CONNOR

Não adianta, os anos passam, eles crescem, mas irmãos no fundo sempre vão ser um grande pé no saco, do tipo crônico, e sem cura. Resumindo essa missão, apesar de checar todos os endereços na lista negra, memorizada por Luna, a verdade é que estávamos, todos, mas todos sem exceção, muito empenhados em seguir Damian, que estava igualmente empenhado em seguir minha irmã. E a melhor parte é que o Robin se acha muito esperto, e bom no que faz, tão prepotente, e por mais que odeie admitir, Isis não anda muito diferente. Só tem uma coisa que eles não sabem, irmãos mais velhos, sempre conhecem as pestes pelas quais são responsáveis.

–Eu queria mesmo, tomar um banho. –Artêmis diz tirando uma flecha de sua aljava.

–Pode fazer isso, assim que acabarmos com esses pirralhos. –respondo.

–Como os encontrou? –Asa pergunta, enquanto nós observávamos Robin e Nightmare escondidos nas sombras em frente ao galpão, onde aposto por todas as minhas flechas que Amazo estava.

–Pedi a localização a Felicity. –dou de ombros, meu sangue fervia em minhas veias. Droga Isis! –E preferi não perguntar como ela consegue nos encontrar, todas as vezes.

–É melhor mesmo, evita o trauma. –Sara brinca, e a olho de lado sério, antes dela atirar o cabo que nos levaria até os moleques. –Pega leve Com, Isis está passando por muita coisa. –diz, e uso meu arco como suporte para descer pelo cabo, sendo seguido pelos dois.

Somente Damian parece minimamente surpreso, Asa para a seu lado, já completamente focado na missão. Eu odeio Hong Kong, é como uma versão super lotada e espremida de Gotham, com menos bandidos lunáticos, e essa é justamente a graça de Gotham. Olho para minha irmã, que aponta para uma janela de vidro e me entrega um binóculo, que deve pertencer ao mini morcego.

–Depois que acabarmos com o Homem de Lata ali, você vai ter muito o que explicar. –sussurro aceitando o equipamento.

–Foi uma visão. –responde simplesmente, tirando a adaga do suporte de seu traje.

–Nesse caso, você diz. –limpo a garganta, me preparando para imitar sua voz doce e animada. –Olha gente, eu estou sem sono, e quem sabe vocês queiram dar uma volta, com os seus lindos uniformes, vamos caçar unicórnios e correr com coelhinhos? –bufo irritado, e vejo Damian prendendo o riso. O que aconteceu com essa peste?

–Arqueiro, depois você briga com a Nightmare. –Asa diz, usando um dispositivo para observar o monstro. –Batman, o Arqueiro Verde, e o restante de nossos times já estão a caminho. –anuncia, e quando o Robin começa a avançar, Dick o segura pelo braço. –Depois nós dois vamos conversar também, só para relembrar alguns limites. –fico surpreso quando Damian não o responde com grosseria e apenas assente, sem render o assunto. -Você e eu vamos pela frente...

–Quero ir com a Nightmare. –decreta, olho para Sara que se divertia em me ver ser torturado.

–Robin, nós somos treinados juntos, e ela vai estar mais segura na própria zona de conforto. –Sara intervém.

–É exatamente o que eu diria, então vamos. –Dick começa a contornar o galpão seguido por um Robin contrariado.

–Obrigado. –sussurro para Artêmis que sorri, dando a entender que sabia o que eu sentia.

–Acho que o reforço chegou. –Isis diz apontando para o Arsenal e Capuz Vermelho descendo com um cabo do alto do galpão onde Amazo estava. De tanto trabalharem juntos, os movimentos de Roy e Jason eram perfeitamente sincronizados, como os meus com Sara, ou com o meu pai. Ver de fora, chega a ser bonito.

E não eram apenas eles, vejo Batman, Batgirl e Robin Vermelho contornando o galpão no sentido contrário a Robin e Asa Noturna, e para fechar, Speed, Diggle e Arqueiro Verde a dez passos nossos. Faltava a Canário Negro, mas posso sentir o cheiro de Laurel bem atrás de mim. –Atrasada. –falo para ela quando para a meu lado.

–Estava com sua namorada. –olho para a Canário, me esquecendo por um segundo do Amazo.

–Preciso saber de alguma coisa? –ignoro sua provocação.

–Sim, mas não é exatamente a melhor hora.

