Pokémon Estilo de Vida
Saga 03 – Guerra
Etapa 07 – Kevin

"Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo.
Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo."

Capítulo 34 – Roger

Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo. Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo. A frase forte, curiosa e talvez nem todos compreendam o verdadeiro significado dela. Podem dizer que ela assume significados diferentes para cada pessoa, mas eu sei o verdadeiro significado dela. Eu a vivo a cada dia, a cada momento e é ela que me faz ir a frente. Faz-me escapar de ser o brinquedo dos outros e faz com que seja o senhor de meu destino.

A primeira vez que ouvi essa frase eu havia acabado de passar duas horas sendo surrado. A primeira hora apanhando do meu finado primo Razor, que já foi tarde, a segunda hora apanhei do meu pai, que não tardará a partir. Estava chorando, mais de raiva do que de dor, e então ouvi: “Nunca vi nada selvagem senti pena de si mesmo. Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo.”

Eu quis gritar, na verdade, eu teria gritado não fosse a pessoa que estava dizendo aquilo, o único adulto que nunca levantou a mão ou a voz contra mim. Até os serviçais se atreviam a tentar me intimidar, apesar de eu realmente merecer a maioria das vezes. Mas, o tio Cody Mevoj nunca fez nada contra mim. Ele sempre foi o melhor adulto que eu conheci, mais honesto, respeitável, amigável e corajoso. Ele já enfrentou meu pai e meu tio algumas vezes para me defender, mesmo sabendo que ao final ele provavelmente apanharia junto comigo.

Eu via muito de Riley em Cody, eles são o tipo de pessoas boas, que percebem que algo está errado e querem te ajudar a resolver, de uma forma sútil. Riley gostava de ficar ao lado da pessoa para mostrar que estava com ela, já tio Cody costuma falar frases que eu sempre achava que ele inventava na hora. Lembro que quando descobri que a maioria era de livros passei uma noite toda tentando lembrar das frases que ele já havia me dito e procurando os livros de origem.

Quando ele me disse aquela frase eu ainda não sabia que eram de livros, mas eu sentia que ela tinha todo um significado escondido nela. Mas, acho que só fui realmente compreender o seu valor quando a mãe de Riley falou sobre o casamento arranjado e que eu jamais deveria chegar perto de Riley novamente. Se algum dia alguém havia me feito algo que me tivesse dado vontade de chorar, aquele dia foi aquele. Fui ao meu quarto arrasado com vontade de me matar. Das poucas pessoas que eu realmente gostava, condenadas a serem marionetes do império e eu sem poder fazer nada. As únicas pessoas pelas quais eu sentia algo tinham uma corda no pescoço e nem mesmo sabiam. As únicas pessoas com quem eu realmente me importava estavam destinadas a se afastarem de mim para sempre.

Eu chorei no meu quarto pensando em me matar, mas então compreendi a frase num ato de epifania, ou qualquer coisa parecida. Os Países Livres possuíam atitudes selvagens, meu pai e a forma de me criar pedia para eu ser selvagem e então Tio Cody um dia me diz que um selvagem não sente pena de si mesmo, que ele morrerá fazendo algo antes de sentir pena de si mesmo. E então entendi que o mundo pedia para eu ser selvagem, parar de chorar porque só assim eu poderia garantir que os Mevoj estariam a salvo, só assim eu poderia ficar com a Riley. Se eu me tornasse selvagem a ponto de vencer Razor e Barreira eu seria o líder da geração e poderia tomar decisões, se eu derrotasse meu pai na luta de vida ou morte o Imperador poderia passar a me escutar.

A frase rege toda a minha vida. Vou morrer antes de parar de lutar pelo que eu quero. Eu quero a Riley, eu quero a família Mevoj, eu quero a cabeça dos meus primos e a do meu pai! Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo. Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo.

Mas... Hoje eu escutei essa frase sendo repetida, pela boca dele, não para acalmar a pessoa, mas para afrontar. Eu sou selvagem, mas ainda não posso salvá-lo. Ele foi encontrado em uma cidade litorânea de Arton na quarta feira a noite e agora, quinta pela manhã, ele foi brutalmente interrogado por meu tio, Lord empalador. Lord Empalador gritava para que ele falasse sobre a morte do filho, sobre o paradeiro da prometida e o paradeiro de Maya. Mas, Mevoj se manteve calado. Nunca vi tanta coragem em uma pessoa que estava de frente para alguém muito mais forte.

