pantera e a Caçadora, tempos de desespero pedem medidas desesperadas, ou pelo menos é nisso que tento acreditar.

Felicity tem razão quanto ao banho, meu corpo agradece a ducha de água quente que parece aos poucos destravar meus músculos. Eles reclamavam a falta de exercício, minha rotina diária, a qual abandonei nesse período, inclui meu treino e o treino do time da Liga Jovem, dor por sedentarismo era novidade para mim. Desde muito nova meu pai nos colocou, Sara e eu, em treinos e atividades físicas intensas, ele nem poderia sonhar no que nos tornaríamos naquela época.

Me enrolo na toalha e me arrasto pelo meu quarto, sento na cama olhando para o espelho, sei que preciso ir comer alguma coisa, meu estomago implora por algo bem gorduroso e cheio de colesterol, milk-shake com batata frita, hambúrguer do Big Belly Burger, mas estou tão exausta que não consigo dar nem mais um passo. Me jogo atravessada na cama e acho que apaguei antes de atingir o colchão.

Sonhos vívidos de um Tommy em meu antigo apartamento, vinho derramado em meu tapete claro, uma briga que não lembro o motivo, e nos dois acordando nos braços um do outro. Foi o dia mais feliz da minha vida, antes de tudo mudar. Depois de sua morte veio vicio, muitas pílulas e nunca mais uma gota de vinho se derramou em outro lugar que não fosse dentro da minha boca, depois de Tommy eu conheci o que é o fundo do poço.

–Laurel? –batidas na porta me fazem acordar sobressaltada. Visto um roupão e abro a porta, Isis estava parada ali com uma bandeja com um milk-Shake, hambúrguer e batata fritas, sorrio agradecida e deixo ela entrar.

–Tive impressão que não passou no refeitório. –explica me entregado o meu banquete. – Não são do Big Belly, mas foi o que consegui por hora.

–Obrigada. Acharam alguma coisa? –pergunto enquanto dou uma mordida, que levou metade do meu hambúrguer.

–Algumas pistas frias, mas acho que tivemos progresso nessas últimas seis horas. – fala se sentando ao meu lado na cama, ao mesmo tempo que engasgava com a batata frita.

–Seis horas? –Isis sorri com a mesma indulgencia que a mãe.

–Você estava cansada Laurel, me surpreende que tenha aguentado tanto. –meche nervosa no cabelo, e sei que ela quer me perguntar alguma coisa. –Sei da ligação do Tommy com o meu pai, eram os melhores amigos, sei também da ligação da tia Thea, mas não sei ao certo a sua com ele. –rouba uma das minha batatinhas tentando parecer casual, ela sabia de alguma coisa, tinha haver com a adaga cerimonial, juro que tinha pedido a Diana para levar essa faca de volta para o Tártaro que era o lugar dela, mas a Mulher Maravilha recusou, disse que se havia alguém capaz de lidar com Katoptris era a filha de Oliver e Felicity. Não houve argumentos, mas isso não significa que gostei.

–Tommy sempre foi o que precisei. Um amigo, um ombro para chorar, e depois o amor que perdi. –sorrio para que ela entenda o significado dele na minha vida. –Tommy foi o amor da minha vida. O amei mesmo depois que morreu, mesmo depois de todos esses anos continuei o amando. – Isis sorri constrangida, parecia não esperar por tudo isso.

–Então acho que ainda há esperanças. –não entendo o que diz, mas não fica tempo o suficiente para perguntar.

Passei um bom tempo descaçando, contrariando todos os precedentes fiz até mesmo uma refeição completa, agora posso ir atrás de algumas informações. Não conseguira nada melhor que a Felicity aqui em cima, sejamos realistas, ela provavelmente conseguiu muito mais nessas seis horas do que todos os meus dias trancadas aqui, a minha melhor pista era ir atrás da fonte, a pessoa que trouxe Tommy de volta à vida. Precisava do Malcom Merlin.

OLIVER

Chego a torre ao lado de Connor, nós vemos Felicity sentada a frente dos computadores, com o Sr. Incrível a seu lado. Os dois conversavam daquela forma rápida e em códigos nerds deles. Connor se adianta se inclinando para dar um beijo no alto da cabeça dela, cumprimento Curtis e paro ao lado de Felicity.

–Algo novo?