–Vamos. – Arqueiro Verde nos chama atenção para colocar a cabeça de volta no jogo, sei que estou no meio da batalha, mas uma parte da minha mente sempre tem a atenção voltada para Luna.

‘Pessoal?’ ouço a voz da Oraculo pelo comunicador. ‘Drones de patrulhamento da Waller estão circulando pela periferia de Hong Kong, estou tentando mantê-los longe de vocês, mas não sei por quanto tempo vou conseguir.’

–Como eles chegaram até aqui? – Sara olha para o céu a procura de algum traço.

‘Provavelmente a lista, devem ter tido a mesma ideia que nós... O que comprova minha teoria de que Waller tem ficado mais esperta ao longo dos anos.’ Tagarela nervosa.

‘Se ela nos encontrar, vai achar Amazo, e vamos ter mais visitas dos robôs bombados, como foi nas pirâmides.’ Asa Noturna parece irritado, sabemos que os robôs não nos deteriam, mas perderíamos tempo, e isso era fundamental.

‘E como vamos pará-lo?’ escuto a voz da Batgirl em meu comunicador.

–Os olhos. Precisamos arrancar um dos seus olhos e aí podemos implantar uma bomba em sua cabeça. -Isis explica e por fim, faz um movimento de explosão com as mãos.

–É oficial, depois dessa missão você vai para um mosteiro, ter aulas com os monges, mestre Jansen vai tirar... – aponto para ela, gesticulando tudo a sua volta. – Seja lá o que tiver dentro de você.

‘A ideia é boa.’ Robin Vermelho parece fazer aquele velho truque de professor, mostrar primeiro as partes boas para depois falar que tudo estava um lixo, por que a falha era óbvia nesse plano, como tirar o olho de um ser que tem os poderes do Superman? ‘Mas ele solta raios lazeres pelos olhos.’

–E Isis, não tem como dar um golpe no olho dele tipo Kill Bill. – descarto olhando para meu pai, aliás, ele e Batman estavam muito silenciosos desde que chegaram, todos os nossos mentores estavam. Mas ele olha para minha irmã com interesse, como se achasse que teria mais alguma coisa ali.

–Precisamos distraí-lo. O Arqueiro Verde pode disparar uma flecha em seu olho, o removendo e o Batman implanta uma bomba no buraco. – ok, aquilo era possível, bem possível, quase certo. Mas tinha um Quase antes do certo.

–Batman, ouviu isso? –meu pai toca seu comunicador enquanto fala.

‘Temos um plano.’ Bruce responde.

DAMIAN

E tudo estava dentro do plano, cercamos o galpão, Batman tinha uma espécie de soro de Kriptonita, que não tinha certeza se o Superman sabia da existência. Às vezes tenho orgulho de ser filho desse cara, provavelmente isso não deteria Amazo, mas iria retardá-lo, tiraria parte da velocidade que ele tem, e parte da invulnerabilidade também. Era um bom plano, já havíamos ganhado com planos piores.

Invadimos o local e o Batman lançou uma bomba de fumaça com Kriptonita, logo depois injetou, a distância, o soro no Amazo, agora era só uma questão de ganhar tempo. Bom era isso que todos pensávamos.

‘Pessoal?’ a voz alarmada da Oraculo não era bom sinal. ‘Os robôs estão a caminho, não consegui impedir, Waller está bloqueando os nossos satélites, estou hakiando o de um ricaço em Malibu para conseguir mandar as informações para vocês. Mas Amanda me paga! Vou encher os computadores dela com o mesmo programa que usei com o do Ray.’

–Foco Oraculo. – Sr. Arqueiro Verde chama a atenção da esposa. Tudo estava confuso, mas não posso falar nada sobre nomes, afinal, se alguém chamasse Robin na mesa de jantar da casa dos Wayne, pelo menos quatro pessoas teriam instinto de responder.

‘Eles estão chegando me menos de dois min...’ e a nossa comunicação havia sido cortada, tínhamos os melhores satélites, isso significa que alguma coisa em Terra tinha nos bloqueado, mas não havia tempo para pensar nisso, precisávamos nos preparar.

Speed, Arqueiro Verde Jr. e Robin Vermelho lutavam por uma lado, Batman, Sr. Arqueiro Verde, Diggle e Artêmis atacavam pela frente. Os que restaram como eu, revezavam tentando causar caos nos sistemas do Amazo, mas era quase impossível nos aproximar dele. Era nítido como o robô se regenerava rapidamente, teríamos no máximo cinco minutos até que ele voltasse com força total. Foi nessa hora que tudo piorou, o mundo caiu em nossas cabeças, na verdade robôs caíram em nossas cabeças, era maiores que me lembrava, cinco ao total.