Lord Empalador prometeu que ele sofreria durante dias, estava esquecendo das ordens do imperador naquele momento. O que me fazia ficar satisfeito, pois eu poderia usar isso mais tarde. Então, em meio a promessa Mevoj simplesmente levantou o olhar e disse a frase: “Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo. Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo.” Quando ele disse aquelas palavras para Lord Empalador eu pensei que seu pescoço seria quebrado naquele momento, mas a irritação e sede de vingança do meu tio Lord parece que não conseguem deixar de reconhecer o tio Cody.

Sim! Assim como eu, outros reconhecem o quanto Cody Mevoj é forte e respeitável a sua maneira. Mesmo vivendo no meio de nobres de um país imperialista ele consegue agir com seus princípios, trazidos de outra região, e inspirar o respeito. De certa forma, forma Cody era forte como as pessoas orgulhosas dos Países Livres, que jamais gritariam ou cederiam naquela situação. Talvez por isso Lord desistiu de interrogá-lo a base de torturas, já havia uma hora que ele era questionado, socado, eletrocutado e nenhuma informação útil parecia vir, além da confirmação de que Riley e Maya fugiram com ele e estavam seguras.

Eu tive que esperar mais dez minutos para confirmar que poderia entrar naquela sala onde Cody era mantido, pendurado por correntes. Sua camisa havia sido rasgada e pareciam ter mantido a calça, para lhe dar ainda alguma dignidade. O ambiente estava até bem iluminado, mas eu preferia que não estivesse. Depois de conseguir despachar os guardas para poder falar com ele a sós, fiquei paralisado com a quantidade de sangue que havia. Tive vontade de ir atrás do Lord Empalador e fazê-lo sofrer tudo o que fizera aquele homem sofrer, mas eu não era tão burro. Tinha certeza que meu pai morreria pelas minhas mãos, ou pelas garras de meus pokémon, mas eu tinha certeza que o Lord Empalador me empalaria antes de eu conseguir arranhá-lo.

– Desculpa... -

Fiquei assustado por alguns instantes. Fiz os guardas irem tratar de outros assuntos e confiei que meu pai e meu tio estariam fora daquela nossa base. Meu pai estava desesperado para achar minha irmã e meu tio desesperado para vingar o filho. Estavam todos desesperados. Não era para ter ninguém ali e a voz de Cody estava tão diferente que eu demorei para acreditar ser a dele, ainda mais me pedindo desculpa.

– Desculpa? Pelo que? -

Cheguei perto e pude ver a boca ensanguentada, um dente quebrado, o nariz fora do lugar e achei engraçado que o cabelo era a única coisa no lugar e normal, parecendo uma esponja. O vi encarar-me, quase que envergonhado.

– Por tê-lo deixado com esses monstros. - Ele disse. – Quando fugimos fomos ao seu quarto, mas não o achamos. Ainda demos algumas voltas pelo palácio, mas não pudemos continuar procurando-o. -

Acabou de ser torturado e a primeira coisa que faz ao me ver é pedir desculpas? Aquele homem era realmente incrível.

– Eu fugi na mesma noite que vocês. - Ele fez algo que parecia ser um sorriso. – Não me encontraram pois já estava em fuga. Se eu tivesse esperado um pouco mais você não estaria aqui agora. -

– E como você teria se tornado um forte assassino? -

Ele ficou me olhando até que eu desviei o olhar. Mato pessoas e não tenho vergonha disso. A primeira vez foi porque era eu ou ele. Era a primeira semana que eu estava em fuga e não apenas tentaram me roubar como iriam me usar e depois me matar, tive que fazer. Eu nunca imaginei que o ser humano fosse tão frágil. Dali em diante entendi como matar era fácil, fisicamente. Mas, demorei para condicionar minha mente a se acostumar. Hoje eu mato sem piscar e sem hesitar.

Mas, aqueles olhos de Cody me deixam mal. Ele não está me repreendendo ou parabenizando, ou tão pouco em cima do muro, está apenas me olhando.