–Tenho uma lista de locais onde ele passou pelas últimas semanas. –ela começa a abrir mapas nas telas. –Estamos nesse momento tentando entender o padrão, e descobrir se existe algum núcleo.

–Ainda acho que deveríamos o atrair. –Connor fala recebendo um olhar de repreensão meu e de Felicity. –Estamos dando voltas a semanas, ele me pegou uma vez por pensar que eu era o senhor. O único movimento lógico é o atrair, esse cara não é ruim, não dá para ser de outro jeito. –a alguns anos, eu já teria feito isso a muito tempo, mas Connor é jovem, ainda não entende o que tem a perder.

–Não vamos largar o papai no alto de uma montanha e esperar que um mini Merlin apareça para lutar contra ele! –Isis solta, nem havia a percebido.

Mas no momento em que as palavras saem de sua boca todos nós a olhamos espantados, e posso ver seu rosto ficar vermelho em seguida. Felicity e Curtis começam a digitar frenéticos, pesquisando todo tipo de montanhas próximas aos locais. Eles a colocavam na tela enquanto Connor e eu estudávamos o nível de pavor no rosto de Isis, dizendo se poderia o não ser a que eles mostravam.

–Essa! –falamos em uníssono. –É próxima a Nanda Parbat, por que não estou surpreso? –murmuro, e Isis se senta em uma cadeira, como se tivesse perdido as forças.

–É o único jeito de acabar isso. –Connor fala para a irmã, tocando seu ombro. –Vou chamar Artêmis e Speed.

–Vou atrás da Canário Negro. –Isis murmura se levantando. –Quem sabe ela evite o pior.

–Nightmare? –Felicity a chama, fazendo Isis se virar em sua direção. –Não fale de uma forma que a dê esperanças, a Canário não está em seu melhor momento. –Isis assente antes de voltar a andar. –E você, como está? –vira a cadeira para me olhar, e estende sua mão para mim.

–Melhor do que a Laurel. –respondo evasivo, mas não existe muito que possa esconder de Felicity depois desses vinte e poucos anos juntos. –Pior do que gostaria. –assumo com um mínimo sorriso. –Mas isso vai acabar, não vai?

–Claro que vai. –a certeza em sua voz, é a única coisa que não me permite desanimar.

–Ela não está no quarto! –Isis exclama correndo em nossa direção. –A Canário desapareceu.

LAUREL

–Não sei por que faz questão disso Laurel, Felicity e os outros vão encontra-lo! –Lyla caminhava nos corredores da prisão de segurança máxima da ARGUS a meu lado, em direção a cela do Malcom. –Precisa se poupar.

–Não estou doente, ou grávida Lyla. –bufo, mas paro tocando seu braço ao perceber o quanto soou rude. –Preciso saber o que aconteceu. O que faria se fosse o John no lugar de Tommy? –ela respira fundo, e volta a andar com passos firmes, muito mais decidida do que antes.

Paramos em frente a uma porta pesada de metal. Lyla para em frente a um identificador de retina, depois repete seu nome, e o que acredito ser seu código na ARGUS. As portas se abrem lentamente, e dentro delas um pequeno corredor que nos leva a outras idênticas, nessa Lyla apenas passa seu crachá, e elas se abrem. Ela se vira para me olhar.

–Volto para te buscar em dez minutos, ou se quiser. –me entrega um pequeno dispositivo. –Aperta esse botão e eu venho correndo, sei que sabe se cuidar, mas mesmo assim meus melhores agentes estarão a postos caso preciso, e vamos estar monitorando. –aponta para uma série de câmeras de segurança.

–Obrigada Lyla. –falo com sinceridade e ela sorri.

–Estou feliz em ajudar.

Entro no que parece uma ante sala, a verdadeira cela estava atrás de vidros grossos, e Malcom estava lendo algo, sentado em uma poltrona branca. Me aproximo no momento em que ele se dá conta da minha presença, deixando seu livro de lado. Respiro fundo, e dou mais um passo.

–Notícias de Tommy? –ele se ergue ansioso em um salto.

–Não. –digo seca, apesar de sempre me surpreender com seu lado paternal, não pensava que psicopatas possuíam isso. –Estamos dando voltas às cegas a semanas, e o fato de ter me cansado disso é o que me trouxe aqui.

–Do que precisa? –nesse momento entendo o termo “simpatia pelo diabo”, Merlin é a definição perfeita.