–Merda! – ouço Asa Noturna praguejar. –Não se atreva a sair do meu lado. –ele me olha, e posso ver o pânico refletido em seus olhos, tenho certeza que estava pensando na última vez que estivemos juntos lutando contra um cara em uma armadura gigante, que me lembra muito esses Robôs Bombados da Waller, e eu acabei morto.

–Vou ficar aqui. –garanto, olhando em volta à procura de Isis.

–Não tem como lutar contra Amazo e Waller ao mesmo tempo. –Capuz diz se jogando para o lado, ao desviar de uma rajada de energia do Amazo, que ele copiou do Cyborg.

–Nós vamos morrer, todos nós, se nada mudar. –Diggle grita do outro lado, ele tentava lutar na dianteira da filha, como se pudesse a proteger, e como se Artêmis precisasse de proteção, ela era como um pequeno furacão em campo, lançando diversas flechas em direção aos robôs visitantes, enquanto os Arqueiros Verdes atacavam Amazo.

‘Ninguém vai morrer hoje, bom, ninguém que tem um coração de verdade batendo.’ Escuto a voz de Wally em meu comunicador. ‘A Oraculo recuperou a comunicação, nem sei por que Waller ainda tenta.’

–Ótimo, agora se puderem fazer alguma coisa, seria bom. Sei que a voz da Oraculo pode motivar algumas pessoas aqui a permanecer lutando, mas no momento, estamos precisando mais do que isso. –Asa diz contra atacando em um círculo pequeno, para não me perder de vista, enquanto eu fazia o mesmo. Batgirl estava lutando um pouco atrás, mas perto o suficiente para me cobrir se necessário. Se estivesse em um dia normal estaria aos berros por eles me tratarem feito bebê, não tanto a Barbara, por que sei que ela só está fazendo isso para manter o marido com a cabeça no lugar.

‘Já fiz.’ Era a voz de Felicity, e imediatamente todos os robôs pararam de nos atacar, e passaram a mirar o Amazo, e tudo ficou silencioso por um segundo.

Todo os meus anos de treinamento passaram em minha mente, tudo o que Batman nos ensinou a respeito da Liga da Justiça. As rajadas de Cyborg podem ser previstas por um pequeno estralo, dois segundos antes delas serem disparadas, então me jogo ao chão antes de ser atingido por uma. A visão perfeita do Aquaman, o perfeito era previsível.

–Arqueiro! –grito, lançando um batrangue no androide, e Connor tira Isis da zona de perigo, e lança um flecha explosiva no peito do Amazo, mas acaba recebendo um resquício da rajada de energia no processo, que acerta sua perna esquerda. Isis passa a cobri-lo, tentando o proteger como podia. Mas Connor se levanta, mesmo estando claramente com dor e toma a frente da irmã, combatendo com força total.

A velocidade do Flash, esse sim seria um problema, éramos muitos, espalhados por todo o galpão, e quando Amazo começa a correr, nem mesmo o grito da Canário conseguiu o parar de imediato. E mais um problema é acrescentado a nossa lista sem fim, ele é capaz de copiar o grito dela, estamos muito, muito ferrados. Todo o time do Arqueiro coloca tampões, o que faz todo o sentido, já que eles trabalham com Laurel diretamente, mas meu time cai tampando os ouvidos, tentando sair do caminho do Flash Amazo.

–Robin! –era a voz do meu pai, que só fica dessa forma em poucas ocasiões, quando me levanto vejo Tim caído em um canto, e o Batman correndo em sua direção. Dois dos robôs da Waller formam uma barreira de proteção entre eles e o Amazo, os dando algum tempo. –Oraculo, tire-o daqui, agora! –exclama checando o pulso do Robin Vermelho.

–Está vivo? –Asa pergunta em voz baixa, e Batman assente, antes de vermos o corpo de Tim sendo teletransportado. –Ele vai ficar bem. –acho que falava para ele mesmo, mas no mesmo instante voltamos para a batalha.