– Como sabe que... - Eu parei assusto com a possibilidade. – Elas sabem? -

Eu não tinha vergonha do que eu fazia. Não tinha vergonha de quem eu era, mas Maya nunca entenderia que eu matei gente inocente. Minha irmã é forte e eu me lembro dela duas vezes mais perigosa do que eu, mas só era rebelde com quem merecia, durona quando precisava. Riley por outro lado jamais entenderia nada, ela é doce e não gosta de violência. Talvez hoje ela possa até estar com a cabeça mais madura e como Maya entender que as vezes é preciso de violência, mas me pediu para não me tornar como as pessoas do Império e eu falhei nisso.

– Vi uma reportagem no começo do ano e pelas características, eu sabia que era você caçando Barreira. - Ele parrou de falar, visivelmente sentindo dor. – Não falei nada com elas e se elas viram e reconheceram você, assim como eu, não me disseram nada e disfarçaram bem. -

– Obrigado. - Eu disse agradecendo por ele não falar isso para elas. – Não me arrependo de nada do que fiz, sei que não entende, mas é o único jeito. -

– Não precisa se justificar para mim! -

E era aquele tipo de coisa que me fazia admirá-lo. Eu fazia algo que os princípios dele julgavam ser errados e ainda assim ele não pedia explicações, julgava minhas ações ou parecia desapontado comigo. Como eu queria ser como ele. Eu sonhava em ser como ele, mas foram sonhos que ficaram para trás, agora sou um guerreiro e em breve um general de guerra.

– Queria poder tirá-lo daqui, mas estamos em guerra e desafiei meu pai para a luta definitiva. -

– Nem gostaria que se arriscasse por... - Ele parou de repente. – Você desafiou seu pai? - Ele finalmente me olhou com um olhar diferente. – Aquele desafio pai e filho de vida ou morte? -

Apenas confirmei com a cabeça e pela primeira vez na vida vi Cody parecer desapontado. Eu compreendia a situação, ele sempre disse para mim e Maya não odiar meu pai, pois o jeito truculento e violento dele era proveniente dos costumes dos Países Livres. Que era a única forma que ele conhecia de ser pai, mas que nós precisávamos respeitá-lo.

A luta de vida ou morte de pai e filho acontecia, normalmente, quando o pai estava para morrer, e a luta era para que o pai morresse sabendo que o filho era forte e levaria o nome da família adiante. Desafiar um pai para uma luta de vida ou morte sem que nenhuma das partes estivesse verdadeiramente para morrer acontecia, raramente. Cody via aquilo como uma falta de respeito, mas o que eu podia fazer? Deixar que ele me espancasse? Deixar que Maya fosse encontrada e ele espancasse minha irmã? Eu vou matar meu pai!

– Não tenho muito tempo. Diga-me onde as meninas estão, poderei ir até elas e escondê-las em outro lugar onde jamais as encontrarão e Riley jamais precisará ser obrigada a se casar. -

– Você gosta mesmo da minha filha, né? -

E talvez isso fosse claro para qualquer um. Aquilo não havia mudado em mim, lembro que Barreira e Razor percebiam que eu gostava de Riley e me provocavam dizendo que antes que eu pudesse ficar com ela, eles teriam a vez. Só mais tarde fui entender que eles já sabiam do casamento e que brincavam comigo, como sempre fizeram.

– Tem que tirar ela da cabeça. Ela vai se casar com esse rapaz. Riley já decidiu isso. -

– Por que? Ela já o conheceu? -

– Nem sabe o nome dele. Mas, ela morre se não casar, a mãe dela morre, eu morro, o rapaz e sua família morrem. - Mevoj parou. – Se gosta tanto dela, deve saber que ela jamais vai aceitar que algo aconteça com a família dela ou que outros morram por ela não querer fazer algo. Fugimos da prisão em que vivíamos, assim como você, e não do casamento. Quando chegar a hora, vamos voltar para o palácio e realizar o casamento. Mas, até lá ela precisa apenas viver. -

Viver! Ela sempre quis fazer um monte de coisa, ficava com os olhos brilhando quando assistíamos televisão e víamos coisas diferentes.

– Você sabe que se ela estiver em Arton vão encontrá-la e nunca mais ela sairá do palácio, não é? – Eu respirei fundo. - Diga-me onde elas estão. Saio agora e as protejo até chegar o dia. -

– Elas já estão protegidas. Mesmo que eu não volte, elas ficarão protegidas até o dia. Não vão encontrá-las! -

Eu escutei aquilo incrédulo. Elas nunca estariam protegidas contra o Império. Na verdade, ninguém estaria. Como ele poderia estar tão calmo sabendo que a filha e minha estavam lá sozinhas? Elas teriam crescido tanto durante dois anos?

