“Sob a luz de um lindo luar, os dois se beijaram.”

Mono estava terminando de ajeitar o cabelo quando ouviu a porta do quarto abrir repentinamente. Era sua amiga Rin que naquele momento parecia estar inquieta.

– Mono! Os soldados da aldeia chegaram, alguns estão feridos!

– Certo. Vamos!

Os soldados do exército de Dohan estavam a várias semanas em guerra com outra aldeia, uma região rica em minérios ao norte. Eles haviam ido atrás do principal recurso que lhes faltava na sua aldeia. Eles optaram pela guerra pois todo acordo de troca de mercadoria que era proposto nuca dava certo porque a outra aldeia nunca aceitava, sendo dessa forma, Lorde Emon deu autorização para que invadissem a aldeia inimiga e pegassem o minério.

Nito, pai de Wander, escalou o filho para guerra e colocou na mesma equipe dele um homem chamado Zaad. Zaad era um jovem alto e esguio, era bastante ágil e hábil no uso na espada curta. Possuía um longo cabelo loiro que se estendia até poucos centímetros abaixo dos ombros, porém ele sempre o deixava preso, como um rabo de cavalo; ele era um cara sério, só falava quando necessário e mesmo assim poucas palavras saiam da sua boca. Wander e Zaad não tinham personalidades parecidas, tinham vários motivos para desenvolver uma inimizade entre eles, mas mesmo com diferenças eles se deram bem. Foi essa boa interação entre eles que possibilitou uma boa desenvoltura dos dois como uma dupla e garantiu a vitória de Dohan.

Apesar da vitória, alguns soldados voltaram para a aldeia feridos, entre esses soldados estavam Wander e Zaad. Seus companheiros os levaram para a casa de saúde de Dohan. Quando chegaram, Wander encontrava-se desacordado, ele foi levado imediatamente pra sala de emergência. Sem ter noção de quanto tempo se passou depois que desmaiou, Wander acordou em um tipo de quarto. Ele sentia um cheiro de algum tipo de erva, olhou ao seu redor e viu algumas ferramentas medicas, ele logo percebeu que estava na casa de saúde de Dohan. Ao tentar se mexer, Wander sentiu uma forte dor na perna direita. Ele gritou de dor e levou suas mãos ao ferimento. O grito assustou a enfermeira que estava na sala.

– Você está bem?!

– Não! – dizia Wander, sentindo sua perna ainda dolorida

– Fique calmo e tente não se mover muito. Aplicarei um remédio no ferimento depois farei um curativo.

– Tudo bem...

Enquanto as mãos suaves daquela enfermeira iam cuidando da ferida na perna de Wander, ele olhava pra o seu rosto e percebia a beleza encantadora da jovem.

– Qual é seu nome?

– Mono.

– Mono... Você não é daqui, não é?

– Não, não sou.

– Ah, percebi. Eu teria lembrado de uma pessoa tão bonita quanto você!

Naquele momento Mono deu um sorriso tímido e agradeceu o elogio. Enquanto ela continuava a cuidava de Wander, ele ia conversando com ela e fazendo ela rir mais vezes. Ele ficou extasiado pela beleza do seu sorriso e viciado na paz que ele transmitia.

– Pronto, acabei!

– Ah! Que bom!

– Bem... pelo jeito você terá que ficar aqui por mais alguns dias até que se recupere totalmente.

– Dias? Quantos dias?

– Uma semana, se for rápido.

– UMA SEMANA?

– Sim! – disse Mono sorrindo.

Wander não ficou nem um pouco satisfeito quando lhe foi anunciado que iria passar um semana naquele lugar, ele era um rapaz inquieto, entretanto, o sorriso de Mono acalmou o seu temperamento e deu um bom motivo pra ele ficar mais uns dias ali. Mono virou a enfermeira oficial de Wander, sempre que precisasse ela estava lá para cuidar dele, as vezes ele até inventava que sentia dores para poder falar com ela, sempre na intenção de faze-la rir. A semana de recuperação física de Wander passou e agora ele está livre para ir para casa. Sem hesitar, o jovem parte para ficar perto de sua família e de sua fiel companheira, Agro.

Por ter uma vida social bastante limitada, Mono fica triste quando Wander vai embora, ele era aquela pessoa nova que conversava com ela mesmo sem ter nada pra dizer, ele era a quebra de rotina que ela tinha na sua rotina, ele era aquela pessoa que fazia ela sorrir. Depois da saída de Wander da casa de saúde, Mono via tudo voltar a ser como era antes, a mesma rotina de sempre. Pra aliviar esse sentimento de “estar presa”, sempre que tinha tempo, ela gostava de passear em um lago próximo à casa de saúde da aldeia. Lá ela dava algumas voltas a margem do lago, via a lua refletir nas águas e quando não via ninguém por perto cantava a mesma música que seus pais cantavam quando ela era criança, isso fazia ela lembrar deles, como se estivessem justos dela outra vez.