–Diminuam o círculo, estão o dando muito espaço! –Artêmis grita correndo em direção ao robô. –Você não é o Flash, mas vai servir. –diz atirando uma flecha com uma espécie de rede um pouco à frente de onde Amazo estava, mas pela super velocidade pega em cheio os pés do androide. Em seguida Connor lança uma com cabo nos olhos do monstro e Oliver aparece a seu lado o ajudando a puxar o olho para fora de sua cabeça humanoide.

‘Eu escutei isso!’ ouvimos a voz de Wally que reclamava com a namorada.

Três Robôs o seguram, pelos braços o mantendo no chão. –Meu pai, preciso concluir, encontrar meu pai. –a voz robótica dele diz, quando os Arqueiros conseguem arrancar o olho do monstro.

–É a nossa vez. –Batman fala lançando um dispositivo explosivo, que Sara impulsiona com uma flecha para acertar os olhos do androide. –Corram! –mas não estávamos mais no galpão, e sim na torre da liga, vendo Oraculo, J’onn e Wally, sentados em frente a vários monitores, onde assistiam, Amazo, Robôs bombados e os Drones da Waller voarem pelos ares.

WALLY

–Precisamos de uma equipe para recuperar os restos do Amazo, a caminho de Hong Kong agora. –Ollie diz assim que se dá conta de que está na Torre, J’onn passa a organizar a equipe que seria enviada. –Ele falou algo sobre encontrar o pai. –ele olha para Isis que se encolhe, claro, deve ter tido alguma visão a respeito.

–Vamos recolher os restos do androide, e mandar partes separadas para serem analisadas. –Felicity diz mexendo em seus computadores. –Podemos estudar todo resquício de memória nele, talvez seja o necessário para encontrar esse tal pai.

–Robin Vermelho? –Batman pergunta, assim que ela olha em sua direção.

–Na enfermaria, já estão cuidando dele. –responde e ele assente indo ao encontro do parceiro. –Como vocês estão? –ela se levanta, indo em direção aos filhos, e Ollie, dizem coisas em voz baixa, e para minha surpresa, Felicity os deixa, e vai em direção a Damian, abraçando o garoto, que fica estático por um segundo antes de retribuir o abraço. –Salvou a vida de Isis hoje.

–Só estava prestando atenção... –começa a justificar, mas Ollie caminha em sua direção, tocando seu ombro, o que o faz calar.

–Obrigado. –fala, depois olham para Connor, que permanecia no mesmo lugar, ignorando propositalmente a cena que estava acontecendo a sua frente. –Arqueiro!

–É... Obrigado. –fala de contragosto.

–Já é um começo, não acha? –escuto a voz de Sara que estava a minha frente.

–Você usou um androide para liberar sua vontade de me bater. –falo segurando o riso, para ela que sorri em resposta, quando pego sua mão.

–Prefere que faça com você?

–Não, não mesmo! –me apresso em responder. –O androide me parece muito bom. Se sente melhor? –questiono e o sorriso desaparece de seu rosto.

–Podemos conversar? –pergunta, e olho em volta para todos os heróis que precisavam de cuidados, mas Sara não tinha nenhum arranhão, então apenas sigo com ela para uma das muitas salas de reuniões na torre.

–O que houve? –pergunto fechando a porta atrás de nós. Sara retira a máscara, e me olha com certa tristeza.

–Nós.

–Nós estamos bem. –falo por reflexo quando paro a sua frente, e sua mão vem a meu rosto de forma automática.

–Não estamos. Eu escolhi fazer algo que vem te corroendo, e não parei para conversar sobre com você. –ela suspira. –Pensei que com o tempo, você, meus pais, e meus padrinhos entenderiam, mas talvez eu esteja sendo egoísta esperando que lidem com isso por vocês mesmo.

–O que espera que eu diga? –pregunto tirando a minha máscara, enquanto me sento em uma cadeira. Só de pensar nisso, me sinto exausto.

–O que sente. –Sara puxa uma cadeira para se sentar à minha frente. –Quero ser sua melhor amiga Wally, como sempre fui. E te ver sofrer, tem feito com que eu mesma me odeie. –aquilo me faz olhar para ela surpreso.

–Você não fez nada de errado. –garanto tocando seu rosto. –Só está seguindo o que quer, e admiro isso.

–Mas... –me incentiva com um pequeno sorriso, segurando minha mão em seu rosto.

–Mas, eu não posso parar de pensar em você se sacrificando. Consegue entender isso? –minha voz sobe uma oitava, por conta do pânico que crescia dentro de mim. Sara assente, compreensiva. –Você é uma heroína, e o que não entendo, é o porquê de querer fazer o percurso inverso!