– Tio Cody! Eles estão trazendo os Sacerdotes para ler sua mente. Elas vão ser encontradas. Mesmo que não trouxessem os sacerdotes. Arton e arredores está tomada. É questão de tempo até achá-las. Provavelmente acham elas antes de acabarem a caça ao assassino de Razor. -

Ele mudou a direção do olhar. O que isso significa? Eu sei que ele não sabe mentir e que desviava o olhar quando fazíamos uma pergunta que a resposta ele não queria dar. Mas, não fiz pergunta. Apenas afirmei que elas seriam encontradas antes de encontrarem o assassino de Razor.

– Vocês estão envolvidos no Assassinato de Razor? - Eu nem esperei resposta, pois ele manteve o olhar desviado.– Tem que me dizer onde elas estão! - Aumentei o tom.– O imperador disse que não devíamos tocar em vocês e olha como você está sem ele saber que estão envolvidos. Dependendo da situação que as encontre vai matá-las! -

– Elas estão seguras! - Ele disse confiante. Estava todo machucado, mas a tranquilidade dele quanto a situação das meninas era assustadora.– Esqueça-as! Vai apenas levar mais problemas para elas. -

– Não estão seguras! - Eu berrei, esquecendo que minha voz poderia ecoar.– Elas vão morrer se ficarem sozinhas lá fora! Confia em mim! -

Ele me olhou nos olhos. Da mesma forma que sempre me olhava. Senti um arrepio percorrendo meu corpo e entendi, ele ia me dar uma daquelas frases dele. Não era o que eu queria, mas talvez me fizesse ver algo que eu não estava vendo.

– Confio em você Roger! Sei que quer protegê-las e está preocupado com elas. Mas, confiei a segurança delas a outra pessoa. Elas não vão morrer. Mas, se você for até lá, você vai. -

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Algumas vezes na vida eu me pergunto porque eu nasci. Minha mãe morreu quando eu nasci e meu pai pareceu sempre culpar a mim e minha irmã. Eu era hostilizado por quase todos os meus familiares e aqueles que não o faziam nem eram verdadeiramente da minha família. Se era para viver dessa forma porque nasci? Qual o objetivo de nascer para viver sofrendo? Superar? Superar-se? Não sei.

Tomei para minha vida a missão de sobreviver, de não sentir pena de mim mesmo e de, quem sabe, ajudar essas pessoas que foram boas comigo. Protegê-las de alguma forma. As vezes penso que essa decisão é apenas pelo amor que sinto pela Riley, talvez seja. Mas, já é um traço de objetivo.

Não acredito que Mevoj me negou a localização das meninas, deixando-as com um estranho. Não acredito que ele acredita que elas estarão seguras sem mim. Talvez isso seja normal, ele pode estar assustado pensando que estou sendo usado, poderiam estar nos escutando ou mesmo que eu poderia ser seguido. Até aceitaria essas hipóteses, onde na verdade a última acabou acontecendo, mas dizer que eu vou morrer se for até elas?

Na hora que estive com ele, quase surtei ao saber que eles se envolveram na morte de Razor. Me pergunto se foi um dos três, mas é mais provável que uma quarta pessoa tenha feito isso e que essa quarta pessoa seja a que protege as meninas agora. Mas, se ela é uma assassina, como Maya e Riley podem estar protegidas? Esse protetor teria matado para protegê-las? Se é verdade que é essa quarta pessoa realmente elas estão protegidas, quem matou Razor era muito habilidoso.

Mas, porque a pessoa me mataria? As meninas me reconheceriam e falariam que estava tudo bem. Então, se eu vou morrer indo até lá é porque o império se sentiria traído, o que realmente seria o caso. Mas, também pode ser que este protetor não seja protetor e sim um captor ou algo do tipo que agora está de posse das meninas.

Como é complicado entender a mente de alguém torturado. Infelizmente meu pai e meu tio chegaram com o sacerdote e alguns soldados. Eu o vi ter a mente varrida pelos poderes mentais do Sacerdote, ele visivelmente estava com dor, emitia alguns sons desconexos enquanto eu escutava alguns soldados comentarem admirado com Mevoj estava aguentando firme a varredura de mente, uma vez que a maioria berrava de dor.

