Para toda eternidade

Até onde você iria por amor?


“Vamos nos casar e então ficaremos juntos... Para toda eternidade.”

O sentimento que Mono e Wander sentiam um pelo outro era forte e intenso, logo aqueles encontros às margens do lago passaram a ser cada vez mais desejados por ambos. Com a ausência rotineira de Mono na casa de saúde durante as horas silenciosas da noite, sua amiga Rin foi a primeira a desconfiar de algo. Para descobrir do que se tratava ela ficou observando mais atentamente o comportamento da amiga por uma semana, Rin notou que Mono estava mais alegre e bem disposta, a partir dali começou a se perguntar o que causara tamanha alegria. Ela percebeu também que Mono saía sempre no mesmo horário, quando todas as enfermeiras estavam na cama, e que não ia muito longe, ficava sempre no lago vizinho. O que surpreendeu Rin foi o fato de Mono está se encontrando com um rapaz. Na mesma noite em que Rin descobriu, ela voltou a casa de saúde e ficou esperando a amiga em seu quarto. Deitou-se e fingiu estar dormindo. Quando ouviu a porta do quarto se abrindo, observou por baixo da coberta e viu Mono entrando com passos delicados, afim de não fazer nenhum ruído. No momento em que Mono se aproximava da sua cama, Rin deu um salto e com o seu jeito barulhento começou a questionar.

– Mono! Por que não me disse que estava saindo com um rapaz?!

– Rin?!

– Eu percebi a sua ausência nesses últimos dias... agora eu sei do que se trata. Por que não me contou?

– Bem... Eu ia contar... ia mesmo... Rin... Eu estou apaixonada!

– Sério?! Por quem?!

– Wander! Ele é soldado no exército de Dohan.

– É.... eu também ia te contar algo parecido...

– Como assim? – nesse momento Mono ficou confusa.

– Sabe aquele soldado que veio aqui pra casa de saúde, junto com Wander, a umas semanas atrás?

– Um rapaz loiro e alto?

– É... O nome dele é Zaad, e nós.... Estamos juntos...

As duas se abraçaram e pularam compulsivamente, estavam tão felizes que nem perceberam o barulho que estavam fazendo. Finalmente as duas tinham motivos para estarem extremamente felizes em meio a uma vida tão monótona.

A mesma desconfiança também ocorreu em Nito, quando ele notou a constante fadiga do filho nos treinos. Nito estava decido, depois do treinamento ia chamar seu filho para conversar, para saber se estava tudo bem. Posicionado no centro do campo, Nito dispensou todos os soldados do treinamento. Wander já estava saindo, acompanhado de Zaad, quando seu pai o chamou e fez um sinal pedindo pra que ele fosse ao seu encontro.

– O que foi, pai?

– Filho, a sua fadiga nos treinos mais recentes é notável. Diga-me, o que está acontecendo?

– Bem... eu fico acordado a noite toda, é isso...

– Wander... não quero que minta pra mim. – Nito conhecia bem Wander, sabia que aquilo se tratava de uma desculpa.

– Eu estou saindo com uma garota, pai...

– Uma garota?! Quem?!

– Esse é o problema! Ela é uma das aprendizes que a mamãe tanto fala.

– Mono ou Rin?

– Mono. Pelo o que eu sei é Zaad quem está saindo com Rin...

– Zaad também?!

– Pai!

– Bem, de qualquer forma, isso está atrapalhando seu desempenho nos treinos. Você não pode permanecer assim.

– Eu vou ver o que eu posso fazer.

– Talvez arranje um horário mais acessível para se encontrar com ela. – sugeriu Nito

– Não dá, ela está sempre fazendo alguma coisa na casa de saúde da aldeia.

– Entendo... – Nito coçou a cabeça e deu um pequeno sorriso, aquilo chamou a atenção de Wander.

– O que foi?

– Você saindo com essa moça... Me lembra muito a época em que eu conheci sua mãe. Wander, o que você quer com essa jovem?

– Eu vou casar-me com ela, meu pai! – os olhos de Wander brilhavam só de imaginar seu futuro com Mono. Nito sorriu e, em silêncio, comemorou junto com o filho.