–Sinto que preciso. –dá de ombros.

–Não vai ser menos Diggle, se não servir exército! –solto irritado me levantando, ela permanece serena, mesmo diante do meu rompante de fúria, é como se estivesse aliviada ao me ver colocando para fora o que me irritava. –Qual a diferença do que fazemos todos os dias?

–Posso te fazer um pergunta? –questiona calmamente, respiro fundo me acalmando, antes de concordar. –O que sente quando está correndo? Em suas veias, o que te faz querer correr?

–A velocidade faz parte de mim, de quem eu sou, não é uma escolha. –ela sorri, me mostrando seu ponto.

–Sou um soldado Wally, é parte do meu sangue, de quem eu sou.

–E se algo te acontecer? –estendo a minha mão para ela, que se levanta, e dou um passo, diminuindo a distância entre nós.

–Acredite, eu não vou bancar a heroína no meio de uma guerra. –garante, passando seus braços ao redor do meu pescoço, e descanso minha testa na dela.

–Promete? –vejo seus lindos e enormes olhos brilharem quando ela assente.

–Temos um compromisso, lembra? –responde me fazendo sorrir. –E tem mais uma coisa.

–O que?

–Eu não faria nada para te machucar, cuidar da minha vida faz parte do pacote.

–Obrigado, era tudo o que precisava ouvir. –digo cheio de sinceridade, antes de beijá-la.

ISIS

Connor estava sentado tentando ligar para Luna, parecia tão tenso quanto em batalha, nunca o vi dessa maneira por outra garota, geralmente são as garotas que ficam dessa forma por ele. Mas Luna o pegou de jeito, e era tão legal ver meu irmão Bad Boy passar por isso, quase uma vingança por todos os corações partidos que ele deixou pelo caminho. Entendam, eu não sou uma pessoa ruim, sou uma irmã mais nova, e já vi Connor fazer tanta burrada por aí, uma para cada dia do final de semana, sem falar a média de três encontros diferentes no meio da semana, e vê-lo assim era como a manhã de natal, algo milagroso. Com Luna na sua vida, passei até mesmo a acreditar que meu irmão vai conseguir um trabalho, de nove as seis como qualquer adulto responsável.

–Algum problema? - Damian está parado ao meu lado e eu nem havia me tocado. -Você está com um sorriso bolo na cara. -aponta para minha face.

– Coisa de irmã. - sorrio para ele que pisca duas vezes.

Nenhum de nós dois disse isso em voz alta, e provavelmente nunca vamos dizer. Mas sabemos o que sentimos, e posso afirmar isso me apavora mais que a ideia de fazer compras com a minha avó, na verdade me apavora na mesma proporção, Donna Smoak com um cartão sem limites pode ser assustadora, dar tanto poder a ela, deveria ser um crime. Voltando....

– Você está bem? -me pergunta realmente preocupado, e só agora eu tinha notado que não o agradeci por ele ter me salvado na batalha.

Eu queria agradecer direito, e com meu pai e minha mãe nos olhando, não ficaria à vontade para ser aquilo que somos, sabe-se lá Deus, o que é isso. Então começo a andar pela Torre até ficar à frente de uma das imensas janelas que rodeavam toda a extensão do satélite. Parei para contemplar o escuro infinito, a Terra era uma das visões mais lindas daqui de cima, mas o infinito conseguia me ganhar.

–Obrigada por mais cedo. - digo sem desviar o olhar da janela.

– Disponha, mas foi seu irmão quem foi atingido por você. -Damian apoia as costas na janela, cruza os braços e me observa, eu não sei o que ele queria. -Ainda não me respondeu. -dou de ombros, eu não sei se estava bem. - Uma resposta de verdade não te machucaria. -bufa ao meu lado parecendo frustrado.

– Eu não sei. - respondo com honestidade. - Acho que não sei o que é estar bem há algum tempo.

– Derrotamos Amazo. - agora vi de tudo nessa vida, Damian sendo otimista, olha os sinais do final dos tempos aí.

– Não sei bem se o derrotamos de verdade. -lembro daquela visão do velho e um calafrio percorre meu corpo. Damian tentou contestar, mas apenas levantei minha mão pedindo que ele parasse.

– Ok. -se resigna.