Mevoj desmaiou e o Sacerdote pareceu se dar por satisfeito, apesar de muito pensativo. Lord Empalador pediu as informações o Sacerdote despejou-as para todos. Sobre a fuga para proteger Maya e dar vida a Riley, sobre os locais por onde passaram e sobre o jovem loiro e habilidoso que os salvara de Razor. Falou sobre a morte de Razor, sobre como fugiriam daquela vez e o paradeiro das meninas e do jovem. No entanto, não houve a informação do nome do rapaz. O Sacerdote disse que algo havia distorcido a mente de Mevoj como aquilo, como se outro psíquico tivesse tentado ocultar aquela informação, ou que um fantasma tivesse o atacado com o Comedor de Sonhos e feito aquela informação se perder na mente dele.

O sacerdote iria, mais tarde tentar novamente, mas eu parti antes de todos. Uma hora de vantagem era o suficiente para tirar as meninas de Khubar. Mas, fui seguido. Cinco guardas que deveriam garantir que eu e meu pai não nos matássemos antes da hora certa me viram sair e viraram minha escolta. Felizmente, disseram que seguiriam minhas ordens tirando a de deixar-me sozinho.

Eles morreriam quando chegasse a hora. Mas, enquanto não encontrasse as meninas e conferisse o quanto esse loiro era forte e impressionante, como a mente de Mevoj acreditava, eu os manteria vivos. Afinal, matar os soldados do império na frente deles me daria a confiança deles. Mas, se o loiro fosse forte, eles me ajudariam a matar o loiro e depois eu os mataria.

Havia um soldado ficando impaciente, pois estávamos a uma hora vigiando a casa em que os três estavam. Mas, eu queria vê-los primeiro. Não poderia atacar sem saber que tipo de pessoa estava com minha irmã e minha amada.

Foi então que vi minha irmã sair e em seguida veio Riley. Como eu sentia falta das duas, tive a impressão de que meus olhos umedeceram ao vê-las. Elas estavam sorrindo como eu nunca as vi sorrir e aquilo me deu um aperto no coração. Elas estavam felizes diante tudo o que estava acontecendo, minha morena mal sabia que o pai estava nas mãos do império sendo torturado.

A terceira pessoa apareceu e eu arregalei os olhos. De todas as pessoas no mundo era aquele loiro que estava com elas. De todos os habilidosos do mundo era aquele que estava protegendo-a. Eu sabia que ele era bom pela mente de Mevoj, eu sabia que ele era bom pelas coisas que falavam dele pelo mundo, mas só agora, vendo-o e juntando todos os pedaços eu compreendia que eu não teria chances de chegar perto de Riley e Maya se tivesse que enfrentá-lo.

Kevin Maerd Júnior era o loiro e eu sabia tudo o que podia saber dele. Era um treinador campeão forjado na guerra. Poderoso, criativo e habilidoso possuía pokémon com habilidades sanguinárias. Mevoj estava certo de confiar Riley e Maya a ele, diziam que ele era uma espécie de herói do mundo pokémon e que o empate com Barreira foi por ele ter usado um único time em duas competições diferentes. Se eu não podia com Barreira, não poderia com ele, não frente a frente.

Teria de esperar. Eu não poderia matar aquela pessoa, mesmo se quisesse, se tivesse testemunhas. Teria que matar meus soldados, esperar Lord Empalador matá-lo, fugir com as meninas e me fazer de desentendido. Odiava ver aquele rapaz na minha frente, perto de minha irmã e amada, impedindo que eu possa chegar perto delas, mas aquilo poderia ser um sinal do destino.

– Não vamos atacar? -

Um soldado perguntou. Realmente esperar não era típico de ninguém dos Países Livres, mas eu tinha que admitir que o momento era perfeito. Eles saíram para ir ao Centro Pokémon e agora estavam voltando por ruas vazias devido a uma tempestade que parecia se aproximar. Os soldados poderiam fazer nome e cair nas graças da família real por resgatar as duas e capturar o loiro.

Eu não sabia o que dizer a eles. Eu estava perturbado pela forma como as duas estavam sorridentes junto a Kevin. Nem no dia mais tranquilo e feliz de nossas vidas elas sorriam assim e ainda tinha aquele olhar de Riley para Kevin que eu não entendia. Ela pareia estar diante de um herói, um deus, ou sei lá o que. Os olhos dela brilhavam e as covinhas pareciam a todo momento.