–Quero entender o que aconteceu, como e quando. –passo as mãos em meus cabelos, exausta demais para manter a pose durona. –Por que só agora? Onde ele estava antes?

–Tudo bem, eu vou contar. –ele aponta para uma cadeira que havia no meu lado da sala, indicando que a conversa seria longa. Me sento sem protestar, como disse, estou cansada demais. E o escuto iniciar a narrativa.

“Quando Tommy morreu, por minha culpa e o Arqueiro pensava que havia me matado, eu consegui escapar, me recuperei fisicamente, mas conviver com a culpa por ter assassinado um filho, nos faz preferir a morte. Foi quando voltei para Nanda Parbat, e implorei o perdão de Ra’s, eu já fui o braço direito dele, sei de coisas do Cabeça do Demônio que ninguém mais sonharia, então ele resolveu atender meu pedido. Ra’s me contou sobre as lendas, que o poço poderia fazer mais do que só curar feridas e retardar a morte, e vendo como eu estava me esvaindo em sofrimento, ofereceu a ressurreição de Tommy.

Foi ariscado, nunca haviam feito nada tão extremo antes, mas um pai faz qualquer coisa por seus filhos, não importa o monstro que seja. Nós levamos o corpo de Tommy, e fizemos o ritual. Mas o que voltou não era o meu filho, não era nem mesmo humano... Tentamos de tudo para controla-lo, e por meses o mantive trancado, depois tentei treina-lo. Foi quando achei que estava tendo melhoras, mas ele apenas respondia a violência, era como algo natural em seu estado. Nesse momento eu soube de Thea, e o deixei em uma base de treinamento da Liga de Assassinos para poder ir atrás de minha outra filha, precisava ter uma segunda chance.

Acontece que quando voltei para vê-lo, Tommy havia desaparecido, ele enganou toda a liga, partiu assim que dominou tudo o que poderiam ensina-lo. Eu nunca deixei de procurar por ele, mas sempre quando chego perto de ter algo... O último vestígio dele foi o que me levou a pista do Amazo, o CADIMUS me prendeu, tentando obter o que eu sabia, minha filha e Roy me resgataram, e desde então estou aqui, enjaulado nesse aquário maldito.”

–Por que ele não voltou? –pergunto confusa.

–Ele tentou, muitas vezes. –Malcom passa as mãos pelo rosto, parecia muito mais velho nesse momento. –Mas desaparecia assim que eu captava seu rastro. Só que não posso fazer nada daqui. –eram muitas informações, tento me distanciar o máximo que posso e focar na missão.

–O único padrão dos ressurgidos pelo poço é a sede de vingança, por quem os assassinou. Tommy está perseguindo o Arqueiro Verde, mas nós dois sabemos quem o matou de verdade. –ele desvia os olhos sobre toda a acusação em meu rosto.

–Tecnicamente sim, eu o matei. –dá de ombros com tristeza. –Mas o empreendimento era para destruir os Glades, Tommy não deveria estar lá, e sabemos o por que ele estava. –engulo em seco, desviando meus olhos dele. -Por outro lado, Oliver protege o bairro que lhe tirou a vida.

–Acha que essa é a motivação de Tommy? –pergunto começando a ver certo sentido nas coisas.

–Eu não acho, eu sei! –ele soca uma parede. –Ele se sente traído pelo melhor amigo não ter destruído aquilo que o matou.

–Mas é um bairro, em uma cidade! –exclamo chocada. –Cheia de pessoas inocentes.

–Ah querida, a morte pode mudar pessoas em um nível que você nem imagina.

–Lyla, me tira daqui. –falo apertando o dispositivo, e imediatamente a porta se abre.

Agradeço a ela quando a vejo me esperando após as segundas portas grossas, e saio correndo, com pressa de estar fora daquele prédio, onde eu pudesse ser teleportada para a torre. Assim que coloco meus pés fora toco o comunicador em minha orelha.

‘Por Deus, Canário onde você está?’ a voz da Oraculo era urgente.

–Vim ver o Merlin. –respondo ofegante. –Faça qualquer coisa, mas não coloque Oliver na frente de Tommy!

OLIVER

Que a vida não é justa, já sabia, mas que as pessoas fazem de tudo para piorar ... A quem estou querendo enganar? Já sabia disso também. -Conseguiu contatar a Canário? – questiono Felicity pela vigésima vez.