– Consigo me lembrar como se fosse hoje, de quando subi aqui pela primeira vez. Acho que senti o mesmo que as crianças normais sentem quando vão a Disneylândia. Hall criou um tapete voador com o anel para mim, e fez um tour por todo o satélite. -me viro encostando minhas costas na janela, e me deixo escorregar até estar sentado no chão, Damian senta ao meu lado sem falar nada. - Clark estava falando no telefone, hoje acho que era com Lois. Bem ali naquele canto, acho que ela estava uma fera, por que o CK parecia em apuros. Foi um tanto decepcionante, ver um herói como ele com um celular em mãos. - Começo a rir da lembrança.

– Faz quanto tempo isso?

– Não sei, uns oito anos. - tento me lembrar.

–Lois estava grávida. -faz uma careta. -Sobrou até para nós na caverna. - começo a rir imaginando a Lois tocando o terror na Batcaverna, hilário. -A primeira vez que subi aqui estava de castigo, e meu pai não queria me deixar sozinho na mansão, sabia que eu sairia escondido para patrulhar a cidade. Então, fiquei sentado, sendo vigiado pelo marciano, e nas outras três vezes seguintes também.

–Você é uma peste. -não aguento, a essa altura já estou as gargalhadas.

–Sou. -concorda, mas sua voz estava tão profunda que eu me engasgo com a minha risada, e me esforço para me recompor.

– Mas mesmo sendo uma peste, é a primeira pessoa que penso quando preciso de ajuda. –acrescento, e Damian me olha de lado. -Obrigada, por ser a pessoa que eu preciso. -aperto sua mão entre a minha, mas não tenho coragem de o olhar.

–Obrigado, por me dar chance de ser essa pessoa. -me viro para ele, seus olhos azuis não estavam mais frios como sempre aparentavam, eram quentes e aconchegantes, instintivamente nos aproximamos mais um do outro, nossos rostos estavam muito próximos, conseguia sentir sua respiração em minha face, minha cabeça estava totalmente turva, eu queria... e de repente, um clarão iluminou a minha mente.

–Alguma coisa boa essa adaga tinha que trazer. –a tiro da bainha, e sou imediatamente sugada por sua beleza, quando minha mente é transportada.

Estou em uma floresta, escura, eu não consigo ver com clareza nada a minha frente, mas o calor é forte, e começa a me sufocar. Ao meu lado a floresta está em chamas, olho para o alto, meu pai com o seu uniforme, estava em cima de uma rocha, a sua frente um homem com vestes negras, o arco estava em sua mão que repousava ao lado do corpo, meu pai sem capuz ou máscara, mas o homem eu não conseguia identificar, era mais baixo que o Arqueiro, mesma idade talvez, mas sua face me lembrava alguém mais velho, só que minha mente não me permitia fazer a ligação, quase uma barreira física. Tento me aproximar mas algo parece me puxar, apenas vejo os dois homens na rocha entrando em posição de combate. Eu não sabia o porquê, mas sentia que tinha que impedir essa batalha, que aquilo estava errado.

–Isis? -Damian está com as mãos em meus ombros, como se estivesse tentando me despertar por um longo tempo. -Podemos pedir para um dos Lanternas jogar essa adaga no Sol, vamos ver o que é mais forte, magia ou o 5778 k, aposto que Katoptris perde.

–Ainda não, mas se a hora chegar, juro que aprendo a pilotar uma nave e jogo eu mesma essa adaga cerimonial no raio que a parta!

– Continue assim, e um dia consegue falar uma palavrão. -tira sarro, mas não sei se essa visão está relacionada a nossa realidade, ou outra qualquer entre as 52 possibilidades. Essa faquinha de patê, já começou a abusar da minha paciência. Começo a andar decidida. - Onde você vai?

–Ver se o Tim está bem, o que aliás, você também deveria fazer. –toco com meu dedo indicador em seu ombro. -E depois vou para Terra, encher a cara de batata frita, refrigerante e hambúrguer.

–Isso quer dizer Big Belly Burger? -pergunta e concordo com a cabeça. -Já morri uma vez. -dá de ombros. -a próxima que seja por diabetes ou colesterol, de preferência às duas juntas.

LUNA

Estava sentada em cima do balcão que separa minha cozinha da sala, com pilhas de contas a minha frente, todas pagas, bom, a maior parte delas. Precisava descobrir onde diminuir meus gastos, e encontrar um comprador interessado em meu rim, talvez um pedaço do fígado também, seria de muita ajuda nesse momento.