– Muito bem, se é assim que você deseja... Você tem minha benção! Mas vá devagar, precisa falar com sua mãe à respeito disso, sabe como ela leva os mandamentos da aldeia a sério. E Mono também é aprendiz dela.

– Eu sei.

– Então vá, faça isso sem demora. – Wander se despediu do pai, montou em Agro e partiu para casa, afim de dar a notícia para mãe.

Contar a notícia ia ser fácil, mas Elza era uma mulher que analisava cada detalhe antes de dar o primeiro passo, isso fazia com que Wander ficasse bastante preocupado com a resposta, pois ele sabia que da mesma foram que poderia receber uma resposta positiva, não seria nenhum problema para Elza negar sua benção. Minutos depois Wander chegou em casa, sua mãe estava nos fundos, colhendo algumas ervas.

– Mãe.

– Olá, meu filho. – ela continuou colhendo as ervas.

– Sabe a Mono? Sua aprendiz na casa de saúde da aldeia?

– Sim.

– Eu conheci ela no tempo em que estive lá.

– Conheceu?! O que achou dela? Adorável, não é mesmo?

– Sim, mas...

– É uma pena o que tenha acontecido com ela no passado.

– No passado? O que aconteceu com ela no passado?

– Ela morava com os pais em uma floresta nos arredores da aldeia. Um dia houve um incêndio no lugar onde moravam e os pais dela morreram. Ela fugiu e acabou entrando na aldeia. Lembro do dia em que uns trabalhadores chegaram com ela na casa de saúde. – Wander escutou tudo aquilo e ficou chocado, ele não sabia que o passado de Mono era tão doloroso. – Desde então ela mora lá. Eu tenho ela como uma filha.

– Será que a senhora aceitaria ela como nora? – Elza parou o que estava fazendo e olhou para Wander.

– O que você quer dizer com isso?

– Mãe... Eu quero casar com Mono! – Elza ficou boquiaberta e rapidamente abraçou o filho, aquilo seria um “sim”.

– Que maravilha! Maravilha! Vocês tem a minha benção!

Wander encheu-se de alegria, iria casar-se com a mulher que amava. Todas as coisas pareciam está convergindo para a felicidade de ambos.

Os dias de Mono na casa de saúde de Dohan eram seguidos de elogios da amiga e de sua mestre, Elza. Elas estava orgulhosas de Mono e apoiavam com todas as suas forças a união do casal. Alguns dias depois, Mono e Wander não haviam se encontrado desde que receberam a benção dos pais do garoto, Mono estava a todo momento na casa de saúde cuidando da sua amiga, Rin, que estava muito doente.

O mal que castigava Rin naquele momento, embora muito parecida com a doença que ocasionou a morte de seus pais, estava diferente, estava mais forte. Rin estava inconsciente sobre a cama, enrolada por um cobertor grosso, sua pele estava pálida e o suor que descia em sua testa estava frio. Mono se desdobrava para cuidar da amiga, passava o dia fazendo remédios e dando os cuidados necessários. Ela saía do quarto raras vezes para fazer a coleta de ervas.

Na manhã daquele dia parcialmente nublado, Mono estava adentrando o quarto, carregando numa sexta algumas ervas. Assim que abriu a porta ela viu sua amiga se contorcer e gemer de dor. Mono largou a sexta e correu desesperada até a cama.

– Rin! Fique calma, eu vou ajudar você!

– Mono... – ela falava com dificuldade. Rin apontou para a janela do quarto, estava aberta. Mono olhou e viu um pedaço de pano rasgado, alguém havia entrado ali. – Eles estão atrás de você, Mono...

– Eles?! Atrás de mim?! Quem?!

– Fique atenta...

– Rin!

– Mono... – no último suspiro de vida, Rin chamou o nome da amiga. As lagrimas correram no rosto de Mono.

A dolorosa morte de Rin trouxera lembranças a mente de Mono. Ela havia perdido outra pessoa querida, e começou a se perguntar por que aquilo tudo estava relacionado a ela. Quem estava atrás dela desde aquele tempo, quando seus pais morreram? Quem estava matando as pessoas que ela amava? Na mesma hora em que essa pergunta ecoou em sua mente ela saiu correndo do quarto e deu de cara com Elza. Mono ajoelhou-se sobre os pés de sua mestre e chorou. Elza, preocupada, perguntou a ela o que tinha acontecido. Mono só teve forças de apontar para o quarto.