– Senhor, temos companhia. -

Eu ia desviar o olhar para a direção em que o soldado apontava, mas então vi minha Riley se lançar nos braços de Kevin e os dois se beijarem.

Os soldados falavam algo comigo, mas a única coisa que eu via era Kevin Maerd Júnior beijando Riley, minha Riley. Eu não podia acreditar naquilo. Ele tinha que morrer!

– Kevin! -

Berrei saindo de nossa posição oculta, enfurecido, mas meu soldado me puxou e então percebi que outros gritavam pelo loiro. Uma jovem loira, muito bonita, gritava o nome do rapaz, chocada com algo. Maya, minha irmã, berrou o nome de Kevin alertando-o para algo atrás dele, o mesmo que os soldados tentavam me fazer ver.

Numa ponta da praça estavam umas vinte pessoas armadas para uma guerra e não eram do império. Eles miravam armas para as várias pessoas daquela praça, inclusive Riley que ainda estava nos braços de Kevin.

– Kevin Maerd Júnior, você morre aqui! -

O grupo atirou e eu vi algumas pessoas caírem, a loira foi uma das acertadas, bem como alguns que estavam mais distantes, apenas dois para ser exato. As balas que foram contra Kevin não acertaram nele, pois ele se jogou com Riley em cima de Maya e rolou.

– Fujam! - Vi Kevin levantando-se rápido e dizendo para as meninas, enquanto ele sacava duas pokebolas e as lançava. – Presa Selvagem fique com elas. Fúria do Deserto, mate-os! -

Aquelas palavras me surpreenderam. Matar não era uma ordem que eu esperava que Kevin desse a seus pokémon. Mas, o tempo para ficar surpreso com as coisas não era aqueles. Meus soldados foram combater os atiradores enquanto eu libertava meu pokémon guia.

Eu vi ali a necessidade de proteger as meninas, enquanto eles viam a obrigação de proteger a Kevin. Se o loiro morresse pelas mãos de outro que não fosse Lord Empalador eles sofreriam as consequências, eu sofreria as consequências. Mas, o mesmo aconteceria se algo acontecesse com as meninas e visivelmente aqueles malucos pareciam quererem matar todo mundo.

Olhei para as meninas e elas estavam paradas, com o roedor beje a frente delas, sendo ameaçadas por dois homens com armas.

– Hiper Raio! -

Comandei apontando a direção do ataque. Aquele, definitivamente, era meu pokémon guia. Ele não pareceu duvidar de qual era o alvo e acertou velozmente os dois que ameaçavam as meninas antes que eles pudessem perceber que iriam ser acertados.

Pude ver a expressão assustada de Maya e Riley ao sentirem o impacto. Caíram, vendo o corpo dos dois também tombarem. Elas olharam para a direção do ataque e então me viram. Os olhos delas se abriram e pude ver que reconheceram-me. No entanto, o tal roedor Presa Selvagem grunhiu e as duas concentraram-se nele e correram para a mata.

Os tiros retornaram, o combate corpo a corpo havia parado e percebi que meus soldados levaram a pior, após terem levado a pior em cima de dois cada um. Foram eficientes. Matar sem armas e quase sem estardalhaço contra ameaças superiores. Eu iria matá-los de qualquer forma.

– O herói cai sendo herói! -

Guiei-me pela voz daquela frase esquisita. Olhei para o lado e vi uma cena improvável. Kevin e eu eramos diferentes e eu não conseguia entender como ele agia ou pensava. Diante de toda aquela situação ele protegeu as meninas, libertou dois pokémon e depois de tudo isso não fugiu ou partiu para combater, foi até a menina loira caída que deveria estar morta e foi salvá-la.

Agora ele estavam a menina nos braços, carregando-a em direção ao caminho que os outros estavam usando para fugir. Mas, havia alguém com uma arma apontada para eles. O mesmo que o chamara de herói. Sim, talvez se ele não tivesse sido herói não morreria, porque naquela distância que eu estava, mão dava tempo de impedir uma bala.

Apenas escutei o tiro sendo disparado e na sequência uma quantidade de sangue ganhando o ar que eu não sabia ser possível.