Enquanto isso, meu celular toca sem parar, Connor, não quero atender, simplesmente por que não estou com vontade de conversar com ninguém depois da minha última reunião com Laurel. Só o que preciso é de uma casa nova, e dinheiro para comprar essa casa, em menos de dez dias, ou perco meu irmão para sempre. Talvez todos os filmes sobre grandes golpes que assisti ao longo da minha vida, possam servir para alguma coisa.

–Merda! –exclamo quando o celular começa a tocar pela milionésima vez.

Sabia que eles estavam em missão, mas Wally prometeu que me ligaria se algo errado acontecesse, e não é possível que algo tenha acontecido com ele, já que nem em campo ele estava, a não ser que tenha acontecido com Sara... Pego rapidamente meu celular, antes que caia na caixa postal. –Oi!

‘Luna, já estava desesperado.’ Connor diz apressado do outro lado da linha.

–Aconteceu alguma coisa com Sara? Wally, ele está bem? –disparo a fala, no melhor estilo Flash de ser.

‘Não! Por que?’

–Nada. –respiro aliviada. –Connor, agora não é a melhor hora. –volto meu olhos para as contas, e minhas anotações de despesas. Preciso resolver tudo isso, ou vou perder a única família que me resta.

‘Onde você está?’

–Em casa. –sai no automático, e só me arrependo no momento que vejo um homem louro de um metro e oitenta e seis, se materializar no centro da minha sala, vestido como o Arqueiro Verde. –Sutil. –sussurro largando minha agenda de lado, e me levantando para ir até ele.

O capuz estava abaixado, a máscara pendurada em seu pescoço, e seus cabelos louros desarrumados, havia um pequeno corte no alto de sua cabeça, que já havia sido limpo e tratado, vejo algumas escoriações em seu ante braço direito, mas tirando isso ele parecia gozar de perfeita saúde. Caminho em sua direção, e paro em sua frente. Connor parece estudar meu rosto, com seu maxilar travado.

–Você está bem? –pergunto preocupada, levando minha mão a seu ombro.

–Não. –diz sério.

–Algo com Isis, ou seus pais? –já estava começando a me apavorar, ele nega com um aceno. –Então me fala!

–O que aconteceu com você? –quase soa como uma acusação.

–Me desculpe, eu te fiz alguma coisa fora do comum? –falo dando um passo para trás, e ele solta uma risada sem humor.

–Bom, fora do comum... Isso não! –olha em volta, depois passa a mão no rosto. –Luna, nós somos amigos...

–Claro que somos. –interrompo, sentindo que precisava me defender.

–Jura? Sou mesmo seu amigo? –ele parecia magoado.

–Connor, se não me disser exatamente o que aconteceu, eu não vou ser capaz de me desculpar...

–Não quero que se desculpe, Luna! –esbraveja, se jogando em meu sofá, ele solta um gemido baixo de dor, e segura a coxa esquerda.

–Está machucado. –me sento a seu lado. –Connor o que aconteceu?

–O que aconteceu com você? –muda de assunto, mas sua voz sai com dificuldade. –Laurel me disse que te viu hoje, foi algo com a guarda de Phill? –ele o chama pelo apelido de forma tão natural, que se não estivesse tão preocupada com o ferimento dele, e meus problemas, seria capaz de sorrir.

–Sim, prometo que te conto tudo, depois que me deixar ver o que tem ai. –aponto para sua calça e Connor me dá um sorriso safado, como se não estivesse irado a dois segundos atrás. –Que bom que já está de volta. –reviro meus olhos o fazendo rir ainda mais. –Estou falando do machucado! –sussurro envergonhada.

–Vou ter que tirar a calça para você ver. –por algum motivo, ele falava comigo como se eu tivesse dois anos de idade.

–Connor, tira logo! –solto sem paciência, e ele se apoia em meu ombro se levantando enquanto permaneço sentada, me sentindo em uma sequência particular de Magic Mike, e começa a desafivelar a calça, acho que estava o olhando feito um cachorro em frente a uma vitrine de frango assado.

–Luna, Luna! –a voz dele me desperta do meu pequeno transe.

–O... Oi? –seu cinto estava desafivelado, e o botão de sua calça solto, e por que sei disso? Por que olhava como se fosse um pedaço de carne exposto bem na primeira prateleira do açougue. Eu nunca deveria ter aceitado participar daquele plano, agora sinto que tenho um assunto inacabado com Connor, e sou do tipo de pessoa metódica, com uma obsessão quase doentia por finalizar o que inicio. Okay, isso e o fato dele ser muito...