–Não, é como se estivesse desaparecida do mapa. – reclama frustrada enquanto faz uma nova varredura, mas com o mesmo resultado.

–Precisamos ir. – Isis afivela o cinto com as suas facas de combate.

É duro admitir, ela havia se tornado assustadoramente boa com suas Suriken’s, facas de arremesso, estrelas ninja e todas as outras coisas, mas isso não significa que goste dela em meio a toda essa loucura que é a nossa vida. Principalmente hoje, por mim tanto ela, quanto Connor e Thea estariam em casa, mas não posso impedir Thea, Tommy é seu irmão, mesmo antes de descobrimos a sua verdadeira paternidade, Tommy sempre a protegeu como um, foi o que eu não pude ser por muitos anos. Isis era a nossa melhor chance de localiza-lo e Connor não iria aceitar um simples não como resposta, não há outra maneira.

–Quando a canário aparecer, a leve para colina. –Isis não explica o comentário, mas ela sabe mais do que deixa transparecer. –Preciso que contate o Sr. Destino, fale para ele que a hora se aproxima, saberá o que fazer em seguida. –continua a instruir.

Não gosto de Isis tão imersa em todos esses problemas. Ver a maneira que a cabeça dela está sempre um passo a frete é motivo de orgulho, mas ao mesmo tempo não consigo deixar de imaginar como seria a ter criado fora dessa vida. Quando Diana descobriu que a Katoptris havia escolhido Isis, ela se ofereceu para treiná-la na ilha de Themyscira, a tornaria uma Amazona, mesmo contra as lei mais rígidas de seu povo. Mesmo a deusa Hipólita aceitou acolhe-la e treina-la, mas não era o certo, Isis merecia ao menos a ilusão de uma vida normal, com amigos, problemas cotidianos como a escola, faculdade e um amor. E demos isso a ela, não tanto quanto gostaríamos, mas o máximo possível.

Olho para os lados, Thea parecia tensa, de uma maneira que nunca havia visto, Connor por sua vez estava ao lado da Irmã, de forma protetora, como sempre. Ele não confiava na missão como os outros, não o culpo, nunca conheceu Tommy antes de ser torturado por ele. Sabia melhor do que todos o que nos aguardava, um corpo sem alma. Então me dou conta que esse seria o trabalho do Sr. Destino.

–Boa Sorte. – Felicity sorri, vejo o quanto a deixamos preocupada ao longo de todos esses anos, sei que se não fosse os fios meticulosamente pintados de loiro veríamos muitos fios brancos em sua cabeça. Me aproximo dela, como se a gravidade nos prendesse, beijo o alto da sua cabeça para transmitir tranquilidade e em resposta ela afaga meu braço com carinho.

–Nos vemos mais tarde. –vou até o centro de teletransporte, onde os outros já me aguardavam, e em uma velocidade superior a do Flash não estamos mais na Torre de Vigilância.

A mata virgem que cobria todos os arredores era selvagem, espessa, sem espaços de trilhas, teríamos que abri-los a força. A última vez em que estive próximo a Nanda Parbat foi quando a Liga da Justiça impediu um vírus que Ra’s queria liberar no mundo, aniquilando grande parte da raça humana, só sobreviveriam aqueles que possuíssem imunidade natural. Esses seriam guiados há uma nova era pelo seu mais novo, alto proclamado, líder, nada mais nada mesmo que o próprio Ras Al’Ghul, foi a última vez que o vimos o Demônio. Tenho que ser sincero, não me faz falta alguma.

Sinalizo para Thea que fica ao meu lado, e indico para Connor e Isis rodearem o perímetro. Por um longo tempo ficamos à procura de alguma pista, mas nada, nem mesmo traços na terra que indicasse a presença de Tommy. Mas tudo mudou rápido, um barulho no meio da mata, um grito de Connor, barulhos de impacto cego, como se duas superfícies muito duras se chocassem. Thea sai a minha frente à procura dos meus filhos, e rapidamente a perco de vista, dentro da neblina. Subo no alto da Colina, não me importando em revelar a minha posição, apenas pensava em localizar a minha família.

Então o vejo, parado a minha frente. Tommy retira o capuz negro que cobria seu rosto, como se sentisse necessidade em ser reconhecido. E mesmo tendo consciência de que iria encontra-lo, não estava preparado para vê-lo, como uma explosão, anos e anos de amizade, não, essa não era a palavra, Tommy se tornou muito mais que um amigo, ele foi meu irmão.