Por coincidência, Wander também gostava de ir àquele lago passear com Agro. Na noite seguinte após sua saída da casa de saúde, Wander levou Agro para perambular pelas margens do lago. Enquanto Wander, montado sobre Agro, ia lentamente se aproximando do lago, ele escutava baixinho o som de uma doce voz feminina vindo do lago. Curioso, ele viu de um morro próximo uma das mais belas visões que seus olhos já lhe mostraram. Lá estava Mono, sentada sobre uma pedra, cantando uma música com uma linda melodia enquanto a luz do luar iluminava toda região em volta do lago.

Ao terminar de cantar, Mono abriu os olhos olhou para lua. Nesse momento, inesperadamente, Agro relinchou. O barulho do seu relincho ecoou por toda área do lago. Assustada, Mono seguiu o som e viu a silhueta de um homem sobre um cavalo, ela rapidamente saltou da pedra e correu até alguns arbustos próximos a margem do lago. Wander percebeu que ela tinha se assustado, ligeiramente ele se deslocou até as margens do lago, Mono, atormentada, continuava escondida.

– Mono? Sou eu, Wander! Desculpe por ter te assustado, essa não era intenção...

– “Wander?!” – pensou Mono, sem ter deixado de ficar assustada. Usando a mão, ela moveu alguns galhos que atrapalhavam sua visão, observou e logo confirmou que era Wander. Sutilmente ela se levantou. – Olá, Wander!

– Mono! – disse Wander desmontando de Agro. – Me desculpe se te assustei, não era minha intenção...

– Não tem problema!

– ...Você está bem? – perguntou Wander, meio sem jeito.

– Sim, estou bem! – disse ela, sorrindo – E você?

– Estou ótimo, graças a você! – Mono apresentou um sorriso tímido. – Adoro esse sorriso! – Mono ficou extremamente envergonhada com o comentário de Wander. Ela ficou cabisbaixa e sem saber o que dizer – E então... oque faz aqui?

– Bem... Eu.... Eu venho aqui algumas noites... Me ajuda a sair da monotonia...

– Entendo... – dito isso, um silêncio tomou conta do local, os dois ficaram se olhando por alguns segundos, até que Mono percebeu que Wander estava olhando diretamente nos olhos dela. Ele ficou novamente envergonhada e desviou o olhar. Wander percebeu e também parou de contemplá-la. – Bem... – disse Wander, quebrando o silêncio – Esta é Agro! Minha fiel companheira!

– Ah! Olá Agro! – Mono se aproximou do animal e fez carinho na sua cabeça.

– Ah, olha só... Parece que ela gostou de você! – disse Wander, surpreso pelo fato da égua não ter ficado agitada, ela geralmente ficava quando algum estranho se aproximava. – Quer dar uma volta?

– Uma volta? – Mono ficou surpresa pelo convite – Mas eu não sei andar a cavalo.

– A gente pode andar junto... Quer dizer... se você quiser... – falou Wander, sem jeito

– Tudo bem! – afirmou Mono, com um sorriso no rosto

– Tudo bem, deixa eu te ajudar a subir.

E assim, Mono e Wander, montados em cima de Agro, andaram por toda margem do rio. Durante todo o percurso houve silêncio, nenhum dos dois falava, mas no momento em que Wander põem cuidadosamente sua mão em cima da mão de Mono e sente como se estivesse tocando um tecido de ceda, os dois compreendem que nada precisava ser dito naquele momento. Depois de algumas voltas no mesmo caminho, Mono percebe que já esta tarde e que precisa voltar até a casa de saúde.

– Wander, eu preciso ir.

– O que houve?

– Já está tarde! Preciso voltar pra casa de saúde.

– Está tarde? Tem razão... Por um momento perdi a noção do tempo...

– É... Eu também... – de alguma forma, ambos sabiam que tinha sido por causa do toque e da proximidade na qual ficaram. Eles ficaram hipnotizados com aquilo. – Bem... Agora eu preciso mesmo ir embora.

– Vamos juntos. Eu te levo até lá. Tudo bem?

– Tudo bem! – Mono aceita.

Os dois cavalgam até a casa de saúde que não ficava muito longe dali. Ao chegar lá, Wander desce e ajuda Mono a fazer o mesmo.

– Obrigado por hoje! Ver você é sempre bom! – falou Wander, com semblante alegre.

– Digo o mesmo! – afirmou Mono, novamente sorrindo.

– Eu amo seu sorriso... – disse Wander, quase sussurrando e com um sorriso maroto estampado no rosto.

– E eu amo o jeito que você me faz sorrir...

No momento que que Mono acabou de falar ela percebeu Wander se aproximando do seu rosto lentamente. Ela permaneceu parada, apenas sentindo a mão dele chegando até seu pescoço. Wander podia sentir seu cheiro suave se aproximando mais. Ambos ficaram com as testas coladas, e antes que pudessem tocar seus lábios o calor do corpo deles se afagavam lentamente. Sob a luz de um lindo luar, os dois se beijaram.