–Não vai olhar para o outro lado, e cantar uma musiquinha? –debocha com cara de dor, o que me traz de volta para a realidade. Engulo em seco e me viro para o outro lado, mas ainda posso escutar sua risada. –Pronto. –quando me viro ele está com a manta do sofá cobrindo seu colo, escondendo a cueca e metade de suas coxas. Involuntariamente eu faço uma careta, que graças aos céus, posso justificar quando vejo o que parece uma queimadura causada por frio, ou eletricidade, acima de seu joelho.

–Como conseguiu isso? –sussurro chocada.

–Sinceramente. Não faço a menor ideia. –solta um risada com dor. –Dividi meu tempo entre tentar me esquivar do Amazo, o atacar, e manter Isis longe de seu alcance.

–Por que não cuidaram disso na Torre? –falo já indo atrás de um quite de primeiros socorros, mas seria inútil para aquele tipo de ferimento, desisto e resolvo pegar meu celular.

–Não dei tempo de ninguém ver. –me sento a seu lado, e entrego meu celular para ele.

–Liga para Felicity.

–Não. Preciso saber o motivo daquilo. –aponta para o balcão. –E o que aconteceu na reunião com Laurel.

–Você está machucado, e não é um ferimentozinho, sua perna é como o que aconteceria com uma versão malvada da Elza de TPM! Não sou exatamente a prioridade nesse momento. –reclamo e ele dá risada.

–Estou bem, e quanto mais enrolar, mais tempo vou passar sem calça em seu sofá. –Deus, tudo na boca dele soa como sacanagem!

–Okay. –me dou por vencida. –Preciso de uma casa, com no mínimo dois quartos, e bem localizada, se quiser ter alguma chance de conseguir a guarda de Phill. Meu AP não está dentro das normas. –ironizo irritada.

–Agora entendo. –fala com aquele ar zem, que na maior parte do tempo me tranquiliza, o que não é o caso agora. –Luna, você não vai fazer nada disso sozinha. –O cara, está com um machucado horrendo em sua perna, e ainda quer resolver meus problemas com filosofias de vida!

–Connor, eu não tenho dinheiro para algo assim. –suspiro, tentando buscar em minha mente, algo que ajudasse com seu ferimento. –Até tenho algumas economias, mas nem se alugasse, não seria o suficiente.

–Vem aqui. –ele abre os braços para mim, mas olho para seu colo, depois para seu rosto, e melhor não. Connor recolhe os braços e pega minha mão, parecendo constrangido. –Tem mais alguma coisa?

–Bom, estabilidade. Foi a palavra que Laurel usou. –reviro os olhos. –Mas tenho um emprego estável, eu acho. Amigos, o que para alguém como eu, é uma proeza... O que mais querem de mim? –Connor passa algum tempo olhando para o nada, tão perdido em pensamentos que acho que estava meditando, na pior hora possível.

Ele é do tipo de cara que independente do que estiver fazendo na vida, ainda assim vai parecer estar se preparando para uma sessão de fotos para a Volge. Lindo, não que não tivesse consciência da beleza dele até hoje, mas chega a ser ridículo. A culpa era da combinação de maxilar definido, aqueles olhos azuis, e toda a estrutura intimidadora, sem falar da genética excelente. E por que raios estou pensando nisso em uma hora dessas?

–A... A... Agora que já sabe do meu tormento, pos... pos... posso ligar para sua mãe, ou Wally. –apresso em me levantar, mas Connor me impede, se negando a soltar minha mão.

–Posso te ajudar, com a estabilidade. –soa estranhamente inseguro.

–Co... Como? –sussurro o olhando nos olhos, ele suspira como se tomasse fôlego e pisca algumas vezes antes de voltar a falar.

–Nós somos bons juntos, e sabemos lidar um com o outro... –parece que baixou a Felicity nele por um momento, quando começa a falar super rápido e atrapalhado. –Não vou tirar toda a sua privacidade, e posso ser útil legalmente. Melhorei bastante nesse último ano, desde que nos conhecemos. Não me perdoaria se perdesse a guarda de Phill por algo tão bobo quanto dinheiro, e somos bem estáveis...

–Connor, por favor, comece a fazer sentido. –murmuro o interrompendo.

–Bom, é que... Nós podemos nos casar. –O QUE?