Retiro meu capuz e a mascará para que ele me reconheça e por um momento acredito que ele tenha me reconhecido. Mas seu rosto é tomado por fúria, como uma besta preste a atacar, ele já havia determinado me enfrentar, coloca seu capuz e o imito, a luta iria começar, e tinha que achar uma maneira de sobreviver a isso sem matar um dos meus melhores amigos.

ISIS

Não sei como me separei de Connor, só lembro de ouvir seu grito e depois o desespero que ficou presos em minha garganta, lembro de correr a esmo na tentativa de localiza-lo, foi quando Speed me pegou pelos ombros.

–Arqueiro? – minha voz era um sussurro, queria saber dos dois, queria que ela me dissesse que estava tudo bem, mas a resposta foi uma negativa com a cabeça, não sabia o que ela estava dizendo, ela não sabia, um estava desaparecido, os dois sumido, ou algo mais grave havia acontecido com um deles, ou quem sabe os dois. Péssima hora para ter uma mente parecida com a da minha mãe que funciona em uma velocidade tão rápida que em três segundo havia criado um milhão de cenários, um pior que o outro. Me viro para tentar localizar meu pai e irmão, mas algo me impede, uma dor aguda em minha nuca é a última coisa que me lembro antes de tudo ficar escuro.

Quando recupero a consciência, sinto o calor queima minha pele, a fumaça dificulta minha respiração, me faz lembrar da maldita visão, e assim de onde estou. Levanto com dificuldade pela dor aguda na nuca e sinto um filete de sangue descer por minhas costas. Thea e Connor, estão próximos, mas ainda inconscientes, vou até eles e me sinto aliviada ao perceber os movimentos regulares de suas respirações.

–Oraculo? – chamo minha mãe pelo comunicador. –Tira o Arqueiro e a Speed daqui.

‘O que está acontecendo?’

–Ainda não sei. Os dois estão em minha posição. -ela os retira do campo. Precisava localizar meu pai e Tommy o mais rápido possível, ou não sobraria muito da floresta para que escapássemos. – Oraculo, precisamos da Canário Negro. Já a localizou?

–Ela está a caminho. – olho para cima me situando com a lembrança da visão, e lá no alto da colina, a luta era acirrada, via que meu pai tinha vantagem pelo seu tempo de combate, mas sabia que ele estava preocupado conosco. Começo a correr mas era impossível com o calor, tento gritar, mas a fumaça entra na minha garganta. Laurel aparece ao meu lado, ela olha ao redor e antes que possa dizer alguma coisa dispara o seu grito criando uma trincheira que impediria o fogo de prosseguir.

–Oraculo, pode leva-la. –diz tocando o comunicador, e fico sem entender, apenas olhando para Laurel. Não, aquilo não estava certo!

–O que está fazendo? Eu não vou!

–Sim, você vai.

Então estou no centro do teletransporte, vendo minha mãe, Barry, Sara e John em frente aos computadores. Thea e Connor estavam em cadeiras ao lado, com máscaras de oxigênio presas ao rosto. Saio pisando duro em direção ao grupo.

–Por que me tiraram de la? –solto irada, e minha mãe, é a única que se vira em minha direção.

–É perigoso. –responde vaga, voltando sua atenção para a tela, Dig coloca a mão em seu ombro, e Barry se senta a seu lado.

–Ele vai ficar bem. –o Flash a consola pegando sua mão.

–Vocês não entendem... –começo a protestar, mas sinto a mão de Sara em meu braço.

–Agora não. –fala apenas me puxando para o canto. –Não pode tentar segurar tudo com suas próprias mãos, isso é maior do que todos nós. É parte do passado deles, uma parte importante. –minha mão rodeia a Katoptris, e não posso deixar de lembrar de todas as desgraças que já vi através dela. Se eu não segurar, então quem vai?

LAUREL

Corro o mais rápido que posso em direção ao pico da colina, a maldita neblina dificulta que meus olhos identifiquem a maior parte dos obstáculos no caminho. O Arqueiro tentava manter uma distância curta o suficiente para evitar que Tommy usasse o arco, e distante o bastante para que pudesse desviar de seus golpes, sem precisar ataca-lo com frequência. Vejo o pavor nos olhos de Oliver assim que ele me vê, aceno uma vez para ele, espero que entenda que sua família está bem.