Elza mandou um mensageiro ir até o campo de treinamento e chamar Wander, o mais rápido possível. Mono queria vê-lo imediatamente. Uma hora depois Wander estava lá, abraçando Mono e dizendo repetidas vezes que estava tudo bem.

Depois que ela se acalmou, os dois foram até as margens do lago.

– Está melhor? – Mono afirmou com a cabeça. – Eu estou bem, estou aqui. – ele a abraçava forte. – O que você acha que está acontecendo?

– Antes de morrer, meu pai disse para eu fugir, alguém estava atrás de mim. E hoje Rin morreu dizendo as mesmas palavras. Alguém está matando todas as pessoas que eu amo, foi por isso que eu fiquei com medo. Achei que alguma coisa pudesse está acontecendo com você. Eu estou com medo.... – Mono apertou Wander e as lagrimas rolaram em seu rosto novamente.

– Não fique, eu estou aqui, eu vou protegê-la... Está bem? – Wander enxugou suas lagrimas. – Eu te amo, Mono. – um beijo completou aquele momento. – Vamos nos casar e então ficaremos juntos... Para toda eternidade. – ali, nos braços de Wander, Mono se sentia segura. Era assim que ela queira ficar para sempre, junto dele.

Com toda essa história que rondava Mono, os pais de Wander ficaram preocupadíssimos de que alguma coisa pudesse acontecer com o filho. A ideia do casamento passou a receber um olhar mais cauteloso. Nito achava aquilo tudo suspeito demais, mas ainda assim continuava apoiando o casamento do filho, já Elza começou a desconfiar de que a garota tivesse algum problema espiritual, algo que apenas o sacerdote de aldeia, Lorde Emon, poderia avaliar.

– É melhor leva-la até o Lorde Emon, isso deve ser problema espiritual.

– Deixe de encher a cabeça dele com essas coisas, Elza!

– Então qual é a outra explicação que você dá? – Nito resmungou, ele não sabia responder àquela pergunta.

– Eu vou casar com ela o mais rápido possível, não quero sair de perto dela nem mais um segundo.

– Estou começando a achar que isso não é uma boa ideia, Wander.

– Mãe? – Wander ficou abalado, não poderia casar sem a benção dela. – Vai retirar a benção?

– Não sei... Preciso pensar... – ideias rolaram na cabeça de Wander.

Alguns dias se passaram e as coisas voltaram ao “normal”. Mono e Wander estavam mais uma vez às margens do lago, mas dessa vez estava de dia.

– Sabe... Eu moro na aldeia de Dohan há um ano e já ouvi falar daquela lenda.

– A lenda de Dormin?

– Sim. Dizem que ele foi um ser poderoso que tinha controle sobre as almas dos mortos, e que podia trazê-las de volta a vida, até Lorde Emon derrota-lo e vingar seu avô.

– Nossa! Até que você sabe de muita coisa!

– Você acredita nessa lenda?

– Bem... Alguns dizem que isso realmente aconteceu, dizem que Lorde Emon guarda até hoje a espada que usou para aprisiona-lo. Eu nunca pensei sobre isso pra falar a verdade... Mas por que diz isso?

– Eu estava pensando... será que ele traria a alma dos meus pais de volta?

– Lorde Emon prega a ideia de que Dormin não é um ser confiável, e que faz as coisas unicamente para o seu benefício.

– Mas e se ele trouxesse a alma de uma pessoa amada de volta... Até onde você iria por amor? – aquela pergunta inocente de Mono pegou Wander desprevenido, ele não sabia o que dizer. Depois de alguns segundos pensando ele deu uma resposta romântica e descontraída.

– Você quis dizer: por você, não é?

– Wander! – Como planejado, Wander mudou de assunto e ainda beijou sua amada.

Depois de mais algumas horas os dois se despediram. Alguma coisa estava incomodando Wander, ele não parou de pensar na pergunta que sua amada fez. Isso fez com ele refletisse e se perguntasse repetidas vezes... Até onde ele estava desposto a ir por amor?