–Tommy! –grito, tentando conseguir sua atenção, mas ele parecia disposto a matar o Arqueiro, que por sua vez, parecia disposto a deixar.

Desisto da abordagem de boa moça, e me meto no meio da luta entre os dois, dando um chute no peito de Tommy que cambaleia três passos para trás. Ele não me reconhece, não espero que reconheça, continuo avançando, não posso mentir, uma parte minha se sente bem em bater nele. Vinte e dois anos, isso é bem a cara do Merlin, não lembrar o nome da garota.

–Deveriamos mesmo estar batendo nele? –Oliver já havia recuado, mas eu continuava como um trator.

Eu estou batendo, não você. –corrijo desviando de um soco. –Esse filho da mãe me fez pensar que estava morto!

–Ele não tem alma, não é como se recusasse a lembrar. –olho furiosa para Oliver, péssima hora para bancar a porra do melhor amigo. Minha distração me faz levar um golpe em meu peito...

–Ah, não deveria ter feito... –cuspo cada uma das palavras para o Arqueiro Negro a minha frente, enquanto sentia a dor sufocante de seus pés atingindo meus pulmões.

Algo em minha voz o faz parar por um instante, seus olhos mudam, mas minha fúria só me levou a captar tudo isso, um segundo depois de usar meu grito nele. Corro, e piso em seu braço, tomando impulso para rodear seu pescoço com minhas pernas, ele ainda cambaleava pelo grito, quando giro sobre os seus ombros o lançando no chão.

–Se desaparecer de novo, trituro um dos seus membros. –ameaço seu corpo inconsciente.

–Quando você.... Como? –Oliver parecia surpreso a meu lado, deveria me ofender, mas estava em um furação de sentimentos nesse momento, Tommy voltou e me sinto eu mesma, ao mesmo tempo que não sei identificar todo o resto.

–Depois que consegui derrotar todo o exército das Amazonas, percebi que um cara grande não é nada. –dou de ombros ofegante. –Fel, pode nos levar. –falo depois de prender um comunicador na orelha de Tommy.

Olho para o amor da minha vida, atrás de um vidro blindado que segundo J’onn, seguraria o Clark, por mais ou menos meia hora. Tommy estava sedado, minha performance acabou encurtando as coisas, e não deu tempo para que o Sr. Destino chegasse. Estávamos na torre da liga, e mal podia acreditar que o tinha de volta, bom, ao menos parte dele. Escuto a porta se abrir, e Oliver entra, se sentando a meu lado em silêncio, era um silencio bom, repleto de realizações. O som de seu riso me faz olhar em sua direção.

–Você me deu medo. –debocha ainda dando risada, e travo o sorriso que queria se abrir em meu rosto, olhando para frente. –Esperava tudo, menos um acesso de fúria.

–Não sabia que reagiria daquela forma, nunca ninguém pode ocupar o vazio que ele deixou em mim. –assumo em meio a um suspiro. –Me fez falta a cada segundo da minha vida, e fiquei tão focada em encontra-lo desde que descobri que ainda estava vivo, que não tive tempo para pensar o quanto fiquei igualmente furiosa por demorar tanto para dar as caras.

–Entendo o que quer dizer. Fico imaginando todas as partes importantes da minha vida, com ele presente. Quando descobri sobre Connor, meu casamento, o nascimento de Isis.

–Tento pensar em como seria minha vida ao lado dele. Nossos filhos seriam os melhores amigos dos seus. –Ollie concorda com um grande sorriso. –Tenho medo de imaginar quão pior seu filho seria se tivesse Tommy como tio babão. –dou risada.

–Connor já teve más influencias o suficiente pelo próprio DNA. –está aí uma verdade!

–Tommy parece o mesmo, não parece? –comento o observando.

–Sedado... –Oliver dá de ombros, e o empurro de brincadeira, era bom ver seu humor voltando.

–Como estão os outros?

–Connor e Thea estão bem, e frustrados, ela está esperando o Sr. Destino. E Isis parece ter aprendido uma nova lição. –ele sorri cumplice. –Obrigado por ter a tirado de lá.

–Qualquer coisa por suas crias. –dispenso seus agradecimentos, e nos calamos no momento quem que percebemos o que aconteceria.

Vemos Speed e o Sr. Destino entrando na cela de Tommy, Thea para em frente ao vidro e faz sinal para que Ollie e eu nos juntássemos a eles. Meu coração para pôr um segundo, e se não fosse a mão firme de Oliver em meu braço, me erguendo, provavelmente não teria saído do lugar. Entramos na cela, e o Sr. Destino pega um frasco, com o que parecia um liquido branco e brilhante dentro.

–O que é isso? –Oliver questiona, e Thea para a meu lado, segurando minha mão discretamente.

–Precisei voltar no tempo, até a morte de seu amigo, e pegar a alma dele no momento em que saia do corpo. –explica concentrado no ritual que se seguiria. –Vai ser doloroso, ele reviverá seus últimos momentos, então ficará atônito enquanto se dá conta de tudo o que esse corpo fez sem a consciência de uma alma. É arriscado....

–Vamos fazer. –Thea diz sem hesitar, o Sr. Destino olha para Oliver que assente, por fim se vira em minha direção.

–Vocês foram as últimas pessoas que estiveram com ele, vai ser bom que se aproximem, e fiquem em um lugar onde ele possa os ver.

Retiro a máscara e a peruca, a entrego para Thea, Oliver abaixa o capuz e tomamos lugar aos pés do leito. Então o Sr. Destino começa a empurrar a alma para dentro do corpo, com as mãos sobre o peito de Tommy que passa a urrar de dor, estremeço a cada grito, mas obrigo as minhas pernas a se manterem firmes. Os olhos dele se abrem, ele parece estar aguentando uma tortura, então se fixam em Oliver que dá um passo largo e segura sua mão.

–Está tudo bem, Tommy. Vai ficar tudo bem. –repete sem para olhando nos olhos do amigo, que suava, e travava o maxilar para não gritar. Aquilo estava me matando, não suportaria mais nenhum grito seu, olho para Thea que estava espremida contra a parede, com os olhos cheios de lagrimas.

–Vai demorar muito ainda? –pergunto ao Sr. Destino, desesperada. –Isso precisa acabar!

É quando Tommy finalmente me vê. Apesar da dor enorme que parecia sentir um sorriso fraco se forma em seus lábios, e não posso mais conter as lágrimas. –Laurel... –meu nome sai com esforço, e abro um sorriso, o que ilumina seu rosto torturado pela dor.

–Está acabando. –o Sr. Destino responde.

Oliver estende uma mão para mim, e me aproximo, parando a seu lado, nós seguramos a mão de Tommy juntos, sorrindo feito idiotas. Aos poucos várias emoções se passam no rosto dele, terror, fúria, surpresa, arrependimento. Seus olhos se tornam sombrios no momento em que a dor desaparece, ele primeiro olha para Oliver, com o que parecia ser uma sombra de vergonha.

–Sinto muito, Ollie. –sussurra cansado. –Sinto de verdade.

–Está tudo bem. –sorri para o amigo com sinceridade.

–Laurel. –ele abre um largo sorriso no momento em que pronuncia meu nome. –Você está linda, gostei da roupa. –solto uma risada divertida, Tommy sempre seria o Tommy, não importa quantos anos se passem.

–É claro que gostou. –nós damos risada juntos. –Nunca mais faça isso, não foram bons anos sem você.

–Não vou. –responde sério, mas então um brilho surge em seus olhos. –Nunca mais vou te dar motivos para me bater!

–Ah Tommy. –suspiro, e troco de lugar com Oliver, me inclinando para dar um beijo em seu rosto, depois outro no alto sua cabeça, então me afasto, me lembrando que havia mais uma pessoa ali que merecia a atenção dele. Olho para Oliver e ele entende o que queria.

–Tem outra pessoa que quer te rever. –diz estendendo a mão para Thea, que seca as lágrimas e caminha em nossa direção como uma garotinha.

–Oi. –ela sussurra para ele, que abre um grande sorriso ao reconhecer a voz.

–Speed! –ele abre os braços para ela, tão fraternal que é assustador os seus instintos, mesmo sem saber que de fato são mesmo irmãos.

–Não pode mais me chamar assim em público. –ela brinca.

–Acho que temos muita coisa para contar. –Ollie suspira.

–Não tenho nenhum compromisso marcado. –Tommy responde sobre os ombros de Thea, e não podia me aguentar em mim, de tanta felicidade.